Bom pessoal, é isso. Chegamos ao final de mais uma história. Mais uma vez muito obrigado pelos comentários de vocês. Vocês me motivaram a continuar escrevendo.
Capítulo 8 - O protagonista morre neste capítulo
Narrado por Lucas:
Alívio não é a palavra correta para descrever o que estou sentindo agora pelo fato de que meu irmão não está em casa. Por uma parte eu estava sim aliviado, tenho certeza que Pedro não hesitaria em disparar contra meu irmão. Seu problema era comigo. Não havia por que envolver mais pessoas nessa loucura em que ele me colocou. Ele deu um sorriso de satisfação enquanto me acompanhou em direção ao elevador. Olhar seu rosto através do reflexo do espelho do elevador me faz ficar enjoado.
Sinto nojo dele. De uma forma que eu não achava que eu seria capaz de sentir por alguma pessoa. Não consigo disfarçar minha cara de ódio e ele percebe. Parece até que gosta, como se isso divertisse ele. Me pergunto se vamos chegar no meu apartamento e ele não vai falar nada. Não que eu queira que ele fale algo. Acho que até sua voz me causaria repulsa. Infelizmente ele quebra o silêncio assim que eu fecho a porta.
— Seu apartamento é realmente bem organizado. Você mora aqui com seu irmão?
A simples menção ao meu irmão faz com que meu corpo estremeça.
— Não — eu minto, tentando parecer convincente.
— Você mente tão mal. Eu sei que sim. Eu lembro como ele era super protetor com você quando nós éramos adolescentes. Uma vez ele escutou eu te chamar de veadinho e ameaçou me cobrir de porrada — ele sorri como se estivesse rindo de uma piada interna — Será se ele ia ter coragem de me afrontar quando eu estou com esta belezinha — ele diz, erguendo a pistola no ar. — Antes de ele fosse capaz de me cobrir de porrada ele estaria no chão, coberto com seu próprio sangue.
— Você é um doente! — eu falo, tentando expressar todo o meu desprezo por ele no meu tom de voz.
— Eu sou doente? Eu que transava no banheiro da escola, gemendo igual a uma putinha enquanto levava rola do namoradinho? Você transa em locais públicos e quer me chamar de doente?
— Você quer comparar sexo em locais públicos com estupro, seu filho da puta?
— Estupro? Você gostou de tudo o que eu fiz com você. Sabe por quê? É porque você é uma putinha que não serve pra nada além de satisfazer machos como eu.
Eu fiquem sem reação frente a cara de pau dele de falar essas coisas.
— Sabe, eu sabia que você me queria desde aquele dia do vestiário. Você estava se exibindo para mim naquele dia. Estava sentando no pau de outro mas tava pensando no meu. Tive que me controlar pra ir meter em você naquela mesma hora. Afinal, você estava com o corno do seu namorado. E o infeliz ainda inventou de aparecer novamente. Eu tive que dar um fim nele.
— Seu filho da puta. O que você fez com Carl?
— Eu não fiz nada — ele para de falar e eu me permito sentir um alívio instantâneo que some rapidamente quando ele continua a falar — Não fiz nada de diferente do que eu tenha feito com Gabriel.
Ele estava confessando dois assassinatos.
— O que você quer comigo? Já fez o que você queria comigo — eu olho para ele e então compreendo — Você quer me matar pra não depor contra você.
— Não seja ridículo. Eu não quero te matar. Eu quero você.
Eu começo a rir, não consigo ficar sério perante aquelas afirmações.
— Você me humilhou durante minha adolescência. Me humilhou até pouco tempo atrás e diz que me quer?
— Eu fazia isso porque não sabia como chegar em você. Mas tudo que eu fiz é porque eu te quero. Você não percebe? Eu amo você. Eu matei por você. Tem prova de amor maior do que essa?
— Você é realmente doente se acha que eu vou ficar com você — eu grito.
— Você não tem opção. Eu sei que você me ama. Sei que me deseja assim como eu te desejo. Você vai ficar comigo, seja por bem ou seja por mal — ele fala e me puxa pra si forçando um beijo. Eu abro a boca mas mordo sua boca com o máximo de força que eu consigo. Ele me joga longe, soltando um urro de dor. Seus lábios estão sangrando e eu sinto seu olhar raivoso me fulminar. Ele destrava a arma e a aponta para mim, tenho certeza que ele está prestes a atirar em mim. Eu provoquei sua fúria e consequentemente, antecipei minha morte. Ele se aproxima, ainda com a arma apontada para o meu rosto.
Ele ainda está se aproximando quando escuto batidas na porta.
Não!Não!Não!
Não pode ser meu irmão. Se for meu irmão, Pedro vai matá-lo. Ele continua apontando a arma para mim e coloca o dedo indicador nos lábios, fazendo um sinal para eu fazer silêncio.
— Lucas, abre aí. Eu sei que você está em casa, o porteiro me falou. Vamos conversar. Prometo que vai ser rápido.
Droga! Era o Fábio. Prendo até a minha respiração, para fazer o mínimo de barulho possível.
