Com uma fêmea dentro de si
Sexta-feira 30 de maio de 2014
Ao cair da tarde, o extenso e bem cuidado gramado entre o edifício principal, o ginásio de esportes e as quadras abertas estava lotado de estudantes, pais e parentes dos formandos secundaristas do último ano do ensino básico, bem como eles próprios trajando suas becas pretas e capelos com o distintivo do colégio bordado na tarja vermelha circulavam de um lado para o outro. Eu havia acabado de tirar uma série de fotos com meus colegas de turma para o livro do ano quando anunciaram o início da cerimônia de formatura. Eu estava um pouco tenso, não sei se por ter acordado cedo e me preparado o dia todo para o evento, ou se por estar ciente de que seria meu último contato com a maioria dos meus colegas entre os quais eu gozava de certa popularidade, ou ainda, se pelo fato de saber que após o verão, minha vida sofreria uma grande mudança com o ingresso na faculdade. Meu pai e o Noah estavam sentados na primeira fila de cadeiras montadas para os visitantes diante do palco de cerimônia, o que só contribuiu para me deixar ainda mais nervoso, embora meu pai estivesse me sorrindo o tempo todo e o Noah me apontado o dedo médio em riste como mais um de seus gracejos idiotas.
Ao mesmo tempo em que o diretor do colégio me entregava o diploma diante da mesa composta de professores, convidados ilustres e da cúpula da direção do colégio, o cerimonialista anunciava ao microfone que eu também estava recebendo o prêmio, uma placa de prata num estojo de veludo preto, por ter sido o aluno com as maiores notas do curso. Entre os estudantes sentados no palanque atrás da mesa ecoaram gritos, assobios, uivos, vivas e palavrões, contidos pelo olhar severo do diretor, enquanto na plateia as pessoas batiam palmas. Até voltar a ocupar minha cadeira junto aos colegas, me senti como se tivesse passado por um corredor da morte.
No ginásio de esportes, ornado como se fosse uma gigantesca tenda onde pendiam do teto lustres e tecidos levemente transparentes em imensas faixas que chegavam até o chão, distribuíam-se as mesas decoradas para o jantar formal de formatura. A minha permaneceu vazia praticamente o tempo todo, pois meu pai como treinador do time amador de rugby circulava entre os dirigentes do colégio, meu irmão Noah dispensou mais esse sacrifício de acompanhar o que ele classificou como cerimônia do pela-saco, e eu acabei me juntando à mesa da família do Ryan, embora ambos mais circulávamos pelas rodinhas de amigos do que nos contentávamos com a conversa dos adultos.
Meu pai e eu chegamos em casa por volta da meia-noite, pouco antes do Noah voltar da casa da namorada.
- Deixa eu ver a plaquinha de CDF que o enrustido ganhou? – perguntou o Noah, disposto a zoar comigo.
- Vá se ferrar!
- Para de implicar com seu irmão! Você deveria estar orgulhoso por ele. – repreendeu meu pai.
- O que você vai fazer com a sua plaquinha, pendurar no pescoço, guardar debaixo do travesseiro, emoldurar e pendurar na porta do seu quarto, ou o que? – continuou meu irmão.
- Enfiar no seu cu! – revidei, enquanto ele me dava uma gravata com seu braço musculoso, e eu tentava me livrar dela.
- Vai precisar de muito mais força para conseguir essa façanha! – debochou, enquanto eu me debatia.
Sábado 31 de maio de 2014
O baile de formatura estava agendado para começar às 21:00 horas no Pritzlaff Events na North Plankinton. Eu me sentia um verdadeiro pinguim dentro do meu primeiro smoking, a faixa apertando minha cintura, a camisa plissada e aquela gravata borboleta que levei horas para conseguir ajustar me faziam sentir como se todo meu corpo tivesse sido engomado. No entanto, tudo compensou quando o Ryan e eu chegamos à casa da Susan, minha parceira no baile, me disse que eu estava ainda mais lindo. A Maggie, parceira do Ryan, concordou com ela quando entrou no carro, o que fez o Ryan protestar por nenhuma das duas ter elogiado o smoking dele.
- Você também está um gato! – exclamaram, quase em uníssono, antes de cairmos na risada e ele pôr o carro em movimento em direção ao Pritzlaff
O que se via estampado na cara de todos era a euforia e felicidade por termos vencido aquela etapa de nossas vidas, bem como a nostalgia e até uma certa melancolia, por sabermos que aquela noite seria a última que partilhávamos com os colegas de turma. Dali em diante, cada um seguiria seu caminho e, muito provavelmente, eles nunca mais se cruzariam para a maioria de nós.
Levamos as garotas para casa ao final do baile e, de repente, estávamos sós no carro da mãe dele. Senti um nó na garganta, pois ao final do verão ele partiria para a universidade no Michigan, enquanto eu permaneceria na cidade cursando engenharia ambiental na Universidade de Wisconsin-Milwaukee, pois não queria me afastar da família depois da morte da minha mãe, embora minhas notas permitissem o ingresso em quase todas as renomadas universidades do país. Acho que o Ryan pensava na mesma coisa, aquela também estava sendo a nossa despedida, quando começou a dirigir em direção a um ponto mais afastado ao norte da cidade às margens do lago Michigan, que oferecia vistas incríveis do lago numa noite estrelada como aquela. Eram duas da madrugada quando ele estacionou o Lincoln Aviator da mãe junto a promenade quase deserta àquela hora, à exceção de alguns poucos carros ocupados por casais de namorados que procuravam o lugar ermo para trocar uns amassos ou transar sem serem importunados. Ficamos uns minutos em silêncio, repentinamente, parece que não tínhamos assunto.
