Ainda de posse do celular pré-pago, Kátia fez uma ligação para o número indicado no conteúdo do envelope que recebera da mulher anônima; no segundo toque uma voz masculina com sotaque atendeu. “Quem está falando? Como conseguiu esse número?”, perguntou a pessoa do outro lado da linha.
-Quem eu sou não importa agora – disse Kátia tentando disfarçar a voz, sem que isso fosse necessário – Preste atenção no que vou dizer …, esta noite, o encontro que você tem …, tome cuidado, porque estão armando pra você …, fique esperto.
Sem esperar por uma resposta, Kátia desligou, e enquanto caminhava para casa, ela retirou o chip do celular e o jogou em uma lixeira. Entrou esbaforida e com o coração aos pulos …, fizera tudo que lhe foi instruído, mas, ainda assim, queria certificar-se de que tudo correria como o esperado; tomou um banho, trocou de roupa e saiu novamente. Foi até o estacionamento que ficava atrás de um botequim, onde guardava seu segredinho particular. Depois de muito sacrifício e esforço, Kátia conseguira comprar um carro! Nada de excepcional, apenas um veículo que ela poderia valer-se em casos especiais, como naquele momento.
Rumou para o local onde ocorreria a transação entre Euzébio e o Chinês; embora o medo aflorasse em sua alma, ela sentia a necessidade gritante de confirmar que o plano correria como esperado e ela, finalmente, ficasse livre da tutela agressiva de Euzébio. As horas se arrastaram, e a noite avançava impassível ao que estava por acontecer. Kátia acabou cochilando e não viu quando Euzébio chegou com sua comitiva e entrou no galpão; mas, ela acordou ao ouvir uma buzina.
Era o Chinês! Disso ela tinha certeza; a vontade de aproximar-se consumia sua alma e massacrava sua curiosidade, mas, ela sabia que as instruções eram claras e que ela nem deveria estar ali, próximo do acontecimento. De repente, luzes piscantes surgiram na escuridão, vindo da rua lateral ao depósito. Várias viaturas policiais surgiram, sem sirenes e sem alarde. Cercaram o quarteirão, e Kátia percebeu que Fábio estava em uma das viaturas.
Policiais fortemente armados, desceram e iniciam um cerco; um grupo de policiais aproximou-se da porta principal com cuidado e sem aviso romperam a porta com uma espécie de aríete; a invasão foi rápida e frenética com gritos seguidos de tiros …, muitos tiros! Kátia tremeu de medo e arrependeu-se da ideia de estar ali naquele momento.
Em meio a gritaria e correria, um veículo rompeu o cerco saindo do interior do depósito; ao que pareceu para Kátia devia ser o Chinês escapando do flagrante; mais tiros e mais correria. Duas viaturas saíram em perseguição ao veículo fujão, enquanto mais tiros, gritaria e rebuliço continuavam a acontecer dentro e no entorno do depósito.
Kátia esbugalhou os olhos ao ver a figura de Euzébio, rompendo o cerco e correndo em sua direção; por um momento, ela viu sua vida passar em sua mente como um filme e já imaginou-se morta e enterrada pelo próprio traficante …, mas, antes que ele pudesse esboçar alguma reação um tiro varou seu corpanzil; Euzébio ainda conseguiu revidar o tiro, desabando em seguida, no asfalto já sem vida. Kátia ainda viu o oponente também ir ao chão …, era Fábio!
Desesperada, Kátia deu a partida e fugiu dali com o carro a alta velocidade. Queria ir para casa, embora as imagens de Euzébio e Fábio mortos obliteravam sua mente, fazendo com que ela se tornasse imprudente ao dirigir. Em um cruzamento mais a frente, seu carro foi abalroado por outro, fazendo com que ela perdesse o controle do veículo, chocando-se com um muro de esquina. Perdeu os sentidos, e sua última visão foi a de dois homens se aproximando.
Quando voltou a si, Kátia estava amarrada …, e nua! Com a visão ainda embaçada e ofuscada por uma luz forte dirigida ao seu rosto, ela não atinava o que acontecera e nem mesmo onde estava; um vulto aproximou-se dela, e quando começou a falar, o sotaque o denunciou; era o Chinês!
-Você não devia ter abusado da sorte, vagabunda – rosnou ele com tom agressivo – Se bem que eu devia te agradecer, não é mesmo? Foi você que ligou! Eu sei!
-Não sei do que você está falando, cara! – rosnou Kátia tentando se desvencilhar das amarras.
-Ah! Entendi! Quer bancara durona, né? – comentou o Chinês com uma risadinha sarcástica – Vamos ver o que você aguenta, vadia!
Do mesmo modo que começou, a voz emudeceu, parecendo desaparecer …, Kátia estava presa a uma cadeira e logo viu dois vultos enormes se aproximarem; eles a pegaram com facilidade, tirando-a da cadeira e prendendo suas mãos com algemas; em seguida, eles a levaram até um ponto da sala onde a ataram suas mãos a uma espécie de gancho, que logo foi puxado, esticando dolorosamente o seu corpo nu.
A primeira chicotada em suas nádegas foi extremamente doída; ela teve vontade de gritar, mas, conteve-se, pois não podia demonstrar fraqueza naquele momento; e então, os golpes com o chicote e também com a chibata se sucederam; ela resistiu o quanto pôde, até que acabou por gritar e implorar que parassem; assim que os golpes foram interrompidos, ela sentiu algo metálico roçar sua vagina; tentou fechar as pernas, mas foi impedida por mãos fortes que a obrigaram a permanecer como estava.
