O Diário - Capítulo 7

Um conto erótico de Dr. X
Categoria: Gay
Contém 2043 palavras
Data: 04/04/2020 20:44:25

TW - suicídio

Por algum motivo não consigo republicar esse texto, mas como gostaria dele reeditado e recisado. Estou tentando repostálo.

O Diário

Capítulo sete - Abismo

Naquele momento, a única pessoa que poderia socorrer a Lívia era ele: Leonardo. O desespero tomava conta de mim enquanto eu discava o número no telefone rezando para que continuasse sendo o mesmo. Enquanto eu não era atendido, uma ansiedade tomou conta de mim. A euforia era extrema.

Ninguém atendia.

Aquilo tudo era um tortura.

Quando estava prestes a desligar, para então ligar para os meus pais, alguém atendeu.

– Alô

– É da casa do Leonardo?

– Sim

– Ele está?

– Você está falando com ele, quem tá falando?

Nesse momento um calafrio subiu por minha espinha e meu corpo estremeceu

– É o Felipe, você precisa salvar a Lívia! – Disse soluçando.

– É... Fe... Felip... Calma, como assim? – Sua respiração ficou ofegante.

– A Lívia me ligou se despedindo de mim, eu tô com medo de que ela possa tentar alguma coisa, vá agora na casa dela, por favor...

– Ok, Fê, voc...

Não esperei para ouvi-lo e desliguei o telefone.

Aqueles momentos foram os mais longos de minha vida, não conseguiria dormir até saber o que tinha acontecido. Liguei pra minha mãe e pedi para ela avisar os pais da Lívia. Meu coração batia ansioso, tomei um calmante e me deitei na tentativa de relaxar, mas não consegui. Pulei da cama com o barulho do telefone ecoando pelo meu apartamento, eu estava com medo de atendê-lo. Cada passo em direção ao telefone se tornava mais pesado, a adrenalina me dominava. Eu rezava para ouvir uma boa notícia, atendi:

– Alô, é o Felipe?

– Sim, sou eu.

– Sinto lhe dizer rapaz, mas a Lívia faleceu...

– Como assim?!? Não pode ser! – Disse chorando, eu não acreditei no que acabara de ouvir.

– O meu filho acabou de me ligar contando o ocorrido e me pediu para lhe avisar, sinto muito. Tcha – desliguei enquanto eu desmoronava em lágrimas, caí no chão e na queda arranhei minha bochecha na quina do móvel. Eu não acreditava! a Lívia havia cometido suicídio e eu me sentia culpado por não tê-la ajudada suficientemente. Tinha tanta pena dela, pobrezinha! Deve ter sofrido tanto que sua força não foi suficiente para salvá-la de si mesma! Os pais delas estavam viajando naquela noite e ela aproveitou que estava sozinha.

O funeral seria no dia seguinte, minha mãe havia me informado. Peguei um avião para o aeroporto mais próximo de minha cidade e o restante do percurso fiz de ônibus. Chegando a minha terra, revi tudo aquilo que fizera parte de minha vida. Pouco havia mudado, as árvores sequer cresceram e me sentia revendo um filme de terror. O Henrique (amigo da faculdade) havia me acompanhado e as meninas também quiseram vir, porém as acalmei já que ele me acompanharia.

Chegamos no meio da tarde e eu não estava com cabeça para sair, apenas visitei minha mãe e fomos direto para minha casa. Chorei ao ver meu pai, fazia anos que não o abraçava! Ele me consolou gentilmente e beijou minha testa, apresentei Henrique e ele me olhou com um sorriso de lado. Eu neguei com a cabeça e completei dizendo que ele era meu amigo, apenas.

Abri a porta de meu velho quarto e ele estava do jeito que deixei, só que extremamente limpo. Desabei no choro ao ver a caixinha de porcelana, presente de Lívia, que eu havia deixado ali. Tomei um banho longo (perdoem-me ecologistas): a água me acalma de uma maneira única, uma chuveirada limpa o corpo e lava a alma. Deitei e dormi, sonhei com o Leonardo. Achei estranho, pois há muito aquilo não acontecia.

