Parte XV
Eu e minha esposa estávamos dormindo no quarto que nos era reservado naquele lugar onde havíamos feito nossa Iniciação na Sociedade Secreta. De manhã, vi surpreso que o Francês havia entrado sorrateiramente e dormira abraçado e beijando os pés de Regina. Ouvi passos apressados, e dois membros da Ordem entraram, estavam procurando Bernard há algum tempo. A algum custo, conseguiram convencê-lo que os acompanhasse, pois tinha compromissos do outro lado do prédio. Contrariado, ele foi, não sem fazer mais uns carinhos e beijar longamente os pés dela.
Regina ria baixinho. “- Ele não tem jeito, mas é um amor de pessoa!” “-E você não pensou na proposta dele?” “-Que proposta?” “-De ir para a França com ele...” “-E como você soube disso? Meister contou a você?” Não tive jeito se não contar a ela que eu havia visto tudo o que aconteceu naquela noite, desde o sexo com os pés até a trepada selvagem com Meister. Ela ficou ruborizada, mas sorriu novamente. “-Então você viu tudo. E gostou do que viu?” Eu respondi que eu gostava de ver que ela estava se divertindo e tendo prazer, que eu preferia estar participando de tudo, mas que aceitava observar porque fazia parte do que ambos queríamos. Ela me beijou apaixonadamente. “-Meu amor, é só você que eu amo. Nem pensei na proposta do Francês. Se bem que a proposta dele parecia interessante...” Ela estava provocando. Dei-lhe um tapa na bunda, ela reclamou, disse que ainda estava dolorida por causa das chicotadas dos dias anteriores.
Fomos tomar café. Quando estávamos terminando, chegou o Walter, e nos cumprimentou. Apertou minha mão, já com um sinal secreto daquele grau, e beijou Regina nos lábios. Pegou a corrente que tinha na cintura e prendeu na coleira dela. Elogiou as sandálias novas, de salto alto, presente do Francês . A sandália de salto alto fazia empinar mais ainda a bundinha de minha esposa, e a deixava mais linda e elegante, impressionando todo mundo que a via passar. Como descrito anteriormente, ele era o “dono” dela durante o dia, quando ela não estava nas atividades designadas a ela. Eles se afastaram, Regina com seus passos lentos e sensuais, nua exceto pela coleira, máscara e sandálias, e foram em direção a um dos corredores, enquanto eu fui convidado a ir para outro lado. Então, o local tinha uma espécie de pracinha central, com oito corredores que saíam dela. Deveriam ser oito alas. Mas as palavras naquele obelisco em forma de “i” eram sete. Se houvesse relação, o que haveria no oitavo corredor?
Fui levado a uma outra sala, decorada com adereços japoneses, com apenas um tapete no centro, redondo. Um odor de incenso perfumava o ambiente . Ao centro, uma moça de feições orientais estava totalmente nua, sentada sobre os joelhos. Ao seu lado, um japonês barbudo esperava, ao lado de vários rolos de cordas. Ao me aproximar, ele disse “Kinbaku-bi”. Pensei que o nome era Shibari, mas como eu tinha que ficar em silêncio, apenas assenti com a cabeça e sentei-me, na mesma posição que os dois. Ele, lentamente, foi me mostrando como era a arte de amarrar
uma mulher de maneira bela ( isso era o Kinbaku-bi) com o propósito de prazer erótico. A moça se submetia docilmente, enquanto Mestre Seto ( esse o seu nome) passava as cordas e criava belos desenhos com as amarraduras, que não tinham nada a ver com nó de marinheiro ou coisas ocidentais. Como fui pego meio de surpresa, teria que estudar a respeito. Tudo isto demorou muito tempo, cada nó era feito lenta e demoradamente, a experiência durou pelo menos algumas horas.
Depois de fazer a amarração, ele colocou a corda em uma roldana e, lentamente, suspendeu o corpo da moça, que parecia em transe, suspirando levemente. Ele a deixou ali e ficou observando, calmamente, enquanto ela estava imersa em seu êxtase .
