CAPÍTULO 06 – AS EXPECTATIVAS SÃO NOSSAS, NÃO DAS PESSOAS
O Lucas ainda estava meio atordoado devido as medicações, reconheceu os pais e a mim. Não podemos ficar muito tempo, pois o médico falou que ele tinha que descansar e não podíamos força-lo a lembrar nada, a mente dele ia se recuperando aos poucos. Ele não lembrava do acidente, sendo o médico é um mecanismo de defesa da mente, para proteger de traumas, ele poderia recuperar ou não a lembrança da hora do acidente, mas isso só o tempo poderia dizer.
No dia seguinte o Lucas tinha feito um monte de exames e eu queria estar lá para saber os resultados.
- Não pode ser. – Falou a mãe dele que falou. Quando o médico falou que ele poderia não andar mais.
- Pode ser apenas um trauma temporário, porém temos que esperar a avaliação do ortopedista e do reumatologista. Só assim teremos uma avaliação mais precisa.
- Ele tem mais algum agravante? – Eu quem perguntei desta vez.
O Lucas estava calado deitado na cama apenas encarando o nada enquanto os pais deles conversava com o doutor.
- Não. Como falei, este trauma pode ser temporário e temos que ouvir o especialista.
- Podem me deixar sozinho com o David? – Falou ele enfim.
Eu olhei para ele, que estava com um olhar vazio.
A mãe dele hesitou por um segundo e então assentiu.
Todos saíram do quarto e ficamos sozinhos. O silêncio reinou no quarto por alguns instantes até que ele quebrou o silêncio.
- David, eu não quero que pense que só porque estou inválido em cima de uma cadeira você tem alguma obrigação de ficar comigo.
- O quê? – Falei espantado com o que ele estava dizendo. – Do que você está falando Lucas?
- Estou dizendo que não tem obrigação nenhuma comigo. Está livre para fazer a sua vida o que quiser, estou lhe liberando de uma responsabilidade que não é sua.
Eu fui até o lado dele e sentei em uma cadeira ao lado da sua cama. Peguei a mão dele e então falei olhando nos olhos dele.
- Não fale isso. – Falei olhando aqueles olhos negros. – Eu não estou preocupado com isso. E você ouviu o doutor, temos que esperar a opinião do especialista.
Ele puxou a mão. Vi seus olhos encherem de lágrimas.
- David, eu não sinto as minhas pernas, não tem como não ser grave.
- Lucas... – Ele me interrompeu.
- Eu não quero você aqui. Saia! – Falou ele olhando para o outro lado.
Ele só podia está falando aqui para que eu ficasse com raiva dele e aceitasse o que ele queria. Eu sabia que ele estava com medo do que estava por vim.
- Seu idiota! – Falei e ele olhou para mim com cara de espanto, seus olhos estavam cheios de lágrimas. – Não pense que você vai dizer coisas para me afastar de você. Você não vai me afastar de você, Lucas. Mesmo que não me queira aqui eu vou estar ao seu lado...
Ele me interrompeu novamente.
- Eu não quero ninguém perto de mim por pena. – Afirmou ele.
- Pena? – Eu ri como se tivessem contado uma piada sem graça. – Não seja idiota. Escute bem o que vou lhe dizer. – Falei pegando sua mão novamente, ele tentou puxar, mas eu segurei firme. – Eu não vou ficar longe de você. Entendeu? E nem tente me afastar, pois eu vou até o fim.
- Por quê? – Perguntou ele.
Eu ri da pergunta dele. Eu nunca tinha falado aquilo em voz alta, já estávamos juntos há um tempinho e eu sabia o que eu sentia por ele.
- Porque eu te amo seu idiota.
Vi seus olhos brilharem quando ouviu aquelas palavras.
- O quê?
- O que você ouviu. Eu te amo.
Ele sorriu e apertou minha mão.
- Quando eu estou com uma pessoa, eu estou para valer. Entendeu? Vamos enfrentar isso tudo juntos.
- Eu te amo, David. E nunca pensei que seria possível gostar tanto de uma pessoa como eu estou gostando de você.
Eu me inclinei e o beijei. Assim como ele, eu também não pensei poder gostar de uma cara tanto quanto eu estava gostando dele.
Sei que muito poderiam dizer que era só um caso de colégio, que aquilo poderia acabar um dia, mas não estava preocupado com isso. Eu sabia de uma única coisa naquele momento e isso era só o que importava. Eu queria estar com ele e era só isso, viver cada momento como se fosse o último.
****
Dez dias depois o Lucas teve alta, a mãe dele ficava a manhã toda cuidando dele. Eu, a Juh e o Victor dividíamos e toda a tarde um de nós íamos cuidar dele, para que não ficasse pesado só para um, pois tinham as atividades das aulas, que ficamos dividindo os trabalhos para incluir o Lucas, ele estava de atestado e estava estudando em casa, todos os dias a gente levava um resumo das aulas para ele ir estudando ao poucos até poder retornar.
Depois de 30 dias o Lucas retornaria para o colégio, ele iria de cadeira de rodas. Começou a fazer as fisioterapias três vezes por semana, o especialista falou que o trauma era temporário e com as fisioterapias e uma boa recuperação ele logo deveria voltar a andar.
Ao retornar para o colégio, o Lucas foi recebido por todos com muito carinha, sempre tinha alguém disposto a ajuda-lo. Mas sempre estávamos eu, Juh e Victor com ele. Eu pensei que ele ficaria abatido com o uso da cadeira de rodas, mas não, ele me surpreendeu, pois estava bem adaptado.
E assim os dias formam se passando. Um dia eu estava com o Lucas sentados embaixo da árvore, como costumávamos, enquanto a Juh tinha ido comprar lanche com o Victor, quando o Breno chegou onde estávamos.
