Chapeuzinho Vermelho e o Lobo (uma releitura) - Capítulo 26

Um conto erótico de RedCap
Categoria: Gay
Contém 1520 palavras
Data: 19/06/2020 10:44:09

Um confronto havia começado. Uma horda de lobisomens se precipitava ferozmente uns aos outros, e de repente caçadores já estavam armados, e ao som de comandos e tática combatiam a ameaça da matilha inimiga. Eu não tive uma reação muito rápida, apenas corri para a floresta que ladeava o grande descampado, o céu alaranjado começava a dar lugar ao azul escuro profundo da noite.

Encontrei Nicolas e seus três primos entre as árvores, não sei porque ainda não tinha me transformado, mas algo me dizia que ainda não era o momento certo para aquilo. Vultos e borrões passavam muito rapidamente por entre as árvores, sons de galhos quebrando, folhas se agitando, e rugidos e uivos incessantes ecoavam naquele crepúsculo crescente.

- A gente precisa voltar pra lá! - falei com Nicolas.

- Tá maluco? - disse um dos primos dele. - Se a gente voltar pra lá, vamos todos morrer. - argumentou.

- Não sei... Não estou ouvindo nada vindo de lá. Parece que não tem ninguém mais lá. - falei.

- Por favor, Eric, tenha sanidade. - pediu Nicolas.

- Eu não posso obrigar vocês, mas eu estou indo agora. - falei por fim já correndo de volta ao descampado.

Nicolas e os primos me seguiram relutantes. Uns instantes e alcançamos o local, porém das árvores eu observei por um tempo, não havia ninguém mais lá, todos estavam se confrontando. Algo diferente estava acontecendo, muitos lobos estavam correndo para lados diferentes, meio perdidos, não pareciam seguir uma ordenação, nem mesmo um alfa.

- Vocês perceberam? - perguntei. - Eles estão correndo confusos, acho que a comunicação dos alfas esta se interferindo entre si. A gente precisa chamar todos de volta para cá. - falei decidido já me preparando para sair das árvores.

- Espera Eric! - Nicolas segurou meu braço. - Olha aquilo! Quem é aquele?! - Nicolas apontou para a entrada do sítio, alguém estava vindo.

Um homem entrava cautelosamente e caminhava com atenção em direção a imensa casa que havia passando logo depois da área aberta. Assim que o relógio marcou 19h as luzes automáticas acenderam e pude ver claramente quem era. Branco se assustou um momento com as luzes e apressou seus passos.

- BRANCO! - gritei assim que percebi um imenso lobo pulando em sua direção.

Não tive alternativa a não ser me jogar no ar e virar lobisomem. Corri a tempo de barrar o ataque feroz do lobisomem, e neste momento Branco se precipita correndo para a casa a fim de alcançá-la o mais rápido, porém interceptado por Nicolas e seus primos, não teve como e parou ante eles.

- Vocês não podem fazer isso, não quero machucar ninguém. - disse Branco com tom calmo e sério na voz. - Por favor, eu preciso passar. - pediu.

- Você não pode, eles vão atrás de você! - argumentou Nicolas.

Nesse momento um enorme lobisomem de pelo espesso e escuro com olhos dourados sai de trás da casa e corre em direção aos quatro. Antes que eu pudesse voltar para interceptá-lo, Branco com um aceno de sua mão domina o lobisomem. Ainda não estava acostumado com aquilo, e realmente não sabia o que Branco era, embora não pudesse julgá-lo.

O lobo se levantou e uivou muito alto, fazendo todos tamparem seus ouvidos involuntariamente. Alguns minutos passaram e todos os lobos da matilha Cardoso haviam voltado para a grande área. Tia Mariana apareceu a lateral e uivando, minha matilha se reuniu, os caçadores também chegaram. Por um momento, a tensão aumentava no lugar.

O ar estava muito pesado, como se uma faísca fosse o suficiente para incendiar o local por inteiro. De repente um uivo agudo ecoou vindo da grade casa, um uivo de lamento que perturbou todos nós. Ao poucos a iluminação revelava uma loba de pelos amarronzados refletindo uma cor dourada ao passar pelas luzes, ela caminha lentamente e sua presença era apavorante.

Flávia tinha brilhantes olhos cinzas, que fitavam todos ali. Branco despertou incrível interesse pela loba, e foi em sua direção, lentamente como ela também caminhava, e ambos se encarando até que pararam a distancia de um braço. Nesse momento ouvimos um grito de desespero e suplica vindo da lateral, era Adalberto que estava em sua forma humana.

- NÃO! SE AFASTE DELA. - gritou.

Nesse momento, Branco tocou o alto da cabeça da lobisomem que rosnava muito ferozmente para ele, minutos se passavam e a situação não parecia nada favorável. Até que a loba caiu no chão, se contorcendo. Branco havia feito alguma coisa, não era possível que ele teria a coragem de matar Flavia bem na frente de todos nós.

- SAIA DE PERTO DELA! - disse Adalberto já correndo para ambos.

