Reencontro Sinistro

Um conto erótico de Kamila Teles
Categoria: Heterossexual
Contém 1854 palavras
Data: 30/04/2020 15:40:08
Última revisão: 12/07/2020 08:00:16

A balada mais agitada daquele dia era uma festa de casamento. A jovem de aparência adolescente, apesar de ser adulta na idade, era recém chegada àquela cidade interiorana. Investiu em um look festa e usou seu charme para entrar sem convite. De imediato interessou-se por um homem próximo dos quarenta e aliança na mão esquerda. Era o tipo proibido pra ela. O cara maduro correspondeu ao olhar provocador da garota de cabelos escuros e repicados que caminhava em sua direção. Ele gostou da franja desalinhada que dava à moça um ar juvenil, contudo, contrastava com as sobrancelhas cheias, de traços grossos que deixava seu olhar sensual. O conjunto realçava a beleza natural do seu rosto.

Oi, moço! Onde você conseguiu champagne?

— É vinho branco — ele respondeu com simpatia.

— Posso dar um gole para descobrir os seus segredos?

— Acho que você se assustaria com eles, anjo.

— Nossa! Você me excitou. Agora sim que eu quero provar.

Ele não evitou que ela pegasse a taça de sua mão. A jovem olhou marotamente para o homem maduro ao mesmo tempo em que sorvia um pequeno gole da bebida. Ela deu outro gole.

— E aí…

— Nicole — disse ela prontamente — e você é o…

— Henrique, prazer!

— O prazer é meu.

— E aí, Nicole — perguntou ele dando sinal de que se divertia com a situação —, o que você descobriu sobre mim?

— Descobri que você quer me comer agora, e eu já estou umedecida e pronta.

— Hahaha, você é bem direta.

— Vamos achar um canto divertido? — disse Nicole.

— Como assim, canto divertido?

Ela explicou que “canto divertido” era qualquer cantinho, escondido ou não, que possibilitaria uma transa rapidinha.

— Você além de linda também é muito engraçada, Nicole.

— Tô falando sério, Hen-ri-que. Que tal dentro do seu carro? O estacionamento é escurinho.

— Não vim de carro, moro nas proximidades.

— Ótimo, vamos pra sua casa.

— Menina, você é bem doidinha, mas é uma graça, gosto disso. Infelizmente a patroa está vindo aí — disse ele reduzindo o sorriso e dando um leve toque de cabeça em direção à mulher que se aproximava com cara de poucos amigos.

A esposa percebeu que ali rolava um clima. Com antipatia ela puxou o marido pela mão dizendo que era hora das fotos.

— Seu copo, Henrique — disse perversamente a jovem esticando o braço.

A mulher lançou um olhar de ódio em direção à moça que tinha idade para ser sua filha. O homem disse pra ela ficar com a taça, pediu licença e se pôs a caminhar ao lado da esposa que o interpelava.

A moça balançou a cabeça negativamente enquanto observava o casal se afastando. Reforçou sua convicção de nunca ingressar em um relacionamento estável, por considerá-lo tedioso e incapaz de lhe proporcionar prazer. O que mexe com sua libido tornando incontrolável seu desejo é a possibilidade de praticar relações sexuais casuais com pessoas estranhas. E melhor ainda se for num local considerado socialmente inadmissível. E mesmo estando ciente de que essas aventuras colocam sua segurança em risco, ainda assim continua quebrando regras e violando leis apenas com o objetivo de consumar o ato sexual com os seus alvos escolhidos ao acaso. “O perigo é um tempero adicional ao prazer.” Ela repetia toda vez que pessoas próximas a alertavam.

Minutos mais tarde ela abordou novamente o homem ao vê-lo sem a mulher e na companhia de dois senhores.

— Poderia vir comigo um minuto, por favor?

Os homens se entreolharam como se os outros dois já soubessem do ocorrido anteriormente.

— O que você está tramando, menina?

— Achei o “canto divertido”. Vem comigo rapidão que não vai se arrepender — disse ela dando uma piscadinha e o chamando com o dedo indicador.

— Hoje alguém vai dormir no sofá — zoou um dos homens.

— Nicole, Nicole, espero que não complique a minha vida.

— Vem, “homi”, estamos perdendo tempo.

Ele foi com a moça, olhou ao redor com preocupação à procura da mulher. Saíram por uma porta lateral e adentraram o estacionamento do salão.

— Estou me sentindo um adolescente fazendo travessuras — disse ele.

