[11h33, Eduardo]
Fazem 4 meses que eu e o Felipe planejamos e agora finalmente conseguimos nos mudar para essa casa. Um apartamento, na verdade. Nunca imaginei que sairia da roça pra morar na cidade, quanto mais morar no topo de um apartamento. É claro que isso é uma coisa boa, óbvio, mas inusitado. As minhas economias encontraram um lugar pra me favorecer pelo menos. Não sinto orgulho dessa fortuna, mas como eu tenho, vou fazer um bom uso, até quando der.
Felipe não está em casa, graças ao chuveiro que quebrou bem no dia de eu me mudar de vez, olha só que maravilha. Carlos não aparecia muito na minha casa, pelo menos não na da tia Bete, mas eu requisitei sua presença pra mexer nas minhas tralhas hightech. É, a cidade me modernizou um pouco, mas o meu coração ainda é da roça!
Ele me ajudou a procurar as casas, nos mais variados lugares e acabei aprendendo muita coisa sobre a cidade, me familiarizei demais. Quando encontramos o apartamento foi quando finalmente o sentimento de pertencimento um do outro surgiu. De repente começamos a notar que estar junto no mesmo lugar é algo forte e exclusivo. Eu senti, pela primeira vez que podia levar isso pro resto da vida.
- Porra! – gritou Carlos
Eu estava no banheiro e fui correndo pra ver o que estava acontecendo.
- O que houve?
- Nada, nada! – disse tentando me acalmar – Eu só puxei o fio errado e levei um choque
- Sério? Cê tá bem?
- Tô, relaxa
- Cuidado! – disse – Vou te ajudar agora
- Okay, cara, seu PC está ficando fodástico demais
- Mesmo?
- Mesmo! – disse empolgado – Eu tinha ficado meio assustado quando você disse que queria um PC turbinado, mas agora que eu sei que você tá cagando dinheiro, seu computador vai ficar realmente foda
- Eu não cago dinheiro – respondi dando risada – Só descobri que gosto de games e vou investir nisso
- E você está certíssimo meu caro!
- Pois é! É o meu passatempo até o Felipe vir morar comigo, pode demorar, mas terei algo pra fazer
Ele ficou quieto.
- É, vai ser um bom passatempo... – respondeu e eu toquei em seus ombros, sorrindo.
- Obrigado por vir aqui me ajudar, de verdade – eu disse e logo voltei para o banheiro, o pó ainda era meu inimigo naquele apartamento. Passei horas limpando, varrendo, passando pano, um verdadeiro cansaço e um genuíno caos!
Carlos ficou o dia todo montando meu setup e nada do Felipe aparecer, será que o chuveiro devorou meu namorado? Peguei meu celular e tentei ligar pra ele, mas não me atendeu de jeito nenhum. Carlos também não conseguia chama-lo. Fiquei levemente preocupado, mas nada que me impediu de continuar minhas tarefas, afinal, eu tinha que deixar tudo o mais organizado possível. Tenho a absoluta certeza de que não vou conseguir terminar hoje, mas quero um lugar pra dormir confortável.
Minha sala estava perfeita. Eu, Felipe e Carlos conseguimos organizar tudo no dia anterior, ficamos o dia inteiro só pra arrumar esse cômodo. Ainda sou daqueles que sentam pra assistir TV em dias de tédio absoluto, mas também não vou negar que assisto mais os meios de streaming, é óbvio! Netflix é tudo pra mim. Quem é que não quer ficar agarradinho pra assistir um filme aleatório?
Os banheiros estavam prontos, arrumados, mas sem chuveiros. Meu quarto estava organizado também. Meu apartamento estava nos trinques, quase. Só faltava o meu amor. Isso deixava tudo uma grande chatice. Não gosto de segredos, de demoras, de autorizações... Mas a gente prometeu que tentaria fazer tudo ficar mais fácil para a família do Felipe. Afinal, quem sou eu pra chegar e estragar tudo... Sinceramente, eu odeio isso. Vou respeitar e vou aceitar.
O Dr. Rafael um dia me disse que: “As melhores coisas são as que não são impostas, mas conquistadas”. Sinto que agora essa frase faz todo o sentido. Não quero que nada saia do controle através das minhas próprias vontades, existe um mundo ao meu redor e vidas podem sofrer por causa delas. Eu realmente espero que eu e Felipe possamos passar por isso com firmeza e aprovação. Tenho medo de ser o estopim de uma avalanche familiar.
- Eduardo?! – Carlos me chamou enquanto eu estava terminando de limpar a casa, finalmente
- Oi! – respondi – Tá tudo bem?
- Sim, sim! Consegui montar tudo! Fiação, programação, setup e bla bla bla. Tá tudo ok, melhor que o meu na verdade – disse dando risada.
- Poxa, valeu mesmo! Demorou tanto pra chegar essas peças, eu é que dou sorte de ter alguém que saiba mexer com isso
- É, você é realmente muito sortudo...
- Obrigado, você tá com fome? Já está tarde, nem te ofereci nada
- Não, cara! Tá tudo certo, fica tranquilo, de verdade
- Que isso! Vem, eu também vou comer agora
- Mano, não precisa, sério mesmo
- Eu vou ficar bolado se você não comer nada
Ele revirou os olhos envergonhado
- Okay! Okay! O que tem de bom aí?
