O Bolsominion e o Petista. 02.

Um conto erótico de augustolincon
Categoria: Gay
Contém 1834 palavras
Data: 06/04/2020 14:14:26

O banheiro sempre ficava lotado de outros garotos no término das aulas. Aleph se sentia incomodado com isso, eram muitos genitais para desviar o olhar. Ele urinou rapidamente, lavou as mãos e saiu.

Fora da entrada do colégio, atravessou a rua e andou até passar por um trailer de lanches e parar próximo a um orelhão azul da Vivo. Sentiu-se tentado a comprar um pastel, mas não o fez. Se Ruan o pegasse comendo, com certeza, viria com uma de suas brincadeiras.

Devido já estar anoitecendo, as luzes dos postes estavam acesas. Alunos se cruzavam pela calçada do longo muro branco e amarelo do colégio; outros atravessavam fora da faixa. Carros, motos e bicicletas passavam de um lado a outro. Aleph quis que Ruan não demorasse a aparecer. Com seus pés em seus confortáveis tênis, ali continuou, sentindo o aroma de pastéis sendo fritos, seus polegares cavados nos bolsos frontais de sua calça. Minutos depois (que mais pareciam horas), sentia-se impaciente, aí sacou seu celular, querendo conferir se ainda estava bloqueado no zap pelo Ruan. Surpreendeu-se ao ver que havia sido desbloqueado, então achou bom e até esboçou um sorriso.

- Guarde esse celular. Quer ser roubado? - disse uma voz grave e familiar.

Foi o Ruan tendo parado atrás dele. O outro virou-se, já guardando novamente o celular.

- Se você demorasse, eu ia embora, Ruan - declarou frente a ele.

- Acabei de chamar um Uber - ele observou a tela de seu próprio aparelho. - Está chegando em cinco minutos.

Ruan não parecia feliz nem triste na presença do bolsominion.

Aleph pensou por alguns longos segundos, por fim interrogou:

- Tem certeza que quer minha companhia? - sua voz saiu um pouco hesitante.

O mais alto, e com o olhar para o céu escurecendo, respondeu:

- Meu pai hoje não vai chegar cedo em casa, vai pra um parabéns de alguém da equipe médica. Tudo bem você ficar lá comigo. Eu vou preparar o que falarei sobre os skinheads. Ah: traga botas e uma jaqueta pra você amanhã. Você ouviu a professora: um fala e entrega um resumo, enquanto o outro deve estar caracterizado - ele sorriu maldoso e completou: - Se quiser raspar a cabeça, não tenho nada contra.

- Muito engraçado, todo mundo riu - rebateu.

- Cadê seu humor? - olhava-o de lado.

- Por que escolheu falar desse grupo e não de outro? Com esse teu cabelo dava pra te transformar em um punk ou emo; Ou skatista, surfista... era só um de nós levar um skate...

- Pra ver se você tira algum ensinamento e deixa de ser eleitor do Coiso nazista e percebe o quão cruel é o racismo, a discriminação.

Aleph girou os olhos.

- Você está obcecado, leva tudo pro lado político. O Haddad até parabenizou o Bolsonaro hoje, você viu?

- Ainda não. Depois vejo. Ei, quando a gente chegar em casa, tomamos banho e faço alguma coisa pra comer, mas você vai me ajudar.

- Quero bife e batata frita - Aleph disse sem pensar.

- Voltou a comer carne? - quer saber arqueando a sobrancelha esquerda.

- Nunca deixei.

- Eu já desconfiava - falou o ruivo soltando o ar lentamente. - Desculpa, eu não ponho as mãos em cadáver de animal. Vai comer algo vegetal comigo.

- Sem chances. Então é melhor eu já levar um pastel de carne - disse ao lado dele.

- Garotos da sua idade também infartam. Abre o olho. O Uber tá vindo, não vou esperar que compre porcaria nenhuma.

- Ok. Eu peço uma pizza então.

Os dois ficaram em silêncio por mais algum tempo. Ruan mudou um pouco a postura e olhou meio inseguro para o ex.