Furtivamente dirigiram-se para detrás de um dos últimos carros estacionados, um utilitário. Ela tomou a iniciativa de um primeiro beijo rápido. Depois mostrou pra ele um preservativo que tirara da bolsa com antecedência.

— Eu coloco pra você, põe ele pra fora — disse ela e abaixou.

Quando o pênis em fase de ereção ficou livre, ela o abocanhou e o sugou até deixá-lo rígido. Tirou a borrachinha da embalagem, colocou na boca e o transferiu para a genitália masculina desenrolando com os lábios.

— Uau, menina, você é cheia de surpresas.

Ela levantou e deu seu sorriso mais safado. Enfiou as mão por dentro do vestido e tirou a calcinha.

— É a sua vez de me surpreender — disse ela. Deu a calcinha pra ele, virou de costas, levantou o vestido na altura da cintura e apoiou as mãos no para-choque do veículo ficando com o corpo num ângulo de 90 graus.

Ele enfiou a lingerie no bolso do paletó, invadiu o espaço entre as pernas abertas da jovem, segurou seu membro o direcionando na fenda úmida que se oferecia à sua frente. A penetração arrancou o gemidinho da jovem amante, no entanto, foi abafado por uma voz exaltada de mulher que adentrou a área do estacionamento. Era a mulher do Henrique, gritando por ele e acompanhada de outras duas mulheres. O homem mal teve tempo de guardar o pênis ereto dentro da calça, e a moça só baixou o vestido antes de serem avistados pelo trio. Ambos foram vergonhosamente surpreendidos e não tinham um álibi, pois só pensaram no sexo. A dona armou um barraco, começou a agredir a garota, mas foi contida pelo marido que levou uns tapas no lugar dela. A turma do deixa disso chegou, Nicole foi levada para um canto longe da leoa enraivecida, enquanto o Henrique se retirava do salão com sua mulher.

A jovem de atitudes ousadas continuou na festa sem importar-se com os olhares de reprovação e comentários maldosos a seu respeito. Apesar da pouca idade, já estava acostumada, em razão de não considerar-se parte do grupo dos “socialmente corretos”.

O casal discutiu a relação trocando acusações mútuas durante o trajeto até o lar, nenhum dos dois era santo, ambos já pisaram na bola mais de uma vez desde que se uniram pelo matrimônio.

O doutor Henrique tomou um banho e foi para o seu trabalho.

Horas mais tarde chegou ao IML local uma vítima de atropelamento. O médico legista de plantão, doutor Henrique, descansava em outra sala e foi chamado para fazer a necropsia.

Ao remover o lençol que cobria o defunto, sua expressão foi de surpresa seguida de pesar ao reconhecer o corpo inerte sobre a mesa fria… Nicole. O homem acostumado a conviver com a morte ficou abalado por ser alguém que estivera tão próximo a ele horas antes. Acariciou o rosto da jovem, afagou seus cabelos sentindo o afundamento do crânio.

— Quem fez isso com você, anjinho? — conversou ele com o cadáver enquanto a despia.

— Eu vou cuidar de você, Nicole, ninguém mais vai te machucar.

Retirou o vestido de festa: curto, tomara que caia, preto com detalhes prata.

— Caralho! A calcinha.

Esquecera a peça íntima da garota no bolso do seu paletó. Restava-lhe torcer para que a mulher não bisbilhotasse em sua roupa, ou a fogueira da discórdia voltaria a arder em sua casa.

A bainha de renda do vestido estava rasgada, faltava um pedaço de uns vinte centímetros. A segunda e última peça foi o sutiã, também preto e tomara que caia. O legista parou para mirar os seios firmes e parecidos com duas peras enormes. Os acariciou apreciando os traços sedutores da moça.

A expressão serena não remetia a alguém falecido, parecia alguém dormindo um sono tranquilo.

— Ela não vai nos interromper agora, minha princesa — curvou-se sobre o corpo e a beijou demoradamente na boca.

Despiu-se a seguir da calça e cueca, deitou sobre o cadáver, a penetrou e copulou dizendo sacanagens no ouvido dela. Não se preveniu, pois não resistiu ao impulso de gozar injetando seu sêmen nas entranhas da falecida.

O necrófilo acabara de vestir a calça quando um funcionário bateu à porta. Ele o atendeu e o homem entregou-lhe uma garrafa térmica. E sem nenhuma discrição o recém chegado comentou:

— Carne fresca, doutor? — cresceu os olhos sobre a moça nua e avançou uns passos, porém estancou amedrontado.

— Cruz credo, doutor, “que isso”? — falou o homem demonstrando pavor e apontando para o corpo sobre a mesa.

