Mari
Bom, lá estava eu de novo. Confusa, desorientada e pensando se aquele era o momento de relembrar tudo que aconteceu no passado, afinal, sempre achei que precisávamos terminar uma conversa que nunca tivemos.
Eduarda estava linda, isso eu não poderia negar jamais. Hoje com a cabeça mais desconstruída, posso ver que cada vez mais ela se torna uma grande mulher. Acredito que ela tenha mudado tanto quanto eu mudei, e me sentia mal em pensar num convite para que pudéssemos esclarecer tudo, não queria que a Ju entendesse mal o que eu queria conversar, mesmo não tendo mais tanto contato assim com ela.
Mas seja o que Deus quiser.
- “Eduarda, será que a gente pode dar uma volta? Acho que precisamos conversar. Não quero que se sinta pressionada, até porque não quero te atrapalhar” – Falei tentando soar menos nervosa do que eu realmente estava naquele momento.
- “Bom, podemos. Estou com o carro da minha mãe” – Ela respondeu de maneira tranquila
- “Meu carro também tá aí, o que prefere? Cada uma vai no seu ou quer ir comigo e depois cê vai embora?” – Falei não querendo ser invasiva
- “Vamos no seu, aí na volta eu pego o meu” – Falou levantando, colocando seu boné.
E eu nunca teria pensando que ela ficaria tão bem com cabelo curto e boné. Louco né? Era como saber que aquela era pessoa que amei e ao mesmo tempo não parecer mais, fisicamente falando.
Fomos até meu carro, entramos e esperei ela colocar o cinto. Dei partida pensando no que poderíamos fazer ou em qual lugar iríamos.
- “Cê gosta de café? Imagino que não esteja com fome, afinal, o bolo da minha mãe é bom demais pra você ter comido um pedaço só” – Falei fazendo graça no final.
- “Eu topo ir numa cafeteria, mas pra tomar um chocolate quente. Descobri que sou intolerante a cafeína. E realmente, o bolo da sua mãe é maravilhoso, quase levei pra casa. No caso, a sua mãe. Assim o bolo estaria garantido sempre” – Falou e riu
- “A pessoa oferece um bolo e a outra já quer a mãe dos outros” – Falei meio enciumada
- “Nunca foi segredo que eu amo doces. Cê tá ligada né?!” – Ela respondeu
Apenas concordei e continuei dirigindo pra uma cafeteria que eu gostava muito. Eu não era de tomar café, mas aquele lugar tinha uma torta holandesa maravilhosa. Então sempre que eu podia vir pra cá e passar na cafeteria, eu marcava presença.
Estacionei logo do lado, onde era permitido e saímos então do carro.
Procurei uma mesa de fundo, como eu sempre fiz e fomos pra lá.
- “Não sei se já veio aqui, mas pra você que gosta de doce também, o bolo mil folhas é ótimo, o pudim também e a torta holandesa é a melhor do mundo. Escolhe o que você quiser ou todas as opções citadas” – Falei já chamando a atendente.
Quando ela veio na nossa mesa já disse:
- “Marizinha, quanto tempo! O de sempre, imagino. E você?” – Falou se dirigindo a Eduarda.
- “Eu quero uma torta holandesa e um pudim de leite condensado. E um chocolate quente, por favor” – Eduarda falou
A atendente anotou e foi buscar os nossos pedidos.
- “Bom, como você sabe, o nosso assunto não é fácil e nem recente. Porém acho necessário esclarecer tudo que por ventura tenha nós machucado no passado. Começo te pedindo desculpas. Não te dei a oportunidade de falar ou explicar o que quer que fosse” – Falei e suspirei – “Eu não tinha direito de fazer o que fiz e ir embora. Não foi fácil mas achei que era o certo a se fazer naquela época. Hoje sei que não foi, talvez fosse tudo diferente se tivesse o pensamento que tenho”.
Ela ficou me olhando. Talvez imaginando e processando o que eu tinha dito naquele momento. Nossos pedidos chegaram e agradecemos.
- “Realmente, muita coisa séria diferente. Mas não tiro sua razão, também dei mancada. Deveria ter insistido mais, ter tentando de qualquer jeito te fazer me ouvir. Mas entendo que tudo que aconteceu foi necessário pra sermos quem somos hoje. Nos machucamos? Sim. Erramos? Sim. Mas agora estamos aqui. E eu senti sua falta” – Ela disse e ficou vermelha logo em seguida.
Apenas olhei e pensei em suas palavras. Começamos a comer. E ela soltou um:
- “Puta que pariu. Que negócio bom!” – Acho que se ela pudesse, estaria com a cara dentro do pote
Dei risada da sua reação. Afinal, ela morava por ali já fazia muito tempo. Como poderia não conhecer aquele lugar?
- “Esclarecemos o que era necessário. Mas me fala o que aconteceu nesse tempo todo” – Pedi
- “Então, terminei a escola. Entrei numa vibe torta, bebi muito. Usei umas maconha da vida. Mas tô bem. Tô namorando, esperando o resultado de uma prova que fiz e fé em Deus. E você?” – Me olhou com curiosidade, voltando a comer
- “Ah, tô no quinto semestre da faculdade. Vou começar a estagiar. Tô noiva, moro com a Lara. Essas coisas sabe?” – Respondi tentando parecer feliz com a vida que estava levando
- “Daora, Mari. E sua mina faz o que da vida?” – Ela pergunta entre uma colherada e outra já terminado seus DOIS doces.
- “Ela é jogadora de vôlei. Tá empenhada na sua carreira. Estamos juntas já faz uns dois anos. E você e a Ju?” – Respondi no automático
- “O importante é que você tá feliz. Então, a Ju me ajudou na minha decadência e estamos juntas desde entã-“ – Ela tava terminando de falar quando recebi uma mensagem no WhatsApp. E pela minha cara, ela parou.
Uma foto.
Numero desconhecido.
Minha noiva beijando outra mulher.
- “Mariana, tá tudo bem?” – Ela pergunta com a feição preocupada.
Mostrei a tela do meu celular.
Naquele momento meu mundo parou.