Eu conheci o Celso num aplicativo de pegação. Existem vários tipos desses segmentos de paquera e resolvi baixar um app menos conhecido. Nesse, as pessoas não eram tão bonitas como no Tinder, mas pouco me importava já que os caras do Tinder ficavam sempre de muita enrolação e pouca ação.
Depois de passar algum tempo descartando alguns perfis desinteressantes eis que surge um rosto atraente. Não um modelo típico do instagram ou qualquer coisa do tipo. Era um homem bem mediano, mas com o meu ponto fraco: braços torneados. Simplesmente adoro homens musculosos, ou nem tanto, apenas aquele tipo de corpo que até alguns rapazes tem por natureza onde os músculos são torneados e bem feitos. Lembro de quando era criança e vi um amigo de meu pai tomar banho no chuveiro próximo à piscina. Ele já devia ter meia idade e até tinha uns pelos grisalhos no peito, mas seu corpo era simplesmente lindo. O tipo de corpo que me faz lembrar das cenas em que o Jean Claude Van Damme ficava nu em seus filmes.
Arrastei o dedo polegar à esquerda para ver mais fotos de Celso. No total, ele tinha quatro.
A primeira, do perfil onde ele aparecia sorridente com um óculos escuros cafona e uma camiseta um pouco justa no corpo bonito. Na segunda, uma foto na praia onde o fundo parecia desfocado e seu corpo envolto numa sunga aparecia à frente, as panturrilhas de Celso chamaram minha atenção. A terceira, num restaurante chic onde ele segurava uma taça elegante de vinho, sorridente também. Dava pra ver que ele tinha dentes bonitos, apesar do rosto modesto. E por fim, na quarta, Celso se mostrava no parapeito de qualquer lugar que dava para o mar, um pôr-do-sol ao fundo e essa era a única foto em que ele não sorria. As sobrancelhas grossas e o cabelo preto se destacavam.
Deslizei significando positivo, tinha gostado de Celso.
Passados uns três dias, meu celular recebe uma notificação. Celso te enviou uma mensagem, o aplicativo de paquera anunciava. Eu, logo abri a conversa e me deparei com um “oi", simplório.
“Oi", respondi. “Tudo bom?”, acrescentei.
Mas Celso parecia ter estado online há uma hora, o aplicativo denunciava.
Dei de ombros e segui com minha rotina sem criar expectativa.
Depois de um dia cansativo no meu novo emprego como hostess em um buffet de formatura (onde eu tinha que conferir as senhas de convidados, um por um e checar na listagem do evento) eu mergulhei na minha cama, num apartamento minúsculo que alugava. Ocupado que havia estado a noite toda, peguei finalmente o celular e me deparei com a mensagem de Celso:
“Desculpa, cara. Achei que fosse mulher. Não leva a mal.”
Fiquei confuso.
Corri pras configurações e constatei se tinha cometido algum equívoco na hora de me registrar no aplicativo. Mas vi que tinha feito tudo certinho, marcado tudo nos conformes pra que não houvesse qualquer equívoco. Dei até uma pesquisada e então me dei conta de que o tal aplicativo tinha fama de misturar as bolas e acabar mesclando seus usuários. Se você tivesse preferência por homens, não importava se você também fosse um ou se parasse no perfil de um homem interessado em mulheres, em algum momento a confusão seria feita.
Pensei em responder com agressividade, perguntando se ele não sabia ler ou se tinha problema de vista. Eu nem sequer parecia uma mulher. Ok, eu tinha deixado o cabelo crescer e o pessoal do buffet brincava de flertar comigo depois que eu tinha engordado de tanto comer as sobras dos eventos (e minha bunda e coxas tinham triplicado de tamanho), mas mesmo assim não era como se eu pudesse passar por uma mulher. Eu realmente não me considerava feminino a esse extremo.
Então o que diabos fez Celso deslizar o polegar para a direita quando viu meu perfil?