O tempo pareceu voar, eram umas três da tarde. No caminho de volta para o quarto, eu passei novamente pelo quarto espelhado, e lá estava minha esposa, novamente deitada na mesa acolchoada, sendo cuidadosamente arrumada pelas moças, cuidando de seus cabelos, maquiagem, pés... com Bernard, o Francês, admirando ainda. Dá para dizer que “ele não desgrudava do pé dela, literalmente!”. Parecia engraçado, mas fiquei com ciúmes, mesmo ele não tendo penetrado minha esposa com seu pênis. Depois pensei: será que esse fetiche não poderia ser modificado? Eu, por exemplo, adoro pés, mas também adoro pernas, bundas, bucetinha, bocas, seios... depois eu conversaria com Regina para ver o que poderia ser feito, embora talvez Bernard fosse feliz sendo exclusivamente podólatra. Mas todo aquele cuidado só poderia significar uma coisa: alguma coisa importante estava programada para esta noite, e acho que envolvia um sultão árabe.
*** Vou fazer uma pausa para algumas explicações, tendo em vista algumas cartas que recebi. Entendam que todos os textos que envolvem esses assuntos têm ( ou ao menos deveriam ter) uma linguagem alegórica. Vou citar um exemplo, que é o do “ Casamento Alquímico”. Tanto na filosofia mística como na psicologia Junguiana, existem interpretações para esse texto antigo.
Vocês podem ver que, nos contos, o princípio masculino ( no caso, o narrador) é o elemento racional, o que analisa, raciocina ,questiona, enquanto o elemento feminino ( Regina, que não por acaso significa “rainha”) é puramente emocional, reage com prazer, volúpia, orgasmos selvagens, e mesmo com palavrões como em um dos capítulos, o que provoca igualmente uma reação física. Ânima/Ânimus, Yin/Yang... Ambos igualmente importantes, iguals em essência, diferentes em manifestação. Inclusive, na história, pelo menos para este autor, Regina é a chave de tudo.
Leia todas as partes dos contos, procure encontrar “palavras-chave”, e entre as aventuras do casal, poderá encontrar o fio da meada. Coisas muito fáceis geralmente não levam a nada. E lembre-se de uma coisa muito importante : desconfie de todo aquele que se intitula “Mestre” ( ou Meister, que é a tradução em alemão). Ele faz o papel do tentador, do manipulador, do que se aproveita das fraquezas momentâneas, e também é representado por uma das cartas mais temidas do baralho do Tarot.
O nosso caminho, nós mesmos fazemos enquanto caminhamos.
Mas, como escrevi antes, não leve tudo ao pé da letra. Se o conto desperta os instintos primitivos, as entrelinhas levam à reflexão. O que não impede que a leitura também seja excitante e divertida. Ainda...logo mais, verão citações a partes de versos dois poemas antigos, referentes à dança realizada por Regina.Os autores são O'Shaughnessy (associado ao místico Bulwer-Lytton), e Eugénio de Castro.***
(Continuando)
Lembrei de ter visto meu amigo Walter indo em uma determinada direção alguns dias antes, depois que transou com Regina, que estava amarrada naquele “X” que havia na parede do quarto ( parte IV, acho). Pensei em ver o que eles estariam fazendo, provavelmente transando. Dei uma caminhada naquela direção, e vi o meu amigo no que parecia ser o seu quarto.
Ele estava de pé, com mais dois membros, conversando, vi na mão de um deles um manuscrito muito antigo. Mas, como minha esposa não estava lá, retornei.