- Escuta... - ele coçou o canto da testa. - Sobre o que você disse naquela hora, me acha mesmo feio por causa das minhas sardas? E eu pensei que fosse gamado no meu pau. Era tudo falsidade?

Aleph fitou o asfalto e pensou antes de falar:

- Você me detonou primeiro, eu apenas revidei. Só peço desculpas se me pedir antes.

- Então espere a vida inteira - falou Ruan.

- Acho melhor eu nem ir. Vai ficar implicando e me tratando assim?

Mas Ruan já estava perdido em pensamentos novamente. Olhando as primeiras estrelas surgindo no céu, o mais velho conversou:

- Meu pai vai comprar outra casa. Muito longe desta região. Nos mudaremos no começo de dezembro.

Instantaneamente, Aleph amargou com a notícia. Então opinou:

- Por conta das cobras da área militar?

- Sim - resignado, ele escorou-se no orelhão. - Você sabe, a gente evita a presença de roedores e pássaros, aparamos a grama, as janelas ficam fechadas maior parte do tempo, tem rodapés nas portas, mas... Tem um quartel atrás da nossa casa! Os bichos vem da mata e caem no nosso terreno. É foda - ele deu uma pausa. - Parei de chamar bombeiros ou o que seja. Agora eu pego uma barra de ferro ou o machado e acabo com esses bichos peçonhentos.

- Então você não é totalmente vergano. Eles não matam animais.

- Mato sem ninguém saber, não vão me punir se não verem - Ruan mudou o semblante para irritado. - Você ainda fala errado. Não é "vergano". O certo é que virei vegano. Ai, nem sei por que perco meu tempo te corrigindo.

- Porque você adora ser sabe-tudo.

- Você tá pagando cofrinho - ele observara olhando por trás de Aleph. - Por que não compra uma farda maior?

- Ei, deixa minha bunda. Cuida da tua, que nem é bunda: é a continuação da coxa. Mas até que a academia está te dando massa muscular e mais bunda, Ruan.

- Olhe pro meu corpo e chore, boy. Eu trepo com meu pau e não com outro local. Diferente de alguns.

- Cospe no prato que comeu. Minha bunda é meu patrimônio.

- Já fui convidado pra ser modelo. Meu pai não deixou porque eu tinha que sair do Brasil. Você sabe dessa história.

- Ai que menino mais vaidoso.

Como era de se esperar, o assunto voltou para a política.

- Comemorou ontem a vitória do fascista? Dormiu feliz por isso?

Mas Aleph tinha uma questão antes.

- Ei, vem cá: Me desbloqueou quando do zap?

- Hoje.

- Você nem devia ter me bloqueado. Olha, eu pensei agora, você teme que um ladrão passe e leve meu celular. Dilma e Temer deixaram a segurança pública uma maravilha! - ironizou. - É melhor mesmo todo mundo ter uma arma e deixar os bandidos receosos antes de irem assaltar. Os bandidos proliferaram com tanta gente dando mais e mais direitos e benefícios a eles.

- Se depender do Bozo, você apanha até virar hétero.

- Se depender do PT... game over pro Brasil.

- Seus argumentos são rasos como um pires. Bolsominion não pensa, só aplaude o Coiso.

- Aceita. Ontem foi "Elesim".

- Ele nunca será meu presidente. Quem votou, ou apoiou, comprou uma máquina de voltar no tempo. Entendeu?

- No tempo que não tinha tanto roubo, e tinha mais segurança e ordem? É isso?

A discussão parecia que ia prosseguir para sempre, mas Ruan se calou ao observar o fim da rua.

- É o carro do Uber ali na esquina. Vem, vamos até ele... - e o ruivo começou a andar.

Aleph não se moveu.

- Ele vai parar aqui - disse cruzando os braços.

- Tem que ser bolsominion mesmo. Caralho... - e voltou para onde estava.

****

Quarto de Ruan. 19:10 PM.

- Sério mesmo que eu vou ter que ficar aqui ouvindo esse tec-tec do teclado e sendo totalmente ignorado por você?... Ruan?! Eu tô falando, olha pra mim!

Ruan suspirou irritando-se. Eles mal haviam se falado desde que tinham chegado. Cada um com seu orgulho.

