♧É meu terceiro encontro com Celso.
São 15:30 da tarde e estamos num hotel econômico em uma rua não muito movimentada. Sinto que ele realmente gosta de transar comigo, apesar de eu não me considerar o melhor no oral, anal ou qualquer coisa.
Aceitei transar com Celso por tédio e também porque ele cheira incrivelmente bem. Gosto do jeito que ele segura meus quadris e como brinca com meu ânus quando estou fazendo sexo oral nele. Ele perguntou se eu podia fazer sem preservativo e eu apenas ignorei, envolvendo o pênis dele na camisinha e fingindo que não tinha ouvido.
Eu tinha um amigo chamado Iago que só fazia sexo oral. Ele nunca tinha tido a chance de transar propriamente e sempre que aparecia um cara ele acabava na felação. Seguiu fazendo isso por um bom tempo, porque tinha um medo terrível de perder a virgindade anal e não tinha certeza se de fato iria gostar. Até que umas feridas esquisitas surgiram na boca e na garganta de Iago. Resultado: assim que se consultou foi diagnosticado com hpv oral. Iago nunca tinha passado das preliminares e já tinha contraído uma infecção venérea. Desde que soube disso jurei a mim mesmo que nunca faria sexo oral sem camisinha (além claro do anal).
Celso é mais demorado dessa vez.
Ele passa um bom tempo com a língua dentro de mim. Eu gemo de prazer, porque tudo que é feito com vontade é mais gostoso, mesmo que não se tenha muita prática ou confiança no que está fazendo. Ao meu ver, sexo tem a ver com desejo e só. Se você realmente está disposto a dar prazer ao seu parceiro e se o deseja com toda a essência do seu ser, é muito difícil que acabe deixando a desejar na cama.
Eu gosto de como nossos corpos se esfregam. Meu pênis ficou bastante duro quando cavalguei em cima dele. Celso apertou minhas nádegas com bastante força, até que seus dedos ficassem impressos na minha pele, em marcas avermelhadas. Também deu tapas bem dados. Eu gemi bastante e isso o atiçou, trocamos palavras indecentes e respirações ofegantes.
Celso planejou ejacular em mim, mas o jorro escapuliu pras cobertas e logo nos levantamos da cama.
Nossa intimidade sempre se limitava à cama. Depois, ele ficava recluso e só falava quando me perguntava que horas eram e se eu demoraria no banho.
Senti vontade de dar um selinho nele antes de me despedir, no carro. Mas me contive. Eu não podia dizer que estava gostando de Celso, porque não estava. Mas eu não podia negar que minha carência estava falando mais alto, e sexo carnal estava longe de suprir essa necessidade latente.
Deitado na minha cama fico mais uma vez confuso, como todas as vezes quando saía com Celso.
O sexo era bom, muito bom. Mas não passava disso. Era como se junto ao êxtase, a necessidade de estar junto se dissipasse no sêmen e ficasse no lençol. Daí era preciso que o saco dele se enchesse de esperma mais uma vez pra que ele quisesse me ver. E tudo bem, eu estava tranquilo enquanto a isso. O problema era que eu não queria só aquilo. Eu queria sexo bom, mas eu também queria afeto.
Eu me flagrava suspirando quando via um casal na tv. Ou no cinema. Eu queria beijo na boca, carinho e aperto de mãos.
Eu queria romance.
Antes de sair de casa pro trabalho, Nelson me observou quando secava o cabelo com a toalha e calçava meu tênis.
“Você parece triste, princesa.”
“Impressão sua", eu esboço um sorriso fraco.
“Sei que está mentindo", Nelson desvia a atenção de seu laptop e vira-se até mim. “Vem cá.”
Eu o encaro, com ar de cinismo.
“Vem cá”, ele insiste.
Me aproximo.
“Senta aqui", Nelson dá tapinhas nas coxas, sinalizando pra que eu sentasse no colo dele.
“Nelson, por favor...”
“Senta.”
Ele segura meu pulso e eu o obedeço.
Sinto minha calça jeans contra os shorts de textura fina e meu traseiro se apoiando nas pernas de Nelson. Ele não parece nojento e acaricia minha nuca, afastando meu cabelo para o lado esquerdo. Os fios pendem e caem no meu ombro.
“Seja lá o que você estiver pensando...”, Nelson sussurra no meu cangote, “... quero que você saiba que é uma pessoa muito especial. E não quero que se entristeça.”
“Ah, Nelson. Você é um fofo!”, eu o abraço forte e ele retribui.