Dei uma boa olhada na minha própria foto. Eu sorria para a câmera e meus cabelos castanhos caíam até a gola da minha camiseta. Eu gostava dessa foto porque tinha me maquiado discretamente antes e minha pele na foto parecia imaculada e bem cuidada (do contrário da realidade dos meus turnos no buffet que faziam minhas olheiras afundarem cada vez mais). Até perguntei pro meu colega que dividia o apartamento, o Nelson, um músico da noite de 35 anos.
“Eu pareço uma garota por foto?”, eu ergui o celular a ele.
Conheci Nelson através de um anúncio num grupo do Facebook, quando tinha juntado dinheiro suficiente pra me mudar da casa dos meus pais. Eu já tinha chegado aos 23 e não tinha cursado faculdade, o que os irritava profundamente. Cansado do lenga-lenga e da imposição de uma vida que não queria pra mim, me mandei. Procurei na internet onde poderia dividir o aluguel com alguém e foi quando encontrei o anúncio do Nelson. Quando me encontrei com ele numa cafeteria me perguntei se não acabaria me sentindo atraído (eu me sinto atraído por todo homem que conheço). Não que Nelson fosse irresistível, certamente o rabo de cavalo e os dentes amarelados não lhe conferiam muito charme, fora que ele parecia dez anos mais velho de tanto que fumava. Mas dava pra perceber que Nelson tinha sido bonito quando mais novo, provavelmente quando tinha minha idade. Talvez eu quisesse transar com ele.
Mas bastaram algumas semanas de convivência pra qualquer possibilidade de atração cair por terra.
Nelson andava pelo apartamento de cueca samba canção, às vezes cueca convencional mesmo (que parecia nunca ser trocada, eca) e não tinha cerimônia ao soltar gases fosse pela bunda ou pela boca. O aspecto asqueroso era esquecido pela personalidade amorosa dele. No meu aniversário, Nelson me comprou um cupcake com uma velinha e cantou parabéns só com nós dois no apartamento. Aquilo poderia ter sido muito esquisito se ele não fosse um amorzinho de pessoa.
“Não... Sim... Talvez...”, Nelson observava minha foto como quem via aqueles desenhos subliminares onde se precisava observar direito uma velha se transformar num cachorro, ou um cachorro numa velha.
“Sim ou não, Nelson?”, eu insisto.
“Parece... Quer dizer, é difícil dizer porque te conheço. Mas olhando só pela foto... eu poderia dizer que lembra. Parece um pouco com uma garota.”
“Você anda fumando muita maconha", afasto o celular, ácido. Nelson ri.
Olho as fotos de Celso mais uma vez e sinto a frustração tomar conta de mim. Eu realmente tinha gostado das fotos dele. Ele parecia ser muito meu tipo e de tão desapontado, prometi que não me arriscaria mais naqueles aplicativos. Joguei o celular no colchão e dormi, irritado.
Ao acordar no dia seguinte fiquei até tarde na cama e quando a fome se sobrepôs a preguiça, fui à cozinha.
Admirando o vazio da geladeira senti saudades de casa por um minuto e suspirei. O mês já chegava ao fim e eu estava cansado de comer macarrão instantâneo com suco artificial. Ansiava comida de verdade, com direito a mesa posta, talheres e molhos e temperos.
Senti raiva por Nelson não ser um colega de apartamento mais disciplinado e dispor de um estoque extra de suprimentos. A alimentação dele conseguia ser pior que a minha e era eu quem era o apoio emergencial dele. Detestava quando ele dava fim no queijo gorgonzola que eu guardava pra ocasiões especiais ou quando comia metade do bolo de chocolate que eu tinha feito pra comer no café da manhã.
Decidi contar uns trocados na carteira e comer em algum fast food barato. Tinha uma Subway no final da rua e mastiguei o sanduíche devagar, já que tinha lido que quanto mais devagar se come, maior a sensação de saciedade. Se quisesse sobreviver até o próximo pagamento eu teria de mastigar feito uma tartaruga.
Foi quando eu peguei o celular e vi uma mensagem de Celso.
“Oi.”
