Tavinho é despertado com beijos e carícias no rosto. Ele abre os olhos lentamente e sorri ao ver o rosto de Murilo.
Sente uma alegria imensa por estar ao lado do amado.
"Murilo tem um coração de ouro por me perdoar mesmo depois de tudo de ruim que fiz a ele. Eu não mereço esse homem." Era o que pensava enquanto beijava a boca do ruivo.
Murilo levantou-se e pegou a bandeja de café da manhã que havia deixado na escrevania.
_ Bom dia, meu amor. Chegou a minha vez de retribuir todo carinho que você me dar.
Na bandeja havia pães, queijo minas, patê de frango, mamão, uva, geléia de morango, yogourte de coco, suco de laranja, uma xícara com café e uma rosa para enfeitar.
_ Você está mais calmo, bebezinho?
_ Estou sim. Eu não consigo ficar bem nesta cidade… sabe, está perto do Valdemar me causa tristeza e medo. Eu estou tendo pesadelos diários com ele.
_ O segurança vai vir hoje mesmo. Você vai se sentir um pouco mais seguro.
_Não é o suficiente. Você não conhece o Valdemar. Eu tenho medo do que ele possa fazer com você. É a sua vida que me importa.
_ Ele não faz ideia do que eu sou capaz de fazer. Também tenho um lado mau.
Tavinho disse penetrando o olhar nos olhos de Murilo, que sentiu um arrepio de medo.
_ Amor, eu quero ir embora daqui. Ficar nesta cidade está me fazendo mal.
_ Nós iremos embora em breve. Eu conheço um amigo do meu pai que tem uma loja de calçados. Ele ficou de me empregar como gerente na sua loja, que fica em São Paulo capital. Creio que lá teremos mais oportunidades.
_ Tavinho, eu estou acostumado com a pobreza, mas você não. Eu tenho alguma grana que guardei das comissões de corretor de imóveis, mas não é suficiente para te dar a vida que você está acostumado e merece.
_ Eu não quero que você me banque. Não sou um gigolô. Eu vou conseguir conquistar o nosso espaço. Eu vou começar como gerente, mas vou continuar procurando emprego na minha área.
_ Você tem noção de quanto custa o aluguel de uma casa ou apartamento em São Paulo?
'Meu bem, você merece ter uma vida digna de um príncipe como sempre teve.'
_ E o que você quer que faça? Que peça dinheiro ao meu pai? Ele nunca vai me dar um centavo quando souber que vou desistir da política e ir morar em São Paulo. Sem chance.
_ Você deu duro durante anos naquela igreja. Aturou todos os discursos homofóbicos do seu pai. E o pior ele ficou durante anos te torturando psicologicamente. E sem contar que você ajudou aquela igreja a crescer. Não há nada mais justo que você receba o que é seu por direito.
_ Sim. Isso é verdade, mas eu não sou oficialmente um funcionário da igreja. Logo não posso fazer exigências judiciais infelizmente.
_ Mas você é o tesoureiro da igreja. Você tem acesso às contas da igreja e…
_ Nem pensar, Murilo. Isso é roubo! Você está maluco em me sugerir isso?
_ Não será roubo coisa alguma. Você vai pegar o que é seu por direito. Não digo isso por mim, porque não quero um centavo. Digo isso por você. Amor, você é inteligente. Pode abrir um negócio em São Paulo e quando der certo, pode devolver o dinheiro ao seu pai de cabeça erguida.
_ Murilo, eu não posso começar uma vida nova cometendo algo anti-ético e até ilegal.
_ Aquele dinheiro não foi conquistado de forma honesta. Você se lembra que o seu pai prometeu a dona Zuleide que se ela vendesse casa Deus a daria uma recompensa que seria o dobro do valor adquirido? Ela vendeu a casa, doou o dinheiro para a igreja e hoje vive de favor na casa da afilhada. E você lembra do seu Luiz? Aquele senhor que o seu pai prometeu cura do câncer e ele doou tudo o que tinha e morreu alguns meses depois? O seu pai conseguiu esse dinheiro enganando pessoas. Ele enriqueceu explorando a fé, a ignorância e a dor alheia.
_ Eu sei de tudo isso. E entendo o seu ponto de vista, mas não vou pegar nada do meu pai. Eu vou embora desta cidade de cabeça erguida.
