[Felipe, 13h02]
- Cê vai ficar bravo comigo mesmo? – perguntou Carlos enquanto estávamos saindo da faculdade
- Não tô bravo
- Claro que cê tá!
- Já falei que não
- Está!
- Tabom, eu estou!
- Viu! – ele disse e se colocou na minha frente – Eu odeio quando você fica fazendo esses dramas
- Eu? Você que ficou todo sentimental de repente!
- Felipe, eu já disse e vou falar de novo, eu estou com ciúmes
- Justamente o que eu não consigo entender, amigo! Você nunca sentiu ciúmes de mim, simples!
- Porque você nunca me deu um motivo!
- Fala sério! – eu gritei – Eu estou namorando! O que você quer que eu faça?
- Nada! – ele abriu a porta do carro – Eu só quis dizer o que estou sentindo, isso não precisa significar nada!
- Então essa conversa acaba aqui, certo? – perguntei abrindo a porta do carro.
- Certo – ele respondeu sorrindo
- Então vamos embora que eu tô com fome – respondi entrando no carro.
[Eduardo, 14h55]
Letícia sabia fazer uma bela de uma torta de frango. Ela me desafiava às vezes a fazer o mesmo, mas a minha nunca saia no ponto que nem a dela. Mas prometi que não ia comer nada antes do meu jantar com o Felipe. Eu encho rápido demais! Além de comer horrores quando eu saio pra restaurantes.
Meu cabelo é super liso. Eu amo isso, de verdade. Porém tem momentos que ele não quer ficar arrumado, sabe? Eu precisava dele nos trinques, e justamente hoje não está dando muito certo. Eu apostei que o Felipe nem ia reparar, estava torcendo por isso. Letícia tentou me ajudar, mas nem com a sua ajuda meu cabelo parou quieto. Eu não sou de passar produtos nele nem nada, mas decidi passar um gel porque alguns fios estavam rebeldes!
Incrível parar pra pensar que um mês atrás eu não me preocupava se alguém gostava da minha aparência ou do meu jeito bruto. Não senti a necessidade de receber carinho de alguém, simplesmente não havia uma preocupação. Mas agora é diferente. Eu tenho alguém que liga até seu eu deixei de fazer a barba! Eu me importo de receber cafuné na cabeça de uma pessoa específica. Eu de repente passei do cara insensível para um cara que quer dar um amor que nunca imaginou que sentiria na vida!
Amar foi a coisa mais absurda que me aconteceu. Eu nem sequer sabia que um dia eu poderia me apaixonar por outro cara, e que esse cara é com certeza a melhor pessoa que já conheci! Eu não sinto dificuldade em dizer que estou apaixonado por ele. Quero falar dele, quero beijá-lo, transar com ele, casar com ele, ter filhos com ele. Eu só o quero! Eu amo Felipe Figueiredo! Eu o amo demais! Eu não quero fazer nada além disso: amá-lo.
Sinto algo pesado por não poder dizer que ele tem essa mesma “coisa”. Ele me ama. Eu sei disso. Mas ele não necessita disso, não sinto sua vida precisando de alguém como eu. Quero dizer, sou apenas um fazendeiro jovem, rico e sem família... O que o faria sentir atração por quem eu realmente sou? O que será que ele viu em mim? [...] Aff, tanto faz, eu o amo!
[Felipe, 18h46]
Eu acredito ser a pessoa mais azarada do mundo por ter um amigo pontual e um namorado super pontual. Já me meti em várias brigas por causa disso, com os dois, e mesmo assim nada muda. É impressionante. Carlos não fez nem questão de me acordar do meu cochilo depois que eu cheguei da universidade. Fui até o quarto dele caçar confusão.
- Cê tá certinho em não me acordar, valeu! – disse procurando minha roupa na mochila
- Que? – disse confuso – Puta merda! Eu esqueci de te acordar, eu tô na partida aqui
- Uau, novidade! – disse, ainda procurando minha roupa – Seu vício em jogos me assusta!
- Foi mal mesmo
- Tá tudo certo, vou tomar banho no seu banheiro mesmo e é isso
- Ok
Até o banheiro do Carlos Eduardo é personalizado com coisas tecnológicas. O assento da privada é quente. Sim, quente! Os chuveiros são enormes e tem um na frente e atrás do corpo, é simplesmente uma delícia. Pena que eu não tenho mais tempo pra relaxar aqui. Sai do banheiro e me troquei ali no quarto dele mesmo, não seria nem a 100ª vez que isso acontecia, nem ligava mais.