- Lembra-se da primeira vez em que conversamos? Tenho todas as cenas registradas na minha memória. Eu nunca tinha conhecido alguém como você até aquele dia, por isso, acho que jamais vou conseguir esquecer de você, mesmo que viva cem anos. – sentenciou ele, quebrando o silêncio.
- Lembro. Fui maluco e ousado, não fui? Não sei o que me deu para enfrentar aqueles caras. Nunca tinha brigado antes. – respondi.
- Eu diria que foi corajoso! E, um pouco maluco também. Mas fiquei feliz por ter agido assim. – retrucou rindo.
Estávamos na metade décimo ano do curso básico quando o episódio a que ele se referiu aconteceu. Até então nunca havíamos trocado uma única palavra, apesar de estudarmos na mesma turma. Não me lembro o que ocasionou a briga entre ele e quatro garotos que ocupavam o fundão da classe e viviam arrumando confusão, ora com outros estudantes, ora com os funcionários do colégio, ora até com duas professoras um pouco inaptas para lidar com aquele tipo de adolescente. Eles também já haviam mexido comigo, especialmente nos vestiários após as aulas de educação física, quando eu costumava me enfurnar na última cabine distante dos armários para trocar de roupa. Eu tinha um verdadeiro pavor que me vissem pelado ou com pouca roupa, por ter aquele corpo estranho tão diferente dos demais adolescentes. Eu até usava roupas um pouco largas para que ninguém visse aquelas ancas largas, o tórax menos desenvolvido que qualquer outro garoto da minha idade, as coxas lisas sem nenhum pelo como quase todo o restante do meu corpo, e particularmente, aquele par de mamilos salientes. Mesmo assim, não escapei de ser zoado algumas vezes. No entanto, por temerem o meu pai que também atuava no setor de esportes do colégio, não ultrapassavam certos limites. O Ryan era um cara na dele, parecia dono de uma autoconfiança que eu invejava. Nos cumprimentávamos com um ‘oi’ despretensioso quando nos cruzávamos nos corredores, nada além disso. Quando tive ciência do que significava aquela algazarra próximo às quadras no final das aulas, a briga já estava rolando. Mitchel, o líder da gangue arrumadora de confusão, trocava socos com o Ryan, enquanto a galera reunida numa rodinha torcia pela desgraça alheia. Corri para avisar o segurança da briga, antes de partir para a arena de combate. Pouco antes da minha chegada, dois dos comparsas do Mitchel entraram na briga, ao perceberem que ele já tinha apanhado bastante e mal se mantinha em pé. Foi aí que surtei. Era covardia demais três contra um. Sem pensar duas vezes, me atirei nas costas de um deles, ignorando por completo aquela montanha de músculos que me carregava como uma mochila enquanto continuava a distribuir socos. Para pará-lo, enfiei os dedos nos olhos do sujeito, ele gritou e caiu de joelhos. Antes de conseguir me atingir, eu já estava pendurado nas costas do Mitchel, tentando usar a mesma tática para nocauteá-lo. Mas, os dois seguranças chegaram no exato momento em que cravava meus dedos em sua garganta. A briga cessou. Os estudantes se dispersaram assim que os seguranças os encararam para identificá-los.
- Foram eles que começaram! – berrei, antes que o segurança fizesse a primeira pergunta. Os quatro protestaram.
- Todos para o gabinete do Sr. Mclean! Lá vocês terão tempo de se explicar. – disse o outro segurança, nos levando até o diretor.
Para meu azar, meu pai estava no gabinete do diretor no momento em que os seguranças nos introduziram.
- O que significa isso? – questionou, ao me ver com aquela cara de culpa.
O Ryan tomou a palavra antes que todos. Explicou o que tinha acontecido, dizendo que estava farto de aturar as provocações do grupinho de encrenqueiros, cujas malandragens o Sr. Mclean estava cansado de questionar, e me agradeceu por ter chamado os seguranças e intervir em sua defesa. Tomei uma bronca do meu pai mesmo assim.
- Sua intenção pode ter sido boa, mas não é assim que se resolvem as coisas! – exclamou.
O grupinho ficou ouvindo a ladainha do diretor por mais algum tempo antes de receberem seus avisos de suspensão, enquanto o Ryan e eu seguimos até um banco no pátio.
- Obrigado pela força! É Alex, não é? – disse ao voltar-se para mim. Eu acenei com a cabeça.
O ombro dele sangrava pelo rasgo na camiseta onde aparecia a pele esfolada pelo piso da quadra. O mesmo acontecia no canto esquerdo da boca, onde o lábio inferior tinha um corte que, mesmo ele lambendo, não parava de gotejar sangue e, já estava o dobro do superior. Tirei a embalagem de lenços umedecidos da mochila e o ajudei a estancar os sangramentos. Naquele momento percebi que ali nascia uma amizade, sem que precisássemos nos valer de palavras para juramentá-la. Ela foi se consolidando ao longo do curso e levada até para nossas vidas privadas.
Voltamos a um breve silêncio novamente, cada um rememorando aquele dia à sua maneira. Conversamos um pouco sobre o futuro, sobre como seriam nossas vidas na universidade e depois dela. De quando em quando parávamos de falar só para ouvir os gemidos de uma garota que estava trepando com um carinha no carro que estava mais próximo de nós. Ríamos vendo o carro balançar, enquanto a garota cavalgando a pica do rapaz esfregava a mão no vidro embaçado e permitia que se visse o que rolava lá dentro.
- Como estamos vivendo nossos últimos dias juntos antes de eu partir, preciso te dizer uma coisa. – disse ele, ajeitando-se no banco para ficar de frente para mim. – Faz um tempo que me sinto atraído fisicamente por você, sinto tesão algumas vezes ao seu lado, ou quando estou no meu quarto e, algo que fizemos naquele dia me vem à mente. Não é nenhuma sacanagem, é uma vontade de te tocar. – revelou, esperando pela minha reação com o olhar fixo em mim.