A versão honesta de Tavinho estava irritando Murilo, dificultando o seu plano. Contudo, Murilo estava determinado a não desistir.
_ Meu amor, eu admiro muito a sua honestidade, mas…
Uma voz feminina chamando por Murilo interrompeu a conversa.
_ Caralho, é a Verônica!_ exclamou Tavinho. _ O que ela está fazendo aqui?
_ Eu não sei.
Verônica gritava desesperadamente.
_ Não saia daqui do quarto.
Murilo desceu até a sala para receber a prima.
Verônica estava com os olhos vermelhos, devido a intensidade do choro e tinha as mãos trêmulas.
Murilo sentiu-se espantado. Ela o abraçou e disse aos prantos .
_ Me perdoa, Murilo? Me perdoa?
A mulher dizia com a voz alterada. Tavinho foi até a porta na tentativa de ouvir a conversa.
_Eu duvidei de você durante todos esses anos. Eu fui enganada pelo pastor Miranda, pelo delegado e pelo meu pai. Todos eles me convenceram e também a cidade inteira que você mentiu sobre a história do estupro. O pastor me disse que você estava sendo usado pelo demônio. Como eu fui estúpida! Estúpida! Estúpida!
Os olhos de Murilo se umedeceram. O fato de Verônica, que a considerava uma amiga, não ter acreditado nele o doía muito. Ele não queria perdoá-la. Sentiu vontade de pôr o dedo na cara da moça e pôr para fora toda sua mágoa. Dizer que foi o responsável pelo fim do seu noivado. Mas, isso só atrapalharia os seus planos.
Murilo conseguiu conter a raiva, mas não teve força para conter as lágrimas.
_ E por que você acredita em mim agora? O que mudou?
_ O delegado Amâncio esteve lá em casa hoje de madrugada._ Verônica dizia chorando.
_ Ele acusou o meu pai de mandar bater no Marcelo e… aí, o meu pai é um monstro._ Verônica se jogou nos braços de Murilo.
O delegado Amâncio estava revoltado. Chegou na casa de Valdemar chamando pelo prefeito aos berros tocando a buzina do carro. Os barulhos foram tão altos, que foram o suficiente para acordar todos da casa e a vizinhança.
Valdemar e Mara correram para atender, enquanto Jorginho e Verônica observaram pelas janelas dos seus quartos.
_ Valdemar, seu desgraçado! Desça aqui se tu for homem.
_ Que porra é essa, Amâncio? Que escândalo é esse a essa hora da madrugada?
_ Você é um cínico desgraçado. Eu pensei que você fosse o meu amigo e tu manda surrar o meu filho?
O coração de Valdemar bateu acelerado. Ficou pasmo por ter sido descoberto.
_ Do que você está falando?_ perguntou Mara.
_ Eu não sei, Mara. Ele deve está caducando.
_ Olha, deixe de ser filha da puta. Olha isso aqui.
Amâncio mostra o vídeo a eles.
_ Valdemar, por que você fez isso?_ perguntou Mara.
_ Vai negar agora, pulha?
Valdemar observou que o vídeo havia sido enviado por Tavinho. "Maldito moleque" pensou.
_ Esse vídeo é uma montagem. Será que você não percebe? Eu nunca faria isso com o Marcelo. Esse Tavinho está com raiva de mim por causa do coro que dei nele e…
Antes que Valdemar pudesse responder, sentiu o impacto do soco de Amâncio no seu rosto.
Desesperada, Verônica desceu correndo para ajudar o pai.
Jorginho previu que a situação iria piorar e pela janela do seu quarto começou a filmar.
Valdemar levantou com raiva e partiu para cima de Amâncio. Os dois homens iniciaram uma seção de trocas de socos.
Mara gritava desesperada para que os vizinhos a ajudasse.
Muito a saíram de suas casas para observarem os escândalos.
Dois homens separaram os dois brigões e muitos jovens começaram a filmar.
_ Oh, meu deus que escândalo! Parem com isso.
_ Seu desgraçado, como você ousou a tocar no meu filho depois de eu ter te protegido? _ gritava Amâncio tentando se livrar dos braços do homem que o segurava.
_ Cala a sua boca._ gritou Valdemar.
_ Não calo não. Esse homem. O prefeito da cidade não passa de um pedófilo.
_ Cala a boca ou te mato.
_ O que você está dizendo? Como ousa a falar assim do meu marido?
