_Não há ninguém aqui. Vai embora!
Valdemar correu até a porta do quarto, tentou empurrar Murilo para entrar no quarto, mas esse ofereceu resistência, o empurrando de volta.
Tavinho correu até a fechadura da porta e girou a chave.
Valdemar conseguiu empurrar Murilo, que caiu no chão e foi tentar abrir a porta. Sua ira dobrou ao perceber que a porta estava trancada.
_ Abre essa porta, seu filho da puta! Sai daí se tu for homem, seu desgraçado. _ gritava socando e chutando a porta.
Tavinho permaneceu em silêncio. Temia ser descoberto e ao mesmo tempo estranhava a crise de fúria do sogro.
Murilo levantou-se do chão e empurrou Valdemar.
_ Ou você sai daqui agora, ou eu chamo a polícia.
_ Como se atreve a pôr macho dentro de casa? É um macho covarde que se tranca no quarto.
_ A casa é minha e eu trago quem eu quiser. Com que direito você invade a minha casa e faz esse escândalo todo?
_ Você é mesmo uma puta nojenta! Depois de tudo que fiz por você. Eu paguei o seu intercâmbio e abrir meu coração para você.
Tavinho ficou indignado ao deduzir que Valdemar teria um caso com o Murilo. O seu Murilo.
_ Você é mesmo um cínico, Valdemar. Você me estuprava quando eu era apenas uma criança, me faz sair como mentiroso perante a cidade inteira e ainda fala como se tivesse sido um anjo?
'Se você não for embora agora eu vou contar para a sua esposa que você anda me assediando. '
_ Conta, desgraçado. Ela não vai acreditar em você. Ninguém vai deixar de acreditar em mim, que tenho boa fama para acreditar num veado sujo como você. E além de sujo foi responsável pela morte da própria mãe!
Essas palavras caíram como golpes em Murilo. Como Valdemar ousa a falar da sua mãe? Como ousa a tocar nessa ferida tão dolorosa. Murilo não conseguiu conter as lágrimas e foi para cima de Valdemar, mas esse o segurou pelos braços e pôs contra a parede.
_ Você é um lixo! Eu sempre estive disposto a te dar o melhor. Sempre fiz tudo por você e você sempre me desprezou. Com o seu nariz empinado, ostentando uma pose que não tem. Tu é imundo, escória! Aqueles meninos fizeram bem em te jogar naquele valão, que é o seu lugar.
Valdemar cuspiu no rosto de Murilo, que virou para o lado e começou a chorar.
Dou outro lado da porta, Tavinho retomou a memória de quem realmente era Murilo.
"Meu deus! É ele! Não pode ser!" Com esse pensamento, sentiu-se mal pelo fato de ter sido o responsável pelas coisas horríveis que aconteceram com Murilo na festa de fim de ano da escola.
Como ele poderia ter esquecido daquele menino, que ele e os amigos apelidaram de mijão? Como ele poderia ter esquecido daqueles olhos verdes e assustados quando ele se aproximava? Dos mesmos olhos que choravam quando era vítima dos seus abusos físicos, psicológicos e moral?
Que merda! Murilo deveria odiá-lo! E Tavinho não queria ser odiado por Murilo. Não por ele.
Além disso, percebeu que não era mentira o caso do estupro, como todos disseram na época, inclusive o seu pai. Valdemar realmente havia abusado do menino. Nessa hora, foi dobrada a intensidade do seu remorso.
_ Valdemar, vai embora, por favor.
Valdemar retornou para a porta e ficou chutando tentando arrombar.
_ Sai daí, desgraçado! Vem me encarar se tu for homem.
Murilo correu, descendo as escadas e foi até a cozinha.
Retornou a porta do seu quarto portando um revólver apontado para Valdemar.
O prefeito encerrou os chutes e olhava para Murilo assustado.
O jovem segurava o revólver nas mãos trêmulas. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
_ Calma, Murilo! Abaixa isso.
_Vai embora agora! Some da minha casaaaaa e nunca mais volte aqui.
_Abaixa essa arma antes que você faça algo que vai se arrepender depois…vamos conversar…
Murilo mirou a arma para cima e disparou um tiro. Assustado, Valdemar correu para a porta e foi embora.
Tavinho abriu a porta com medo que Murilo estivesse ferido.
Ao ver o jovem ruivo caído no chão, deitado em posição fetal chorando desperado, Tavinho o tomou nos seus braços e o abraçou.
_ Vai ficar tudo bem. _ disse beijando a sua cabeça e tirando o revólver das mãos do ruivo.
Murilo chorava descontroladamente. Tavinho sentiu dó do rapaz. Levou -o até o quarto e o deitou na cama, abraçando Murilo.
_ Me deixa sozinho, por favor. Eu não estou bem.
_ Eu não vou te deixar só nesse estado. Eu vou cuidar de você.
_ Não precisa. Eu vou ficar bem. Só quero descansar um pouco.
_ Eu sei, mas você está muito nervoso. Sei que precisa de mim.
Tavinho abrigou Murilo nos seus braços e o cobriu com os lençóis.
_ Então, você disse a verdade. Ele realmente te estuprou.
Murilo não respondeu, apenas o abraçou com mais força. Apesar de odiar Tavinho, sentiu-se protegido nos seus braços e isso o confortava.
_ Eu vou dar um jeito no Valdemar.
Murilo estranhou a fala do louro.
_ Como assim?
_ Eu sei um segredo dele que pode acabar com a sua vida. Ele vai pagar por tudo de ruim que te fez.
'Eu sei que estou em dívida contigo, Murilo. E vou te recompensar. Valdemar vai pagar muito caro.
Eu sinto muito pelo o que aconteceu naquela festa. Sei que fui um estúpido com você. Eu gostaria muito que você me perdoasse. '
Murilo penetrava o seu olhar nos olhos do louro. Por algum segundo, eles se observaram em silêncio.
Murilo não esperava essa atitude de Tavinho. Não era do feitio do rapaz se desculpar, pelo menos o Tavinho de anos atrás.
_ O que você vai fazer com o Valdemar? Não é nada que possa prejudicar a Verônica e o Jorginho?
_ Eu não faria nenhum mal a eles, e muito menos a você. Por isso, não vou te envolver nessa história. Deixa comigo, querido. Confia em mim. E agora descanse. Dorme em paz, que eu vou te proteger. _disse beijando a boca de Murilo, que se aconchegou nos seus braços, fechando os olhos.