Curioso, respondi. Coincidentemente ele estava online.
Fiquei alguns minutos fitando o avatar dele no portal de mensagens e na barra aparecia que ele digitava. E então ele parava de digitar. E digitava novamente. Confuso e instigado por aquele mistério todo, mandei um ponto de interrogação, impaciente.
E então ele respondeu.
“Olha eu não tô acostumado com esse tipo de coisa, mas sempre tive curiosidade.”
Eu sorrio em satisfação. Tinha me dado por vencido muito cedo.
“Sério? Então, fala mais do que te deixa curioso”, eu instigo.
Alguns minutos passam. Eu dou mais uma mordida no sanduíche.
“Então... Não sei. Eu não penso muito nisso”, ele responde descompromissado.
E então eu e Celso conversamos um pouco, eu me assegurando que ele se sentisse confortável e que eu não apresentava uma ameaça pra ele. Poderia confiar em mim e caso estivesse disposto eu estava disponível se quisesse experimentar algo... novo.
“Eu preciso ir agora. Depois a gente se fala”, ele dá a conversa por encerrada.
Esperando mais do que um papo furado eu me frustro novamente e me preparo pra pegar o ônibus até o trabalho.
No refeitório na área de serviço noto a presença de um garçom muito lindo que surge do nada. Quando o cerimonial contava com um evento grande era sempre preciso contratar garçons extras e dava pra ver que aquele gatinho tinha vindo pela primeira vez ali. Como conhecia o restante do pessoal fingi interesse e sentei na mesa dos garçons veteranos, dos quais eu tinha certa camaradagem, a fim de ficar mais próximo do novato.
Ele era ainda mais lindo de perto e o nariz dele era simplesmente uma gracinha. Ele tinha o semblante de um homem que aparenta ser mais novo do que realmente é, mas dava pra ver que emanava certa experiência. Parecia recluso, mas seguro de si.
“Então, sua primeira vez aqui?”, eu brinco com a gororoba ruim servida no meu prato. A comida dos funcionários era sempre sobra de algum evento anterior.
“Deixa o cara respirar, Duda", um dos garçons brinca. “Ele acabou de chegar.”
“Não pode ver carne nova que já fica afoita", outro satiriza.
“Deve estar faminta", mais um entra na brincadeira.
Quando eu tinha começado a trabalhar ali comentários daquele tipo teriam me causado muito desconforto, mas eu já estava lapidado demais para me importar. Além do mais eu sabia que meu flerte era mais por diversão do que sério, já que era provável que o tal carinha não retribuísse a investida, e tudo bem. Sorri das provocações e fingi naturalidade.
“São todos uns idiotas, se acostume.”
Mas o novato me encara sério e volta à sua refeição. Sinto um peso na garganta ao engolir e fico sem graça por ter parecido invasivo.
“Escuta, eu não queria ser inconveniente nem nada... só quis... só quis ser gentil.”
Os rapazes começam a sorrir. De alguma forma isso começa a me irritar.
“É só que... eu sei como é chato quando se entra em um lugar novo e...”
As risadas começam a aumentar o volume.
“Quer saber, esquece. Mas mesmo assim, foi mal se... querem parar de rir seus palhaços?”
Levanto da mesa com as bochechas pegando fogo e vou me sentar em outra mesa, com as cozinheiras.
“Pensei que já tivesse se acostumado com as brincadeiras", uma delas diz ao me ver mastigar, feroz.
“Não é isso, deixa pra lá.”
A noite transcorre como tantas outras em que trabalhei no cerimonial. Pessoas vestidas a caráter chegam aos montes em carros caros, roupas caras e sapatos caros. Sorriem, outras não e outras tentam e ficam no meio termo entre parecer educadas, mesmo que o esforço delas pareça artificial e mecânico.
Quando as coisas amenizam (algo que costumava acontecer algumas horas evento adentro) eu saio um pouco da recepção e me direciono aos fundos do alojamento, na área de serviço. O lugar é mal iluminado e consigo enxergar a silhueta do novato de longe. Sei que se trata dele pela novidade do contorno de sua figura, já que conhecia a equipe de funcionários de cor.