- Você devia confessar isso para a Maggie! – exclamei, surpreso com a revelação.
- Tive uns lances com ela, mas ambos sabemos que não vai rolar nada. – devolveu ele. – Não sei o que me fascina em você, além do seu jeito tímido e do seu sorriso e, que me faz sentir esse tesão. Mas, eu sinto.
- Devem ter sido as taças de vinho que você tomou no Pritzlaff. – retruquei.
- Não! Talvez elas tenham colaborado para eu ter criado coragem para te falar isso, nada mais.
- Então são as emoções do dia! – eu tentava acabar com aquela conversa sem saber como.
- Você nunca sentiu uma emoção na qual eu estivesse envolvido?
- Senti. Quer dizer, eu me sinto contente quando estou com você. – corrigi ligeiro.
- Que tipo de contentamento? – estava ficando difícil encontrar respostas.
- Sei lá! Contente de estar contente, ora!
- Desse tipo? – questionou, antes de colar sua boca na minha, e fazer minha cabeça começar a girar feito um carrossel.
Eu já havia reparado no Ryan algumas vezes. Gostava de ver a agilidade de seu corpo musculoso quando estávamos em quadra. Gostava de olhar para os pelos do peito dele. Gostava de sentir sua energia quando passamos as tardes estudando ora na casa de um, ora na casa do outro. E, mesmo sem me atrever muito, gostava de olhar para aquele volume entre suas pernas quando ele estava só de cueca no vestiário. Para ser sincero, essa visão me causava calores. Mas, nunca pensei nele como um parceiro sexual, muito embora eu começasse a me sentir cada dia mais gay. Não eram minhas atitudes que me levaram a essa conclusão, mas esse meu corpo estranho com curvas onde eu não as deveria ter, com sensações que eu não sabia definir, com essas malditas micções com sangue que apareceram do nada e vinham acompanhadas de dores abdominais, que cerca de uma semana depois eram substituídas pelo aumento da libido, onde todo rapaz atraente me encantava, daí eu achar que tinha virado gay. Mais uma semana depois, vinha aquela sensibilidade nos mamilos, e eu podia jurar, me olhando no espelho, que os despudorados estavam maiores, doloridos ao menor toque. Depois tudo passava, e eu só torcia para que nova fase semelhante tardasse a chegar.
Quando retribuí o beijo dele, sentindo sua língua se mover na minha boca, creditei àqueles dias em que qualquer homem másculo me atraía, a culpa por deixá-lo prosseguir. Ele mordia meus lábios à medida em que ficava mais empolgado, me chupava e lambia o pescoço, enquanto suas mãos percorriam meu corpo e iam me despindo sem que eu atentasse para o fato. Quando senti sua mão sobre a pele das minhas nádegas, ambos estávamos só de cueca, então me questionei onde tinha ido parar meu smoking e todo o resto. Ele chupava meus peitinhos quando o encosto do banco começou a reclinar e ele a montar em cima de mim. Aquele corpão musculoso estava se encaixando entre as minhas pernas abertas e meus braços, que lentamente iam envolvendo seu tronco quente, ao mesmo tempo em que nossas bocas voltavam a se unir. Minha bunda estava diretamente sobre o couro do banco fazendo-o ranger ao menor movimento. Meus pés apoiados no painel pareciam ser meu único apoio. De repente, eu senti a ereção dele deslizando no meu rego. Nossos olhares fixos se concentravam em manter aquele tesão intacto. Ambos arfávamos, como se precisássemos de ar para enfrentar uma corrida. Eu torci para ele não reparar no meu pinto, tinha vergonha do tamanho acanhado dele. Contudo, mesmo na penumbra, ele fez referência a ele.
- Sempre tive vontade de estar com um carinha lindo como você e com um pinto pequeno. Agora sei porque sinto tanto tesão por você. – sussurrou ele.
A mesma penumbra que permitiu a ele desvendar aquela parte do meu corpo, me permitiu ver o tamanho do cacetão que roçava voluntariosamente meu rego e, a despeito do receio, eu quis sentir aquilo dentro de mim. O Ryan fez um malabarismo antes de conseguir, na quarta tentativa, meter o caralhão molhado dele no meu cuzinho. Eu gritei quando ele me rasgou as pregas, me agarrando aos seus braços e tentando retardar seu ímpeto em se alojar no meu cu. Mas, passada a agrura dolorosa inicial, deixei que ele deslizasse cuidadosamente a verga para dentro do meu rabo. A sensação de senti-lo por inteiro pulsando dentro do meu corpo foi maravilhosa. Ele me encarava movendo-se para produzir um vaivém cadenciado que estava nos levando ao êxtase. Eu nunca tinha sentido nada igual. O Ryan e eu parecíamos fundidos como dois metais formando um amálgama, só que nossos corações batiam e ressoavam uma felicidade única. Eu me melequei na minha própria porra. Ele despejou jatos fartos e densos da dele no meu cuzinho, me encharcando como uma chuva torrencial enlodaça o solo. O alvorecer começava a lançar sua fria luminosidade sobre as águas do lago Michigan, e nós continuávamos abraçados nos acariciando. Quando o amanhecer já colocava nossa situação dentro do carro sob suspeita, um beijo longo e carinhoso selou aquele encontro. Meu pai e o Noah ainda dormiam quando subi a escada rumo ao meu quarto com o cu ardendo como se houvesse um ramo de urtiga entalado nele.
