Pigmaleão, a lenda grega ressuscitada
Perdi meus pais muito cedo, quem me criou até os 15 anos foi minha avó paterna, viúva, quando veio a falecer. Fui então sendo jogado de um lado para o outro, ora na casa de um tio aqui, ora na casa de outro acolá, sempre me sentindo um peso morto, um gerador de despesas e incômodos. Mesmo assim, procurei manter o otimismo, ser o mais prestativo possível por todos os lares por onde passei e, focar no futuro, pois sabia que dependia exclusivamente de mim o quão feliz ele seria.
Aos 18 anos, consegui uma vaga numa universidade pública para cursar administração de empresas. Apesar do pouco tempo livre que me sobrava, fui procurar um emprego para custear parte das minhas despesas e, assim, desonerar um tio paterno e outro materno que se cotizavam para bancar meu custeio. Acabei conseguindo uma vaga de auxiliar administrativo num conglomerado de empresas familiares geridas por seu proprietário e maior acionista. O salário era baixo, visto que eu não tinha nenhum tipo de experiência, mas dava conta de ajudar meus tios. Embora fosse preciso faltar a algumas aulas para manter o emprego de meio expediente, eu me virava contando com a boa vontade de colegas que me passavam a matéria que eu perdia.
No setor da empresa onde fui alocado, não tinha nenhum contato com a cúpula de diretores. Alguns eu conheci de vista, por que outros funcionários me disseram quem eram e, outros não cheguei a ver nos primeiros seis meses de empresa. As secretárias da diretoria e do presidente, eram verdadeiras beldades, sempre bem vestidas, maquiagem suave, modos contidos e uma gentileza que não era apenas requisito profissional, mas que fazia parte de suas personalidades. Foi uma delas que notou a minha presença numa ocasião em que tinham me mandado ir até a diretoria para retirar uma impressora que estava com defeito.
- Oi! Você é novo na empresa? Nunca o vi por aqui. – disse a Beatriz, secretária do presidente e, chefe das demais.
- Sim, faz pouco mais de seis meses que comecei. É essa a impressora que preciso levar para a informática?
- Sim, é essa! Você está trabalhando na informática?
- Não! Estou no setor de contas a pagar, mas me mandaram fazer esse serviço porque o pessoal da informática está ocupado. – esclareci.
- Nossa! No contas a pagar? É o porão da empresa! Como tiveram coragem de colocar um garotão tão bonito naqueles corredores sombrios? Maldade! – afirmou ela, com um sorriso amistoso.
- É meu primeiro emprego, não dá para exigir nada. Fiquei feliz por ter conseguido a vaga, já me quebra um galho danado. – devolvi.
- Será que vão nos deixar sem uma impressora de reserva? Não podemos ficar sem ela, temos muitas coisas para imprimir e, os mandachuvas aqui querem tudo para ontem. – disse ela.
- Nós temos três no setor e, na verdade, usamos pouco. Uma delas fica o tempo todo encostada. Posso ver se meu chefe libera uma delas, e eu trago para cá para quebrar o galho por enquanto. – prontifiquei-me.
- Fantástico! Eu havia solicitado uma para a informática, mas eles me disseram que não tinham nenhuma disponível.
Depois de levar a impressora com defeito para o conserto, consegui que meu chefe liberasse a que estava ociosa no setor, e a instalei na sala delas.
- Como é seu nome mesmo? Eu esqueci, desculpe! – perguntou a Beatriz quando eu estava saindo.
- Lucas! Não esqueceu, não. Eu não tinha falado meu nome. – respondi.
- Valeu, Lucas! Você não faz ideia do favorzão que fez para todas nós. – agradeceu, amável.
- Quando precisar, estou às ordens! Vou ver se consigo apressar o conserto da de vocês, pois tenho um colega na informática e vou levar um papo com ele.
- Você é um anjo que caiu do céu! Obrigada!
Segundo o colega com quem eu percorria parte do caminho de ônibus no final do expediente o conserto da impressora era fácil e ele o passaria na frente de outros, sem que o chefe soubesse.
Pouco antes do final da tarde do dia seguinte, eu levei a impressora consertada de volta à sala das secretárias. Foi quase uma comemoração. A Beatriz me apresentou às outras e só faltou me concederem o prêmio de funcionário do mês pelo problema resolvido.
- Dona Beatriz, este envelope precisa chegar ainda hoje nas mãos do Sr. Everaldo, peça ao motorista que vá pessoalmente ao escritório dele. – ordenou o presidente.
- Dr. Jamil, o senhor mandou o motorista levar sua esposa para o aeroporto e ele ainda não voltou e, pelo horário do embarque dela, não deve voltar antes do início da noite. – respondeu ela.
- Quem é esse rapaz? – perguntou o presidente, apontando para mim.
-É o Lucas, senhor! Ele nos fez um imenso favor apressando o conserto daquela impressora que vive dando problema e deixando uma provisoriamente conosco. E, olha que ele é do contas a pagar, nem do setor de informática é. – explicou a secretária.
- Ligue para o Fernando, quero falar com ele. – pediu o presidente. Fernando era meu chefe.
- Sim, senhor!
- Fernando, estou com um garoto seu aqui e preciso enviar um envelope urgente para o escritório de advocacia. Meu motorista não está e estou te avisando que o garoto vai levar o envelope para mim. – a Beatriz me deu uma piscadela quando o presidente terminou a ligação.
- Devo mandar o Lucas, então? – questionou ela.
- Sim! Dê o endereço a ele, libere um veículo na garagem para que ele chegue lá o mais brevemente possível. – ordenou e, virando-se para mim. – Você sabe dirigir, não sabe, meu jovem?
- Na verdade não, não senhor, não sei. Mas, posso pegar um táxi aqui em frente, vou e volto num instante. – garanti.
- Está bem! Providencie o dinheiro do táxi, dona Beatriz.
Para meu azar, a chuva que começou a cair no meio da tarde deixou o trânsito todo travado e, a poucas quadras do escritório do advogado, parou de vez. Acabei saltando e correndo na chuva para chegar antes que ele encerrasse o expediente.
- Tenho uma correspondência para o Sr. Everaldo de parte do Dr. Jamil. – disse, ensopado até a cueca, quando cheguei ao escritório do advogado.
- Obrigado, rapaz! Nessa pasta estão alguns papeis para o Dr. Jamil assinar, diga-lhe que passo amanhã pela manhã para apanhá-los e levá-los ao Fórum. – disse o advogado.
Só consegui voltar a empresa depois do final do expediente. Quando cheguei à sala das secretárias já não havia mais ninguém. Pensei em deixar um bilhete com a pasta na mesa da Beatriz, replicando as instruções do advogado. Mas, enquanto escrevia o bilhete, a porta da sala da presidência se abriu e o Dr. Jamil me pegou escrevendo o bilhete.
- Lamento, só consegui voltar agora. Estava deixando um bilhete para a Sra. Beatriz, pois o Sr. Everaldo me pediu para entregar esta pasta com papéis a serem assinados até amanhã pela manhã. – expliquei, constrangido por ainda estar molhado feito um pinto desgarrado.
- Traga a pasta até aqui! – ordenou o Dr. Jamil, voltando a sua sala.
- Aqui também está o troco do táxi! – afirmei, colocando o dinheiro junto com a pasta sobre a imensa mesa de mogno atrás da qual ele se sentou.
- Pode ficar com o troco, Lucas! E, muito obrigado! – devolveu ele. Fiquei surpreso por ele se lembrar do meu nome, afinal a Beatriz só o mencionara uma única vez.
- Não é necessário, doutor!
- Deixe de bobagem! O troco é seu e ponto final! – exclamou, começando a verificar a papelada que havia na pasta que lhe entreguei.
- Sim, senhor! Muito agradecido! – fiquei constrangido, pois havia sobrado muito mais do que haviam custado os dois táxis.
- Tarde terrível lá fora, não é? – disse ele, quando eu já estava prestes a alcançar a porta.
- Um pouco, senhor! – respondi, tímido. A suntuosidade daquela sala me inibia.
- Trate de trocar logo essas roupas molhadas, ou amanhã estará resfriado! – exclamou, desviando ligeiramente o olhar da papelada e me examinando de cima abaixo.
- Farei isso, senhor, assim que chegar em casa.
- Você mora longe? – eu me admirei com a pergunta, e com seu repentino interesse.
- Um pouco, senhor! Moro na Chácara Santo Antonio em Santo Amaro. – respondi. Depois me dei conta de que ele nem deveria fazer ideia de onde ficava isso.
- Ah, sei! – minha suspeita se confirmara com aquela resposta. – Como vai para casa? – indagou.
- De ônibus, senhor! – respondi. Eu comecei a torcer para ele não ter mais perguntas, pois estava tremendo de frio naquelas roupas encharcadas e coladas ao corpo.
- Quanto tempo leva para chegar em casa? – os papéis estavam esquecidos à sua frente, ele continuava a me examinar e a me deixar vexado.
- Nesse horário, cerca de uma hora e meia, doutor! Talvez hoje um pouco mais por conta da chuva. – esclareci.