- Temos Lasanha no cardápio, senhor
- Agora eu vou ficar mesmo – deu risada
Eu me considero ótimo na cozinha, morar sozinho na fazenda por um ano me fez aprender coisas valiosas. Uma delas é cozinhar. Me lembro de todas as vezes que eu errei as receitas e tive que comer mesmo ela estando queimada, afinal eu não podia desperdiçar. Por sorte eu sou persistente e com tempo minhas habilidades melhoraram e eu consigo fazer praticamente tudo na cozinha. Carlos que o que diga! Já estava no 3 pedaço!
[Felipe, 23h40]
Eu tenho certeza que o Eduardo está puto comigo neste momento, num nível acima da minha compreensão e expectativa. Quero dizer que foi um dia difícil e completamente aleatório. Eu sai pra comprar um chuveiro e encontrei rápido. O problema é que eu não imaginei que meu pai me chamaria pra almoçar justo no lugar onde eu estava comprando o chuveiro. Foi a maior loucura da minha vida quando ele viu me segurado um chuveiro na fila.
- Ué! – disse meu pai – O que tu tá fazendo aqui, macaquinho? – era assim que ele me chama quando eu era pequeno. Eu fiquei assustado pra responder, não tinha mais como escapar. Mentir pro meu pai é a pior merda que eu não queria fazer, eu não mentia pra ele.
- O Carlos quer um chuveiro novo, ele tá em casa....
- Ah ta...eu não o vi hoje...
- Ele foi embora antes de você acordar, mas depois eu vou pra lá
- Não vai não! Sua mãe está fazendo um almoço hoje, a tia Débora vai lá pra casa.
- Mas meu celular está com o Carlos, falei pra ele levar porque já ia pra
- Filho, relaxa, é só um almoço, vai ser rápido.
Bom, está explicado o meu sumiço. Depois disso eu não consegui ir embora até minha tia Débora dizer “tchau”. Assim que meus pais foram deitar, eu peguei o carro e fui pro centro da cidade, que é onde o Eduardo estava morando. Provavelmente, ele vai ficar chateado por eu não ter aparecido, mas vai entender o verdadeiro caos que estava a minha vida com ele, namorando escondido. Espero que por pouco tempo.
Sr. Edimilson era o porteiro do prédio, ele não estava muito acordado, digo porque eu o chamei várias vezes pra poder me atender e abrir o portão. E não, não recebi chaves do prédio ainda.
- Desculpa, jovem! – disse ele – Eu estou no turno de 10h da manhã, mas já vou embora, o outro rapaz não chega pra me cobrir.
- Fica tranquilo! – eu o acalmei – Tá tudo certo, obrigado!
Era de fato um puta condomínio de luxo. O apartamento era o mais caro e o mais esteticamente bonito de toda a cidade. Eu não sou corajoso o suficiente pra perguntar qual é a fortuna do Eduardo, mas sei que o preço pra morar aqui é altíssimo, cerca de uns R$ 8.000,00 por mês. Porra! Como que um fazendeiro tem tanto dinheiro? Foda-se, eu o amo e ele é meu!
O apartamento ficava no último andar, nada menos que um triplex, antes bagunçado e agora super arrumado e aconchegante, tudo o que ele queria. Quer dizer, tudo o que nós queríamos. Me esqueço que ele fez isso por mim. Ainda acho cedo pensar numa vida a dois, mas a maior parte disso é por causa dos meus pais, sinto uma grande limitação por causa deles, porém acredito que vou conseguir sair ileso disso.
Peguei a chave do apartamento (essa eu tinha hahaha). Entrei bem silenciosamente pra tentar não acordar o meu príncipe encantado. Okay, isso foi brega. Acontece que a única coisa que eu me deparei foi Carlos dormindo num sofá e Eduardo dormindo no outro. Dois grandes bebês apagados. Senti um leve acalento no coração e uma suave vontade de dar risada, amo! Fui até o Eduardo e o cutuquei, mas ele tem um sono pesado demais.
Carlos se remexeu do meu lado e aos poucos abriu os olhos, viu que eu estava tentando tirar o Edu dali e com muito cansaço se levantou e tentou me ajudar. Sorri. Pense na cena mais engraçada que foi tentar tirar um homem enorme do sofá e leva-lo até o andar de cima do apartamento, e o pior, ele não acordou. Quando o colocamos na cama, se ajeitou e finalmente ficou quieto. Carlos bocejou, com os olhinhos quase fechando. Ficou me olhando por um tempo e saiu do quarto. Fui até ele e segurei sua mão, ele se virou pra mim.
- Obrigado – sussurrei e ele olhou pra mim com um sorriso melancólico e seco – Você pode dormir nesse quarto aí – apontei – Tá arrumado já – ele não me respondeu, estava muito cansado pra isso.
- Tabom, aonde você estava?
- Ocorreu uns probleminhas no caminho digamos...
- Hmmm...não demora não, ele ama muito você, muito mesmo – disse e foi se deitar, sem me explicar nada, o cansaço parecia ter tomado conta de tudo. Afinal, quem é que não estava cansado naquele anoitecer, não é mesmo?
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UAAAAAAAAAAAAAAU, VOLTEI! Nova saga, novo momento e com certeza novas emoções! Continuem comigo, essa história vai render ainda hahahahahaha! Amo vocês!