Quinta-feira 5 de junho de 2014
Eu estava sozinho em casa, tinha acabado de voltar da secretaria da Universidade Winsconsin-Milwaukee onde tinha ido pegar os documentos a serem preenchidos para o dossiê de inscrição, e preparava uma jarra de suco quando o Dexter, meu pastor-alemão e o Champ, meu boxer correram latindo até a porta dos fundos. Não demorei a ver o Ryan passando pela porta enquanto o Dexter e o Champ se enroscavam em suas pernas e faziam festa para as carícias que ele lhes dava. Desde a madrugada após o baile não nos tínhamos visto ou falado.
- Oi! Vim saber como você está. – disse ele, tirando da minha mão o copo de suco que eu tentava provar.
- Oi! Tudo legal! E você? – devolvi.
- Está faltando um pouco de açúcar nesse troço! – exclamou ele, fazendo uma careta.
- Quem mandou você tomar antes de eu experimentar? – questionei, acrescentando uma colherada de açúcar ao copo dele.
- Melhor assim! O que vai fazer agora a tarde?
- Nada. Já fui até a universidade buscar os documentos. – respondi. Ele riu.
- Está a fim de repetir o que rolou depois do baile? – seu olhar brilhava, a ereção já era visível, e ele estava com uma deliciosa cara de safado.
- O que te leva a crer que eu quero repetir aquilo? – questionei, sentindo o tesão tomar conta de mim.
- Você gostou, eu sei!
- Convencido! Esse bagulhão me machucou, sabia?
- Sabia! Mas, mesmo assim, você gostou. E eu estou louco para fazer de novo. – declarou, me mostrando a ereção.
- Tarado! Vamos subir. – ele me puxou para junto dele e me beijou. Subimos abraçados. Ele trancou a porta do meu quarto.
Não tínhamos pressa, o Noah tinha ido com o amigo Jeff até a capital, Madison, para algo que não prestei muita atenção, e só voltaria no dia seguinte. Meu pai estava na sede da Liga Regional de Rugby e tinha me avisado para não o esperar para o jantar. Eu chupei a rola grossa e reta do Ryan até ele gozar alucinadamente na minha boca, engolindo sua porra deliciosa. A luz do dia, aquela pica era ainda mais sedutora, veias calibrosas desenhadas em seu entorno pareciam rios e seus afluentes, a glande parecia um enorme cogumelo arroxeado e, abaixo dele, um sacão globoso camuflava dois imensos testículos pendurados em alturas diferentes, atestando a virilidade do Ryan. Ele fodeu meu cuzinho até eu pedir arrego na terceira vez em que as estocadas já tinham detonado meus esfíncteres anais, deixando uma gigantesca sensação de vazio na minha bunda.
- Você vai ao jogo no domingo? – perguntei, ao nos despedirmos com um beijo
- Ainda não sei! Meus pais estão querendo reunir a família antes de eu partir para o Michigan e, ainda não ficou definido se será neste ou no próximo final de semana. Se eu for passo aqui para irmos juntos, ok?
- Ok!
- Adorei brincar com essa bundinha! – disse ele, dando-me um tapa nas nádegas antes de subir na bicicleta.
- E eu com essa rola sem-vergonha! – respondi, sorrindo, mesmo prevendo que aquela dor em meu ventre ia se intensificar nas próximas horas, mas realizado pelo prazer que ele me proporcionou.
Sexta-feira 6 de junho de 2014
A final do campeonato regional de rugby do Wisconsin aconteceria no final de semana, meu pai como treinador do time de iniciantes estava assoberbado, mas mesmo assim, encontrou um tempinho para me convencer a ir ao shopping e comprar um uniforme novo, apesar de eu ter deixado de participar do time de novatos há cerca de um ano, mas continuando com alguns treinos. Na sexta-feira, após o expediente, ele veio me buscar. Eu sabia que seria inútil dissuadi-lo, portanto, deixei-o conduzir a questão conforme sua vontade, como vinha fazendo desde que minha mãe faleceu há três anos, só para deixá-lo feliz. Estávamos esperando pelo pacote quando a primeira explosão se fez ouvir fazendo com que seu brutal deslocamento de ar quebrasse duas das vitrines da loja. A segunda, veio cerca de 40 segundos depois, já inundando os três andares daquela ala com uma fumaça densa cinza escura. Gritos e alarmes disparando criaram o caos dentro do edifício com poucas saídas de emergência. Como a loja em que estávamos ficava no terceiro piso, procuramos correr na direção oposta de onde vinha a fumaça a fim de encontrar as escadas até o térreo. Todos tiveram a mesma ideia e, as escadas não davam vazão à multidão que se dirigiu a elas. Senti a mão potente do meu pai no meu braço quando conseguimos chegar aos degraus. Lembro-me de ter feito o mesmo com a garotinha que chorava enquanto sua mãe a agarrava pela roupa, tentando dar-lhe mais segurança no meio daquele tumulto. Em minutos todo o shopping estava tomado pela fumaça, mal se enxergava uns palmos a frente do nariz. Metade do primeiro piso ardia em labaredas que alcançavam o teto, tivemos que driblá-las para prosseguir a fuga. A mãe da garotinha tropeçou nos saltos altos dos sapatos e caiu, fazendo com que eu quase perdesse sua mãozinha. A mãe gritou, livrou-se dos sapatos e se pôs em pé numa agilidade espantosa. Continuamos a correr em direção a uma saída de emergência, já sem fôlego e intoxicados pela fumaça. Bombeiros haviam isolado um corredor com fitas que iam da porta até o meio da rua e coordenavam a evacuação. Sem enxergar praticamente nada, não percebi que havíamos alcançado a rua, meus olhos, nariz e boca ardiam e, tive a impressão que meus pulmões não se enchiam de ar, quando uma mão enluvada me puxou para um canto onde equipes médicas prestavam os primeiros socorros. A última coisa de que me lembro antes de acordar dentro de uma ambulância com uma máscara de oxigênio no rosto e meu pai sentado ao lado, foi uma socorrista gritar – ESSE AQUI PRECISA SER TRANSFERIDO PARA UM HOSPITAL COM URGÊNCIA – então tudo se apagou.
