*Nota do autor: este capítulo foge um pouco do foco central da história e do portal, que é seu caráter eróticos. Porém, ele é crucial para o enlace final ao qual este se direciona. Por considerar a história original um pouco pesada, suavizei o texto ao máximo. Espero que gostem.
...
Perdão, padre. Porque eu pequei.
Ora ora, é um sorriso que estou sentindo brotar aí dentro?
Cuidado, padre. Pois posso começar a pensar que o senhor está gostando de ter a companhia de um demônio em sua igreja.
...
Sim, eu também sinto isso. Pode parecer loucura, mas começo a ficar ansioso pelos nossos encontros. Gosto de conversar francamente com alguém. Falar livremente.
Exatamente. Já estou introduzindo o assunto o qual foi iniciado ontem. Sobre Agnes, sobre Nova Orleans, tudo. Como prometi, vou lhe introduzir nos confins mais obscuros de meu eu. Grande parte de obscuridade, está na vida que tive antes dessa.
Antes de ser Fabio Mendes, padre, eu fui Will Bridge. Nascido em Nova Orleans. E isso já fazem uns 200 anos. E essa foi a primeira coisa que me preocupou quando reencarnei como Fábio. Sim. Muito tempo. Oi? Verdade? Eu falei 1703? Errei. 1803, na verdade. Queira me perdoar, a cabeça já não é tao boa quanto a mil anos atrás.
Mas a questão é que nós Incucus não costumamos demorar tanto para voltar a este mundo. Reencarnamos com algumas décadas, no máximo. Agora, dois séculos... Nossa.
A segunda preocupação, na verdade era a que eu já tinha na minha vida anterior.
A de ficar só. Em 1803 eu já sabia que o número de Incubus no mundo havia reduzido. Eu mesmo só conheci Agnes na minha vida anterior. E nenhum nessa vida.
Antigamente? Nossa. Éramos muitos. Na Europa então, na gloriosa Idade das Trevas, eu tinha muitos amigos. Saíamos juntos, seduzíamos homens e mulheres, nobres e plebeus. Atormentavamos o clero. Éramos reis.
Mas os tempos estavam mudados. E tenho uma forte suspeita do motivo.
O fato é que, Agnes era minha única amiga. Ela e uma concubina chamada Ellen. Lembra quando te falei dos raros humanos capazes de resistir a nós? Então. Ellen era uma dessas figuras raras.
Nossa. Me desculpe. Olha eu atropelando a temporalidade. Permita dar ao senhor um breve resumo para lhe contextualizar na história, sim?
Will Bridge nasceu em Nova Orléans, início do século XIX. Rapaz pobre da periferia, teria tudo para ser dar mal na vida se não fosse a sorte de nascer um Incubus. A vida boêmia da cidade caiu como uma luva para minhas habilidades. Prostituição não é nenhum problema para nós Incubus, como o senhor deve imaginar. E no caso de Will, foi a melhor chance dele subir rapidamente na vida. Eu era muito requisitado. Nobres dos mais variados passaram pela minha cama. Todos clientes satisfeitos. Ninguém se comparava a mim na cidade. Ninguém, até a chegada de Agnes. Foi só nos olharmos para termos a certeza que éramos almas irmãs. Foi uma alegria. Era a primeira Sucubus que eu encontrava naquele vida. E ela partilhava da mesma aflição. Nos agarramos um ao outro de tal forma, que fizemos uma poderosa parceria em Nova Orléans, gerenciando um cassino de sucesso. Agnes tinha uma preferida, uma prostituta chamada Ellen. Ellen era, sem duvidas, uma mulher especial. Além de linda, era esperta e tinha uma total liberdade de pensamento. Uma mente a frente de seu tempo. Sim, eu joguei meu charme em cima dela. Juro pelo seu Deus que eu tentei. Mas a mulher era imune. Não me admirava Agnes gostar tanto dela. De acordo com Agnes, o que ela mais gostava em Ellen era o fato de saber que o sentimento da prostituta era legítimo. Que gostava dela por ela mesmo, e não por ser um Sucubus.