- Bem que você podia me poupar só dessa vez né – disse Carlos.
- Eu tô com pressa, com licença!
- Okay, foi mal!
Não demorou muito pra buzina tocar do lado de fora da janela. Carlos se levantou pra ajeitar meu cabelo que estava um caos e a minha gravata. Sim, fui todo formal porque eu sabia que Eduardo estaria todo formal também.
- Tá demorando muito, meu cabelo tá tão péssimo assim? – perguntei enquanto ele fazia meu penteado “formal”
- Seu cabelo é bonito mas dá trabalho!
- Eu vou morrer quando o Eduardo me ver, de tão atrasado
- Prontinho! – disse se afastando e dando uma analisada – É, tá ótimo, vai!
Saí na maior pressa. Quando eu vi o Edu me esperando eu surtei. Não podia ser mais sortudo por chamar de meu, estava lindo demais! Eu fui me aproximando bem devagar apreciando cada detalhe dele. Estava camisa social branca com uma gravata azul linda. A calça combinava com a gravata. Ficou tão bem nele, super apropriado.
Eu dei um leve sorriso de vergonha por achar que eu não estava à altura, mas ele quebrou esse sentimento pegando minha mão e a beijou. Devo ter ficado vermelho. Olhou nos meus olhos e seu sorriso que um dia me conquistou voltou a parecer pra mim. Abriu a porta do carro e partimos para o tal restaurante surpresa. E conhecia todos os pontos comerciais da cidade mas não tinha ideia de onde estávamos indo.
Parecia estar longe tudo o que eu conhecia até então. O que era ótimo porque eu queria fazer algo novo com alguém novo.
- Eu nem imagino pra onde você tá me levando – eu disse
- Sério? – perguntou surpreso e sorrindo – Então fiz uma boa escolha
- Com certeza
- Você vai gostar – continuou dizendo e soltou uma das mãos do volante e segurou a minha
- É claro que eu vou! – eu respondi e apertei mais forte sua mão – Se você tivesse dito pra gente ficar na frente de casa vendo a lua pra mim já ia estar de bom tamanho
- Own! Que fofo que você está hoje!
- Eu sou às vezes
Ele sorriu.
O lugar do nosso primeiro encontro era o “Lux n’ Food”. Eu já ouvi falar, mas só o Carlos e os outros amigos dele vinham aqui porque é o restaurante mais caro da cidade. Olhei para o Edu e fiz uma cara de espanto.
- Uai! Que cara é essa?! – perguntou
- Edu, esse restaurante é caríssimo!
- Ué, eu sei disso – deu risada
- Eu não sei se eu sou tão rico assim...
- Eu te chamei pra jantar não foi? – perguntou, mas não respondi – Então eu pago, a ideia era você vir
Dessa vez eu sorri, meio envergonhado, mas feliz por aquela noite estar sendo maravilhosa. Saímos do carro e fomos entrando no restaurante. Era simplesmente a coisa mais chique e luxuosa que eu já havia visto em toda minha vida. O lugar era enorme, cheio de lustres e vária mesas com velas, música lenta ao vivo, iluminação suave e aconchegante. Tudo bom demais pra ser verdade.
- Onde você quer sentar – perguntou e eu olhei com um sorriso super malicioso pra ele – Ah não! Você não... – ele deu muita risada – Okay, vamos na mesa 7, o que me diz, príncipe?
- Eu acho bom, rei!
A mesa fica em frente ao palco onde estava tocando um piano bem calmo e relaxante. Jantares românticos são umas das coisas que todos deveriam experimentar algum dia. Por que? Quando você está apaixonado, momentos assim te dão a oportunidade de ficar de frente e só olhar pro rosto da pessoa mais importante da sua vida no momento. É algo indescritível e super vale a pena ter alguém pra compartilhar com você.
E eu não conseguia parar de olhar para o Eduardo. Sem defeito nenhum. Seu cabelo estava um pouco diferente, mas estava lindo. Não costumava deixar a barba aparecer, mas desde que saí da fazenda ele estava deixando-a crescer e agora estava muito bem feita (me causando um puta tesão nele). Seu sorriso não saia do rosto e me deixava ainda mais apaixonado. Segurou novamente minhas mãos e confesso que fiquei um pouco temeroso. O tão famigerado medo que os casais homoafetivos tanto falavam nas redes sociais e TV parecia um pouco mais real agora. Mas foda-se. Eu nunca tive medo de ninguém. Por que eu teria agora? Esse sentimento só me fez responder com o mesmo sorriso e olhar no mais profundo dos seus olhos.