Já deviam ser umas 21h quando fui chamado e conduzido por um corredor escuro. Lá, como eu imaginava, havia uma grande janela de vidro ( do outro lado era um espelho) que mostrava o interior do salão decorado exatamente como uma luxuosa tenda árabe. Lá dentro, um homem altivo, que aparentava ser um Sultão ou algo assim ( não sou expert nisso) tomava chá e fumava narguilé, acompanhado por alguns convidados, entre eles o Sr. Meister, Nguvu, Bernard , o Viking, mais alguns que eu não reconheci. Uma música árabe tocava ao fundo. Desta vez, eu estava sozinho ali, mesmo o membro que me havia conduzido me deixou ali sozinho.
Os minutos escorreram lentamente, como tudo naquele lugar. A música parou, e, pela porta principal, entra uma mulher elegante, altiva, andando sensualmente, os pés descalços sobre o tapete macio, porém toda coberta . Eram véus de várias cores: violeta, azul escuro, azul claro, verde, amarelo, laranja e vermelho. Fiquei pensando: mas na dança do ventre, a roupa é diferente, a dançarina fica com o abdome exposto...aí me deu o estalo, era a “Dança dos Sete Véus”!
Segundo o que li, na Dança dos Sete Véus, cada véu que a bailarina deixa cair é como se fosse um chakra que se mostra. O último véu que cai se refere ao chakra chamado Kundalini. A Kundalini é representada por uma serpente e se localiza no final da coluna vertebral na altura dos órgãos sexuais. Mas creio que a verdadeira origem da dança é mais antiga, já que os chackras fazem parte da filosofia hindu e não árabe. Parece que a dança dos sete véus está relacionada ao mito de Ishtar. Ishtar, deusa do amor e da fertilidade, é uma das principais do panteão babilônico. Neste mito, ela desce aos infernos, e em cada portal que passa, retira um adorno ou vestimenta, chegando lá nua. Seria uma alegoria da descida ao Inconsciente, segundo a Psicologia.
Minha esposa foi andando sensual e lentamente até o centro da tenda. Os homens presentes estavam admirados pela beleza irradiada por Regina. Um membro ofereceu uma taça dourada, com uma bebida igualmente cor de ouro, e ela sorveu delicadamente com seus lindos lábios.
A música preparada para a dança começou a tocar.
Os cabelos de Regina ondulavam suavemente / seus braços se moviam tal serpentes / e quem a via - certamente seduzido /Através da dança e som / ela como que flutuava no ar / finos véus seus seios ocultavam / Os corações levados por
Intensas sensações / E das mãos as graciosas ondulações / prendiam dos presentes o olhar.
Dos quadris os meneios sensuais, suspiros arrancavam / Entre eles, os homens sussurravam / sem tirar os olhos da mulher / O sultão,embevecido, murmurou “-Ishtar!”
O primeiro e fino véu caiu como neblina /
Violeta, aos belos pés de Regina /
O tempo ali parou / E uma chama acima dela, parece, ardia /
Lenta e suavemente, flutua o segundo véu / tal um céu azul profundo / e o terceiro, dia claro
Descobrindo a pele, deixando o corpo entrever / em suaves movimentos / que faziam quem via, estremecer / Seu sorriso ao ondular da dança / seduzia e aprisionava /
Foi tirando lentamente o verde véu , os lindos seios e mamilos revelando / amor, êxtase, sexo invocando / “Ora altiva, ora lânguida, ora inquieta / No ar gestos macios traçando / Como serpente e borboleta / movimentos lascivos como vagas / as mãos tiram o amarelo, revelando o ventre belo /
Ninguém respira, ninguém se move / cai o véu laranja, resta apenas o vermelho /
E Regina, sem hesitar, o retira em frente ao espelho. Ela estava totalmente, completamente nua. Sem máscara, sem coleira, sem nada. Nua.
Nota do autor:
Esta série de contos foi transformada em uma série de livros, que podem ser adquiridos no "Clube Dos Autores".
https://clubedeautores.com.br/livro/a-irmandade-secreta-do-sexo
https://clubedeautores.com.br/livro/a-irmandade-secreta-do-sexo-2
As edições são ilustradas, o que torna a leitura muito mais interessante.
P.G.Wolff