Sabe, padre, nunca entendi essa loucura de Agnês. Como ser ela mesma sem ser um Sucubus? Digo, minhas habilidades são parte de mim, logo, gostar delas ou por causa delas é uma forma de gostar de mim pelo que eu sou. Se eu reprimo isso e tento conquistar alguém por vias humanas, logo não vou estar sendo quem eu realmente sou. Um Incubus. Entende? Ou fui muito confuso?
Mas o caso é que Agnes tinha dessas loucuras. E Ellen era seu xodó. Ela mantinha a garota protegida, destinava a ela apenas os melhores clientes. Mas nem mesmo o poder e influência de Agnes a protegeu do que veio.
Ela e Ellen foram assassinadas. E meu mundo caiu.
Depois de um longo período tentando vencer o sentimento de perda. E sabendo que não poderia tentar conseguir ajuda com as autoridades, eu me afoguei no trabalho. Para a polícia, não valia a pena mover mundos pelo assassinato de duas "putas quaisquer".
O homem que disse isso em meu cassino ganhou um garfo fincado na palma da mão.
Mas a coisa mudou quando eu recebi um cliente muito especial. Era o governador da cidade. Um dos melhores clientes. Militar de alta patente, dono de fazenda e escravos. Um pau insaciável. Sempre que vinha a cidade, queria ser atendido pelas melhores. Pelas melhores e por mim. O recebi em meu escritório mesmo, pois ele queria me possuir logo. Arrancou minhas roupas e foi chupando cada centímetro de minha pele. Como era magistroso com a lingua. Normalmente eu ficava com marcas roxas na pele pelos chupões, mas não me importava.
Foi então que algo aconteceu. Uma de minhas habilidades se manifestou sem querer.
Essa eu não te expliquei ainda, mas o senhor já a conhece. Aconteceu em nosso primeiro encontro. Quando estou envolvido com alguém. Quando o prazer é compartilhado, as vezes sou capaz de penetrar na mente da outra pessoa. Ter acesso aos momentos mais prazerosos da vida dela. Assim como fui capaz de ver você com seu padrinho, também fui capaz de ver o governador em seu momento mais prazeroso. Foi nesse momento que a imagem de Ellen estrangulada entre seus dedos me atacou como um soco no rosto.
Eu estava por cima dele na hora. Seu corpo nu em cima de minha mesa. Meu corpo nu por cima dele.
Nesse instante, conforme eu penetrava em suas lembranças, minha mão foi levada ao seu pescoço inconscientemente.
Vi como tudo aconteceu. Como ele transou com Ellen, como a coisa foi ganhando força. Como Ellen reclamou que ele a estava machucando. Algum lado da mente doentia dele imaginou que as queixas fizessem parte de um teatro, e não parou. Ele a enforcou. Não. Ele não queria mata-la. Mas não importa, pois foi o que o desgraçado fez. Ele perdeu o controle e a matou.
Agnes ouviu tudo e invadiu o quarto. Ficou sem palavras com a cena. E sua hesitação lhe custou caro. O governador pensou mais rápido. Pegou o lençol e correu nu em direção a Agnes. Enrolou seu pescoço também. Ela não conseguiu gritar. A reação em cadeia que se seguiu dali foi semelhante a curra que recebi dos alunos da academia de luta.
O maldito descobriu o prazer em estrangular mulheres. E quanto mais prazer sentia, mais os poderes demoníacos de Agnes eram ativados. E assim, mais força ele fazia. Efeito bola de neve. Até ela cair morta também. O canalha gozou enquanto as estrangulava, padre.
Quando dei por mim, eu também o estava estrangulando. Rosto vermelho. O larguei, pois a razão me foi mais forte
Não, padre. Não foi benevolência. Eu o queria morto. E ia ter. Mas fazer aquilo colocaria um alvo em minha cabeça pelo resto da vida. Eu tinha que ser mais esperto. Esperto e paciente.