Algumas pessoas de longe olharam para nós, mas eu amei. Eu amo causar estresse pra quem nem precisa se estressar. Porque simplesmente o que eu passo não deve ser palco de preocupação pra ninguém. Isso é recíproco.
- Você está lindo, Felipe – disse finalmente o que eu queira ouvir – De verdade, eu acho que eu não poderia vê-lo mais lindo que isso.
- Nossa! Isso foi muito profundo...
- Eu treinei o dia todo!
Eu dei risada
- Sua besta!
- É mentira! – riu também – Pra falar a verdade, você é uma das poucas pessoas que eu consigo ser real, sem medo ou frescura
- Sem frescura? Você? – ironizei – Você reclama quando eu penteio meu cabelo pra direita ao invés da esquerda!
- Para de ser otário! – disse sorrindo – To sendo fofo!
- Eu sei – gargalhei – Eu gosto de te perturbar
- Ah! Isso é verdade, você tem um talento especial pra isso! Oh se tem!
- Mas é por que eu te amo...
Ele mordeu os lábios.
- Aff, se eu pudesse te beijar agora...,mas cê tá tão longe...
- Mais tarde a gente conversa – provoquei
Ficamos conversando por horas sobre como tudo aquilo era doido. Edu me contou sobre sua história novamente, só que com detalhes. Detalhes que eu achei que nunca fosse descobrir.
- Quando eu cheguei na casa dos meus pais naquela noite, eu estava super nervoso mas feliz que eu ia pelo menos vê-los, sabe? De alguma forma eu sentia que eles iam saber que era eu, o filho deles – nesse momento seus olhos ficaram molhados, mas não estava chorando ainda – Pensa no maior sentimento de indiferença que você já sentiu, é pior do que isso
- Nossa...
- Pois é – enfatizou – Quando abriram a porta da casa, um cara velho e rabugento me olhou de cima a baixo, com um olhar cinzento e uma postura humilhante. Te juro, eu queria ir embora naquele momento. Mas ai uma mulher, de cabelos pretos e velha também, triste e oprimida veio até a porta também. Perguntaram que eu era e eu fui direto e disse que eu era filho deles. “Eduardo Oliver Silveira”.
- E então?
- E então que o desgraçado ia fechar a porta na minha cara. Mas eu não deixei. Sério, a versão que você está conhecendo de mim é muito diferente de um ano atrás. Eu fiquei puto, muito puto e empurrei a porta, entrei a casa e comecei a gritar com eles, fazendo perguntas e a única coisa que eu ouvi foi: “Você foi indesejado e só não o abortamos porque a puta da sua mãe conseguiu disfaraçar”. Depois disso eu só lembro de levar um tiro e sair correndo no meio do mato – o choro foi tão arrebatador quanto suas palavras.
- Nossa, eu nem consigo imaginar como você encarou isso em tão pouco temo, quer dizer, isso aconteceu ano passado! É muita maldade pra uma pessoa só aguentar.
- Foi a Bete, Lipe. Ela sempre foi minha guia. Nosso encontro não foi dos melhores, mas ela me mostrou como as coisas são e que eu não precisava passar por elas sozinho. Eu a amo demais.
- E não vai passar por nada sozinho, eu tô aqui agora.
Ele sorriu pra mim e limpou as lágrimas. A nossa noite depois desse papo foi uma maravilha. Comemos demais, eu diria até mais que o normal e se tem uma coisa que eu aprendi no nosso primeiro encontro foi isso: nunca dê bebida demais para o Eduardo. Ele não tem limites! Bebe horrores. Se o garçom serviu bebidas pra gente 12 vezes foi pouco. Mas a pior parte é: eu não sou muito diferente não! Bebo tudo que vier pela frente e olhe lá. Depois do nosso jantar maravilhoso, estávamos definitivamente bêbados e impossibilitados de dirigir. O Eduardo não falava nada com nada.
Com o pouco de sanidade que eu ainda tinha, peguei meu celular e liguei por Carlos vir buscar a gente se não ele iria ter que buscar a gente num caixão no outro dia. Não demorou nem 10 minutos e ele já estava lá pra pegar eu e o Eduardo.
- Vocês são doentes! – disse ele
- Eu sou doente, mas doente de amoooooooor! – gritou Eduardo
- E eu sou doente de pica! – eu gritei
- Nossa, vamo logo vai! – disse Carlos colocando eu e o Edu no carro – Cala a boca Felipe!
