Chapeuzinho Vermelho e o Lobo (uma releitura) - Capítulo 9

Um conto erótico de RedCap
Categoria: Gay
Contém 2277 palavras
Data: 02/06/2020 15:18:02

Havia umas semanas que Bernardo tinha ido embora, e como prometido continuamos mantendo contato. Na ficha do Nicolas que peguei na faculdade não tinham muitas informações úteis, cursava o quarto período de arquitetura, veio transferido da federal de Brasília, endereço, nome dos pais, e notas. Depois de ter lido eu devolvi na secretaria sem ninguém notar a falta, a tempo.

Hoje, dia de provas na faculdade, entrei na sala de aula e vi Lola e André com expressões de raiva mútua, e pelo que parecia eles deixaram o lugar do meio vago pra eu sentar na fila de carteiras. Me sentei e perguntei:

- Ué! O que aconteceu com vocês dois? Onde foi parar todo o amor de algumas semanas atrás? - deveria ter sido menos indelicado.

- Pergunta pra essa aí! - disse André ironicamente.

- Ah Eric, foram diferenças criativas entre a gente, resolvemos ser só amigos mesmo, e não toque mais nesse assunto! - disse enquanto pegava sua borracha rosa pra tacar no André, segurei seu braço.

- Diferenças criativas? Não acredito nisso, mas… melhor assim não vou segurar vela pra vocês dois mais! - falei tentando animá-los.

A professora entrou e aplicou as provas, algumas questões estavam fáceis e outras não, mas tiraria uma boa nota na prova. Terminamos a prova quase juntos e resolvemos ir pro café já que estava quase na hora do almoço, chegamos lá e sentamos na nossa mesa habitual.

- Tá, já podem parar com isso! Seremos todos bons amigos novamente né?! - fiz cara de mãe que advertia seu filho quanto a uma malcriação.

- Ok, vamos parar com isso então! - disse André.

- Ok, ok… Mas Eric e aí, descobriu alguma coisa sobre o Nicolas?! - fiz cara de espanto quando ela falou isso. - Aff, é claro que nós sabíamos, ainda mais depois da morte do seu tio… - disse por fim.

- Bom pra falar a verdade na ficha dele da faculdade não tem nada de tão importante… - concluí.

- E o cartório, já tentou ir lá?! - perguntou André, o que me fez lembrar que eu tinha um passe que já deveria estar vencido há muito tempo.

- É mesmo! Tinha esquecido, acho que tenho um ticket aqui comigo. - revirei minha bolsa e encontrei o ticket. - Venceu! Era pra eu ter ido sexta retrasada. - disse com cara de triste.

- Cara, vamos passar lá depois da faculdade, minha tia trabalha por lá na parte da administração, mas eu posso falar com ela pra liberar pra gente! - disse André.

- Ok então, faremos isso. - quando terminei de falar deu a hora da aula.

Enquanto estávamos saindo do café passamos pelos Bragança que nos olharam com certa desconfiança. Chegamos à sala pra fazer as últimas provas que estavam fáceis, porém eram questões muito longas, assim que terminássemos ao sair da faculdade passaríamos no cartório.

Lola havia terminado a prova primeiro, saiu e ficou esperando André e eu perto da porta, ao sairmos ela nos puxou com o intuito de falar algo que os demais não podiam ouvir.

- Escutem, quando eu tinha acabado de sair da sala, vi duas garotas passando por aqui e falando alguma coisa sobre lobisomens. - ela tinha falado tão baixo quanto só nós dois podíamos ouvir.

- Elas usavam alguma roupa vermelha? - perguntei.

- Não me lembro bem… Foi muito rápido, de repente dá pra alcançar elas ainda. - assim que Lola terminou de falar, as aulas terminam e os corredores foram invadidos por uma grande multidão de estudantes com semblantes tensos por causa da maratona de provas.

- Melhor a gente deixar isso por hora. Vamos que a minha tia está me ligando, deve ser sobre o acesso aos documentos do cartório. - disse André elevando um pouco a voz no meio da multidão.

Chegando ao cartório não foi preciso pedir a recepcionista pra chamar a tia do André, pois ela já nos esperava.

- Oi tia! Como está? - disse André abraçando-a e recebendo um beijo dela. - Prometemos que não vamos demorar… - começou a se explicar.

- Shiu! Não quer que ninguém me demita daqui né, querido? - falou dando uma olhada de reprovação para o sobrinho. - Então meninos, vamos lá pra minha sala, veremos o que posso conseguir pra vocês. - disse já se retirando, porém foi interrompida por uma supervisora que estava ali próximo.

- Alexa aonde vai com essas crianças? Sabe que não pode manter civis aqui por muito tempo, só pessoal autorizado pode entrar! - falou de forma ríspida e dura com a tia de André.

- Não se preocupe Matilde, eu dei a autorização. Vamos meninos! - e assim nos levou para seu escritório. - Podem entrar! - disse.