- Vai ficar tudo bem, Alex! – disse a voz tranquila de uma enfermeira que se aproximou do leito no qual haviam me instalado no setor de emergências do hospital. Eu só acreditei nela por que meu pai estava sorrindo sobre suas costas.
- Ele inalou muita fumaça! Os parâmetros indicam que a gasometria está muito baixa, precisamos melhorar a ventilação pulmonar e realizar alguns exames. – afirmou o médico que entrou pouco depois de eu ter recobrado os sentidos. – Existe algum distúrbio prévio envolvendo o aparelho respiratório dele? – questionou, voltando-se para o meu pai, pois eu não tinha condições de responder com aquela máscara colada ao meu rosto.
- Sim! Há cerca de um ano instalou-se um quadro asmático, o que o obrigou a abandonar as competições do time juvenil de rugby. – respondeu meu pai.
- Prepare-o para os exames, sim Dorothee. – a enfermeira assentiu, enquanto o médico deixava o box no qual haviam me instalado.
- Vista isso que já volto para levá-lo ao setor de radiologia. – disse ela com um sorriso brando ao me entregar um avental.
- Não tenho nada! Só estou sentindo falta de ar por causa da fumaça. – afirmei, ao que ela riu e me perguntou se não era melhor o médico chegar a essa conclusão.
- Vamos, Alex! Você está muito pálido e é melhor fazer os exames. – sentenciou meu pai.
- Então volte para o treino, pai! Devem estar aflitos esperando por você, o campeonato é no domingo. – argumentei.
- Eles vão se virar sem mim, não se preocupe. É aqui que vou ficar, ao seu lado, até que tudo seja resolvido. Somos um time, não somos, filhão? – retrucou ele.
Era essa afirmação que ele costumava fazer que me deixava angustiado – SOMOS UM TIME – dizia diante de algum problema, querendo com isso a aprovação do meu irmão e minha. Eu só estava no time rugby para agradá-lo, para que ele sentisse orgulho de mim, como sentia pelo Noah que era o capitão do time oficial.
- Claro, pai! – respondi, sentindo o peso daquela mentira.
Ao retornar, o médico veio acompanhado de dois outros, mais jovens, provavelmente residentes, um deles tão lindo e másculo que não deixei de reparar. Haviam me instalado num quarto após os exames, o que me fez suspeitar que não sairia do hospital como havia imaginado. Ele trazia consigo um envelope com as imagens de uma tomografia e uma ressonância magnética.
- Tenho uma boa notícia quanto ao seu quadro pulmonar! – começou ele, muito circunspecto para quem dá uma boa notícia. – O pulmão esquerdo está um pouco comprometido, mas algumas horas em observação com o oxigênio, vai remover os resíduos que inalou. – continuou ele, sem tirar o olhar de mim enquanto falava.
- Que ótimo, não é filhão? Logo podemos ir para casa. – animou-se meu pai.
- Temo que não, senhor Butler! – exclamou. – Encontramos uma bolsa contendo líquido no abdômen do seu filho, e vamos precisar drená-lo. – completou.
Cerca de um quarto de hora depois, lá estava eu numa maca percorrendo novos corredores do hospital enquanto meus olhos acompanhavam a sequência de lâmpadas no teto. Foi o residente bonitão que fez o procedimento, depois de me cobrirem de panos. O olhar que ele lançou à enfermeira, após me avisar que eu sentiria uma espetada, não era exatamente o olhar que eu gostaria de ver no rosto de um médico.
- Peça ao doutor Kostopoulos que venha até aqui, Dorothee. – solicitou, por trás da máscara.
A presença do médico quarentão não me trouxe tranquilidade. Embora tenha dito apenas para o residente continuar, sua expressão me pôs em alerta.
- Há algo de errado comigo? – questionei. Não me lembro da resposta que me deram, mas ela não me satisfez.
Eu mal havia chegado ao quarto, ainda um pouco dolorido, quando me levaram para novos exames. Aquelas sobrancelhas juntas do meu pai demonstravam sua preocupação com aquela sequência de exames e nenhuma conclusão.
- Você já sentiu dores abdominais outras vezes, Alex? – perguntou o doutor Kostopoulos. Devo ter ficado vermelho, pois a resposta que eu daria, certamente o faria fazer outras, difíceis de responder, especialmente diante do meu pai.
- Sim! – mal ouvi minha própria voz.
- Por que nunca me falou nada, Alex? – inquiriu meu pai.
- Desde quando sente essas dores, Alex? – continuou o médico, como eu previra.
- Há uns três anos, acho. Mas elas não acontecem sempre. – tentei justificar, ante a desolação do meu pai.
- O que drenamos do seu abdômen foi sangue. – de desolado meu pai passou a aflito com aquela afirmação do médico. Eu me encolhi, pois ainda havia mais a revelar e, certamente ele arrancaria essa informação de mim.
- Você notou alguma vez que havia sangue na sua urina? – ele chegou ao ponto. Eu acenei positivamente com a cabeça, pois tive vergonha de ouvir minha resposta. Todos tinham os olhos fixos em mim, meu pai, o doutor Kostopoulos, Dorothee, e os dois residentes. Eu me sentia vítima da inquisição. – A ressonância magnética revelou que você tem todos os órgãos femininos funcionantes em seu abdômen. Você é o que denominamos intersexual, clinicamente.
- E o que ocasionou esse sangramento que vocês drenaram? – questionei, já temendo que novos exames e inspeções pelo meu corpo os levariam a descobrir as minhas pregas anais rotas e sensíveis, deixadas pelo cacetão do Ryan. Aquilo parecia o inferno desabando sobre mim, em questão de horas minha intimidade, guardada a sete chaves durante anos, estava sendo devassada diante de estranhos e do meu pai.