- Hummmm para você! Seu safado doido!
[2h42]
Edu e eu estávamos bêbados até os dentes, nossa sanidade estava péssima até mesmo pra transar naquela noite. Eu o beijei muito antes de Carlos deixa-lo em casa. Foi com certeza uma das melhores noites da minha vida. Tirando o fato de que eu não ia transar, mas foi uma das melhores noites. Carlos teve que me carregar porque eu mal conseguia ficar em pé. Um amigo cavalheiro é o que precisamos.
- Sem barulho Felipe! – sussurrou
- Seu brinco é preto?! – perguntei – Achei que fosse azul
- Quieto!
Seus dias fazendo academia o ajudaram a me aguentar até subir às escadas. Normalmente eu sentiria aflição por estar nessa situação constrangedora, porém essa não é uma situação normal. Entramos no quarto de hóspedes e ele tirou minha camisa, desabotoando botão por botão e eu falando várias merdas aleatórias.
- Você é demais Cadu! Você é o cara!
- Tá tá, agora fica quieto por favor.
- Você é um filézão!
Tirou minhas calças e fiquei só de cueca box.
- Vem!
- Banho gelado, não!
- Banho gelado sim!
- Não!
- Sim! – me puxou pelo braço e eu sem forças acabei cedendo
- Tabom, tabom, eu vou! – eu disse – Calma.
Ele me apoiou e me colocou debaixo do chuveiro. Quando aquela água mega fria caiu em cima de mim parecia que eu tinha voltado à vida. Surreal. Nunca fique bêbado a ponte de ter passar pelo chuveiro gelado, é simplesmente péssimo! Carlos desligou o chuveiro depois que viu eu voltar à sanidade e me deu a toalha pra me secar. Me troquei e ele me ajudou a ir pra cama depois de toda aquela loucura. Ainda estava meio tonto, então não consegui raciocinar direito.
Me deitei na cama e ele ficou ali até eu começar a apagar.
- Por que você tá aqui ainda? – perguntei
- Lembra quando você dormia aqui e do nada levantava com medo me acordar?
Eu sorri porque lembrei exatamente desse momento
- Sim, me lembro
- Eu tô garantindo que isso não vai acontecer de novo
- Então dorme aqui comigo.
Ele arregalou os olhos
- Fica aqui comigo, só hoje.
- Okay
Ele veio lentamente e se deitou do meu lado. Me virei pra ele e lembrei de muitos momentos em que eu sentia que nunca teria alguém tão gentil e gente boa como o Carlos. Não existia uma relação de amor romântico, existia uma sensação de amizade inseparável. Provavelmente eu nunca vou entender o quão forte é isso, mas pelo menos eu sei que alguma força tem. Ele pode achar que eu de alguma forma vou sumir, mas eu não seria tão maldoso com alguém tão bom assim.
- Obrigado por me salvar da fúria dos meus pais – eu disse
- Quem nunca chegou super bêbado depois de uma noite badalada como essa – respondeu
- Verdade, você já dormiu várias vezes lá em casa, super bêbado! – eu brinquei – Você é mais doido que eu ainda, eu diria.
- Realmente, se eu parar pra pensar, você me livrou de muitos castigos nessa vida
- Viu, você me salva, eu te salvo!
- Pois é
- Mas deixa eu te perguntar uma coisa
- Vish, já sei o que é. A resposta é não
- Amigo, todo mundo disse que viu
- E eu digo que não aconteceu nada!
- Amigo...
- Não aconteceu nada entre mim e Natália, não vamos conversar sobre isso
- Carlos Eduardo, você estava no meu quarto, tinha sumido da festa e quando fui ver estava você e ela saindo dele: como não suspeitar de alguma coisa?
- Tudo bem, acho legítimo, mas vale mais a palavra do seu melhor amigo ou de um monte de gente que viu eu e ela transando?
- A sua, mas...
- Então fechamos aqui, Natália é minha amiga e não aconteceu nada!
- Mas você queria que acontecesse
- Claro que não
- Por que não?
- Porque...porque...ué...besteira
- Por que Carlos?
- Porque não! É de você que eu tô afim! Pronto, tá feliz agora?
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Pessoal, que bom que vocês ainda estão comigo. Sério, tô muito feliz, de verdade! Tô super motivado. Lembrando que essa história não vai acabar, mas um ciclo dela. Depois vai voltar mas com um foco diferente! Amo vocês e vamo que vamo pro último capitulo!
Kimi