Era estranha a maneira como ele olhava para mim. Nunca alguém havia me examinado daquele jeito. Tal como fizera a Beatriz, algumas pessoas já haviam me dito que me achavam bonito, mas no contexto em que me disseram isso, sempre interpretei como uma forma de se fazerem simpáticos, mais do que por me achar realmente bonito.
- Se você ficar o tempo todo revezando em me chamar de senhor e doutor, numa poderemos estabelecer uma conversa que não fique restrita às formalidades. Me tratar por Jamil já é o suficiente! – sentenciou ele, depois de um breve silêncio que, no entanto, me pareceu infindável, parado ali naquela sala todo molhado.
- Sim, senhor! Digo, doutor! Sim, está bem. – só me faltava essa, começar a demonstrar o quão desconfortável eu estava na presença dele. Ele apenas esboçou um sorriso e voltou aos papeis. Esquecera-se de me dispensar, e eu avaliava se deveria tomar a iniciativa, pois estava louco para sair correndo dali. – O senhor precisa de mais alguma coisa? – acabei indagando.
- Ah! Claro! Não, não. Vá para casa, vá! Já está tarde.
- Boa noite, senhor!
- Boa noite, Lucas! É Jamil, tente não esquecer! – disse, antes de eu fechar a porta.
- Não, senhor, não vou esquecer. – mal as palavras saíram da minha boca, percebi que tinha dado mais uma bola fora.
No dia seguinte, fiquei preso na faculdade por conta de uma pesquisa na biblioteca e acabei chegando tarde ao serviço. Meu chefe estava numa reunião de gerentes e havia deixado um recado para que o procurasse assim que chegasse. É a terceira vez em duas semanas que me atraso, é hoje que vou dançar, pensei comigo, ao ir de encontro ao Fernando, com as mãos trêmulas e suadas. Eu até já tinha ensaiado uma desculpa, uma cara desamparada e, um – PELO AMOR DE DEUS – caso ele se mostrasse irredutível ao me despedir.
- Ah, Lucas! A partir de hoje você não é mais meu funcionário, passe no RH e depois, suba até a diretoria. – disse o Fernando, interrompendo brevemente a reunião para me dispensar.
- Me desculpe, Sr. Fernando, eu prometo que não me atraso mais. Sei que foi um abuso, mas juro que não vai acontecer de novo. – comecei, me preparando para implorar pelo emprego.
- Do que é que você está falando? Que atraso, que abuso? Estou ocupado agora, trate de fazer o que te pedi. – disse ele, voltando para junto dos outros gerentes.
Pensei em voltar ao setor e ficar à espera dele, para continuar a implorar para não ser demitido. Mas, concluí que isso talvez o deixasse mais furioso, e fui até o RH, tentando segurar o choro, pois aquela grana ia me fazer muita falta.
- Lucas! Eu estava mesmo a sua espera, entre. – disse o gerente do RH.
- Boa tarde, Sr. Moacyr! Será que eu poderia esperar o Sr. Fernando terminar a reunião para tentar convencê-lo a não me despedir, eu estou precisando muito do emprego, e lamento muito ter me atrasado na semana passada e hoje. – fui logo despejando, de tão nervoso e abalado que estava.
- Que demissão, Lucas! O Fernando falou que vai te demitir? Que conversa é essa? – ele me encarava como se não estivesse entendendo nada.
- É que ele me disse que eu a partir de hoje não sou mais funcionário dele, e como cheguei atrasado, não tive como esclarecer as coisas com ele. – respondi.
- É isso mesmo, você não é mais funcionário dele, você foi transferido para a diretoria. Até já providenciamos uma mesa na sala das secretárias, a Sra. Beatriz é sua nova chefe. Pelo menos eu penso que sim, pois foi o próprio Dr. Jamil que mandou transferi-lo para lá. – revelou ele. Agora era eu quem não estava entendendo mais nada.
- Sim, senhor! – balbuciei confuso.
- Traga sua carteira profissional amanhã para que possamos fazer as anotações, ok? E, por mim, está dispensado, pode assumir seu novo posto. – avisou. – Ah!, mais uma coisa, seu salário foi reajustado, a Sra. Beatriz lhe dará o novo valor. – emendou, antes de eu me despedir.
A caminho dos elevadores tive vontade de dar uns pulos de alegria. Precisava agradecer a Beatriz, pois isso só podia ser coisa dela, pelo pequeno favor que lhe prestei.
- Não é a mim que você tem que agradecer, não tive nada a ver com isso. Foi o Dr. Jamil quem quis que você viesse trabalhar conosco. Eu, de minha parte, só posso lhe desejar as boas-vindas, será um prazer ter você conosco. – revelou ela quando lhe sapequei um beijo nas bochechas numa ousadia que não faria se não estivesse tão feliz.
- Devo entrar na sala dele e dizer que já estou aqui e agradecer? – questionei.
- No momento não, ele está numa ligação. Mas tenho ordens de deixá-lo entrar logo em seguida. – respondeu a Beatriz.
Sentei-me à mesa que haviam colocado junto à janela bem entre a da Beatriz e da Ana Paula, a secretária do vice-presidente. Sobre ela havia um terminal de computador com teclado e um telefone de design futurista no qual pequenos leds iam se acendendo à medida que os ramais e as linhas eram usadas. Abri as gavetas completamente vazias, só para que o tempo transcorresse mais depressa e eu me acalmasse antes de enfrentar o Dr. Jamil mais uma vez. As secretárias corriam de um lado para o outro, o trabalho frenético mal lhes dava tempo para respirar, eu me sentia um peixe fora d’água sentado ali sem ter o que fazer e os minutos passando como se fossem horas. Eu estava tão absorto que levei um susto quando telefone na minha mesa tocou.
- Alô! Alô! – repeti, pois atrapalhado não encontrava a tecla certa para apertar. – Sim, senhor Dr. Jamil, já estou indo. – tive tanto tempo sentado aqui e justo agora preciso mijar, protestei com meu pinto, quando ele me chamou.
- Boa tarde, Dr. Jamil!
- Boa tarde, Lucas! Chegou bem em casa?
- Sim, senhor, cheguei, obrigado!
- Gostou da sua mesa no lugar onde a mandei colocar? Se preferir outro lugar fique à vontade para mudar. – ele estava olhando para mim do mesmo jeito da noite anterior, de repente, isso me causava arrepios, ou seria a maldita vontade de ir ao banheiro?
- Está ótima, senhor, muito obrigado!
- A princípio a Sra. Beatriz vai lhe dar as devidas orientações, mas com o tempo quero que passe a me assessorar diretamente, está me entendendo?
- Sim, senhor! Preciso alertá-lo que este é meu primeiro emprego, não tenho nenhuma experiência, a não ser o pouco que o Sr. Fernando estava me ensinando. Não sei se estou à altura de assessorá-lo. – confessei.
- Você tem ambições na vida, ou tem?
- Tenho, sim, senhor!
- Pois bem, então nós nos daremos muito bem. No devido tempo você saberá tudo o que espero de você e, tenho certeza, de que está à altura de tudo que preciso. – afirmou ele.
Naquele momento eu soube o que é ficar verdadeiramente apavorado. Eu não era nenhum imbecil, ao menos achava que não era, sabia muito bem quais eram as minhas limitações com aquela tenra idade e nenhuma capacitação profissional e um mero certificado de conclusão do ensino médio. Aquele conglomerado de empresas empregava mais defuncionários, faturava centenas de milhões de dólares como apontavam os balancetes anuais; se distribuía em diversos ramos de negócio, suas ações tinham um peso expressivo na Bolsa de Valores. No que um reles auxiliar administrativo mal saído dos cueiros poderia assessorar o presidente da holding? Essa era questão que eu não conseguia responder.
- Sra. Beatriz! Venha a minha sala, por favor. – disse ele ao telefone, interrompendo minhas divagações. – O Lucas passará a me assessorar pessoalmente, tanto nas questões da empresa quanto nos meus assuntos particulares. Suas funções continuam exatamente as mesmas. Apenas e, pelo tempo que for necessário, para que ele se inteire de tudo, peço que se dedique a prepará-lo para a função. Seu salário contará com um extra por essa missão. – afirmou, deixando a Beatriz contente, pelo que demonstrou no discreto sorriso que seus lábios esboçaram. – Ah! Mais uma coisa, transfira suas tarefas de hoje e amanhã para outra pessoa e acompanhe o Lucas. Quero que lhe compre roupas adequadas para o ambiente da diretoria, e também, para que possa me acompanhar em eventos fora da empresa.
- Sim, senhor! Mais alguma coisa?
- Não, senhora! Agora tratem de se mexer.
- Obrigado, muito obrigado pela oportunidade, Dr. Jamil! – agradeci.
- Tem certeza que você não teve nada a ver com isso, Beatriz? – indaguei quando voltamos às nossas mesas.
- Juro que não! Mas, vá se acostumando, ele tem esses rompantes. De uma hora para outra decide uma coisa e põe todo mundo para correr. Agora vamos tratar de cumprir as ordens dele. Meninas, aguardem o retorno desse moço, vou vesti-lo da cabeça aos pés e transformá-lo num galã! – exclamou, tirando risadas das outras secretárias.