- Você menstruou! Sua condição é típica do que se conhece como Síndrome da Persistência do Ducto Mülleriano. Todos os fetos têm uma estrutura chamada ducto de Müller que, eventualmente, se desenvolve em órgãos reprodutivos em mulheres. E, geralmente, dissolve-se em fetos do sexo masculino. O que não aconteceu com você. Somado a isso, durante a sua formação fetal, uma provável hiperplasia adrenal congênita, tenha sido a causa da virilização que acabou por definir as atuais formas do seu corpo.
- Como nunca fomos informados disso pelos pediatras? – questionou meu pai, chocado e perplexo.
- Há uma década atrás, não se sabia muito bem como proceder nesses casos e, muitas vezes dependia do médico uma resolução para o problema. Era prática comum sujeitar as crianças intersexo a intervenções cirúrgicas desnecessárias e a outros procedimentos que têm como propósito tentar fazer com que a sua aparência esteja de acordo com a definição típica de sexo masculino ou feminino. No entanto, o que mais me preocupa no momento, é um cisto que você tem num dos ovários. Precisamos removê-lo nos próximos dias. Durante o procedimento, também vamos remover todos os órgãos femininos, para que cessem as dores abdominais e o sangramento através da urina. – completou.
- Quer dizer que existe uma mulher dentro de mim? – balbuciei incrédulo.
- Sim! Provavelmente não houve um diagnóstico correto quando você nasceu. – afirmou ele.
Fiquei sozinho no quarto com a Dorothee quando os médicos e meu pai saíram e foram conversar no corredor. Eu mal conseguia encará-la.
- Você é muito bonito! Vai fazer sucesso com as meninas! Não pense muito nisso agora. As coisas vão se arranjar, você vai ver. – sentenciou ela.
- Eu não sei quem eu sou! – exclamei atordoado. – Decidiram por mim quem eu deveria ser. Fui criado como um menino e agora descubro que sou uma menina. Meu pai vai ficar decepcionado comigo.
- Não se aflija tanto, Alex. Dê tempo ao tempo. Seu pai te ama e isso não vai mudar. – disse tentando me tranquilizar.
Do lado de fora, no corredor, eu podia ouvir a voz grave do meu pai fazendo um relato sobre a minha infância.
- Não lembro ao certo, era a mãe dele que costumava levá-lo ao pediatra. Nos disseram que a cirurgia seria um procedimento simples se o fizéssemos naquela idade, dois ou três anos creio, apenas para que ele não tivesse problemas durante a micção futuramente. – ouvi que a voz do médico questionara mais alguma coisa, mas não a identifiquei. – Ao contrário do irmão, o Alex sempre foi um rapaz muito tímido e retraído. Nunca o vi sem roupa depois da primeira infância, ele não gostava de se expor. Foi o irmão quem comentou uma vez, porém durante uma brincadeira, que o Alex tinha um pinto muito pequeno. Creio que daí veio o receio de se expor. – completou meu pai, subsidiando o médico.
Algumas horas depois, o residente bonitão que fizera a drenagem do meu abdômen entrou no meu quarto acompanhado da Dorothee.
- Como se sente, Alex?
- Não sei! Nem sei mais quem eu sou.
- É natural que se sinta assim, depois da notícia que recebeu. Você não precisa decidir isso agora. Pense com calma. O importante é removermos o cisto. Se você não quiser remover os outros órgãos isso não precisa ser feito agora. Você é um jovem muito bonito, pode mudar de ideia. – algo me dizia que ele estava me fazendo aquela visita extraoficialmente.
- Foi o que eu disse a ele, Henry. Ele é tão lindo, não importa o que decida, tudo vai dar certo. – corroborou a enfermeira.
- Exatamente! Se não quiser fazer a cirurgia é só avisar. Posso pedir que o nosso psicoterapeuta venha conversar com você e, ajudá-lo a entender o que se passa. Talvez até facilitar sua decisão. – disse o Henry.
- Eles, os outros jogadores, me atropelavam em campo com aqueles corpões musculosos que eu nunca cheguei a ter. Mas, eu não queria que meu pai pensasse que eu não estava me esforçando para ser como meu irmão e ele. Quando surgiu o problema da asma eu até fiquei contente, não precisava mais fingir que gostava de rugby. Agora havia uma questão de saúde envolvida e eu podia me valer dessa desculpa para deixar o time, sem magoar meu pai. – devolvi.
- Seu pai vai entender a sua escolha. Ele me parece muito preocupado com você, mas vejo que só quer a sua felicidade. – retrucou ele.
No dia seguinte, o Noah ficou algumas horas comigo no hospital, enquanto meu pai foi para casa tomar um banho e trocar de roupa. Tínhamos cinco anos de diferença, embora ele vivesse me aporrinhando, eu me espelhava nele, tentava ser como ele, idolatrava-o, pois era assim que eu imaginava que meu pai nos queria. Depois da morte da minha mãe, eu só pensava em nunca o fazer infeliz, pois ele tinha se transformado depois disso. Abandonou sua carreira de executivo num grande banco e começou a se dedicar ao esporte que praticara na faculdade, onde colecionou diversos prêmios. Foi assim que acabou virando o técnico do time juvenil na liga nacional de rugby. O Noah herdou o talento dele. Tornou-se o destaque do time juvenil e, ao ingressar na faculdade, virou capitão do time oficial. Nenhum esforço que eu fazia parecia bastar para, ao menos, me equiparar aos outros jogadores. Meu pai não se importava, ou fingia não se importar, com a minha falta de talento, e continuava a me estimular.
- Como se sente, Alex? – perguntou o Noah. Foi a primeira vez que o vi se aproximar de mim sem sua costumeira postura de superioridade.