Nos olhamos bem de pertinho e de repente sinto uma coisa muito esquisita.
Meu peito começa a sentir certa ardência e meu coração acelera. Estou sentindo os membros meio dormentes e uma umidade surgir na minha testa. Confuso, tento ignorar o que se manifestava naquele momento, em negação: desejo.
Carente do jeito que estava, até se o motorista do ônibus me apertasse a mão eu me derreteria feito manteiga.
“Obrigado, fofinho, agora deixe eu ir trabalhar.”
Eu me ergo do afago de Nelson num pulo e saio do apartamento em passos largos, quase correndo. Insisto pra mim mesmo que Nelson é um homem nada convencional e que deve tratar todo mundo assim. Ele canta na noite desde a adolescência e já deve ter visto e feito muita coisa, o fato dele ser afetuoso comigo não queria dizer necessariamente que se tratava de uma cantada ou interesse. Era simplesmente o jeito artístico, fora das convenções, dele.
Eu lavo o rosto na pia do banheiro dos funcionários assim que chego no trabalho.
“Para com isso”, eu falo com meu reflexo.
Ouço palmas atrás de mim.
“O que é isso? Uma performance?”
Era Gilberto.
Eu não esperava nunca que ele fosse brincar daquela maneira e de repente fico sem jeito.
“É brincadeira", ele sorri, lindo como sempre.
“Desculpa, eu tô bem doido esses tempos", eu tento parecer descontraído. “Acho que todo mundo uma hora ou outra acaba surtando.”
“Você fuma?”
“Não.”
“Ah. Eu ia te convidar pra fumar lá fora no estacionamento antes do turno começar.”
Sinto vontade de esbofetear meu próprio rosto.
“Mas eu acho que hoje vou abrir uma exceção e aceitar o convite.”
Eu sinto a adrenalina voltar enquanto caminhamos até o estacionamento do estabelecimento. Não sei ao certo se as coisas estão doidas naquele dia, mas tudo anda bem movimentado. Primeiro o sexo ardente com Celso, depois Nelson me consolando feito um namorado e como se não bastasse, o maravilhoso do Gilberto me convidou pra fumar com ele. Só eu e ele. Eu parecia estar exalando energia sexual. Eu só esperava que o efeito durasse, estava gostando daquilo.
“Vai ter adiantamento de pagamento essa semana", Gilberto estende um cigarro em minha direção. Eu o seguro nos meus lábios e ele acende com seu isqueiro. Eu o observo enquanto ele realiza a tarefa cautelosamente.
“É, mas isso só vale pra quem é funcionário esporádico como você”, digo. Gilberto comprime os olhos e solta uma baforada de fumaça, sexy como nunca. Eu poderia beijá-lo e sair correndo. Talvez valeria a pena.
“Você trabalha aqui há muito tempo?”
“Já tem quase um ano", eu pauso para calcular os meses com os dedos. “É, quase um ano.”
“O Nelson que indicou você?”, Gilberto está com o cigarro já na metade.
“Não, eu já tinha experiência no ramo.”
“Ah, tá.”
“Mas o Nelson é um amor de pessoa", de repente lembro do nosso momento íntimo horas atrás, sinto os lábios ressecarem.
“Ele é ótimo. Considero demais.”
“Como vocês dois se conheceram?” pergunto.
Gilberto sorri.
“Foi há alguns anos atrás. Eu tinha começado a trabalhar como garçom e o Nelson cantava nesse restaurante. Tinha um casal desses bem chatos numa mesa em frente ao palco. Eles mandavam que eu pedisse pro Nelson baixar o tom da voz, porque o volume estava incomodando. Ele abaixou o volume da caixa de som, umas três vezes e quando mais uma vez o casal insistiu que ainda estava muito alto, o Nelson pediu que eles tampassem os ouvidos e cantou como se nada houvesse.”
“Que louco.”
“O engraçado é que o casal descontou em mim e falou com o gerente. Fui dispensado, mas o Nelson percebendo o que tinha acontecido me deu carona e ainda me pagou umas cervejas. Ficamos amigos desde então.”
“Legal.”
“E você? Desculpa, mas como duas pessoas tão diferentes...”
“Acabaram morando juntas?”, eu termino a pergunta. “Eu sei, muita gente se questiona isso.”
“Não me leva a mal, é só que...”
“Eu sei, como o Nelson acabaria morando com um gay?”
Gilberto franze o cenho.
“Não, eu não quis dizer isso...”