- Para isso é só deixar ele pelado! Affff!!! Dá até calor só de imaginar! – exclamou uma delas, antes de todas voltarem a rir.
Naquela tarde e, por todo o dia seguinte, a Beatriz me levou a shoppings e até ao alfaiate particular do Dr. Jamil. Ela era uma senhora que se viu obrigada a trabalhar depois dos filhos quase criados, ao enviuvar. Ela deve ter sido criada numa família de classe média alta, pois seus modos e seu gosto refinado não vieram pelo acaso, faziam parte de sua formação de berço. A doçura e a gentileza que tinha no olhar era típico de uma mãe coruja e, cumprir as ordens do padrão para comigo estava sendo mais um prazer do que uma obrigação.
Bem! Acho que minha missão está cumprida! Agora só depende de você combinar essas peças de modo harmônico como lhe sugeri, e você será o mais charmoso executivo da empresa. – disse ela ao terminarmos as compras e eu estar cercado de tantas sacolas que nem fazia ideia de onde guardar todas aquelas roupas, pois o armário que eu dividia com um dos meus primos era minúsculo, embora tenha servido para o pouco que tinha a guardar.
- Que exagero, Sra. Beatriz! Eu lhe sou muito grato por tudo que tem feito por mim. Sempre estarei numa dívida eterna consigo. – respondi.
- Não fiz nada além de cumprir as ordens do nosso chefe! E, de uma vez por todas, para de me chamar de ‘dona’, ‘senhora’ e etc., Beatriz é mais que o suficiente, e eu prefiro porque não fico parecendo uma velha. Além do que, algo me diz que você caiu nas graças do Dr. Jamil, e que tem um futuro brilhante pela frente. Aproveite-o com sabedoria, essas oportunidades são únicas. – retrucou.
- Viu como estou certo! É isso que faz por mim mesmo sem o admitir. Apenas uma pessoa com a sua bondade é capaz de dar conselhos tão bons. Obrigado! – devolvi. Ela me sorriu, tomou meu rosto entre as mãos e beijou minha testa, como faria uma mãe amorosa.
No dia seguinte, fui trabalhar com as roupas novas. Desde o pessoal da portaria até quem eu encontrava pelo caminho e nos elevadores, culminando com as secretárias quando adentrei à sala, elogiavam e faziam comentários sobre meu novo visual.
- Ah, como eu queria ter 20 anos outra vez, fisgava esse peixão nem que fosse no anzol! – brincou a secretária do vice-presidente, que já tinha feito o comentário sobre sentir calores ao me imaginar pelado. As outras concordaram e me obrigaram a dar uma volta para que pudessem apreciar o ‘material’ como me qualificaram.
- Vocês são mestras em deixar a gente encabulado! Que sacanagem! – exclamei, com as faces coradas.
- Os tímidos são os mais atraentes e sedutores, até a gente botar fogo neles, aí ninguém segura! – exclamou outra, ao constatar meu constrangimento.
- Bem, meninas! A nossa opinião pouco importa. Quero saber se o Dr. Jamil vai aprovar minhas escolhas, é isso que importa. – sentenciou a Beatriz.
O presidente chegou ao trabalho pouco depois, seguiu direto da garagem até sua sala no elevador privativo. A Beatriz costumava deixar a porta do escritório dele ligeiramente entreaberta para que pudesse ver quando ele chegava.
- Bom dia, Dr. Jamil!
- Bom dia, Sra. Beatriz!
- Posso pedir ao Lucas que entre? Espero que aprove minhas sugestões, mas o rapaz já tem um gosto apurado mesmo sem as minhas escolhas. – afirmou ela, em mais um elogio que fazia sobre a minha pessoa.
- Sim, sim, mande-o entrar! A senhora se afeiçoou a ele, pelo que percebo. – observou o chefe.
- Sem dúvida! É um rapaz de ouro! O senhor tem um olho clínico e, tenho certeza de que também já chegou a essa conclusão. – o chefe a encarou sem dizer nada; a ela, devido aos longos anos de convívio e dedicação, era permitido fazer alguns comentários mais pessoais.
Ao entrar no escritório dele naquela manhã, eu estava mais nervoso do que de costume. Não sei se por saber que ele me examinaria mais a fundo, ou se pelo fato de ter constatado, através daquelas compras dos dias anteriores, cujo valor estratosférico estava muito além daquilo que eu imaginava alguém conseguir gastar com roupas; que o abismo social entre nós era abissal.
- Bom dia, Dr. Jamil!
- Bom dia, Lucas! Belo trabalho, Sra. Beatriz, magnífico trabalho! Pode nos deixar, Sra. Beatriz e, por favor, feche a porta.
- Sim, senhor! Obrigada! – agradeceu o elogio e me deixou ali sozinho, diante de um olhar perscrutador que me fez sentir como se estive nu.
- Muito bom, Lucas! Muito bom! Era exatamente assim que eu o queria ver. Muito bom! – exclamou. Meu rosto estava em brasa.
Aprendi rápido o que ele queria de mim. As dicas da Beatriz e das outras secretárias foram valiosos auxílios para conquistar a confiança do Dr. Jamil. Em poucos meses eu era a própria sombra dele, pois o acompanhava a praticamente todos os lugares.
Era ele quem procurava quebrar o gelo e o distanciamento respeitoso que eu tinha para com ele, me enchendo de perguntas sobre a minha vida particular, sobre a minha história e, sobre cada detalhe que surgia, enquanto trabalhávamos lado a lado. Foi assim que ele descobriu que eu faltava a algumas aulas na faculdade para poder cumprir o expediente, e determinou que eu assistisse todas as aulas e só viesse quando liberado da faculdade. Também foi assim que descobriu o sobrado geminado simples onde eu morava com meus tios, numa ocasião em que fez o José Carlos, seu motorista, desviar a rota depois de um compromisso que avançara noite adentro, para me deixar em casa. Poucos dias depois disso, ele desceu comigo até a garagem do edifício da empresa e, tirando uma chave do bolso diante de carro compacto zero quilômetro, me disse que era meu novo meio de transporte.
- Não posso aceitar um presente desses, Dr. Jamil! Não tem cabimento o senhor me dar um carro! – exclamei, desconcertado com o mimo.
- Mal começamos a trabalhar juntos e já me censurando! Creio que sou eu quem define o que tem ou não cabimento, não acha? – retrucou ele, embora seu tom de voz não fosse punitivo.
- Me desculpe, não foi isso que eu quis dizer! É claro que é o senhor quem dita as regras, perdão! – respondi, humildemente.
- Então trate de colocar um sorriso nessa cara apavorada e veja se o presente lhe agrada! – exclamou, emaranhando meus cabelos.
- É lindo! Jamais sonhei com algo assim! Muito, muito obrigado! – devolvi comovido. Eu podia jurar que por trás do sorriso dele havia tanta ou mais felicidade do que a que eu estava sentindo.
- Então trate de aproveitar muito bem esse carro!
- Tão logo eu obtenha a carteira de habilitação, o senhor quer dizer. – devolvi.
- Você não sabe dirigir? Que maçada! Eu nem havia me atentado para esse detalhe. – retrucou desconcertado. – Vamos providenciar isso o quanto antes. – emendou. E, lá estava eu matriculado numa autoescola naquela mesma tarde.
O Dr. Jamil havia promovido alguns jantares em sua casa para outros empresários e convidados estrangeiros que mantinham negócios com suas empresas. Foi assim que fui pela primeira vez a sua casa, na condição de secretário particular e assessor. Depois de alguns desses eventos, constatei que seu casamento não passava de fachada para a sociedade. A esposa, Amirah, uma filha de sírios como o Dr. Jamil, era uma mulher de semblante grotesco, que a maquiagem pesada, usada mesmo durante o dia, acabava por acentuar. Enquanto o nariz adunco e proeminente se projetava empertigado, os olhos longos e estreitos, de íris negra, a cada instante expressavam algo diferente, mas sempre algo de uma malícia profunda, quase diabólica, ou um desprezo enojado por quase tudo e todos que a cercavam. Sua origem provavelmente era pobre, pois seu gosto exagerado por ostentar joias imensas e caras, desproporcionais à sua compleição física, beirava o ridículo. Somava-se a isso, o cabelo extremamente negro, trazido num penteado que mais parecia um capacete e, o hábito de fumar cigarros mentolados envoltos num papel marrom tornara sua voz rouca e desagradável. Mulher perdulária, passou essa herança às filhas. Ela concebera duas que, quando as conheci, tinham 30 e 26 anos. A mais velha, Aisha, era mais introvertida, tinha feito um casamento por conveniência com um primo distante uns bons anos mais velho do que ela e, do qual, sofria profunda rejeição e, pelo que algumas ausências em eventos familiares deixavam evidente, assim como alguns hematomas disfarçados com maquiagem, costumava apanhar de vez em quando. Não sei se a família fazia vista cega para o fato, ou se cada um vivia sua vida sem se importar com as mazelas alheias. Desde a primeira vez que a vi, tive pena dela, de seu olhar cabisbaixo, de seu retraimento protetivo, mas era exatamente contra esse tipo de sentimento que ela se revoltava, tornando-se inimiga ferrenha daqueles que a viam por esse olhar. A mais nova, Soraia, era uma versão mais jovial da mãe. Não tinha grandes atrativos, o corpo largo e roliço era ainda menos bem feito que o da mãe. O pai a via com a mesma reserva com a qual via a esposa, não confiava nela. Os demais que a cercavam, ou a ignoravam, ou a negligenciavam. Alguns anos após eu passar a frequentar a casa do Dr. Jamil, ela se casou com um tipo muito bonito, um sujeito de boa índole que foi enredado em suas tramas com a ajuda da mãe e, do qual logo passou a ter o mesmo desprezo que a mãe tinha do pai. O sujeito, Eduardo era seu nome, passou a trabalhar nas empresas do sogro como um executivo de segunda classe, embora seus méritos e dedicação estivessem muito acima de outros executivos muito mais bem posicionados. Havia sido uma exigência e um capricho da própria Soraia, que seu marido fosse mantido como um cão obediente sem muita chance de se manifestar. Foi sua maneira de castigá-lo depois de descobrir que não era ele o responsável por não terem filhos, como o acusara depois de inúmeras tentativas; mas, que era seu útero seco que não podia gerar descendentes.