Ergo o copo de plástico e pressiono a válvula do bebedouro, angustiado, a água parecendo se acumular no recipiente de maneira tão vagarosa como o ritmo de uma lesma.
Ótimo, agora ele vai realmente achar que o estou perseguindo, penso comigo mesmo, frustrado.
Me forço a ignorá-lo ao máximo, mas ele também está a encher seu próprio copo com água, a apenas alguns centímetros ao meu lado. Fecho os olhos enquanto bebo o líquido, mais devagar que de costume pra que ele saia logo na frente e eu não tenha que encará-lo.
“Ei.”
Escuto a voz masculina soar quase num sussurro, um tom grave e tipicamente másculo.
Viro em direção ao novato e sinto um pequeno prazer íntimo em encará-lo nos olhos. O prazer de fitar e ser fitado por uma pessoa atraente, é quase como uma carícia só que sem toque algum.
“Desculpa incomodar, mas... você poderia me emprestar uma ligação?”
Eu sempre achei essa expressão engraçada. “Emprestar uma ligação”. Tal qual um objeto, uma caneta, uma escova de cabelo ou um grampo. Como se desse pra compartilhar uma única ligação e tê-la de volta assim que a pessoa terminasse de usar e você ficasse com a ligação usada pra si, afinal era só emprestada, não era? Tinha ouvido somente ali, era uma expressão típica daquele pessoal trabalhador, batalhadores que muitas vezes tinham que dar todo seu dinheiro pra alimentar suas famílias e pagar as contas. Várias prioridades que não incluíam a de se ter um plano pré-pago. Eu me sentia muito dono do meu nariz e senhor de mim por ser independente, mas eu não tinha uma família de cinco irmãos ou filhos pra alimentar. Fora que estava naquele ritmo há poucos meses, e caso cansasse poderia muito bem voltar à minha vida confortável na casa dos meus pais, com faculdade paga e tudo mais. Nunca tinha passado pela minha cabeça uma única vez negar tal favor a quem quer que fosse dali. Com aquele gatinho, não seria diferente.
Eu tiro o celular do bolso e o estendo ao recém chegado. Faço esforço pra parecer desinteressado e finjo sede extra, enchendo novamente o copo com mais água. Enquanto ele fala com alguém através da outra linha, beberico o copo olhando pra cima, como se eu estivesse sozinho ali a divagar sobre a vida. Minha tentativa em parecer natural deve parecer patética e nada convincente, mas eu não tenho outra escolha. Meu limite de aproximação tinha sido excedido no jantar dos funcionários, dali em diante eu faria o máximo para parecer o mais indiferente possível.
“Obrigado", ele diz retornando o celular e partindo em retirada.
Ele parecia de verdade indiferente e concentrado demais em seus problemas para sequer parecer amigável. Dei de ombros e voltei a trabalhar depois de virar o copo de água como se fosse uma dose de tequila.
No final do expediente torço pra que o novato fique com o pessoal no nosso ritual costumeiro de comer as sobras do banquete das festividades. Entre cortar um pedaço de assado e algumas combinações duvidosas (risoto com um pedaço de frango à parmegiana e algumas lagostas pequenas) eu percebo que ele já teria ido àquela altura. Sinto uma pontada de desapontamento e me sinto estúpido por estar dando tanta importância a um completo estranho só pelo fato dele ser irresistível.
Quando eu chego em casa e me preparo pra dormir no costume bárbaro de evitar um banho, eu vejo uma mensagem no celular.
Celso me pergunta se estou a fim de encontrá-lo. Ele é direto e sem floreios, não tem tempo a perder. É tarde e ele já está no carro, na rua.
Empolgado e sem calcular o tempo em que eu demoraria a ficar pronto, mando a localização de onde estou.
“Chego em 20 minutos" ele responde em seguida.