- Perdido! – respondi
- O papai me contou o que os médicos descobriram. Posso imaginar como anda a sua cabeça. Só quero que saiba que estamos aqui para te apoiar, e sempre vamos estar.
- Eu sempre quis ser como você, o orgulho do pai, o líder do time, o cara gostosão cobiçado pelas garotas, mas por mais que eu tentasse, nunca consegui. E agora, sou isso que está aqui, um cara dono de um pintinho, que no ventre tem um monte de órgãos que não servem para nada, que menstrua e, que é uma aberração médica. Quem é que vai sentir orgulho de um filho assim? Quem é que vai ter coragem de apresentar um irmão assim? Fala para mim, Noah! – questionei, caindo no choro.
- Tanto o pai quanto eu te amamos, nunca duvide disso! Sempre enchi o teu saco porque você é o xodó do papai, toda a atenção era para você, todo o carinho era para você, o tempo livre dele ele dedicava a você, eu precisava ser o melhor em tudo para que ele me notasse. Eu é que sempre senti inveja de você. Onde quer que você fosse logo as pessoas se encantavam, admiravam seu jeito, se tornavam seus amigos, sem que você precisasse fazer nenhum esforço para isso.
- Se você sente inveja de mim é porque é mesmo um bobalhão como eu sempre digo! – exclamei, enxugando as lágrimas, enquanto ele fazia o mesmo.
- E eu estava certo quando dizia que você é um enrustido, sua peste! – devolveu ele. – Eu te amo, Alex! Não me importa o que os outros pensam a seu respeito, eu sempre vou ter orgulho de dizer que você é meu irmão. – comecei a chorar novamente.
- Posso te dar um abraço? – perguntei. Ele se inclinou e eu o apertei em meus braços com todas as minhas forças. – Te amo muito Noah! – balbuciei.
- Já arrumou um namorado, Alex? – questionou a Dorothee, visivelmente interessada no meu irmão.
- Este é meu irmão Noah, Dorothee. Se você estiver a fim dele, pode entrar na fila. – afirmei, tentando desanuviar meus pensamentos.
- Preciso descobrir qual foi a poção mágica que seus pais usaram para terem filhos tão lindos! – retrucou a enfermeira, com um sorriso atrevido.
Domingo, 8 de junho de 2014
A muito custo consegui convencer meu pai a acompanhar o Noah, alegando que ele precisava muito mais dele do que eu. O jogo começou no início da tarde, contra os Beloit Buccaneers nossos antigos rivais. Essa final já tinha acontecido inúmeras outras vezes e, ultimamente, sempre os Milwaukee Panthers tinham levado a melhor. Pouco depois de eu ter sintonizado o canal de esportes, meu quarto foi se enchendo de enfermeiras, residentes, auxiliares e médicos do plantão. Eu apontava orgulhoso os pontos que o Noah fazia, sempre acompanhados de uma breve explicação de quão complicado tinha sido o lance. As enfermeiras estavam mais ligadas nos jogadores do que na pontuação dos times, e não deixavam de suspirar quando os jogadores comemoravam os pontos.
- Isso aqui é um quarto de hospital ou um estádio de esportes? – questionou a enfermeira-chefe, uma senhora baixinha com a síndrome do comando.
- Eles estão me distraindo um pouco, senhora Maloney. – afirmei.
- Você precisa descansar para a sua cirurgia de amanhã cedo, senhor Alex! E eles têm outras coisas para se distraírem. Se não tiverem, eu arranjo! – sentenciou ela. As pessoas se entreolharam e riram, alguns saíram por um breve tempo, mas acabaram retornando para ver o final do jogo. Os Milwaukee Panthers venceram a partida por 37 a 29, sendo que 19 pontos foram feitos pelo Noah.
- Eu não disse que meu irmão é o maior! – exclamei entusiasmado, quando a partida foi dada por encerrada.
Segunda-feira, 9 de junho de 2014
Meu pai veio segurar minha mão quando o doutor Kostopoulos entrou no quarto acompanhado de uma enfermeira.
- Eu soube que o doutor Vanners, nosso psicoterapeuta, veio conversar com você. Como foi a conversa? Te ajudou a tomar uma decisão? – questionou.
- Sim! – respondi, apertando com mais força a mão do meu pai. – Não quero fazer a cirurgia agora. Me perdoa, pai! Não fique com raiva de mim, por eu não ser quem você gostaria que eu fosse. Mas, eu preciso de mais tempo para decidir algo tão complexo que vai mudar radicalmente a minha vida. Você entende? – revelei, mesmo correndo o risco de perder seu afeto.
- Claro que entendendo, Alex! Não tenho nada que te perdoar! Ei, eu nunca vou deixar de te amar sejam suas escolhas quais forem. – exclamou ele, beijando minha testa.
- Foi uma decisão acertada, Alex! Vamos remover o cisto para que não evolua e não venha a lhe causar maiores problemas. Quanto a outra cirurgia, você terá tempo para tomar uma decisão, e ela poderá ser feita a qualquer momento se você assim o desejar. Vou mandar que o preparem para levá-lo até o centro cirúrgico. – completou, deixando-nos a sós.
- Nunca vou ser o capitão do time campeão, pai! Porque você já tem esse filho. Eu queria que você ficasse mais tempo com o Noah, que o elogiasse mais, que partilhasse sua alegria com ele, pois eu estou monopolizando o seu amor e isso não é certo. – afirmei. – Somos um time! – exclamei. Os olhos do meu pai ficaram úmidos e ele me abraçou dizendo que me amava.