Eu estranhei a primeira vez em que o Dr. Jamil me chamou para acompanhá-lo à casa de praia em Angra dos Reis. Passávamos por um período assoberbado na empresa e, como ele costumava levar trabalho para casa aos finais de semana, imputei a isso aquela ordem dada numa sexta-feira à tarde. Ele havia determinado que eu fosse para casa pegar o precisaria para o fim de semana e voltar a empresa até o final do expediente. Consultei a Beatriz quanto ao que levar, pois esse seria um compromisso inédito, para o qual eu não estava preparado.
- Não precisa levar nada sofisticado, escolha dentre aquilo que compramos o que for mais confortável, afinal trata-se de uma casa de praia e todos vão estar muito à vontade. – aconselhou ela. – Ah!, e não se esqueça de uma sunga. Não compramos nenhuma, mas tenho a certeza que você deve ter alguma. – emendou.
- Você pirou? Imagina se eu vou andar de sunga na frente daquela gente! Eu conheço o meu lugar, não vou misturar trabalho com lazer. – respondi.
- Siga o meu conselho! Vai ficar muito mais embaraçoso se tiver que emprestar uma de alguém, ou se o levarem a algum lugar para comprar uma. Vai por mim. – revidou ela. Por via das dúvidas, e não negligenciando suas orientações sempre sábias, acabei enfiando duas dentro da valise; um pouco apertadas e curtas constatei ao experimentá-las em casa, pois havia alguns anos que não vestia nenhuma delas, mas estavam boas e eram de uma cor sóbria.
Voltei ao escritório, me muni de notebook e agendas que achei poderiam me ser úteis e esperei o término do expediente. Cerca de meia hora depois de todos saírem, o Dr. Jamil foi avisado que o helicóptero nos aguardava no heliponto do edifício. Eu encarei o Bell 429 de duas turbinas com a hélice espalhando um turbilhão de ar ao seu redor como um monstro prestes a me devorar. O piloto praticamente me arrastou até ele, pois minhas pernas relutavam em se aproximar daquela geringonça assustadora, quanto mais a entrar na cabine e sentir que não estávamos mais em contato com algo firme em nossa base. Eu ainda mantinha os olhos apertados quando senti uma mão quente e imensa pegando na minha. Como não podia ser a do piloto que estava no comando fazendo a aeronave inclinar ligeiramente para o lado e partir ligeira com um balanço semelhante a um pêndulo, só podia ser a mão do Dr. Jamil. Abri imediatamente os olhos, constrangido e apavorado, até me deparar com um sorriso em seu rosto e, pelas vidraças, um mar de luzes da cidade abaixo de nós, num espetáculo sem precedentes. Não sei se foi a visão magnífica de uma São Paulo que eu desconhecia, ou se foi aquela mão firme que foram devolvendo progressivamente o meu ritmo cardíaco.
Ao contrário do que eu havia imaginado, não havia ninguém da família do Dr. Jamil na casa quando chegamos. Um casal de caseiros pegou nossas bagagens e, com a mesma discrição que nos cumprimentaram, desapareceram até a hora do jantar. A mesa posta para dois, não podia ter me deixado mais apreensivo. Jantamos enquanto eu passava por outro daqueles inquéritos do meu patrão, aos quais até já havia me acostumado. Minhas respostas eram curtas, quase monossilábicas, algo de que eu sabia ele não gostava, pois já havia me prevenido disso; mas que, no momento, de tão nervoso, não consegui evitar. Foi um verdadeiro lenitivo quando ele me desejou uma boa noite, ao lhe pedir, já tarde da noite, permissão para me recolher.
Acordei cedo, tomei uma ducha e me vesti para descer. A casa continuava tão silenciosa quanto quando chegamos. Perambulei pelos cômodos até encontrar a cozinha, onde o casal de caseiros tomava café e, o interrompeu, levantando-se para me cumprimentar.
- Bom dia! Desculpem! Por favor, não se levantem! Lamento estar incomodando. – acabei de levantar e já estou dando mancada, pensei comigo mesmo.
- Bom dia, senhor! Não, não incomoda. Já vou começar a preparar o café para o senhor e para o Dr. Jamil. – disse a caseira, apressando-se para concluir sua refeição.
- Não há necessidade! Posso esperar pelo Dr. Jamil. Se me derem licença vou fazer uma caminhada pelo jardim. – eu não sabia como lidar com a criadagem, isso já tinha ficado evidente numa ocasião em que eu quis ajudar uma das empregadas, às voltas com uma bandeja que lhe escapou das mãos, enquanto começava a recolher os pratos durante um jantar na casa da cidade. A Amirah teria me fuzilado se pudesse quando me viu todo solícito propondo ajuda a pobre mulher. Depois, puxado a um canto por ela, levei um sermão por ter me metido naquilo que não me dizia respeito. Desconfiei que se ela tivesse me flagrado naquela cozinha, teria levado outro esbregue.
Os três níveis da casa desciam por uma encosta, cercada por uma mata nativa que persistia naquele trecho do litoral. Jardins extensos e bem cuidados pareciam fazer parte natural da paisagem e desciam até um trapiche de madeira que avançava mar adentro. Ao longe, avistava-se outras mansões igualmente camufladas pela vegetação exuberante. Sobre um mar com diversos tons de verde e azul, onde o sol esparramava um brilho reluzente, começavam a deslizar veleiros brancos que, aos poucos, iam abrindo os intrincados velames, parecendo cisnes altivos que deixavam um rastro de espuma branca atrás de si. Sentei-me na beirada do trapiche e deixei as pernas pendendo sobre a água. Tive vontade de colocar uma daquelas sungas e dar um mergulho naquelas águas cor de esmeralda; porém, lembrei-me que estava ali a trabalho e não em férias.
- Senhor Lucas, o Dr. Jamil já acordou e o aguarda para o café. – disse o caseiro, me tirando dos meus pensamentos.
- Obrigado! Posso lhe perguntar seu nome e o de sua esposa? – longe de quem pudesse me censurar, arrisquei a pergunta, para não ficar sem saber como tratar aqueles funcionários que eram tão empregados quanto eu.
- Otávio e Zulmira, senhor Lucas!
- Então Otávio, se não for pedir demais, me chame apenas de Lucas. Sou um funcionário do Dr. Jamil como você. – solicitei.
- Ok, Lucas, faremos isso. Mas, já lhe adianto, que o faremos apenas quando não houver nenhum dos patrões presente. É uma exigência da Sra. Amirah. – afirmou ele. Não sei porque não me espantei com a sua resposta.
- Bom dia, Dr. Jamil! Estou pronto para começarmos quando o senhor quiser. – disse ao me juntar a ele para o café.
- Bom dia, Lucas! Dormiu bem? Ou teve pesadelos com o helicóptero? – questionou, com um bom humor espantoso. – Em primeiro lugar, sente-se e tome seu café. Deixe as questões de trabalho para quando eu lhe solicitar, estamos entendidos? – emendou.
- Sim, senhor, dormi! Devo ter parecido um bicho do mato quanto o helicóptero alçou voo, não foi? Contudo, confesso que adorei a viagem, depois que o medo passou. – respondi. Ele riu.
- Você acaba se acostumando! Espero que minha mão tenha lhe inspirado confiança. – teria sido menos constrangedor se ele não tivesse se lembrado desse detalhe. Eu apenas corei. Estava me tornando especialista nisso.
Como eu comecei a desconfiar pouco depois do café, não haveria mais ninguém na casa além de nós dois e, aquele também não seria um final de semana de trabalho. Depois de ele me ordenar, num tom enfático, que me pusesse mais confortável e me juntasse a ele na beira da piscina, fiquei me questionando se esse homem se sentia tão solitário a ponto de passar um final de semana com um funcionário, ao invés da família e amigos.
Se vergonha pagasse pedágio eu estava ferrado. Só me dei conta que as sungas que havia trazido eram realmente pequenas demais quando vi minha imagem refletida, à luz do dia, no espelho da suíte que ocupava. Para completar o quadro de horrores, eu estava mais branco do que uma vela. Havia anos que não ia a uma praia, ou me expunha ao sol. Cheguei à piscina sem saber como encarar o Dr. Jamil naquele traje sumário. Ele baixou os óculos de sol quando ocupei a espreguiçadeira ao lado da dele, como para me examinar melhor. O silêncio que se formou foi aterrador.