- Eai pessoal. – Falou ele meio receoso.
- O que você está fazendo aqui? – Questionei ficando em pé entre ele e o Lucas.
- Calma, David. Não precisa ficar na defensiva.
- O que você quer aqui cara? – Foi o Lucas quem perguntou desta vez.
Ele parecia pensar, ficou em silêncio por alguns instantes e então falou.
- Eu queria me desculpar com vocês dois.
- Oi? – Fiquei surpreso. – Isso é algum tipo de brincadeira sua?
- Não, não. – Falou ele rapidamente. – Eu sei que fui um babaca com vocês naquele dia. Por isso sinto que devia desculpas a vocês dois. De verdade.
Eu olhei para ele e depois me voltei para o Lucas. Ele deu de ombros.
- Tá bem cara. – Falei em fim. – Desculpas aceitas. Da minha parte.
- Da minha também. – Falou o Lucas.
- Obrigado! De verdade. – Falou ele. – Podemos tentar ser amigos? – Falou ele estendendo a mão para o Lucas, que olhou para a mão dele e retribuiu o cumprimento.
- Podemos.
Ele estendeu a mão para mim também, que retribui o gesto.
- Obrigado! Até mais.
- O que você está fazendo aqui Breno? – Foi o Victor que perguntou ao chegar onde estávamos. – Já está procurando encrenca de novo?
- Ele só veio se desculpar com a gente. – Falei.
- Sério? – Falou o Victor.
- Sério.
- É verdade, eu só estive pensando bem depois que conversamos esses dias e resolvi me desculpar.
- Que bom. – Falou o Victor e abraçou o irmão bagunçando seu cabelo.
Ele riu e saiu de debaixo do braço do irmão.
- Sai dai Zé Mané. – Falou ele e saiu.
- Até mais galera.
- Definitivamente temos que recrutar meninas para esta turma, eu sou a única menina aqui. Parece meu estranho, gosto de ser o centro das atenções, mas vamos recrutar mais uma garota. – Falou a Juh sentando para comermos os lanches.
****
As consultar do Lucas estavam evoluindo, ele já estava começando a recuperar os movimentos das pernas o que é muito bom.
O Breno passou a andar com a gente e uma colega dele do segundo ano também a Barbara, que segunda a Juh era a garota ideal para nosso grupo, pois era parecida com ela.
Os dias foram se passando e tudo estava indo muito bem. Sempre que podíamos, nos reuníamos na casa do Lucas. Havia chegado o mês de outubro e os aniversários da Juh, da Bárbara e do Breno se aproximavam. Ambos comemoravam aniversário com 4 dias de diferença de uma para outro o que era ótimo, pois iríamos fazer uma festa só. Juntamos todos para fazermos no penúltimo dia do mês. No decorrer do mês o Lucas evoluiu bastante, sendo ele, até o fim de mês ele já estaria andando sem a ajuda das muletas, que há um mês atrás ele tinha passado a andar com elas no lugar da cadeira.
Fizemos as primeiras provas do semestre e todos tinham se dado bem, como estávamos quase sempre se reunindo na caso do Lucas para estudarmos, até o Breno e a Bárbara, tinham se dado bem, pois como eram um ano antes, nós ajudamos bastante eles com os assuntos.
Decidimos fazer a festa deles no mesmo local que o Victor fez a festa dele. Todos comemoramos bastante. A Juh conheceu o Rodrigo, amigo do Wallace, namorado do Victor e começaram a dá uns pegas. Acho que o Breno e a Barbara estavam tendo algo também, pois não desgrudaram durante quase toda a festa.
O Lucas, como prometido, tinha largado as muletas e já andava sem o apoio delas. Só não tinha condicionamento para correr, mas já estava recuperado.
No fim da festa estávamos todos sentados até que o Victor decidiu que todos íamos dançar. Ele foi no som e colocou a música Passenger | Let Her Go e fomos todos dançar. A Juh e o Rodrigo, eu e o Lucas, O Breno e a Barbara, o Victor e o Wallace e algumas pessoas que ainda estavam na festa. Essa música era perfeita. Todos dançando com seus parceiros. Ficamos dançando e logo começou a tocar uma música e todos nós nos reunimos em um círculo e começamos a dançar e cantar a música, todos nós gritando e pulando ao som dessa música belíssima.
(Milla – Netinho)
Ô Milla!
Mil e uma noites
De amor com você
Na praia, num barco
No farol apagado
Num moinho abandonado
Em Mar Grande alto astral
Lá em Hollywood
Prá de tudo rolar
Vendo estrelas caindo
Vendo a noite passar
Eu e você, na ilha do sol
Na ilha do sol
E tudo começou
Há um tempo atrás
Na ilha do sol
Destino te mandou de volta
Para o meu cais
Hiê ê!
Tudo começou
Há um tempo atrás
Na ilha do sol
Destino te mandou de volta
Para o meu cais
No coração ficou
Lembranças de nós dois
Como ferida aberta
Como tatuagem
Ô Milla!
Mil e uma noites
De amor com você
Na praia, num barco
No farol apagado
Num moinho abandonado
Em Mar Grande alto astral
Lá em Hollywood
Prá de tudo rolar
Vendo estrelas caindo
Vendo a noite passar
Eu e você, na ilha do sol
Na ilha do sol
Terminamos todos abraçados e seguimos dançando até o fim da festa. Aquela sim era a expectativa que sempre tive daquele rupo de amigos.
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Boa noite galera! Tá aí mais um capítulo, espero que gostem.
Obrigado a todos pelos comentários. Leio todos os comentários.
Forte abraço a todos e obrigado a todos que leem o conto, mesmo o que não comentam, sei que estão gostando, pois sempre estão lento.
Feliz Páscoa a todos!