Acordei arrasado, me vesti com roupa social preta e fui até a capela onde seria velado o corpo dela, pois era próxima à sua casa. Quando a vi no caixão, perdi o controle das pernas e fui amparado por Henrique antes que caísse. Ele me segurou pela cintura e eu pude observar o corpo melhor, ela parecia dormir calma, estava com um leve sorriso nos lábios. O Léo havia chegado minutos depois de ela se enforcar, ele a retirou da corda e tentou socorrê-la sem sucesso. Algo me dizia que teria de encará-lo e foi o que ocorreu. Ele estava de terno e tinha seus cabelos raspados numa careca, os olhos verdes estavam avermelhados. Depois de tudo que aconteceu ele continuava amigo da Lívia. Eu não a julgava, pois ela sabia apenas de parte da história. Ele olhou para mim como que esperando alguma reação, mas apenas me virei, sem reação, e o Henrique me acompanhou até a saída, me segurando por medo de eu cair.

Em seguida fui visitar os pais dela, que naquela hora estavam em casa extremamente abalados. Eles passaram a noite viajando de volta pra lá e estavam muito abatidos. Abracei-os e dei meus pêsames. Aparentemente eu havia sido o último a ouvir a voz da Lívia, pois ela não tinha telefonado para eles também. Deixei-os na sala e subi meio zonzo com essa notícia até o quarto onde o bebê dormia. O Henrique ficou na sala conversando sobre a nossa viagem, ele sabia que aquele momento era só meu.

Alice parecia um anjinho, era loirinha como eu naquele momento (sim meus cabelos haviam ficado mais claros), ela se parecia demais com a mãe. Fiquei ao lado do berço vendo-a dormir calmamente, como se protegida dos males daquela realidade terrível, tão nova e órfã de mãe! Eu nem senti, mas estava chorando silenciosamente. Ajoelhei-me próximo ao berço para olhá-la mais de perto, de modo que fiquei de costas para a porta. Passei algum tempo assim, em silêncio, enquanto lágrimas silenciosas molhavam meu rosto.

Senti uma mão em meu ombro e me levantei lentamente para não acordar o bebê. Quando me virei olhei direto para aqueles olhos verdes.

Leonardo me lançou um olhar de angústia tremendo. Até aquele momento eu não havia me tocado, mais foi ele quem havia visto a Lívia primeiro, e pendurada numa corda, morta. Estranhei o fato de ele continuar usando a corrente dele no pescoço. Ele tentou limpar minha lágrima que molhava o arranhão da bochecha, mas o impedi e me virei-me para o berço, embaraçado. Senti ele encostar o rosto no meu ombro e dizer próximo à minha nuca:

– a Alice parece com ela, né?

– Sim

– Depois que você me ligou eu vim correndo pra cá, mas não deu tempo. – senti sua respiração pesada.

– Eu me sinto tão prepotente Leonardo! – E eu desabei em lágrimas outra vez, ele me virou e me abraçou. Eu senti seu suspiro quente em meu ombro, ele afundou sua cara em meu ombro e começou a chorar abafando o som. Fiquei sem reação, apenas o abracei. Mas tarde soube pela minha mãe que ele havia raspado sua cabeça para apoiar a sua irmã na quimioterapia.

Esperei ele se acalmar e me retirei do quarto deixando-o lá. Saí sem me despedir, estava confuso, pois apesar de ter pena dele eu o ODIAVA.

Passei direto pela sala e os pais do Léo estavam lá, apenas acenei com a cabeça e saí acompanhado do Henrique. Fui para minha casa e passei todo aquele dia na cama chorando, sentia um misto de sofrimento pela Lívia e por ter revivido tudo aquilo com o Leonardo. Eu estava decidido, eu o odiava e precisava admitir que estava preso a tudo aquilo que ocorrera no passado. Estava cansado da vida que estava levando até então, era como se eu gritasse para sair daquele casulo, pois a lagarta já tinha asas e só faltava a força para romper a casca que me prendia.