- Você não pratica esportes, Lucas? – indagou finalmente.
- Não, senhor! Sempre me sobrou pouco tempo para isso. – respondi.
- É uma pena! Você tem um corpo maravilhoso, um tom levemente bronzeado nessa sua pele lisinha lhe cairia muito bem! – afirmou. Por uns instantes, pensei em pular na água e sumir, não na da piscina, mas na do mar. Meu patrão me examinava com tanta intimidade e fazia comentários como se fossemos pai e filho.
Por um longo tempo depois disso, em novo silêncio, eu reparei nele pela primeira vez. Ele devia ter pouco mais de sessenta anos. Apesar da idade era um homem robusto, não atlético, pois uma discreta barriga típica da idade se fazia presente. Era um pouco mais alto que os homens de sua etnia, do Oriente Médio, o que lhe conferia aquela aparência maçuda. Também lhe era típico daqueles homens, a fartura de pelos distribuídos pelo corpo, desde o rosto barbudo e o bigode largo até as sobrancelhas grossas que encimavam seus olhos castanho-escuros, passando pelo peito largo no qual se mesclavam alguns fios grisalhos, que desciam pelo abdômen e voltavam a abundar abaixo do umbigo, pelos braços grossos nos quais os pelos se encaracolavam ligeiramente e, nas pernas vigorosas onde eles também o revestiam como se fosse um tapete, negros e encrespados. Não se podia dizer que era um homem bonito, talvez nem charmoso, pois trazia o semblante quase sempre carregado. Contudo, ele não passava despercebido onde quer que adentrasse; era esse seu maior atrativo, algo que exalava poder, difícil de explicar. Eu nunca o tinha visto só de short, pareceu-me intimidador nos primeiros instantes, especialmente porque havia um volume imenso entre suas pernas.
- Não quer mergulhar um pouco na água? Deve estar bem refrescante. – indagou, afugentando meus pensamentos.
- Se o senhor não se incomodar, eu gostaria sim! – respondi.
- Preste atenção numa coisa, Lucas. Eu o trouxe aqui para que relaxe e se divirta. Faça tudo o que faria em sua casa, sem cerimônia. Não há ninguém aqui além de mim e, eu gostaria que você me chamasse apenas de Jamil quando estivermos assim como agora. Será que consegue esquecer um pouco o trabalho, a relação patrão empregado e, se mostrar meu amigo? – questionou.
- Sim, senhor! Quer dizer, Jamil! Vou tentar. – lá estava eu novamente, gaguejando de tão nervoso.
- Então ande, quero ver esse corpo deslizando pela água!
Como eu previ, em nenhum momento tratamos de trabalho. Passamos o dia refestelados ao sol, caminhando pelos jardins, saímos num passeio de lancha que o caseiro tirou de uma garagem tão bem camuflada entre a vegetação que mal se notava sua existência e, terminamos o dia comendo caranguejos e tomando vinho numa mesa montada sobre o trapiche, com direito a uma toalha branca e velas que tremulavam com a brisa do anoitecer. Ao apontarem as primeiras estrelas no céu, ele pegou na minha mão em cima da mesa e me encarou.
- Gosto muito de você, Lucas! Gosto desde o primeiro dia em que te vi. Não sei se você se recorda, mas aquelas roupas molhadas aderidas ao seu corpo, especialmente a camisa branca que usava na ocasião, transparente e sedutoramente colada ao seu tronco, me deixaram maluco. Desde então venho tomando coragem para me abrir com você. E, acho que esse é o momento. – eu não conseguia engolir o vinho que estava na minha boca. Pasmo e assustado com o que poderia sair daquela boca, eu só pensava em evaporar no ar.
- Também gosto muito do senhor, Dr. Jamil.... – ele não me deixou continuar, apertou minha mão e voltou a falar.
- Espere, não me interrompa! Ouça o que tenho a dizer e não volte a me chamar de senhor, doutor. É Jamil, porra! – sentenciou. Eu acenei com a cabeça. – Como eu dizia, eu gosto muito de você, gosto dos seus modos contidos, gosto da sua timidez, gosto desse seu corpo escultural porque sinto tesão quando você está perto de mim e, se você me permitir, eu gostaria de estreitar ainda mais os laços que nos unem. – revelou.
- Eu não sei o que dizer! Eu ...
- Diga apenas que sim! Diga se me acha velho demais para fazer propostas desse tipo, diga que não sente nada por mim, mas diga alguma coisa.
- O senhor não é velho! Isto é, você não é velho Jamil. Eu tenho um profundo respeito por você, uma admiração que jamais tive por outra pessoa. – esclareci.
- Eu gostaria que fosse além da admiração e do respeito, muito além. Eu gostaria que você estivesse disposto a partilhar sua vida comigo. – afirmou.
- Somos de mundos tão diferentes! O senhor, quer dizer, você nem imagina....
- Imagino e sei disso! Não sou um jovem inexperiente. Conheço a vida e seus percalços. Mas, estou disposto a arriscar tudo para ter você ao meu lado. – afiançou
- E como pretende fazer isso? Você é casado, tem uma família! – lembrei
- Não toco na minha mulher há décadas, mal nos suportamos durante ocasiões formais. Minhas filhas têm suas vidas e eu não faço parte delas, a menos que a questão envolva dinheiro. Portanto, me considero tão livre e desimpedido quanto você. E, para começar, pretendo isso... – naquele momento ele interrompeu seu discurso, levantou-se, puxou-me pela mão até junto dele e colou sua boca na minha.
Era a primeira vez que um homem me beijava, e minha cabeça estava à mil. Caminhamos de mãos dadas até o quarto dele. Seus dedos grossos se atrapalharam ao desabotoar minha camisa, porém foram certeiros sobre meus mamilos, acariciando-os e apertando meus biquinhos enrijecidos. Sua boca voltou a me beijar, o bigode roçando meu nariz me fez sentir cócegas. Suas mãos deslizaram pelos meus ombros e tiraram a camisa. Ele ficou me olhando, sorriu, e beijou vorazmente um dos meus mamilos. Comecei a sentir uma excitação que arrepiou minha pele, acelerou meu coração e provocou uma ereção. O Jamil gostou de vê-la crescendo dentro meu short. E eu não pude deixar de reparar que dentro do dele também estava havendo uma silenciosa, mas contumaz revolução. Aos poucos, suas mãos foram se aproximando das minhas nádegas. Primeiramente, deslizaram por sobre o short. Depois, imergiram nele pelo cós, arriando-o e acariciando suavemente meus glúteos rijos. Ele me fez deitar na cama, beijou minhas omoplatas, desceu pela minha coluna, lambendo todo o trajeto com sua língua úmida e inquieta. Apartou minhas nádegas com as duas mãos, lambeu meu reguinho me fazendo soltar um gemido por que o tesão me consumia. Mordeu um glúteo, mordeu o outro, seu polegar começou a brincar com meu buraquinho, movendo-se ao redor dele sobre as preguinhas rosadas antes de penetrar no meu cu. Eu gemia tão lasciva e permissivamente que me sentia um boneco em suas mãos.
- Já esteve com um homem antes? – questionou, rodopiando aquele polegar grosso na portinha do meu cu.
- Não! – gemi com a voz trêmula.
Ele terminou de tirar meu short e fez o mesmo com o dele. Uma benga gigantesca e grossa saltou para fora, e eu temi pela minha integridade. Ele me cobriu com seu corpo pesado, os pelos do peito roçavam minhas costas, suas pernas peludas se enroscavam nas minhas, sua virilha se esfregava na minha bunda. Mordiscadas na minha orelha e, seu hálito quente na minha nuca faziam meu corpo todo tremer. O cacetão reto e duro resvalava para cima e para baixo dentro do meu rego, molhando-o com o fluido viscoso e abundante que escapulia de sua uretra. O Jamil pegou um frasco de lubrificante na gaveta da mesa de cabeceira, lambuzou seu membro e a minha rosquinha rosada; passou um braço ao redor do meu tronco, guiou a pica de encontro ao meu cuzinho e me penetrou num golpe tosco e vigoroso. Senti muita dor, mas não tive coragem de tirar o rabo da reta. Eu quis gritar, mas mordi os dentes, gani alto e, o mais rápido que consegui, mordi o travesseiro que estava diante de mim. Ele começou a me possuir mais intensa e brutalmente do que eu supus. Sucumbi me entregando à sua lascívia predadora. Ele continuou a me penetrar, aos poucos, ao mesmo tempo em que relaxava os músculos anais, minha dor foi se transformando em prazer, um prazer que me fez gostar daquilo, um prazer que me fazia gemer de tanto tesão que eu mal me continha. Comecei a rebolar e a travar os esfíncteres mordendo naquele cacetão que se movia num vaivém contínuo dentro do meu cuzinho. Senti que ia gozar, meus gemidos se intensificaram com as estocadas profundas que atingiam minha próstata. Os jatos começaram a sair sem que eu pudesse fazer mais nada, lambuzando o lençol com a minha porra. O Jamil sorriu ao me ver gozando, era a confirmação de que eu estava gostando de seu desempenho. Um urro potente dele ecoou pelo quarto no mesmo instante em que eu senti seu leite espesso e morno escorrendo dentro de mim. Todo o peso de seu corpo ficou por cima de mim, o caralhão amolecia lentamente no meu cuzinho e começava a deslizar para fora; travou na saliência da chapeleta e ficou engatado na minha portinha. O Jamil já não arfava tão intensamente quanto antes, suas mãos me acariciavam, eu deslizava as minhas sobre seus braços peludos. Recuperado, ele foi se erguendo aos poucos, sacou o caralhão do meu cuzinho numa única puxada, eu soltei um gemido ao sentir a dor da distensão.