_ O seu marido é uma bicha! Uma bicha que come criancinhas. E uma delas foi o seu sobrinho.
Todos murmuravam .
_ Ele me procurou na delegacia. Me confessou tudo e me pediu para ajudar a aliviar a barra para ele. Não só a mim quanto ao pastor Miranda também, que ganhou muitas vantagens para ajudar esse tarado.
_ Pare de dizer mentiras!
_ Você sabe que não é mentiras, primeira dama. O seu marido não te deseja. Faz quanto tempo ele não te come, hein? Tá certo que você é uma mocreia, mas se te virar de quatro dar pra meter na sua boceta. Ele não faz isso porque prefere um veadinho. E de preferência o seu sobrinho.
Valdemar foi dominado por uma força, que conseguiu se libertar dos braços do homem e partiu com tudo para cima do delegado.
Com muita dificuldade, a briga conseguiu ser apartada e o delegado foi embora. Mas, os escândalos já estavam feitos e a verdade já tinha sido revelada.
Verônica chorava descontraladamente.
Valdemar fumava com as mãos trêmulas.
_ Maldito delegado de merda! Ele me paga. Ah, me paga caro. Vou foder com a vida dele.
_ E o que ele disse é verdade?
_ Deixe de ser jumenta, Mara. Eu sei que você é uma anta, mas bota essa porra de cérebro para funcionar pelo menos uma vez na vida. A culpa de tudo isso é sua. Você que colocou aquela mulher e o filho dela aqui dentro de casa. Agora resultou nisso.
_ E você, Verônica, eu não quero tu abrindo a boca para falar com o Tavinho. Foi aquele moleque que enviou o vídeo para o Amâncio. Ele me paga. Não perde por esperar.
Com os olhos vermelhos, Verônica olha para o pai.
_ Como você pode fazer isso com o Murilo? Como pode tocar nele e fazer com que a cidade inteira pensasse que ele estava mentindo?
_ Cala a boca, sua jumenta. Até você está acreditando nisso?
_ Seu porco, pedófilo!
Tomado pela ira, Valdemar acertou uma bofetada no rosto de Verônica. A moça caiu no sofá. Ele estava com muita raiva para aguentar as acusações de Verônica.
Puxou a jovem pelos cabelos escuros e começou a esbofeteá-la. Verônica gritava de dor.
Mara assistia nervosa, mas não reagia. Apenas chorava.
_ Isso é para você aprender a me respeitar, sua vadia.
Jorginho entrou correndo e acertou o pai com um cabo de vassoura.
_ Larga ela! Larga a minha irmã. _ Jorginho dizia enquanto acertava Valdemar.
O prefeito tomou posse do cabo de vassoura e acertou um golpe no menino. Verônica correu e empurrou o pai, que caiu no chão.
Ela arrastou o menino até o seu quarto e trancou a porta. Eles empurraram a cômoda para frente da porta.
Valdemar gritava e chupava a porta.
Verônica e Jorginho se abraçaram sentados na cama. A jovem chorava e abraçava o irmão cobrindo os seus ouvidos.
_ Seus merdinhas! Cobras desgracadas! Eu não tenho paz dentro da minha própria casa. Vocês estão fodido comigo! Estão fodidos!
Depois de muito gritar. O prefeito se trancou no seu quarto, deixando Mara chorando do lado de fora.
Cansada, Verônica pegou no sono.
Jorginho quis permanecer acordado para proteger a irmã se caso Valdemar voltasse. Ele estava tremendo de raiva do pai pela agressão e da mãe que nada fez.
Jorginho pegou o celular e postou o vídeo em todas as suas redes sociais de contas fakes e levantou a hastag #Valdemarpedofilo.
Verônica narrava a história para Murilo aos prantos.
O ruivo foi até a cozinha e a deu um copo com água.
_ Você não tem noção do quanto eu estou com nojo do meu pai e dos seus cúmplices. Ele ainda mandou bater no Marcelo! Que monstro é esse? Que monstro é esse?
'Mirinho, eu não quero mais ficar naquela casa. Eu tenho medo que ele faça o mesmo com o Jorginho. '
_ Se ele tocar no Jorginho, eu o mato. Juro que mato._ prometeu Murilo.
_ Pior que eu não tenho emprego e nem para aonde ir. O que faço, Murilo? Eu estou desesperada.
_Eu não sei.
_ Se ao menos o Tavinho tivesse do meu lado, eu poderia pegar o meu irmão e ir embora daquela casa.