— Não vamos deixar seu amigo esperando — a forma como ele falou a palavra "amigo", com nojo, me fez ficar preocupado com Fábio.
Pedro trava a arma e coloca ela entre sua calça e sua cueca, por debaixo da camisa. Ele limpa seu rosto do sangue e abre a porta.
— O Lucas está? — Fábio pergunta, tentando olhar para dentro do apartamento.
— Está. Mas ele não está muito afim de visitas. Ele está muito abalado porque perdeu um amigo e deixou só eu, que sou o namorado dele, ficasse — ele dá bastante ênfase a palavra "namorado".
Estou torcendo para que Fábio acredite na história que Pedro contou. Caso contrário, ele vai insistir em entrar e Pedro vai acabar matando ele.
Fábio o encara por um breve instante e eu posso perceber que ele não acreditou em nada do que Pedro disse. Vai acontecer. Ele vai insistir em entrar e vai acabar como Carl e Gabriel. Isso faz o medo dentro de mim crescer e eu percebo que tenho mais medo da morte de Fábio do que minha própria morte.
— Ok, então. Eu apareço outra hora — Fábio fala e força um sorriso. Eu fico mais aliviado quando eu percebo que Pedro está fechando a porta.
Se alguém vai morrer hoje, acho que serei eu.
Narrado por Fábio:
Cheguei mais cedo do que eu previa no prédio em que Lucas mora. Acho que talvez eu tenha dirigido rápido demais. A ansiedade está me consumindo. Preciso conversar com Lucas, mostrar como eu me sinto. Nem sei se ele já chegou do funeral então resolvo perguntar para o porteiro que confirma que ele chegou há alguns minutos.
Se por um lado eu acho que cheguei rapidamente no prédio, eu percebo que os dígitos passam lentamente no elevador, como se desafiassem minha paciência. Mas até que eu sinto um vantagem nisso. Tenho um tempo para decidir o que vou falar.
"Então, Lucas. Eu gosto de você. Realmente gosto de você. Mas eu sinto que você não tá muito interessado. Eu quero muito ficar com você, mas preciso saber que você está disposto a tentar", eu me imagino falando isso para ele e me sinto ridículo, olhando para o meu reflexo no elevador. Percebo que estou transpirando de nervoso.
"Estou nervoso como a porra de um adolescente com seu primeiro namorado", eu me xingo mentalmente. Era horrível me sentir apaixonado por alguém que não dava a mínima pra mim.
Ainda estou submerso em meus pensamentos quando eu percebo que as portas se abriram e eu estou no andar do seu apartamento. Caminho até a porta do seu apartamento e bato. A porta não se abre imediatamente então eu falo:
— Lucas, abre aí. Eu sei que você está em casa, o porteiro me falou. Vamos conversar. Prometo que vai ser rápido — estou me sentindo ridículo de novo por precisar implorar sua atenção.
Para a minha surpresa quem abre não é Lucas. Era um cara que eu nunca tinha visto.
— O Lucas está? — eu pergunto tentando olhar para dentro da apartamento. Percebo que Lucas está no sofá, está com uma expressão no seu rosto como eu nunca vi antes. Na verdade eu vi uma expressão parecida dias atrás. Quando ele descobriu que o filho da puta do amigo dele havia estuprado ele e então entendi que ele estava com medo. Olho novamente para o cara e percebo que tem um volume estranho na sua bermuda. Seria uma arma?
"Talvez seja o pau dele. Você veio se declarar e o Lucas já estava dando para um cara qualquer", o pensamento passa pela minha cabeça rapidamente, mas eu logo descarto a possibilidade. Eu vi o quanto ele estava abalado, ele não faria isso. Tenho certeza que o cara na minha frente está mentindo.
— Está. Mas ele não está muito afim de visitas. Ele está muito abalado porque perdeu um amigo e deixou só eu, que sou o namorado dele, ficasse.
Mais mentiras.
Primeiro que Gabriel não era amigo dele e o infeliz tinha estuprado ele! Segundo, o Lucas deixou bem claro que não namorava, que não tinha relacionamentos sérios.
Sinto a adrenalina no meu corpo pulsar. Lucas estava em perigo e o cara provavelmente estava armado.
— Ok, então. Eu apareço outra hora — eu falo, tentando parecer convincente. Ele então começa a fechar a porta. Esta é a minha deixa. Chuto a porta com o máximo de força que eu consigo e o impacto faz com que o cara caia no chão.
Eu não perco tempo e vou para cima dele. Ele também reage rápido, pega a arma e a destrava. Eu chuto sua mão mas não antes que a arma dispare. A arma voa para o outro lado da sala. Sinto uma dor enorme no meu braço direito. E percebo que Lucas dá um grito de desespero. Eu estou coberto de sangue. Coberto com meu próprio sangue.
Eu caio em cima dele e começo a desferir golpes na sua cara. A raiva que eu sinto é tão grande que eu continuo batendo nele mesmo depois que ele está desacordado. Só paro porque eu estou muito cansado também. Meu braço parece que vai explodir de tanta dor. Estou perdendo os sentidos. A última coisa que eu vejo é Lucas. Ele parece desesperado. Mas está a salvo. É isso que importa. Consigo dar um sorriso pra ele antes de apagar completamente.