- Então tia a gente precisa consultar uns documentos de alguns anos atrás pra uma pesquisa da faculdade, é que parece que ocorreram uns casos de furto e gostaríamos de dar uma olhada nos processos e… - André foi interrompido por sua tia.

- Ah fala sério! Vocês vieram aqui investigar a vida de alguém né? Conheço vocês, o que estão procurando? Algum homicídio em massa ou latrocínio? - ela deu uma risada alta.

- Hum… tá tia como não tem como mentir pra você mesmo. Viemos investigar sim… a vida de alguém, mas por hora a gente não pode falar, será que você pode entender? - disse André tentando convencê-la.

- Okay então. - disse meio entristecida, foi em direção à gaveta de sua mesa e retirou um molho de chaves. - Hum… tomem, mas um aviso, sejam discretos, o mais discretos que conseguirem, não podem ser vistos lá. Ainda bem que só eu tenho acesso àquela sala, então tranquem a porta quando entrarem, divirtam-se. - entregou a André as chaves e voltou pro seu trabalho.

Saímos pela porta da sala dela, subimos uma escada e fomos até o fim do corredor onde se encontrava a porta com nome “Arquivos Processuais”. Entramos e trancamos a porta por dentro.

- Nossa que horror! Que cheiro é esse de mofo? - estava meio escuro e não dava pra eu enxergar bem. Lola ligou a luz.

- Na verdade não é mofo não, deve ser papel velho... - respondeu Lola. - Isso aqui é muito grande mesmo. - disse olhando as muitas estantes cheias de caixas com processos de todos os tipos.

- É mesmo! - falei boquiaberto. - Vamos precisamos encontrar logo, o mais rápido possível. - falei andando pela enorme sala a procura de arquivos que pudessem ser datados de uns 30 a 60 anos atrás.

- Encontrei, aqui gente. - gritei chamando os outros dois que aparentemente tinham sumido no meio das estantes. Quando se aproximaram mais eu li em voz alta: - “Arquivos ”. Caso isso ainda não seja suficiente, a gente pode procurar mais pra lá. - apontei pra esquerda. - parece que as datas decrescem a partir desse ponto.

- Okay então, vamos procurar na letra B… - falou Lola tentando procurar alguma outra categorização dos arquivos. - Aqui! Opa, péssima notícia. Temos esta prateleira toda de arquivos que começam com a letra B. - olhamos todos para as 7 estantes enfileiradas uma do lado da outra, fazendo nossa prateleira ter o mesmo tamanho, ou seja, 7 prateleiras cheias de arquivos.

- Tá, mãos-a-obra! - falei tentando animá-los um pouco, e até a mim mesmo também.

Procuramos cada um em uma prateleira pra adiantar o trabalho. Comecei lendo algo sobre Braganças, mas não eram os tais que procurávamos, deveria estar perto, ou até nos mesmos arquivos que eu lia. Olhei mais coisas sobre contratos de trabalho vencidos, processos por danos morais, e estava começando a ficar chato já.

- Bom pelo menos eles tem um nome não muito comum, imagina se eles fossem “Silva” ao invés de Bragança? - Nos entre olhamos e rimos da piada.

- Eu concordo, acho que metade da população brasileira deve ter o nome Silva como sobrenome. - disse André.

Pulamos para as outras três prateleiras, o que já reduzia a pesquisa e eliminava as outras três anteriores. Peguei arquivos que tinham como nome “Baldes”, achei meio inusitado alguém ter um nome assim, mas existem tantos nomes diferentes que não liguei tanto assim. Até que André que estava a minha esquerda nos chamou.

- Encontrei pessoal. - disse pra nós abrindo um sorriso do gato de Alice no país das maravilhas. - Vejam, uma caixa inteira contendo arquivos sobre eles. - entregou a caixa a mim, enquanto Lola e eu sentávamos no chão ele retirou outra caixa de documentos. - São duas! - pareceu mais feliz.

Começamos a busca por alguma informação útil. Encontramos diversos contratos de locação de imóveis, que posteriormente foram comprados por eles. Processos por sonegação de impostos, quem diria eles serem tão assim, mas a razão logo abaixo dizia que o imóvel estava desocupado o que não significava que os impostos seriam suspensos, tudo foi pago.

- Meninos olhem isso. - Lola nos mostrou uns mandados de busca e apreensão de testemunhas para um homicídio que havia ocorrido na época.

- Um homicídio, busca e apreensão… tem até um possível caso de proteção à testemunha… - falei tentando ligar uma coisa na outra. - Será que eles não se chamam Bragança? E se alguém da família deles que cometeu esse homicídio? Aff! Assim fica difícil! Tem o nome do morto aí? - perguntei.

