Guto manteve o sorriso nos lábios.
Murilo temeu ser vítima de alguma armação como fora na adolescência. As suas pernas tremiam e a visão foi ficando turva até que apagou.
Desesperado, Tavinho o segurou nos braços e o deitou no sofá.
_Ah, Caralho. Amor, o que tá acontecendo? Amor, acorda.
Tavinho dava leves tapas no rosto de Murilo e Guto sentia-se incomodado com carinho que Tavinho dava a Murilo.
Aos poucos, o ruivo foi tomando consciência e despertando.
_ Meu amor, você está bem?
Murilo ainda atordoado, respondeu balançando a cabeça num sinal positivo.
Tavinho acariciava os cabelos de Murilo. Estava muito preocupado com o ruivo.
_ Você anda muito estressado. Há muitas coisas acontecendo. Precisa relaxar. Eu vou te dar um calmante e você vai passar o resto do dia descansando.
_ O que ele está fazendo aqui?
_O Guto vai ficar te vigiando se caso o Valdemar apareça. Eu o contratei porque é de confiança.
'Além disso, vou ter que ir, mas volto à noite para dormir com você. Tenho que procurar um advogado para te ajudar no caso do processo que você vai mover contra o Valdemar e o delegado.'
Murilo não queria ficar sozinho com Guto e insistiu para que Tavinho não fosse embora. O louro queria ficar, mas precisava resolver o problema do advogado.
Deu o calmante a Murilo e se despediu-se com um beijo caloroso na boca, fazendo com que Guto desviasse o olhar para o lado oposto ao casal.
_ Até mais, meu amor. Tchau, Guto.
_ Tchau._ respondeu Guto tristonho.
Assim que Tavinho saiu, Murilo mudou o olhar para Guto. Havia reparado que o rapaz ficou incomodado com o beijo que recebeu de Tavinho. Presumiu que os dois teria algo e isso o deixou perturbado.
Sentia muita raiva em imaginar Tavinho transado com outro homem.
_ Por que você está aqui? A sua família tem dinheiro?
_ Eu sou pago para vigiar a casa e não para te dar satisfações.
_ Eu acho que o Tavinho não vai gostar desse seu comportamento.
_ É mesmo? Reclama com ele. Eu vou ficar do lado de fora vigiando a casa. Espero que a madame consiga descansar antes que o seu príncipe chegue.
Guto saiu da sala.
Com raiva, Murilo arremessou um vaso na parede.
Guto sentia-se incomodado em ter que está naquela situação constrangedora. Mas, devido a incompetência do seu pai, a transportadora da família declarou falência. As condições financeiras não eram boas. O salário de professora universitária da sua mãe não era o suficiente para pagar as contas e ele tinha dificuldades de encontrar emprego como engenheiro civil, área em que se formou.
Sentia-se humilhado em ter servir de guarda costas para Murilo, o garoto que ele sempre julgou inferior. O que mais o irritava era presenciar o carinho que Tavinho tinha com o ruivo, carinho esse que nunca recebeu.
O pastor Miranda aguardava sentado no sofá a chegada do filho.
_ Até que enfim lembrou que tem casa.
Tavinho o olhou com ódio.
_ Eu publiquei um vídeo prestando esclarecimento sobre o caso do Valdemar, o quanto fui enganado por ele, mas não é o suficiente. Esse caso é um verdadeiro fogarel, por isso marquei um culto de última hora, espero que você esteja comigo. O Amâncio me ligou dizendo estar arrependido do escândalo. Fez por que Valdemar mandou bater no Marcelo.
Eu é que não vou me meter nessa história.
_ Eu não vou à igreja com você.
_ Como assim não vai?
_ Eu não vou defender aquele verme do Valdemar.
_ Ninguém está te pedindo isso. O delegado Amâncio fez a burrice de fazer um escândalo na porta do Valdemar e o caso foi parar na internet. Eu me envolvi nisso na época. Preciso mostrar as pessoas que fui enganado por ele.
_ Pai, você não que foi enganado coisa alguma. Você sabia de tudo e passou pano para um pedófilo por dinheiro.