- Acabei te machucando! Perdão, não foi minha intensão. – disse, ao pegar uns lenços umedecidos da gaveta aberta e delicadamente comprimi-los na fenda do meu rego.
- Não tem importância, não há de ser nada sério. – devolvi resignado, embora a dor mal me permitisse mover as pernas.
- Seu cuzinho é delicioso, Lucas! Você deve ter notado como fiquei satisfeito. Nem me lembro de quando gozei tanto como agora. – sussurrou ele, puxando-me sobre seu peito onde apoiei minha cabeça e comecei a acariciar seus pelos com as pontas dos dedos impacientes.
- Fico feliz que tenha gostado. Eu também gostei muito de sentir você dentro de mim. – confessei sincero.
Até então, eu nunca tinha me ligado muito nessa questão. No fundo, não sabia se eram mulheres ou homens que me atraiam. Não tinha inclinação para Don Juan, nem tão pouco para gay. Era algo não resolvido em mim. O fato de ter passado por tantos tutores durante meu crescimento, me tornara uma pessoa introvertida e tímida, para não dizer insegura e pouco questionadora. Essas características levei para o campo sexual, omitindo ou não me permitindo nenhuma incursão nessa área. Sempre pensei em mim com um ser assexual, daí não me empolgar com as garotas que me assediavam, nem com os rapazes cujos físicos atléticos às vezes me chamavam a atenção. Porém, nada além disso. Sentir o Jamil dentro de mim, com aquele mastro gigantesco, numa sanha carnal e devassa acabou por me excitar e fazer gostar verdadeiramente do que ele estava fazendo comigo. Quem gosta de rola no cu é bicha. Portanto, sou gay concluí.
Por um tempo fiquei indeciso se deveria voltar para ao meu quarto, ou permanecer ali deitado ao lado do Jamil. O objetivo dele era me enrabar, conseguiu. Eu, como seu funcionário, tinha prestado o serviço e agora era hora de voltar ao meu lugar. Foi assim que pensei. Também pensei em perguntar se ele precisava de mais alguma coisa, como fazia no escritório depois de ter concluído uma tarefa. No entanto, achei que soaria ofensivo se eu o questionasse dessa maneira. Então, resolvi apenas me levantar e sair do quarto para deixá-lo livre.
- Aonde vai? – indagou, quando viu que eu seguia rumo à porta.
- Vou deixá-lo descansar, passa da meia-noite! – respondi.
- Está farto de mim?
- Não, claro que não!
- Pois parece!
- Desculpe, não foi essa a minha intenção.
- Então volte para cá, enrosque esse corpo lindo em mim e continue a me fazer os afagos que estava fazendo, seu moleque desnaturado! – ele sorria quando me disse isso. Eu voltei e continuei a acariciá-lo.
Quando o ouvi ressonando mais forte, notei que havia adormecido com as carícias em sua pica, para onde tinha levado a minha mão. Esta também se tornava cada vez mais pesada e, não sei quando, eu também adormeci.
Na noite anterior não havíamos fechado as persianas e, o sol imponente do domingo varou as portas que davam para a pequena varanda do quarto, batendo diretamente sobre nós. O Jamil despertou antes de mim. Ao esfregar os olhos para saber onde estava, ele me encarava em silêncio.
- Bom dia!
- Bom dia, se...! – interrompi o cumprimento antes de levar outra bronca.
- Dormiu bem?
- Sim! Lamento não ter acordado mais cedo e tê-lo feito esperar. – balbuciei sonolento.
- Não estou esperando há muito tempo. E, para ser sincero, esperaria uma eternidade só para continuar admirando seu sono e essa sua bunda que me deu tanto prazer. – retrucou ele.
- Estou aqui disponível, posso lhe proporcionar esse prazer novamente se quiser. – propositalmente, entonei a voz um tom abaixo do meu normal, para que a gravidade fizesse a frase soar mais sensual.
- O convite é irresistível, mas eu te machuquei ontem e não quero piorar as coisas. – razão ele tinha, meu cuzinho ainda doía quando eu me mexia.
Tomamos uma ducha juntos, e ele acariciou meu corpo o tempo todo. Chupou meus mamilos, mordiscou meus ombros, abusou da minha bunda. Sem tirar os olhos de mim, levou minha mão até seu membro. Eu o ensaboei sensualmente, deixando-o crescer livremente sob meus afagos. Ele era troncudo como o Jamil, pesado, grosso, carnudo e, quando rijo, praticamente impossível de movimentar. Eu nunca tinha pego o cacete de outro macho na mão, e acariciar aquele estava sendo uma experiência maravilhosa. Levei minha mão bem para dentro de suas pernas, a fim de também tocar naquele sacão que pendia abaixo dele. A consistência macia do conjunto contrastava com a borrachóide dos dois imensos testículos alojados nele. O Jamil sabia que eu explorava uma pica de macho pela primeira vez e, o fato de ser a dele lhe causou imenso prazer.
- Gosta? – sussurrou, quando suas mãos apertavam minhas nádegas
- Gosto muito! – respondi. E era a mais pura verdade.
- É todo seu! Na hora e da forma como quiser. Espero que encontre muita alegria nele. – disse, da forma mais safada que um homem podia falar.
- Como a que tive na noite passada? – parecia que era tudo que ele queria ouvir.
- Exatamente como ontem e, ainda muito mais! – respondeu. O falo já não se movia mais na minha mão, a despeito da pressão que eu empregava para movê-lo. – Tome o tempo que precisar para descobrir todo o potencial que ele tem para te oferecer. – emendou. Eu passei meus braços ao redor do pescoço troncudo dele e fui tocando suavemente meus lábios nos dele. O beijo foi longo, devasso, e sua língua na minha boca me encheu de sabores viris.
Fizemos outro passeio de lancha pela manhã, circundando as diversas ilhas de Angra. Ele usou o pretexto de me ensinar a pilotar só para que minhas mãos ficassem ocupadas no volante do leme e não o impedissem de arriar minha sunga e ficar me encoxando, lambuzando todo meu reguinho com seu pré-gozo. Almoçamos num restaurante cujo acesso se dava apenas pelo mar e, cuja vista a partir de uma minúscula praia deserta, não podia ser mais romântica. Quase ao final do entardecer tomamos o rumo de volta. O dourado do sol refletido na superfície da água ganhava tons alaranjados à medida que ele ia se pondo no horizonte.
Eu sabia que o Jamil esperava mais daquele fim de semana do que apenas uma única trepada. Assim, ao terminar de arrumar minhas coisas para partirmos, eu fui ter com ele em seu quarto, onde ele fazia o mesmo.
- Já está com tudo pronto? Preciso de mais uns dez minutos, já me encontro com você na varanda. – disse ao me ver entrar.
Eu fechei a porta do quarto, fui até ele e o beijei. Como estava próximo à cama, ele se sentou comigo no colo. Desabotoei minha camisa e, segurando seu rosto entre as mãos, trouxe-o para meus mamilos. Ele os chupou, depois mordeu um deles com força e me fez gemer. Ele ainda não havia vestido a camisa, afaguei seu torso peludo e nu. Ele sorriu e me deixou continuar. Sua ereção já se fazia sentir na minha bunda, por isso eu a esfreguei em suas coxas. Lentamente fui abrindo sua calça, desci o zíper, tirei o caralhão molhado. Ajoelhei-me entre suas pernas e o coloquei na boca, ele soltou um gemido gutural. Chupei-o e lambi seu sumo até ele ficar novamente tão duro que não se movia. Tirei minha calça e minha cueca e, abrindo as pernas, fui sentando lentamente sobre aquele mastro roliço. Ele me guiava com as mãos na minha cintura, mal acreditando na minha iniciativa. Gani quando a cabeçorra atravessou minha rosquinha machucada, me esforçando para suportar toda aquela dor. Aos poucos, fui soltando meu peso em seu colo. A verga mergulhava em mim e eu me segurava em seus bíceps para encontrar forças. Ele encarava minha expressão contraída de padecimento me sustentando em suas mãos para que a caceta não me machucasse muito mais. Ao sentir que estava com todo ele dentro de mim, beijei-o carinhosa e demoradamente. Travei algumas vezes o esfíncter ao redor do caralho, gemendo com a língua dele dentro da minha boca. O Jamil despejou seu leite espesso e pegajoso em mim, liberando sua boca da minha para soltar um urro. Duas lágrimas rolaram pelo meu rosto, eu tinha aguentado aquela dor até o final, tendo gozado sobre a barriga dele sem perceber. Meu cuzinho estava tão rasgado que foi difícil ficar em pé.