_ E a tia Mara?
_ Ela é cega por ele. Apesar de tudo isso, ainda acredita no meu pai. Mesmo que ele a trate como um lixo, coisa que ele sempre fez.
O celular de Murilo toca anunciando ser mensagem de Jorginho.
"Jorginho: Miro, o delegado teve lá em casa e contou tudo.
Ele confessou que o meu pai te fez mal.
Eles saíram na porrada 😂
Eu filmei tudo e joguei na internet. Agora vc pode processar o meu pai e o delegado.
Murilo: onde vc tá?
Jorginho: na escola. Depois a gente se fala. A professora acabou de entrar na sala."
_ O Jorginho me disse que jogaram o vídeo da briga na internet.
Murilo acessou o link enviado por Jorginho.
_ O vídeo tem mais oitocentas mil visualizações!
Eles assistiram o vídeo. Por mais que Murilo soubesse da verdade, ficou indgnado diante do mau caratismo de Valdemar e dos seus cúmplices.
_ O Jorginho me sugeriu que eu denunciasse o Valdemar e o delegado.
_ Faça isso. Denuncie esses dois canalhas. Assim, a nossa avó vai ficar revoltada e pedir a guarda do Jorginho. Quem sabe assim ela até me aceita na casa dela.
'E além do mais, a justiça precisa ser feita. Todo mundo deve saber que você foi a vítima.'
Murilo sentia um misto de alívio e medo.
Sabia que finalmente a justiça estava sendo feita, mas o seu coração batia acelerado e o motivo do medo que ele desconhecia.
Murilo conversou um pouco com Verônica e fingiu que a perdoou. Na verdade, ainda estava magoado com a prima. Ela também deveria pagar por ser estúpida e ter acreditado no pai e no pastor. Se ele tivesse recebido o apoio da prima sua dor teria sido um pouco mais leve.
A moça foi embora.
_ Valdemar está acabado. Não só ele como o delegado Amâncio. Um sabe muitos podres do outro. Logo vão jogar a merda no ventilador. _ Tavinho disse acariciando a cabeça de Murilo que estava deitado no seu colo.
_ O nome do seu pai também foi citado.
_ Isso foi o que me deu mais raiva. Eu não sabia que o meu pai estava envolvido nisso. Velho canalha! Então, foi por isso que o meu pai não pagou por nenhum dos terrenos em que as igrejas foram construídas. Na época, o Valdemar era presidente da Câmara de vereadores. Logo depois o meu pai o apoiou na sua candidatura como prefeito.
'Eu estou muito puto de ele ter feito isso contigo. Tu era apenas uma criança! Como pode fazer tanta maldade por causa de dinheiro e favores?'
_ Eu te disse que o dinheiro do seu pai não foi conseguido de maneira honesta.
'Tavinho, eu não quero ficar mais nenhum minuto desta cidade. Você sabe que depois que eu denunciar posso sofrer retaliação? Eu estou com muito medo.'
Tavinho segurou o rosto de Murilo.
_ Não se preocupe, meu amor. Logo, nós vamos embora. O meu pai não merece a minha honestidade. Eu vou pegar o suficiente para irmos embora deste maldito lugar. Até a próxima semana vamos está em São Paulo.
Murilo abraçou Tavinho.
_ Eu te amo tanto. Fico tão feliz de ter você como protetor. Nós vamos ser muito felizes lá em São Paulo. Muito mesmo.
_ Claro que vamos. Eu te amo, denguinho.
_ Eu também te amo.
Murilo abraçava Tavinho e por trás de suas costas sorria pela conquista.
A campanhia toca.
Murilo estranha por não estar esperando ninguém.
_ Será que é o Valdemar?
Tavinho sorri e beija a boca do amado.
_ Não, denguinho. É o segurança que eu contratei. Vamos lá?
Eles desceram as escadas.
O coração de Murilo bateu acelerado e um nó se formou na sua garganta ao ver um jovem homem alto, Moreno e de cavanhaque.
Apesar de ter mudado muito, Murilo o reconheceu.
_ Guto?!
_ Fala aí, Murilo.
As pernas de Murilo tremia diante do terceiro integrante do grupo de Tavinho que o atormentava na escola.
_ Que palhaçada é essa, Otávio? O que ele está fazendo aqui?_perguntou Murilo com a voz trêmula.