Fomos para o cemitério, que era naquele estilo americano, de graminha e tudo mais. O caixão foi tampado sob o som de choro e lamúrias e desceu ao local onde ficaria para todo sempre, uma sombra no passado. Não esperei acabar apenas lancei uma rosa branca em cima e voltei para casa. Dormi profundamente e sonhei com a Lívia. “Cuida da Alice”, ela dizia. Acordei angustiado, pois não poderia levar a criança comigo e nem tinha condições de criá-la, mas quem sabe a vida não nos levasse a este ponto em outra ocasião? Quem sabe! Fui até a loja no outro dia, revi o gerente Lucas e adiantei a minha ideia em por minha mãe para cuidar dos negócios da loja, afinal ela era formada em administração, e devido ao trabalho na contabilidade estava apta ao cargo. Eu precisava tirar aquele fardo das minhas costas, porque dali pra frente as coisas iriam engrossar na faculdade. Nós já havíamos conversado algumas vezes sobre o assunto, mas minha mãe sempre recusava, pois era a loja do meu pai e seria uma situação delicada. Mas daquela vez, tendo em vista tudo o que estava acontecendo, ela finalmente havia aceitado. O meu pai não foi contrário a minha decisão, apenas advertiu que eu a ajudasse caso fosse necessário. A tarde passei na casa da Lívia para me despedir dos pais dela e da Alice e na mesma noite já estava no ônibus para a capital.

Dessa fora, pude voltar gradativamente à minha rotina, meus amigos me apoiaram muito nessa fase e saímos várias vezes nós quatro para que eu não me sentisse sozinho. Conversamos muito e eu acabei falando do Leonardo para eles, não falei do episódio com o Yan (esse segredo eu levaria comigo para o túmulo). A morte da Lívia me abalou demais. Eu perdi a vontade de sair outra vez, estudava em período integral e quase não descansava. O pessoal me chamava de máquina de estudar e eu realmente cheguei a um estado preocupante. Estava num ponto onde eu só estudava e deixei de comer e de dormir, apesar dos esforços dos meus amigos.

Certo dia, ao checar as mensagens na minha secretária eletrônica, me deparei com uma do número da casa do Leonardo. Estranhei o fato, mas resolvi ouvi-la.

“Fê, me diz por você nunca me deu a resposta?” – Leonardo dizia entre lágrimas.

Aquilo me perfurou feito uma faca. Resposta do que? Ele nunca havia me perguntado nada!

Naquele dia derramei palavras no meu diário, sobre o como ele me perseguia, sobre o quanto ele ainda mexia comigo. Naquela época não escrevia quase nada no diário, o pouco que está escrito revela o quanto eu estava mal durante aquele período.

Minha mãe veio me visitar pouco depois e percebeu meu estado. Ela me forçou a ir a uma psiquiatra com ela e ai que minha ficha caiu: eu estava com início de depressão. Essa foi uma das fases mais tensas de minha vida, passei os meses seguintes tomando antidepressivos, não entendo porque, mas felizmente eu continuava indo bem nos estudos. Meus amigos me ajudaram bastante a superar esta doença e depois de muita luta o fiz. Quando finalmente me senti melhor, o Rafael voltou a me visitar e me convidou a fazer academia com ele, fui a um salão e cortei meu cabelo que estava uma juba, fiz a barba e notei o quanto meus traços haviam mudado, minha feição era outra, meus olhos eram frios e sem vida, em um ano envelheci uns 20! Esse meu quarto ano de faculdade endureceu meu coração e arrancou de mim a leveza de ser. A criança dentro de mim havia partido.

Por sorte, eu estava me recuperando relativamente bem e me estabilizando. Foi nessa época recebi um convite de uma prima na Itália para viajar pra lá, ela havia sido informada do meu problema e me convidou para passear no país pois uma mudança de ares me faria bem. Fiquei receoso, mas minha mãe me incentivou e acabei não tendo escolhas. Lá, na Itália, eu finalmente pude definir um novo rumo para minha vida, era o impulso necessário para romper o casulo que me sufocava. Viajei e essa prima me levou por um tour no país.

Ah, eu finalmente estava de férias! Conheci Veneza e Roma, mas me encantei por Florença, que era simples, mas encantadora! Íamos dormir por lá antes de continuarmos a nossa viagem, mas acabei por encontrar o chalé e decidi ficarmos por lá, onde superei meu passado. Conheci dona Laura, Seu Augustino, Sofia e um de seus outros filhos, o Tony, que seria um dos protagonistas de meu maior dilema, o que vivo atualmente.

Continua...

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Dr. D a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

como os acontecimentos podem te fazer um ser sem esperança

0 0