- Ah Lucas! Por que você fez uma loucura dessas? Foi maravilhoso, mas você não devia. – sussurrou ele, me apertando carinhosamente em seus braços.
- Obrigado, por tudo, Jamil! – balbuciei choroso.
- Vem cá meu anjo, vem! Isso foi uma imprudência, você ainda não estava cicatrizado de ontem. – afirmou ele.
- Eu precisava encontrar uma maneira de te fazer feliz. Foi só nisso que lembrei. – afiancei.
- E conseguiu! Conseguiu, meu anjo, conseguiu! – pela força com que ele me apertava de encontro ao seu corpo, eu soube que sim.
O helicóptero pousou pouco depois no heliponto do jardim. Trançando as pernas para que o esperma do Jamil não vazasse do meu cuzinho, fui me despedir do Otávio e Zulmira. Ambos demonstraram uma gentileza sincera ao me desejarem uma boa semana e um breve regresso. Assim que a aeronave alçou voo, um restinho da bola vermelho-alaranjada desaparecia na linha do horizonte. Peguei na mão do Jamil e sorri para ele. Desta vez ele sabia que não fora o medo do helicóptero que me fizera procurar abrigo em sua mão. Ele levou a minha até os lábios e a beijou delicadamente.
Os finais de semana em Angra dos Reis passaram a fazer parte de uma rotina quinzenal, só interrompida quando assuntos de negócio da empresa obrigavam o Jamil, e eu, a viajar para outros destinos.
Vez ou outra, também passamos a voar até o Mato Grosso, onde o ramo de agronegócio da holding mantinha três fazendas produzindo basicamente grãos e carne para exportação. Os deslocamentos até a fazenda que servia como base de hospedagem, e tinha uma bela casa cercada por flamboiãs, ipês e bougainvilleas, eram feitos no Beechcraft King Air 350 da holding, que também era usado de forma privada pelos membros da família do Jamil.
Na primeira vez que acompanhei o Jamil até a fazenda, a Amirah fez questão de acompanhá-lo. A fazenda, como na verdade todos os negócios do marido, a entediavam. A semana que passamos por lá, inspecionando cada uma das fazendas que não distavam mais do que cento e poucos quilômetros uma da outra, serviu para que ela destilasse todo seu fel e, para tornar a vida dos empregados que trabalhavam junto à sede um verdadeiro calvário. Fazia parte de sua personalidade encarar qualquer serviçal como um mero escravo à sua disposição, ignorando completamente o ser humano que estava por trás de cada um e, julgando-se no direito de humilhá-los como bem lhe aprouvesse. Eu mesmo já havia sentido por diversas vezes esse seu desprezo ignóbil, a partir do momento em que minha frequência à casa do Jamil se tornara mais constante.
Lembro-me do Jamil ter ficado extremamente aborrecido com a decisão dela; de terem chegado a ter uma discussão por conta disso, de ele tentar demovê-la, até praticamente a impedir de nos acompanhar. Mas, apesar de tudo ela estava a postos no salão da viação executiva do aeroporto de Congonhas, com toneladas de malas no horário aprazado para a partida. À tiracolo, levou a Soraia, sua parceira e discípula quando o assunto era infernizar a vida do marido. Nos dois primeiros dias, fiquei me questionando o que a tinha levado a se enfurnar entre aqueles vastos pastos e milhares de cabeças de gado se tudo aquilo não lhe causava nada além de asco. A resposta veio na manhã do terceiro dia. Eu tive uma noite um pouco agitada, o ar-condicionado pareceu não dar conta do calor, ou talvez fossem fogachos de inquietude do meu próprio corpo e não da noite abafada e úmida. Acabei por sair da cama pouco antes do alvorecer, apesar da casa estar imersa num silêncio conventual. A disposição em ‘U’ da construção, com um pequeno jardim interno, me permitiu ver o piloto se esgueirando para fora do quarto da Amirah, trajando nada mais que uma bermuda sobre aquele corpão atlético e másculo. O que já havia ouvido à boca-pequena entre a criadagem, sobre o comportamento adultero da Amirah acabava de se confirmar. Aos poucos, também conseguia compreender as atitudes do Jamil, um homem solitário apesar de tudo que o cercava. Uma esposa inescrupulosa e perdulária, filhas que o viam como uma conta bancária que servia para custear suas extravagâncias e, nenhum amor verdadeiro. A saída daquele piloto da alcova lupanar me trouxe outra perspectiva sobre o Jamil, ele crescera ainda mais no meu conceito.
- Bom dia, Gerson! – cumprimentei-o, camuflado por uma coluna, quando passou por mim apressado em direção a seu quarto.
- Bom dia, Lucas! – ele teve um sobressalto tão inesperado que achei que fosse ter uma síncope ali mesmo no corredor. Fiz questão de encará-lo, pois sabia que dar ciência do flagrante seria a primeira coisa que faria assim que se encontrasse novamente com a amante. E, era ela que eu queria ter nas mãos. Não que ela fosse se importar muito com isso, mas eu teria o prazer de olhar para ela sem me sentir alguém que só merecia seu desprezo.
- Você está pensativo hoje. Está aborrecido com alguma coisa? – questionou-me o Jamil, quando estávamos a caminho da fazenda onde acontecia a colheita da soja.
- Não, não estou! Dormi mal essa noite, e acho que esse calor também não está me fazendo muito bem. – respondi.
- É pouco para te deixar assim abatido. Diga, o que o aflige? – a capacidade do Jamil compreender o ser humano era algo que eu admirava nele. Mas, agora, preferiria que não fosse tão sagaz.
- Não é nada! Não se preocupe, está tudo bem comigo.
- Por acaso você viu o que não gostaria de ter visto, e agora tem pena de mim? – encarei-o surpreso.
- Como sabe?
- Não há nada do que a Amirah faz que eu não saiba. Você não precisa ter pena de mim, não sou o marido traído e último a saber que você imagina.
- Não? Fiquei chocado, acho que foi isso. – devolvi.
- Não fique! Não ocupe sua cabeça com essas bobagens. Eu já lhe disse como funciona meu casamento, e que finalidade ele tem para mim. A Amirah nunca deixou de ser a cadela imunda que eu resgatei da miséria e, que um dia pensei se tornar uma pessoa íntegra e justa. Foi meu maior erro na vida, cometido na juventude é certo, mas um erro que mudou tudo na minha vida. Seu gosto por serviçais marombados transbordando testosterona, quanto mais cafajestes forem são seu playground favorito. A inferioridade social deles é que lhe dá a sensação de poder, de mando, de manipulá-los como suas marionetes e, de descartá-los assim que encontra coisa melhor. Ela já está fazendo escola, pois a Soraia tem se mostrado uma discípula empenhada em seguir os passos da mãe, valendo-se do primeiro pinto que lhe cai nas redes. Portanto, não tenha pena de mim! – revelou
- Não tenho pena de você! Sei que é capaz de lidar com essa situação sem que isso o abale. Eu me sinto inconformado com a injustiça que ela pratica contra você. Quem em sã consciência não sonharia em ter o seu amor? Ao passo que ela não dá nenhum valor ao que você sente. – retruquei.
- Os anos vão lhe ensinar como é a vida. Não se pode ter tudo.
- Essa lição eu já aprendi! Lembra-se de onde eu venho? Qual é minha história? – indaguei, pois saber que a vida não é fácil tinha sido minha especialidade desde que me conheci por gente.
- Perdão! Não foi isso que eu quis dizer. Sei bem como sua vida foi difícil. Mas, eu farei de tudo para mudá-la, acredite em mim. – ele colocou a mão sobre a minha coxa enquanto dirigia a camionete pela estrada empoeirada, e me deu um sorriso conciliador.
- Não me peça perdão! Você nunca vai precisar dele. Sou eu quem tenho uma dívida eterna com você. – asseverei, inclinando-me em sua direção e beijando seu rosto.
Se a Amirah nunca tinha simpatizado comigo, agora ela me odiava, por eu ter descoberto sua prevaricação com o piloto galã. Durante uma festa em comemoração ao aniversário da Aisha na casa do Jamil, poucas semanas depois, ela veio questionar a minha presença.
- Você tem algum assunto de trabalho a resolver com meu marido? – começou empertigada.
- Não, não senhora, não tenho! – respondi, sem baixar o olhar.
- Então o que faz aqui? Esta é uma comemoração familiar com amigos e parentes e, não me consta que você seja um deles. Eu quero aproveitar que estamos tendo essa conversa, para lhe pedir que evite vir até a minha casa. Pessoas como você não são benvindas! – sacramentou
- Estou aqui atendendo a um pedido do Dr. Jamil. – respondi
- Talvez seja difícil para você compreender, por isso vou repetir, atenda a esses pedidos apenas quando o assunto que tiver a tratar esteja relacionado ao seu trabalho como empregado. – enfatizou, ao ser surpreendida pela presença do Jamil às suas costas.
- Algum problema por aqui, Amirah? – questionou o Jamil.