“Tá, sei.”
“Não, é sério.”
“Tudo bem, Gilberto, eu já entendi.”
“Não, escuta.”
E então eu me preparo pra levantar e me aprontar pro expediente.
“Duda, eu quis dizer que duas pessoas tão distintas geralmente...”
“Você disse o que quis dizer, agora com licença.”
“Tudo bem se quiser se chatear, mas mais uma vez você tá se contrariando consigo mesmo e suas próprias conclusões.”
Eu volto a ele, sabendo que eu estava sendo dramático, mas a razão já tinha ido embora.
“De novo você quer me pintar como louco e eu não suporto isso”, esbravejo.
“Talvez você não suporte porque sabe que é verdade.”
Eu estremeço de ódio.
“Eu acho que você quer que eu me sinta mal mesmo sabendo que eu não sou uma má pessoa, do contrário de você!”
“Ah, então eu sou mau agora?”
“É!”
“Tudo bem, então.”
Gilberto some de cena e eu fico sozinho contemplando o estrago que eu tinha feito. Justo quando eu tinha a chance de estreitar os laços com o meu crush eu tinha que deixar aquele jogo idiota falar mais alto e estimular uma discussão entre a gente. Mas eu não ia dar o braço a torcer e agi como se nada houvesse, mesmo que quando eu notasse a presença de Gilberto no salão, meu peito pesasse em arrependimento.
No final da noite decido desfazer o mal entendido e caminho em direção a Gilberto que se preparava para arrancar com a moto.
“Que discussão mais sem sentido aquela, não é?”
Gilberto me encara como se não me conhecesse e eu estivesse falando com ele pela primeira vez.
“Foi mal, é que eu ando meio estranho esses dias", insisto.
“Tudo bem", Gilberto responde secamente.
“Muita bobagem a gente se estranhar por esse tipo de coisa e eu espero que a gente se entenda. Ei, você é amigo do meu colega de apartamento!”
“Duda.”
Gilberto coloca o capacete e tudo o que enxergo são seus olhos. Ele iria me interromper e pedir que eu o beijasse? Sairíamos dali para uma suíte em um motel? Transaríamos feito loucos e então teríamos um caso?
“Eu tenho que ir.”
E ele arranca com a moto me deixando com cara de tacho no meio da rua.
Subindo as escadas, de volta pro apartamento, eu escuto um som de jazz no volume máximo.
Nelson está trajando apenas um calção e consigo ver algumas garrafas de vinho terminadas. Ele costumava se embriagar, mas sempre nos domingos e geralmente ele não fazia tanto barulho.
“Querida, você chegou!”
Eu sorrio e Nelson derruba uma garrafa próxima, que não quebra, mas gira violentamente no chão.
“Cuidado, não vá fazer lambança, não tenho paciência pra faxina", advirto.
“Venha aqui, vamos dançar.”
Nelson se aproxima e me toma em seus braços.
“Ai, Nelson! Para! Você tá cheirando a vinho até a alma!”, mas eu gosto do modo como o corpo quente dele se aproxima do meu e logo eu me deixo envolver em seu abraço.
“As crianças dormiram. Somos só eu e você, querida.”
Eu solto uma gargalhada.
“Ai meu Deus, você tá bêbado.”
“Shiu, vamos. Dance comigo, baby.”
E então eu obedeço e ficamos dançando agarradinhos pela extensão do apartamento.
O toque de Nelson é confortável e macio, como se eu estivesse deitado sobre um tapete felpudo ou envolto num edredom grosso quando a noite é fria.
Ficamos nessa brincadeira por um instante e eu também começo a instigar a coisa.
Passeio a mão pelo peito dele e sinto o toque dos meus dedos deslizar sobre a pele de Nelson. Ele não cheira mal, apesar do hálito carregado de vinho e eu gosto como a mão dele que tinha começado no meu quadril agora se encontrava na minha nádega esquerda.
“E então, querido? Como foi seu dia?” eu embarco na brincadeira.
“Terrível, querida", os olhos de Nelson estão baixos e embriagados. “Um caos. Mas eu tenho você em casa me esperando, então tudo bem.”
Sorrio.
“E você, querida? Como foi no trabalho?”
“Horrível. Vou pedir demissão e virar dona de casa.”
Nelson se inclina pra trás e me olha nos olhos tão sério que me pergunto se ele tomou outra coisa além do vinho.
“Eu sempre disse pra você fazer isso. Você tem um homem pra te sustentar em casa.”