O objeto frio e rombudo era esfregado em sua vagina, e sem aviso, ele foi introduzido nela; e depois de alguns movimentos de entra e sai, sua temperatura mudou, aquecendo-se com certa rapidez. “Não! Por favor …, isso vai me queimar!”, ela suplicou com voz embargada. Não lhe deram atenção e o objeto foi aquecendo, chegando ao ponto de machucar a pele delicada do interior da vagina …, antes que pudesse causar mais ferimentos, e ante os gritos de Kátia, o objeto foi retirado.
Soltaram-na do gancho, mas, novamente, ela foi presa, deitada em uma espécie de mesa ginecológica, com as pernas abertas e flexionadas. “Vai ser a putinha da vez, sua vadia …, se bem que estás acostumada com rolas nos seus orifícios, não é? Então, aproveite!”, disse a voz com sotaque. Em seguida, alguém se aproximou e enfiou seu membro rijo dentro da vagina dela, estocando com violência. Foi algo intenso, mas mecânico, como se não houvesse prazer.
Depois dele, outros se sucederam …, um após o outro, rolas grossas e enormes, foram enterradas em sua vagina, até ficar tão irritada que a dor tornara-se aguda; e nessa sequência, também fizeram o mesmo com seu ânus, sofrendo os mesmos tormentos. Ainda insatisfeitos, alguns daqueles estranhos, aproximaram seus membros duros como pedra de sua boca, impondo que ela os chupasse, até sua boca doer ante o esforço.
Todo aquele martírio prolongou-se por horas a fio, com sensações dolorosas intermináveis; Kátia, em certos momentos, pensou que desfaleceria, mas quando isso poderia ocorrer, tapas em seu rosto a faziam retornar para sua dura realidade. De volta ao gancho, ela ouviu quando alguma espécie de válvula foi ligada …, e, então, veio o choque do enorme jato de água fria. Era um jato volumoso e intenso, que agredia seu corpo de maneira impiedosa, somando-se à sua temperatura baixa, quase congelada.
Mais uma vez, tudo cessou, restando apenas o silêncio e a escuridão. Por um tempo que ela não podia determinar, Kátia ficou só, presa pelo gancho e com dores por todo o corpo.
Incapaz de resistir ainda mais, ela acabou por desfalecer, perdendo, completamente, os sentidos, e viajando por um delírio. Nele, a tal mulher desconhecida surgia, com sua nudez estonteante e suas formas perfeitas. Kátia podia sentir seus lábios em contato com os dela, com longos beijos quentes e cheios de excitação, bem como as mãos abusadas, bolinarem seu corpo, detendo-se em sua vagina e nos mamilos durinhos.
Em dado momento, a tal mulher estava deitada sobre Kátia, esfregando-se como uma cobra, com sua pele fria e lisa. “Tá gostando, né, vadia? Gosta do meu toque de fêmea, não é?”, ela sussurrava em seu ouvido, deixando-a excitada. “Mas, agora, chega! Acorda, minha puta!”, disse ela com um tom agressivo. Repentinamente, Kátia voltou a si, entreabrindo os olhos com alguma dificuldade. Olhou ao redor e não reconheceu onde estava, nem que lugar era aquele.
Quando a consciência retornou, Kátia viu que estava em um leito de hospital; uma enfermeira apareceu explicando que ela fora resgatada de seu carro depois do acidente. Dois dias depois, Kátia recebia alta; estava no saguão do hospital quando viu as notícias na televisão. Diziam sobre o tiroteio no depósito com as mortes de Euzébio e de Fábio; noticiou ainda o incêndio em um apartamento de um bairro nobre da cidade …, e o coração de Kátia quase saltou pela boca ao ver que as vítimas foram a esposa e a filha do traficante.
Enquanto tentava se recuperar do choque, outra notícia sobre um acidente de carro onde as vítimas eram a esposa e o filho de Fábio …, Kátia, atemorizada e quase em choque sabia que aqueles acidentes não foram o que pareciam ser …, foram premeditados …, talvez, pelo Chinês! Tomada por desespero, Kátia vestiu-se, pegou suas coisas e foi embora. Tinha a intenção de voltar para sua casa, pegar suas coisas e sumir.
Ao descer do táxi, mais um desastre surgiu ante seus olhos; sua casa tornara-se um amontoado de entulho e cinzas! E para ampliar ainda mais o seu suplício, ficou sabendo por comentários que sua mãe devia estar na casa, pois viera a sua procura. Kátia pensou que enlouqueceria com tudo aquilo; não acreditava que podia ser verdade …, mas, infelizmente, era! Por horas vagou a esmo, sem saber o que fazer e para onde ir …, ela se tornara uma sombra perdida num imenso nada!
Quando a noite chegou, encontrou Kátia encolhida, deitada sobre um colchão velho, debaixo de um viaduto …, e, de repente, a estranha mulher surgiu como vindo da escuridão. “Olá, garota! Gostei de você, viu? Fez tudo direitinho! Parabéns!”, disse ela com uma voz rouca e cheia de sarcasmo.
-Vai embora! Some da minha frente! – gritou Kátia com ódio na voz – O que mais você quer de mim, afinal?
-Não quero nada, vadia! – respondeu ela com mais sarcasmo – Já tenho tudo …, agora, venha comigo, vamos …, não tenho tempo a perder!
-Não vou, não! Vou me reerguer e acabar com você! – devolveu Kátia, rangendo os dentes.
-Ah, é! Isso não será possível …, sabe porque? – questionou a mulher com ironia – Porque você já morreu meu amor …, e a sua alma me pertence …, agora vamos!
Repentinamente, vultos de criaturas surgiram, rosnando como animais e se aproximando de Kátia, que tentou gritar, tentou reagir, mas, de nada adiantou …, ela, agora, era uma vítima do mal, vítima de sua própria armadilha!
Mesmo resistindo ela foi arrastada para a escuridão sem fim, de onde sua alma jamais retornaria!