O idiota nem percebeu que eu queria mata-lo. Para ele, foi parte do jogo bizarro que ele tanto gostava. E adorou. Me comeu com mais potência ainda. Mas eu já não estava no clima.
Acho que posso dizer com toda certeza que aquela foi a única vez que transei com alguém completamente contra a minha vontade. Aquele pau, tão delicioso tinha gosto de podre em minha boca. As penetrações que tanto me davam prazer... Parecia mais que alguém estava enfiando ferro gelado em mim...
Mas eu aguentei. Ele estava animado. Estava feliz. Tinha gostado do meu surto de violência. E agora descontava aquela violência em mim. Me bateu, me marcou. E eu aguentei.
Voltei para minha casa e de lá, comecei o plano que estava arquitetando enquanto ele me penetrava.
Eu o visitei aquela noite, padre. Raramente usava meu poder pra isso. Meus sonhos, wue tinham como função dar prazer, naquele momento só desejavam caussr pavor. Um Freddy Krueger boêmio. Visitei seus sonhos na noite seguinte também. E na outra e na outra. Ele tentava dormir, eu aparecia, tentava cochilar no trabalho, eu estava lá. Sofá, cadeira, chão. Não importa onde ele tentava, eu aparecia de imediato. Sempre lá. Sempre com ideias novas. Agnes e Ellen me ajudaram. Elas eram as protagonistas de muitos dos sonhos que reservei pra ele.
Ele não dormiu. Não o deixei dormir por muitas e muitas noites. Dias, semanas. Eu também não dormia. A noite, eu o visitava em sonhos. De dia, pensava como o torturaria na noite seguinte. Eu era mantido apenas por café, wisk e ódio.
E ele... Ah ele ficava cada dia mais paranóico, mais louco. Tentou a igreja, tentou fugir. Ao fim, acabou se entregando a polícia. Quando o delegado recebeu sua confissão, ficou alarmado e tentaram fazer vista grossa por ele ser um homem importante. Mas ele não aceitou. Queria ser preso. Estava louco. Dizia que a culpa o estava consumindo. Que Deus estava falando com ele mandando ele se entregar. Que ele tinha que pagar pelos crimes que tinha cometido. Nada estava tão longe da verdade. Deus não tinha nada haver com aquilo. Eu o consumia. E não parei mesmo após estar trancado atrás das grades, servindo de donzela para outros presos.
Não descansei, até ver ele pendurado em sua cela, com uma corda em torno do pescoço.
A imagem de seu suicídio foi a única coisa que me deu paz durante meses. Dormi por um dia inteiro depois do acontecido.
Depois dali, saí de Nova Orléans. Vendi tudo que tinha e me lancei ao mar. Era a primeira vez que eu desbrava os oceanos. Fui para a África, Europa, América do Sul. Dormi com piratas holandeses, indígenas brasileiros, beduínos do deserto africano. Até na Austrália estive. Os nativos de lá tinham rituais sexuais muito interessante. Além de belos corpos queimados de sol.
A maior parte de minha vida a partir dali foi em navios. Gostava de madrugada e ir ao dormitório dos marujos ter um pouco de emoção. Se quer uma dica, os marujos portugueses eram os melhores.
Vivi e morri no mar, numa tempestade.
E jamais encontrei outro Incucus ou Sucubus
...
Eu sabia que estava condenado a ficar sozinho. Talvez Agnes jamais tenha renascido. Eu pensei que não renasceria mais. Mas aqui estou. Conversando com um padre, abrindo minha vida para ele.
Quem diria.
Ah não! Não vem não. Pelo amor de seu Deus, não me venha com sua piedade nem com seu perdão. Sei que suas intenções são boas, padre, mas acredite. O que eu não preciso agora é disso. Nem de ninguém Mas obrigado mesmo assim.
Olha a hora. Acho que hoje me alonguei demais.
Vou me indo, padre. Descanse. Acho que nós dois precisamos.
E mais uma vez, obrigado.