Procuramos mais um pouco, pois no arquivo não dizia nada sobre quem foi a vítima. Lola pegou um arquivo e ficou estática olhando pra ele com cara de assustada, André e eu olhamos pra ela e logo em seguida um pro outro e falamos quase ao mesmo tempo:

- O que aconteceu Lola? Fala logo!

- Roboalda Marques Acônito, que nome horrível! - ela exclamou.

- Tá de brincadeira né, é por causa disso? Enfim voltemos à procura. - achei que só o nome que era feio demais o motivo do espanto.

- Não seus lerdos. Essa mulher foi a vítima, aqui não fala nada mais, a não ser essa manchete de jornal que foi anexada, e não vão acreditar. Isso realmente me assustou. - falou ela mostrando a manchete.

“CAÇADORES PREMIADOS - Tivemos a melhor temporada de caça esse ano, melhor do que todas as anteriores. Como todos sabem que nossa pequena cidade é frequentemente atacada por animais violentos, uma lei foi aprovada que seria liberada a caça a esses bichos, porém somente para os assustar e evitar mais conflitos.

Ultimamente quando alguém se vê em risco de vida tem autorização para matar, mas só em último caso. O título foi proposital, pois gostaríamos de anunciar que a ameaça cessará de vez, pois foi morto (infelizmente, porém não tinha outro jeito) o que foi taxado de lobo-alfa. Agora que essa mega ameaça foi eliminada, notamos que há mais de dois meses não temos mais casos de animais que entram na cidade e acabam atacando habitantes.

Por conta disso foi feita uma homenagem à caçadora que fez essa proeza, Roboalda Marques, conhecida agora como a flor da nossa cidade. Abaixo temos uma foto da nossa heroína, e ao lado a fera que já foi enterrada.”

- Gente, então foi vingança, tá na cara que isso não é um lobo, viram o tamanho do caixão do meu tio né? Ele estava em forma de lobisomen quando foi morto, geralmente quando um lobisomem morre em forma de lobo continua assim, por isso que não abrimos o caixão. - falei pra eles.

- Fiquem aqui que eu já volto. - disse Lola e correu pelas estantes.

- “Roboalda ganhou o apelido de flor, porque sempre usou um chapéu florido, cujas flores são conhecidas mais como mata-lobos.” - leu André.

- Sempre achei fosse mito essa parada de mata-lobos funcionar… Mesmo contra lobisomens, vou pesquisar pra saber depois. - disse pensativo ao André.

- PESSOAL! - ouvimos Lola gritar e levamos um susto que nos colocou de pé com um pulo. - VENHAM AQUI! - chamou ela.

Seguimos sua voz em meio às muitas estantes indo parar na sessão M por ordem alfabética, chegamos lá e ela nos mostrou um artigo que falava sobre o assassinato de Roboalda, nele estava como causa morte hedionda na qual usou-se um machado para decepar a cabeça da vítima, e dizia ainda que a vítima levou várias mordidas nas pernas e segundo a perícia se tratava de mordidas de cachorros.

- Cachorros? Acho que tá mais pra lobisomem isso sim! - disse.

- Bom… cachorros ou não, como lobisomens iriam se aliar aos caçadores pra cometer esse homicídio? Não tem lógica… - falou André.

Ouvimos um barulho de porta se abrindo e vozes que pareciam ser de duas pessoas ou mais. Ficamos estáticos no lugar, pois não teria como ninguém entrar na sala, já que só minha tia tinha acesso a ela.

- Ei olha quanto papel jogado nesse chão! - falou uma voz grossa masculina. - Eles não podem arrumar nada por aqui? - perguntou.

- Não seja idiota, tem alguém aqui dentro, esses arquivos são da família Bragança, alguém está os investigando, rápido vamos ver quem está aqui. - disse outra voz masculina, que deveria ser do segundo homem.

- Rápido corre! - disse como num sussurro e empurrando os dois pelos corredores de estantes.

Corremos e encontramos uma porta pequena, peguei as chaves e testei uma por uma, até encontrar a que servia e já estava ficando nervoso, pois os dois homens se aproximavam cada vez mais. Entramos numa espécie de despensa de produtos de limpeza, fui bruscamente empurrado pra dentro por Lola que era logo seguida por André, ficamos naquele aperto até os dois homens saírem. Foi então que Lola quebrou o silêncio:

- Eric você está com a mão no meu peito. - falou ela com tom ameaçador. - Tira já a mão daí! E cala a boca André, não ri! - disse ela indignada com a situação.

- Foi mal, é que aqui tá muito apertado. - argumentei.

- André não pensa que esqueci dessa sua mão na minha bunda também não, nem tenta a sorte, vamos sair daqui logo, acho que não tem mais ninguém lá fora, não estou ouvindo nada. - falou Lola.

- Espera, eu vou abrir a porta, Eric me dá as chaves com cuidado pra não cair. - passei as chaves pro André que abriu a porta e saímos.

- Tá, vamos arrumar tudo isso e dar o fora daqui. - falei por fim.

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