E então Nelson me abraça com mais intensidade. Meu coração começa a acelerar. O mais louco de tudo é que estou gostando. Começo a sentir o calor do desejo me dominar. Ficamos envoltos nesse abraço por um instante, a cada segundo nossos corpos mais encaixados e mais apertados um no outro.
Eu só consigo enxergar o peito de Nelson, a pele amarelada dele e eu posso sentir que o toque na minha bunda fica mais intenso. Estou sentindo uma energia poderosa vir de dentro de mim, o tipo de energia sexual que tem uma força própria, sobrecomum. Como se nada pudesse impedi-la de se soltar e eu me deixo levar por ela.
Tudo é silêncio, com exceção da música.
Nelson, num gesto súbito e abrupto, posiciona cada mão em uma nádega minha e começa a fazer movimentos de vai e vem com o quadril. Ele me olha direto nos olhos e eu sinto um arrepio me atravessar e todos os pelos do meu corpo se eriçarem. O pênis dele, no calção sem cueca, enrijece e é a única coisa entre nós dois. Eu deslizo a mão do peito até a barriga e ainda olhando fixamente nos olhos dele, agarro o membro que pulsa de ereção.
Começo a masturbá-lo e consigo sentir o sexo dele feito concreto, bombeando sangue e tesão.
Na minha mente, sinto vontade de falar provocações.
Você gosta disso, não é
Vai me comer agora?
Posso pôr na boca?
Mas o momento é único demais pra qualquer interrupção. Nossos olhares não desgrudam um do outro e sinto que se quebrar esse ritual, talvez arrisque a coisa toda. Então, permanecemos mudos.
Eu me abaixo e agora estou de joelhos. Eu fico admirando o pau dele por um tempo, como se calculando o melhor jeito de proporcioná-lo prazer. Eu brinco com ele, com a mão fechada, em movimentos giratórios, deslizando o palmo da mão, tocando na glande inchada e avermelhada.
E então eu parto pra acariciar com minha boca.
Abro meus lábios bem vagarosamente, como se estivesse bocejando. De propósito, sou demorado e até um pouco sádico, já notando a inquietude do corpo de meu parceiro que por ele, com certeza já teria puxado minha cabeça a si e enfiado seu pau na minha garganta. Ou talvez não. Talvez ele gostasse de ser torturado.
Eu abocanho a glande e prossigo até a extensão do pênis. Quando chego perto da base, ameaço tossir, mas me contenho. Repito o gesto. De novo. E de novo, tudo muito vagaroso e sem pressa, como se eu estivesse saboreando uma refeição muito deliciosa e quisesse aproveitar cada minuto sem me apressar. E de fato, o pênis de Nelson era muito saboroso. Quente, longo e redondo na ponta, de um tom rosado e um saco que me provocava. Tenho um fraco por testículos.
Eu ignoro o chumaço de pelos, de perto nem parecem tão grandes e considerando a personalidade de Nelson, era até esperado que ele não fosse lisinho. Mas esse detalhe não chega a ser asqueroso, até é bem sexy.
Chupo as bolas dele e ele dá um pulinho pra trás e solta um gemido. No começo, penso que machuquei ele, mas quando continuo vejo que se trata de prazer.
Então eu me ergo e Nelson tira o calção de uma vez. Ele está completamente nu, excitado e seu pênis é único e pulsante. Eu, me livro da minha calça jeans, mas permaneço de camiseta. Nelson segura minha bunda e a aperta. Seu dedo do meio circunda meu ânus e movimentos que me excitam. Eu beijo o pescoço dele e ele respira pesadamente, como se o tesão lhe cansasse.
Nós transamos no chão da sala e é muito mais gostoso do que nas minhas fantasias.
Enquanto Nelson está atrás de mim, nós dois na posição de lado, ele a me penetrar com força e eu a gemer, eu contemplo a situação.
Lá estava eu, dando pro meu colega de apartamento, o mesmo que eu tinha ficado tão nervoso quando nos encontramos a primeira vez pra ajudarmos minha mudança. O mesmo que me irritava. O mesmo que eu me perguntava se sentia desejo por mim ou não. O mesmo que agora tirava o pau pra fora e jorrava sêmen pelo chão.
“Aaaaaaaaaaaaaahhhh!”
Ele grita e eu me dou por satisfeito.
Estamos suados e deitados no chão.
Eu olho pra Nelson e ele me olha de volta.
“Querido, acho que vamos ter mais um filho", e nós dois sorrimos, extasiados.