*****
Acordo com uma luz ofuscante e tento avaliar o lugar onde estou. Estou num quarto de hospital e percebo que Lucas está lá. Abro um sorriso instantaneamente assim que o vejo.
— Olha quem acordou. Eu estava tão preocupado — Ele diz e eu percebo que ele estava com a mesma roupa que estava no apartamento.
— Quanto tempo se passou? — Eu pergunto.
— Você veio pro hospital ontem. A bala atravessou seu braço e, por sorte, não tinha fragmentos. Mas você precisa descansar.
— E o filho da puta que estava lá. Quem era ele?
— Conheci ele no ensino médio. Não imaginava que ele fosse um psicopata. Não foi Gabriel que fez aquilo comigo, foi ele.
Eu me surpreendo. A gente estava julgando então uma pessoa inocente?
— E onde ele está?
— Ele tá preso. E vai ficar por bons anos lá. Ele foi acusado de dois assassinatos e será condenado por pelo menos um. Revistaram a casa dele e descobriram provas de um dos crimes.
Eu suspiro lentamente e o encaro. Ainda que ele esteja preso isso não significa que ele não possa fugir amanhã e tentar terminar o que ele começou.
— Chega de falar disso. Já passou e está tudo bem agora. Você foi meu herói — ele fala e me beija lentamente. Pela primeira nos beijamos lentamente.
— Lembra do que você falou no nosso primeiro encontro? — ele pergunta, mordendo os lábios.
— Que eu queria te comer gostoso? — eu falo, sorrindo.
— Não. Quer dizer, você falou isso também — ele fala se permitindo sorrir também e continua: — Me refiro ao que você me propôs.
— De a gente sair pra se conhecer melhor? — eu pergunto, esperançoso.
— Então, este convite ainda está de pé?
Nem preciso responder. O sorriso no meu rosto já diz tudo.
Narrado por Lucas:
2 de setembro de 2019
Era o dia do nosso aniversário de namoro. Pensei em ir até seu apartamento, lhe fazer uma surpresa. Coincidentemente hoje era meu dia de folga e isso significa que ele ainda deve estar no café. Estou ansioso para lhe fazer uma surpresa. Tenho uma cópia da chave do seu apartamento porque às vezes passo alguns dias com ele.
Assim que abro a porta percebo que tem alguém no apartamento. Imediatamente sou transportado para o passado. Pro dia em que Carl me traiu no aniversário do nosso namoro. "De novo não, por favor", eu penso em uma prece silenciosa. Estou tremendo quando chego na cozinha e olho Fábio. A imagem que eu olho é surreal.
Eu quase caio pra trás de tanto sorrir. Fábio está sem camisa com um livro de receitas, tentando cozinhar. Nem preciso dizer que a cozinha está uma bagunça. Cascas de ovos e pedaços de vegetais espalhados pela mesa, farinha de trigo espalhada sobre a mesa e no chão e ele está todo sujo.
— Você estragou a surpresa, eu estava tentando cozinhar para você — ele fala, ainda concentrado no seu livro.
— Isso é tão lindo.
— Não diz isso até você provar, isso provavelmente vai ficar ruim — ele fala rindo até perceber que eu estou chorando.
— Por que você está chorando? Eu fiz algo errado?
— Não. Você fez tudo certo. Fez eu me apaixonar por você. Eu te amo — eu falo e o beijo sem me importar se eu estava me sujando também.
— Eu também te amo — ele fala e me beija novamente e daí não demorou muito para que a gente estivesse nus no chão da cozinha.
Sentia seu pau sair e entrar de mim lentamente. Diferentemente da nossa primeira vez, não era um ato de desejo desesperado. Eu cavalgava lentamente e olhava nos seus olhos, tentando lhe transmitir o máximo de amor que eu conseguia. Ficamos uns quinze minutos nessa transa gostosa, misturando nossos suores se misturavam e ele gozou fartamente dentro de mim. Continuei sentando no seu pau enquanto o meu, que estava bem duro, atritava com seu corpo. Gozei gemendo gostoso em seu ouvido, eu sabia o quanto isso o deixava doido.
Eu olhei novamente para ele e vi que ele era o que eu tinha esperado minha vida toda. Era atencioso, carinhoso, transava bem e era meu porto seguro. Passei muito tempo me martirizando porque meu primeiro namoro não deu certo. Eu simplesmente não acreditava mais no amor e fui me convencendo disso sem perceber que isso estava me matando aos poucos. Felizmente eu percebi isso antes de deixar o amor da minha vida escapar. Eu deixei o meu antigo eu, que era cheio de medos e inseguranças, morrer. Porque o amor é sobre isso. É sobre correr riscos. Eventualmente alguém vai te machucar, vai te jogar no chão e vai te fazer se sentir com lixo. A vida passa num instante, e cabe somente a você decidir se você vai se martirizar pelo resto da vida por algo que não deu certo, ou se você dará uma chance ao amor.
Eu fiz minha escolha e olhando agora para os olhos de Fábio, sinto que fiz a escolha certa.
— FIM —