Corro pro chuveiro e me esfrego de tudo que consigo encontrar na prateleira: esfoliante, sabonete, gel de banho... eu gostaria de ter me programado melhor, mas as melhores oportunidades nunca eram bem programadas.
Ainda úmido e encharcando a cama, pego o celular e num improviso depilo minha bunda com barbeador. Fazia algum tempo que não transava, então o exercício me demanda habilidade já que sobrava pouquíssimo tempo. No espelho faço poses engraçadas que fariam qualquer um cair na risada, observando com cautela meu feito e checando se não tinha perdido de vista nenhum pelinho indesejado.
Eu começava a me excitar (em todos os sentidos) ao pensar que dali a pouco eu estaria prestes a provar o corpo daquele homem tão gostoso, tão bronzeado e cheio de virilidade e músculos. Era uma euforia indescritível, onde o coração palpitava frenético e um frio na barriga se faz presente.
“Estou aqui embaixo”, leio a mensagem no meu celular, o que me causa certa tontura.
Eu deixo soltar um grito e torço pra Nelson não acordar de susto. Já passa da uma da manhã e apesar de uma noite inteira de trabalho, a adrenalina me deixa elétrico. Impulsivo, abro a câmera do meu celular e assim que chego na rua finjo amarrar o cadarço e tiro uma foto da placa do carro e mando pra Nelson e mais alguns amigos e amigas. Abro a porta do carro, mas ela ainda está trancada. O coração palpita feito britadeira e já sinto o corpo tremer. As trancas destravam e eu me deixo levar pelo desejo e não pela razão, adentrando o carro.
O rosto de Celso é ainda menos interessante pessoalmente. O que me desaponta um pouco, mas quando vejo seus braços e o seu peito estufado... minha euforia de antes retorna.
“E aí”, Celso dirige evitando me olhar nos olhos.
A noite é escura e meu corpo treme de nervosismo. Gostaria que ele ligasse o som do carro, mas ele não o faz. As luzes dos postes nos iluminam e a cada flash de luz meu corpo se anima ao observar o corpo gostoso de Celso. A pele dele é bonita e compensa pelo pacote completo, fazendo seu rosto sem graça parecer até atraente, julgando de forma geral.
“Oi...”, eu sempre consigo disfarçar meu pavor toda vez que me aventuro em mais um encontro. “Posso?”
Eu aproximo a mão do zíper da calça jeans dele. Me pergunto onde ele devia estar antes.
“Claro", ele continua dirigindo, como se fosse um motorista e eu um passageiro a perguntar se ele poderia abaixar o vidro da janela do carro.
“Ele tá ficando durão...” eu podia sentir vergonha do que eu dizia nessas horas, mas todo mundo abandona qualquer rastro de pose ou decência quando o desejo invade o íntimo. “Será que vai caber em mim?”
“A gente vai descobrir agora", Celso manuseia o volante como se o trânsito estivesse muito congestionado (coisa que não estava nem de longe àquele horário) e tivesse que se concentrar na direção ao máximo. Isso meio que me irrita, meio que não.
Eu continuo massageando o pênis de Celso por dentro da calça e me tranquilizo em perceber que não sou o único ali queimando de desejo. Abro o zíper devagar e ele me ajuda a colocar seu membro pra fora. E não decepciona.
O pênis de Celso é grosso, um pouco demais. A espessura dá um aspecto apetitoso ao membro, uma fartura no design. Já o comprimento não me assusta, mas percebo que a coisa toda é uniforme da base à glande: tudo igualmente grosso. Sem depressões, deformidades ou desigualdades pelo caminho, tudo largo do começo ao fim. Eu nunca tinha encarado um pênis tão grosso e aquilo me assustou um pouco. Não o suficiente pra que eu desistisse da ideia, claro.
Por mim eu e Celso encostaríamos em qualquer rua sem saída ou beco e faríamos ali mesmo, no banco traseiro de seu carro.
Mas ele me leva pra um motel barato e afastado. Baixa a janela o suficiente para pegar as chaves e adentra o recinto.