_ Você está maluco, moleque? Como se atreve a falar assim comigo?
_ Ah, pelo amor de Deus, pai. Não temos plateia. Eu sei que naquela época você conseguiu todos os terrenos para construir as igrejas. Todas elas, não só a sede. Eu sabia que o Valdemar moveu os pauzinhos, mas não sabia o porquê.
'Como você pode descer tão baixo? O Murilo era uma criança! Você tem noção do trauma que causou a ele?'
_ Ah, Otávio! Vai ficar me julgando agora? O rapaz não conseguiu provar a verdade? Então, fazemos o pronunciamento e deixamos essa história morrer.
_ Pai, você é cruel! Essa história não pode morrer. Será que a sua consciência não pesa?
_ E a sua? Pesa? Ou você esqueceu do que aprontou com aquele menino no dia da festa da escola? Quem é você para me julgar ou chamar alguém de cruel?
_ Eu não presto porque sou fruto da sua árvore. Mas, isso vai acabar.
'Breve eu irei embora desta casa.'
_ É mesmo? E para aonde você pensa que vai?
_ Isso não é da sua conta. E pode parar de dizer por aí que vou me candidatar a deputado. Desiste dessa história.
_ O que você dizendo?
_ É isso mesmo que você ouviu. Acabou, pai. Acabou de morrer um pingo de respeito que eu tinha por você. Você não controla mais a minha vida.
_ Você não sabe o que está dizendo. Só pode está louco. Quer jogar a sua vida fora por causa de birra?
Tavinho sobe as escadas correndo e Miranda vai atrás.
_ Não der as costas para mim, moleque. Tem alguém fazendo a sua cabeça não é? Só pode ser isso. É mulher?
Tavinho vai andando em direção ao quarto e Miranda vai atrás, mas o louro fecha e tranca a porta do quarto.
Do lado de dentro, Tavinho põe fones nos ouvidos, para não ouvir as palavras do pai. Manda uma mensagem para o amigo advogado.
Paula sai do quarto.
_ O que está acontecendo?
_ Está acontecendo que o seu filho pirou. Resolveu ficar revoltado e disse que vai embora e que não quer mais ser deputado.
_ Mas, por que ele está falando isso?
_ Porque a mãe dele é uma vagabunda, que só sabe ficar se esfregando com o professorzinho de merda e não toma conta do filho.
_ Você não tem o direito de me ofender.
_ Quem está me ofendendo é você, vagabunda. Mas eu tenho coisas mais importantes para resolver que não seja a sua putaria. Mas, saiba que o que é seu está guardado.
'Agora eu vou descobrir quem é essa vagabunda que está fazendo a cabeça do Otávio. Preciso dar um jeito de me livrar dessa mulher.'
Ao cair da tarde, Tavinho foi até a casa de Murilo conforme o prometido. Levava sushi para o jantar.
Estacionou o carro na calçada e foi até o carro de Guto para liberá-lo.
Guto abaixou os vidros do carro.
_ Como é que foi aí?
_ Tranquilo. Ninguém apareceu. Acho que o velho vai esperar esfriar para procurar o mijão.
_ Pare de falar assim dele.
_ ok. Não está mais aqui quem falou. Entra aí, pô. Vamos trocar uma ideia.
_ Não posso. O Murilo está me esperando.
_ Ele não vai morrer se esperar mais alguns minutos. Eu preciso falar com você.
Tavinho entrou no carro e Guto o beijou. Tavinho se esquivou.
_ Tá louco?
_ Sim. Estou louco de tesão por você.
_ Eu vou sair do carro.
Guto o segurou e voltou a beijá-lo e sentou no seu colo, esfregando a mão no pau de Tavinho, que foi dando sinal de vida.
_ Vai dizer que não estava com saudade do meu cuzinho? E olha que ele tá piscando. Louco para ser comido por essa piroca gostosa._ disse sussurrando no ouvido de Tavinho,, que arrepiava de tesão.
Guto pôs as mãos de Tavinho na sua bunda e voltou a beijá-lo.