Acordei com o rosto voltado para janela, o pôr do sol estava quase completo, tons alaranjados destacavam as nuvens e, as primeiras estrelas não passavam de pequenos pontos faiscando. Minha cabeça pesava, mas meu corpo estava relaxado como eu nunca tinha sentido antes. O lado esquerdo da minha região inguinal doía, não muito, mas o suficiente para eu me lembrar que ela existia. Aos poucos, o vulto embaçado que ocupava a cadeira junto à janela foi ficando nítido. Era o Jeff, entretido com uma revista, a última pessoa que eu podia imaginar que fosse estar ali. O que estaria ele fazendo aqui? Foi minha primeira pergunta. Mas ela não soou como eu imaginara que soaria pelo quarto. Minha boca estava seca e meus lábios não tinham forças para se mover, acho que por isso o som não saiu. Foi bom, caso contrário eu o teria tirado de sua concentração. O Jeff era o homem mais lindo que eu conhecia. Na primeira vez que cheguei a essa conclusão, também concluí que eu era gay. Não o deixei perceber que tinha acordado, assim podia continuar admirando sua beleza. Ele devia ter os mesmos um metro e noventa de altura do Noah, talvez até os mesmos cento e tantos quilos, pois os dois eram fisicamente muito semelhantes neste aspecto. As grossas sobrancelhas quase se juntavam quando ele se compenetrava como agora, sobre um par de olhos muito verdes. O rosto másculo se tornava sedutor quando ele sorria e aquela barba, sempre por fazer, acentuava o queixo anguloso e viril. A camiseta parecia prestes a estourar sobre aqueles ombros largos e os enormes bíceps. Quando eu ia assistir aos treinos do time, não desgrudava os olhos dele, só esperando que ele tirasse a camiseta e aquele tronco nu e ligeiramente peludo ficasse exposto à minha tara reprimida. Eu não o via com frequência, vez ou outra ele aparecia lá em casa com o Noah, pois eram muito amigos. Eu ficava meio abobado quando ele ia em casa, havia algo nele que me inibia, que desconcertava, embora eu duvidasse que ele um dia tivesse reparado em mim. A impressão que eu tinha era a de que ele não me via, e todo ‘oi’ que ele me dirigia quando nos encontrávamos geralmente na presença do Noah, era uma mera gentileza, uma formalidade. Mesmo ele ignorando minha existência, eu sonhei diversas vezes com ele, isto é, eu sonhava que fazia sexo com alguém que me fazia experimentar sensações incríveis e, de repente, poucos segundos antes do sonho terminar, à minha revelia, a pessoa com quem eu transava ganhava um rosto, uma identidade, e era o Jeff.
- Tudo bem? Como está se sentindo? Quer que eu chame a enfermeira? – questionou ele, quando percebeu que eu havia acordado.
- Por que você está aqui? – devolvi.
- Seu pai bateu o carro, nada sério, não se preocupe, e o Noah foi ao encontro dele. Devem estar aqui dentro em breve. Como eu estava justamente conversando ao celular com seu irmão no momento em que seu pai entrou em contato, eu me ofereci para ficar com você até eles resolverem tudo. – esclareceu.
- Obrigado, pela gentileza! – agradeci. Ele me sorriu.
- Precisa de alguma coisa? – voltou a indagar.
- Não, obrigado! – eu queria dizer que estava achando maravilhoso ele estar ali, mas certamente eu ia falar uma bobagem qualquer, confundir as palavras e estragar aquele encontro.
- Sentimos sua falta na partida. Você viu o resultado?
- Parabéns! Você foi o segundo que mais pontuou. Vi seus lances, estavam espetaculares como sempre. – elogiei
- Obrigado! Tento fazer o que seu irmão faz, mas ainda não cheguei lá. – devolveu ele.
- Eu venho tentando a vida toda e já me convenci que nunca serei como ele. Já você tem grandes chances, vou torcer por você. – para quem tinha saído de uma sala de cirurgia poucas horas antes, eu estava bastante atrevido.
- Vou aceitar! Todo estímulo vale à pena. – devolveu ele.
Quando começamos a conversar, ele tinha se levantado, jogado a revista sobre a cadeira e vindo até a beira do leito. Agora já estava sentado, apoiando uma perna sobre a cama e, tão próximo que eu podia sentir o cheiro da loção de barba. Se eu tivesse um pinto que prestasse para alguma coisa, ele já estaria duro. Porém, mesmo assim, eu estava excitado, com o homem dos meus sonhos ao alcance da minha mão.
- Esse quarto parece o paraíso dos homens lindos! – exclamou a Dorothee quando veio aplicar a medicação nas mangueiras que saíam de uma bolsa de soro e vinham parar em agulhas espetadas no meu braço.
- Dorothee, este é o Jeff que você viu fazendo aqueles lances espetaculares ontem. E esta é a Dorothee, Jeff! A enfermeira mais sexy e maravilhosa do hospital! – afirmei. O Jeff riu e ela esboçou um sorriso encabulado.
- Não venha me bajular! Reconheço um sem-vergonha como você a quilômetros! – retrucou ela. – Está se sentindo bem? Sente alguma dor? – perguntou, mudando a fisionomia para algo mais profissional.
- Está tudo bem, obrigado!
- Este é o nosso melhor paciente, não reclama de nada, não dá trabalho, e ainda fica fazendo piada. – afirmou ela.
- Quem é que está bajulando quem agora, hein? – questionei. Ela riu e saiu do quarto.
- Fico admirado como você está encarando seu problema. Outro no seu lugar estaria amaldiçoando o mundo. – observou o Jeff
- Prefiro não pensar muito. Me sinto perdido. Perdi minha identidade. Mas, ficar remoendo essa questão só vai torná-la mais difícil e, por hora, eu consegui dar uma solução. Futuramente talvez precise voltar a me questionar quem sou de verdade. – esclareci.
- Você é uma pessoa especial, muito especial! – exclamou. Nunca me senti tão feliz.