Ele foi parado com outras quatro pessoas, seguraram-no antes que ele chegasse perto de Branco e Flávia.

- Olha, o que ele tá fazendo com ela! - pediu uma mulher que o segurava. - Olha! - disse com muita surpresa na voz.

Todos percebemos o que Branco realmente estava fazendo a loba. De alguma forma, Branco estava fazendo Flávia voltar ao normal, o processo de transformação em sua forma humana havia começado desde o momento que Branco tocou a loba. Seus pelos caindo, seus ossos estalando, e seu choro de dor profunda, mas ao mesmo tempo dizendo que ela queria aquilo e estava se esforçando em ser forte e suportar o processo.

Alguns minutos se passaram e a figura de Flávia, uma mulher entre quarenta e cinquenta anos aparecia deitada de lado na grama, despida com os cabelos cobrindo seu rosto. Ela tinha cor da pele marrom, cabelos negros e lisos, como seus antepassados indígenas. Branco se abaixou para despertá-la, e amparou pelas suas costas. Flávia abriu os olhos, cinzas como quando era lobisomem, algo parecia querer incomodá-la, não conseguia falar.

Adalberto chegou mais perto, e com olhos marejados abraçou a sobrinha-neta. Ela tossiu fortemente e vomitou algo, uma pedra de aspecto escuro, Branco muito rapidamente apanhou a pedra e fitou-a contra luz, reflexos dourados saiam do seu interior. Olhou para Flávia e disse.

- Você é livre agora. - falou com alívio no olhar.

- Obrigada! - agradeceu Flávia.

- Como assim livre?! - perguntou Adalberto.

Branco o olhou seriamente, virou-se para mim e disse novamente “Eric, não posso explicar nada pra você agora, quem sabe um dia, mais pra frente.”. Com isso correu para a porta da grande casa, abriu-a e entrou fechando-a logo atrás de si. Três homens da matilha dos Cardoso foram atrás dele, mas não o acharam nem nada, vasculharam tudo.

- Ele não está em lugar nenhum. - informaram.

- Como assim? Ele entrou na casa, deve ter-se escondido. - disse Adalberto.

- Não, vasculhamos tudo! Ele fugiu de alguma forma. - falou um deles.

Nesse momento uma luz muito forte, esbranquiçada começava a cobrir a grama, a lua cheia surgia no céu da noite. Acabamos por nos esquecer dela, e mais uma vez o sentimento de impotência se apossava de mim, pois em poucos minutos eu não teria mais consciência de nada. Os lobisomens que haviam voltado para sua forma humana viraram novamente lobisomens.

Flávia permanecia deitada na relva, por algum motivo ela não virou lobisomem ainda, deve estar com um atraso, ou algo do tipo? Será que ela voltaria a ser humana dessa vez? Não havia tempo para obter as respostas para essas questões, quando menos esperei minha mente foi invadida por instintos animais e não raciocinava mais como humano.

[MARIANA]

Pude ver que os lobos mais jovens já não tomavam as rédeas de suas atitudes então, com a ligação de alfa, ordenei que eles ficassem quietos e se controlassem. Mesmo mantendo o alerta, percebi que os lobos da outra matilha não estavam com atitudes agressivas nem nada disso, todos estavam sentados olhando em direção Flávia, como esperando alguma coisa.

Adalberto não tinha se transformado ainda, por quanto tempo ele conseguiria manter isso? No mesmo instante ele acabou virando lobisomem. Ele se deitou atrás de Flávia, que se recostou nele, a noite estava amena, e o vento frio percorria o descampado. Flávia olhava a lua e começou a cantarolar uma melodia parecida com cantiga de ninar.

Todos os lobisomens se aproximaram mais dela e deitaram sobre a grama para ouvir a melodia, e permaneciam fitando-a. Visivelmente algo estava errado, o tempo passava e ela permanecia humana, minutos que viraram horas, e absolutamente nada aconteceu. Até que Flávia parou um momento e olhou diretamente a mim.

- Você é a alfa deles, não é? - perguntou. - Podem ir, não há mais nada que fazer aqui, estou com a minha família novamente, e o mais importante. - disse Flávia que inspirou profundamente o ar. - Estou livre! - disse por fim sorrindo.

Olhei em redor, depois olhei em direção a Flávia, e com um aceno de cabeça me despedi. Uivei mandando todos de volta para casa. Olhei de Flávia para Alberto, e novamente para Flávia, como pedindo que ela o avisasse que tudo estava acabado e que poderia ir embora, logo, ela tendo entendido, fitou Alberto e disse a ele.

- Pode ir também, vocês estão livres para voltar! - falou sorrindo.

Os caçadores entraram nos carros e seguiram viajem. Fui em direção a Flávia, fiz uma revência e me virei para ir embora dali. Muitas coisas diferentes e inesperadas aconteceram hoje. Mas ainda ficava a questão de como Flávia havia se tornado humana novamente, me fiz essa pergunta o caminho todo de volta. Haveria uma explicação?

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