O legista ficou apreensivo sobre a que se referia o funcionário. “Será que deixei algum vestígio?” Pensou, e virou o corpo receoso.

— O defunto sorriu e piscou pra mim, doutor — murmurou incrédulo.

O médico percebeu uma ligeira mudança na expressão da jovem, os olhos entreabertos e um leve sorriso de deleite.

— Acho que ela gostou de você — brincou o legista.

— Deus me livre, doutor — falou o funcionário e fez em nome do pai ao mesmo tempo em que saia a passos largos da sala de necropsia.

O legista trancou a porta.

— Enfim a sós novamente, minha linda. Teremos muito tempo só pra nós dois caso ninguém reclame seu corpo.

Findado seu plantão o médico retornou ao lar, abriu e adentrou com o carro na garagem. De imediato sentiu o ar irrespirável. Manteve a porta da garagem aberta. Notou o som do motor do carro da mulher e ela em seu interior com braços e cabeça sobre o volante. Ele quebrou o vidro da porta do passageiro para entrar no veículo, uma vez que a esposa não respondeu aos seus chamados. O motivo de não responder é porque já estava morta.

Durante a perícia da polícia técnica foi constatado que ela faleceu pela inalação de monóxido de carbono. Havia um afundamento frontal na lataria do Hyundai da mulher, era similar ao de um atropelamento. O perito encontrou um pedaço de tecido preto preso na grade frontal do veículo. Era o pedaço que faltava no vestido da amante cadáver do legista.

Horas antes, quando o casal retornou ao lar após o barraco na festa, o doutor Henrique, minutos depois saiu para o trabalho. Sua mulher imediatamente pôs-se a vasculhar a roupa do marido.

— FILHO DA PUTA! — gritou espumando de raiva quando achou a calcinha de Nicole no bolso do paletó. Tremendo de ódio ela ligou para uma amiga na festa.

— Aquela vadia ainda está aí?

Ao receber a confirmação ela saiu com seu carro e ficou à espreita nas proximidades do salão.

A mulher traída só voltou pra casa duas horas mais tarde. No caminho parou em uma drogaria e comprou um remédio que a acalmasse e fizesse dormir. Engoliu alguns comprimidos pouco depois, já com seu veículo em movimento. A mulher estava visivelmente abalada e sabia que a noite seria difícil. Por pouco não bateu de frente com um ônibus ao invadir a mão contrária. Conseguiu retomar a direção e chegar a salvo em sua residência.

Assim que adentrou a garagem e fechou a porta por meio do controle remoto, ela proferiu palavrões e descontou sua raiva esmurrando o volante como se o aparato representasse o marido traidor. Debruçou-se sobre ele aos prantos e adormeceu com o carro ainda ligado.

<<<< Fim>>>>

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Foto de perfil de KamilaTelesKamilaTelesContos: 174Seguidores: 112Seguindo: 0Mensagem É prazeroso ter você aqui, a sua presença é o mais importante e será sempre muito bem-vinda. Meu nome é Kamila, e para os mais próximos apenas Mila, 26 anos. Sobrevivi a uma relação complicada e vivo cada dia como se fosse o último e sem ficar pensando no futuro, apesar de ter alguns sonhos. Mais de duas décadas de emoções com recordações boas e ruins vividas em períodos de ebulição em quase sua totalidade, visto que pessoas passaram por minha vida causando estragos e tiveram papéis marcantes como antagonistas: meu pai e meu padrasto, por exemplo. Travei com eles batalhas de paixão e de ódio onde não houve vencedores e nem vencidos. Fiz coisas que hoje eu não faria e arrependo-me de algumas delas. Trago em minhas lembranças, primeiramente os momentos de curtição, já os dissabores serviram como aprendizado e de maneira alguma considero-me uma vítima, pois desde cedo tinha a consciência de que não era um anjo e entrei no jogo porque quis e já conhecendo as regras. Algumas outras pessoas estiveram envolvidas em minha vida nos últimos anos, e tiveram um maior ou menor grau de relevância ensinando-me as artimanhas de uma relação a dois e a portar-me como uma dama, contudo, sem exigirem que perdesse o meu lado moleca e a minha irreverência. Então gente, é isso aí, vivi anos agitados da puberdade até agora, não lembro de nenhum período de calmaria que possa ser considerado como significativo. Bola pra frente que ainda há muito que viver.

Comentários

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Agradecida, Xoquito, pela visita e pela sugestão da continuação, gostei da ideia. valeu!

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adoro seus contos. este merece cotinuação

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