- Eu tô preparando o que falarei amanhã diante da turma. Então ligue a TV ou tome um banho primeiro. Daqui a pouco termino aqui.

Aleph fez um bico entediado.

- Estou com fome.

- E eu com sede. Vai lá na cozinha, pegue um copo com água pra mim. Estou adiantando aqui porque tenho dormido tarde e acordado tarde, não posso deixar pra marcar o que vou falar em cima da hora de ir pra aula.

O novinho se empertigou e olhou para os lados receoso.

- E se tiver uma cobra aqui dentro?

- Só se for a minha cobra - Ruan apertou o pênis por cima da braguilha do jeans e sorriu de canto. - Não diz besteira. Vai lá, minion.

- Você vai comigo?

- Não.

Levantando-se, Aleph não sabia se ia ou ficava.

- Por que me trouxe aqui? Eu já sei que é pra eu levar botas e uma jaqueta - resmungou novamente sentado.

- E raspe a cabeça também.

- Vai se foder, Ruan.

- Você sabe muito bem quem é que fode quem aqui.

"Eu não vou sair daqui. Morra de sede, Ruan."

Aleph pegou o controle a seu lado e ligou a TV.

- Ainda existe essa Aracy fazendo a propaganda da iogurteira Top Therm? Ela paga mico nacional e nem sabe. Só falta ir pra porta de presídio gritar "Lula livre" - alfinetou começando a zapear até pôr num canal de desenhos.

Minutos depois (ou foram dias para Aleph?), Ruan desligou o computador e se espreguiçou. Havia acabado.

- Terminei aqui. Então bebemos água e você vai... Vai embora na hora que quiser. Meu pai costuma demorar quando sai com outros médicos - ele olhou pensativo para o outro. - A gente toma banho e fica assistindo TV - propôs Ruan sem a camisa do uniforme.

As bochechas de Aleph avermelharam.

- Tomar banho juntos, igual como fazíamos?

- Claro que não. Tem três banheiros aqui em casa.

O novinho parecia considerar a sugestão.

- Por que eu vou ficar aqui, se você não suporta "bolsominions"?

Foi a vez das bochechas de Ruan ficarem coradas.

- Eu só não quero ficar sozinho agora. E você já tá aqui.

Aleph franziu as sobrancelhas.

- Era melhor a gente ter ido lá pra casa. Você só quer que eu coma comida de ver... digo, de VEganos. Dá pra pedir uma pizza?

- Pode ser. Trouxe dinheiro? Não vou pagar com o meu.

- Sim, eu trouxe.

- Vamos lá embaixo. Vai, levanta essa bunda gorda da minha poltrona - mandou se levantando da mesinha do computador.

- Se vai continuar com essa frieza e mau humor, eu prefiro ir embora, Ruan.

- Vem logo, devoto do Coiso.

Enquanto se retiravam do quarto, Aleph, para provocar, começou a cantar uma nova versão da música Let It Be, dos Beatles.

- Assim que o Mito se recuperar e sair estaremos todos juntos aqui. O povo cantando em uníssono: Ele sim. O capitão Bolsonaro, o Mito, virá com tudo para corrigir, voltar a ter o Brasil nos trilhos e os pingos nos is... O Brasil acordou de vez e agora o bicho vai pegar pra cima de quem quis retroceder o progresso do país. Ele sim! Ele sim... Ele sim... Melhor Jair se acostumando: Ele sim!... O capitão Bolsonaro vem aí... - cantava dando passos lentos até a porta. - Ele sim, ele...

Ruan interrompeu retirando as mãos dos ouvidos:

- Meu Deus, como é que fazem isso! Uma música do Paul MacCartney! Ele sonhou com a mãe que morreu de câncer, quando ele tinha 14 anos. Disso surgiu a inspiração pra essa bela música. Que desperdício usarem ela pra homenagear o Hitler brasileiro... - lamentou quase esbarrando no outro.

Isso só serviu para atiçar o bolsominion.

- Ele sim... Ele sim... - prosseguia Aleph adentrando o corredor com Ruan.

****

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