No quarto da suíte barata eu percebo o quanto Celso é alto. Bem, talvez não muito alto, mas bem maior que eu. Gosto do nosso contraste no reflexo do espelho. Ele, com seu corpo grande, com roupa típica de homem e eu ali do seu lado com meus cabelos compridos e sedosos.
Ele se deita na cama e começa a se despir, nós dois sem proferirmos uma única palavra sequer. Sinto uma vontade muito grande de abraçá-lo quando o vejo só de cueca e me imagino beijando sua boca, mergulhado naquele corpo quente, recostando minha cabeça no peito dele. Mas me contenho. Ao que tudo indicava, Celso não era do tipo que se permitia a tais coisas. Era a primeira experiência gay dele e não seria eu a estragar as coisas, agindo precipitadamente.
Ele fica nu e eu começo a abrir a camisinha, trêmulo.
Uau, que corpo.
Antes que eu comece a passar vergonha, estendo o preservativo e ele se encarrega de abri-lo e pôr em si mesmo. Começo a fazer sexo oral nele, sentindo onde o final da camisinha chegava e percorrendo minha língua nos testículos flácidos e salientes dele. Faço movimentos rápidos, beijo, esfrego o membro no meu rosto... até que o exercício perde o sentido e logo Celso, feito um animal prestes a devorar sua presa, avança sobre mim.
O trapézio dele se destaca na penumbra, os braços lembrando asas de um gavião.
Eu simplesmente adoro o modo como ele se aproxima. Me faz lembrar um gorila, inclinado sobre suas mãos fechadas ele chega e quando dou por mim eu estou deitado de bruços e ele em cima, prestes a entrar dentro de mim.
Ele me penetra devagar e eu fecho os olhos. A princípio a primeira estocada nunca é muito prazerosa, mas caso se concentre o suficiente e focando no momento, pode ser um momento único. Eu sinto desconforto que logo se transforma em outra coisa, e então vontade de urinar e por fim, prazer. A sensação vai se demorando e logo me acostumo. De tão confortável começo a gemer e prosseguimos com nossa dança.
Transamos nessa única posição no que deveria ser o total de 20 minutos, que pra mim, surtem como 5.
Celso toma banho e volta ao quarto envolto numa toalha. Eu estou nu e observo meu reflexo no espelho do teto. A iluminação vem do banheiro e eu acaricio minhas coxas, sem saber o que fazer.
“Posso olhar seu cu?”
Celso pede sem fazer cerimônia.
“Gosto de ver o estrago que fiz.”
“Tá”, eu digo ainda processando a ideia. Mas consinto.
Celso acende a luz (o que eu odeio) e agarra minha bunda com as duas mãos, mais como um profissional da saúde faria num exame do que uma pegada sensual.
“Isso... Pisca ele pra mim. Pisca. Isso.”
Pelo espelho lateral do quarto posso observar nossos reflexos. A cena é sensual, mas não surte como se fosse. Nas minhas fantasias talvez isso parecesse melhor, mas no momento só consigo me sentir extremamente invadido e vulnerável. Celso está olhando partes minhas que eu não me sinto muito confortável em mostrar, ao menos não daquele jeito.
“Você tem um cuzinho muito lindo", o tom de Celso é parecido com a de um curador analisando um projeto de arte ou coisa parecida. “Alguém já te disse isso?”
“Não”, eu olho pra mim mesmo no espelho e meu reflexo parece rir da situação.
E então Celso me dá um selinho. Não na boca de cima, claro. É um beijo estalado, mais parecido com o tipo que se dá quando se cumprimenta alguém do que beijo de sexo. Um beijo tosco, sem graça e estalado no ar. Muah.
Seguimos em silêncio no caminho de volta.
“Valeu pela companhia. A gente vai se falando.”
Ele mal permite que eu responda quando arranca com o carro na escuridão da noite. Eu tomo outro banho e me deito na cama, reprisando o evento na mente. Ainda não tinha decidido se tinha gostado ou não daquele experiência. Alguma coisa nessa dúvida me fazia crer que não.