6 sentidos atados ao meu corpo com Shibari

Um conto erótico de Laura Molotov
Categoria: Heterossexual
Contém 914 palavras
Data: 10/06/2020 13:58:01

Gabriel é uma caixa de surpresas. E todas elas parecem ser muito bem calculadas para serem reveladas no momento certo. Quando eu olho bem no fundo daqueles olhos penetrantes, quase consigo ver sua mente fazendo os cálculos do próximo movimento que ele vai fazer, ou da próxima coisa que vai dizer. Gabriel sabe dobrar a minha mente sem nem dizer nada, enquanto dobra meu corpo na cama. Ou na pia, na maca, na fonte do centro da cidade...

Na última vez que ele abriu sua caixa de surpresas, saíram cordas, cintos e velas. Antes de abri-la, ele me mandou calar a boca, de um jeito até doce, enquanto me botava sentada, vendada e atada, com os pulsos presos juntos pelo cinto. Deixou objetos sobre minha pernas, para que eu não me mexesse. ”A partir de agora você só responde o que eu perguntar”, disse ele. Minha mente borbulhava, eu queria falar, fazer perguntas. Mas já que eu não podia fazê-las, passei a buscar respostas no único sentido que me foi concedido naquele primeiro momento: a audição.

Passos, zíperes, caixas abrindo e fechando nos cantos do quarto, o tsc tsc do isqueiro…E gradativamente outros sentidos me foram concedidos. Primeiro o paladar, quando ele colocou um chiclete na minha boca e anunciou que aquele seria o gosto daquele momento. Me pediu para descrevê-lo, e me vi obrigada a usar todas as minhas papilas para absorver aquele que parecia o chiclete mais gostoso que eu já havia provado. A racionalidade dizia “morango ou laranja”, mas busquei um gosto original, que envolvesse uma verdadeira sinestesia de cor com sabor. E senti naquele gosto as cores das nuvens de fim de tarde que eu gosto tanto de apreciar, quando o reflexo do sol está em seus últimos minutos e banha o céu com os quase cem tons existentes entre o amarelo, o rosa e o laranjado.

O cheiro do ambiente também mudou, com a fumaça de um incenso que trazia um aroma de flor, daquelas que só desabrocham a noite. Dessa vez ele não me pediu pra descrever o cheiro, mas eu busquei outra referência inusitada para descrever para mim mesma aquela experiência olfativa. O cheiro que eu sentia era de luxúria, e vinha não só do incenso, mas também da pele dele, quando ele enfim se aproximou de mim calmamente.

Pegou minha mão e ergueu meu braço num movimento cheio de delicadeza. Beijou alguns pontos do meu corpo. Dali pra frente seria o tato o grande sentido protagonista. Senti meus dedos sendo envolvidos por cordas, que passavam de um para outro, circulando toda a mão e se prendendo firmemente a ela. Quando acabaram as amarrações em ambas as mãos, parecia que eu estava usando luvas, mas elas tinham cordas penduradas, e com essas cordas que outras mágicas se realizariam dali pra frente.

A próxima ordem foi que eu me deitasse no centro da cama, e dali as cordas abriram meus braços e foram presas nos pés da cama. Pontas de dedos começaram a passear pelas minhas pernas, e a cada nova volta, subiam um pouco mais, alcançando os quadris, cintura e barriga. Eu viajava naquele toque, como se estivesse a vários mil pés de altura.

Minha venda foi retirada e o quarto estava todo iluminado em tom de laranja, dado pelas velas colocadas em pontos estratégicos. Mais um cálculo perfeito. Não mais perfeito do que a visão dele entre as minhas pernas, se posicionando para me penetrar. Eu queria tocar aquele homem com as mãos, mas tentei esquecer delas e foquei em todas as outras partes da minha pele que se encostavam na pele dele. Principalmente no pau rígido que me penetrava vagarosamente, abrindo caminho na buceta totalmente molhada. Ora controlado, ora selvagem, ele me arrancava gritos suspirados e suspiros gritados a cada vez que metia.

Em certo momento, parou. Ao lado das minhas pernas havia travesseiros, e ele mandou que eu dobrasse as pernas em cima deles, deixando a buceta bem exposta pra ele brincar, alternando entre os dedos, a língua, um vibrador e o próprio pau. Não tirava os olhos dos meus. Aquela cara de mal me tirando o juízo gota a gota e ia embaralhando os meus pensamentos como um dealer de cassino embaralha as cartas da próxima rodada do jogo.

Depois de brincar bastante naquela posição privilegiada, Gabriel levantou-se e soltou meus braços. Eu, inocente, achei que a brincadeira tinha acabado, mas uma segunda etapa começou logo em seguida. Aquelas cordas presas nas mãos foram amarradas nas pernas. Não sei o que me excitava mais, a amarração em si ou a habilidade e segurança com que ele fazia isso, prendendo e puxando até deixar minhas pernas erguidas e bastante confortáveis… para foder de novo.

Eu só conhecia o Shibari na teoria, por fotos, e nunca tinha me passado pela cabeça como aquilo podia ser excitante. A sensação é de que poderia (e gostaria) de ficar amarrada ali pra sempre, a mercê daquele tarado gostoso que fodia bem pra caralho, sem trégua e sem piedade. Eu, como uma presa amarrada, desfrutava daquele clima em que a safadeza e selvageria brincavam em harmonia. O tesão que eu sentia era tão intenso que parecia fazer parte do conjunto dos meus cinco sentidos naturais, ali se revelando como um sexto.

Quando acabou, as cordas foram desamarradas. Mas eu ainda sentia aquelas cordas com a mesma intensidade que sentia suas mãos, agora repousadas tranquilas no meu corpo, e as memórias de todas as sensações vividas naquelas últimas horas.

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