- Eu estava explicando ao seu funcionário que essa é uma comemoração familiar e, que ele não deveria perturbá-lo com assuntos da empresa nas suas horas de folga. – respondeu ela, já insegura.
- Ele não veio tratar de assuntos da empresa! O Lucas tem livre acesso a essa casa quando bem entender e, quando for de sua vontade, que isso fique bem claro para você Amirah. E, todas as vezes em que ele estiver aqui, eu exijo que você se esforce para mostrar apenas o seu lado gentil. Sei que será trabalhoso, mas tente, você só tem a ganhar. – o cinismo imperava na voz do Jamil.
- Pense nos convidados Jamil, não pega bem um criado misturado ao nosso mundo. É apenas essa a minha preocupação. – retrucou ela, tentando manter a pose diante de mim.
- Essa preocupação você deveria ter ao se esfregar com os serviçais pelos cantos da casa, não com a presença do Lucas. – revidou o Jamil.
- Então é essa a questão! Se ele já está a par desse nível de intimidade com a sua vida, eu posso imaginar a razão dele estar frequentando a nossa casa constantemente. – disse ela.
- Se a discrição deixou de fazer parte da sua infidelidade há muito tempo, o que te leva a crer que eu deva lhe prestar contas do que faço ou deixo de fazer? Esse assunto se encerra por aqui! Apenas cuide para não complicar sua vida, Amirah, pois creio que você terá dificuldade de se acostumar novamente com sua antiga vida. – ameaçou ele. Ela se viu derrotada e, deixou-nos possessa e frustrada com sua tentativa fracassada.
Creio que o Jamil teve essa reação nem tanto para me defender, mas para deixar claro que ele também a traía e, para deixar tudo mais bizarro e ofensivo, com um homem. Ser trocada por um homem é o que de mais degradante pode haver para uma mulher, e era isso que ele queria que ela sentisse.
Na empresa, todos já haviam se habituado a mim. Talvez houvessem comentários maldosos pelas minhas costas, devido aquela proximidade exclusiva com o presidente, mas a grande maioria me via como um facilitador para qualquer questão que dependesse de um sinal positivo por parte do Jamil.
Eu trabalhava na minha monografia de conclusão de curso, cujo foco era a gestão de recursos humanos, um tema que o Jamil havia me proposto quando lhe apresentei minhas dúvidas. Era nele e na maneira como comandava todo aquele exército de pessoas que eu me espelhava e retirava os subsídios para a monografia. As pessoas trabalhavam para ele por prazer de fazer parte de seu time, era algo que transcendia a questão de salários e bônus, algo que se materializava no dia-a-dia e, que eu, sempre ao seu lado, absorvia com entusiasmo e interesse. Ele era um líder, alguém que geria o destino das pessoas sem que elas o questionassem, pois sabiam que estavam fazendo o seu melhor.
- Não vejo a hora de você concluir a faculdade. Estou louco para te levar aos compromissos fora do país, quero que conheça o mundo. – disse o Jamil, quando passávamos um feriado prolongado na casa de praia, às vésperas de ele partir por duas semanas rumo a Londres.
- Vou adorar que você me mostre outros países. Por hora, só fico sentindo saudades suas quando fica tanto tempo longe. – confessei.
- Passe essas semanas aqui! Terá bastante tempo para se dedicar à sua monografia. – sugeriu.
- Não! Prefiro meter a cara no trabalho, a espera pelo seu retorno fica menos angustiante.
- Sente mesmo a minha falta? – indagou.
- Sinto! – e era a mais pura verdade.
Do que julguei, a princípio, ser uma relação pai e filho, pois nunca tive um, e o Jamil agia como se fosse; até quando ele me enrabou e eu acreditei que aquilo não passava de uma forma de ele se divertir e realizar suas fantasias sexuais; ao estágio atual, onde ele chegou a atirar nosso caso libidinoso na cara a esposa, eu me via perdido num papel cuja atuação ainda não estava bem clara. Eu era o filho homem que ele não teve? Eu era o pupilo que ele havia escolhido para encaminhar na vida e, assim, redimir parte de seus pecados? Ou, eu era seu teúdo e manteúdo, onde podia injetar seu esperma e satisfazer a libido ainda muito profícua que a idade não lhe havia minorado? A singularidade dessa questão residia no fato de, qualquer que fosse a verdade, eu me sentir contente com ela.
- Só não te levo comigo porque não quero que se prejudique na faculdade. Suas prioridades por enquanto são outras. – ele podia falar com propriedade, mas não era o que sentia em seu íntimo.
Eu já não me importava que o cacetão grosso dele me rasgasse a cada coito. No fundo, eu sabia que ele gostava disso, fazia-o sentir-se mais macho, algo que muitos homens questionavam com aquela idade. As marcas que ele deixava no meu corpo passaram a ter um valor inestimável, e eu não me ressentia delas. Foi tomado desse tesão insano que eu o seduzi na última noite antes da viagem. Ele havia saído do banho, eu ajudei a enxugá-lo, coisa que ele adorava, quando vestiu a cueca para irmos para a cama. Ele ficava muito atraente nelas, geralmente brancas, o que proporcionava um belo contraste com suas pernas e abdômen peludos. Também ficava irresistivelmente sedutor quando todo aquele volume de caralhão e saco encontravam sua posição confortável dentro delas. Ele ia ajeitar a cueca, pois um dos testículos havia ficado de fora quando ele a vestiu. Antes que o fizesse, deslizei minha mão para dentro da virilha dele. Ele olhou para mim e abriu um sorriso, sabia o que eu estava querendo. O Jamil tirou a toalha da minha mão e a atirou sobre a cama, afastou ligeiramente as pernas e me puxou para junto dele. Beijei o rosto dele, passei a língua ao longo da borda da mandíbula sentindo a barba me pinicando, lambi seu pescoço, chupei seu ombro, enquanto minha mão acariciava todo aquele volume contido na cueca. Ele se sentou num dos cantos da cama, eu me ajoelhei entre suas pernas. Encarei-o e lambi meus lábios, antes de fazer o mesmo com aquele volume. Ao mesmo tempo em que o lambia sob a cueca, eu ia cheirando e fungando aquela região de onde emanava um perfume viril e quente. O testículo que ele pretendia guardar permanecia de fora, peludo e do tamanho de uma bola de golfe, tão saboroso quanto excitante de chupar com todos aqueles pentelhos que o revestiam. Ele gemeu quando eu o coloquei na boca e, durante todo o tempo em que o chupei. Dentro da cueca, o caralhão ganhava vida própria, a cabeçorra não demorou a emergir pelo cós, já molhada e cheirosa. Concentrei-me nela, no sumo que ela vertia, lambendo e sorvendo-o. A verga ficou tão impulsiva que não parava de se mexer, presa debaixo da cueca. Eu a puxei para baixo e libertei o bichão pesado que caiu sobre uma de suas coxas. Capturei-o perto da base, com a boca, prendendo-o entre os lábios e tentando levantá-lo, mas seu peso fazia com que escapasse dos meus lábios. Passei a mordiscá-lo, na mesma região, e consegui avançar devagarinho em direção à chapeleta que continuava minando seu sumo másculo. Por fim, abocanhei a piroca fazendo com que ela terminasse de endurecer na minha boca. Chupei-a movimentando meus lábios em círculo ao redor de seu diâmetro descomunal. O Jamil gemia e arfava, prendendo minha cabeça entre ambas as mãos e socando aquela jeba na minha garganta até me deixar sem respirar. Enquanto ele fodia minha boca, eu massageava seus culhões, agora soltos e ingurgitados, balançando na minha mão carinhosa.
- Olha para mim! – ordenou, enquanto me fodia. – Quer meu leite? – eu apenas gemi com aquele mastro entalado na goela. Senti uma última socada, ele puxando meus cabelos com força, e a porra quente entrando na minha boca em jatos abundantes e cremosos. Engoli-os um a um, sem desviar meus olhos agradecidos de sua face realizada.
Quando me deitei em seus braços, depois de ele ter me despejado toda aquela porra, deixei-o brincar com meu orifício anal lanhado da noite anterior. Ele sentia prazer em manipular com seus dedos devassos aquela grutinha macia e úmida, e me deixava louco de tesão. Assim que notei seu falo enrijecendo, levei minha mão até ele e o acariciei até a ereção se completar. Fiquei de quatro, demonstrando meu desejo incontrolável de ser possuído, mas ele apenas apartou minhas nádegas e começou a lamber a rosquinha onde há pouco seu dedo havia se esbaldado. Barba e bigode espetaram a pele lisinha do meu reguinho, a língua se movia depravada sobre as preguinhas, eu gemia excitado à espera da cópula. Quando suas mãos me pegaram pela cintura e me puxaram até o extremo da cama, onde ele, em pé, me aguardava com o pau empinado feito uma coluna, eu comecei a ganir feito uma cadela. A estocada foi muito mais bruta do que eu esperava, gritei. Meu corpo começou a tremer, ele o sentia em suas mãos. Esperou até minha musculatura relaxar e se adaptar ao seu membro, algo que sempre levava uns minutos, nos quais eu convivia com uma dor lancinante e profunda, que já não mais dependia das vezes em que ele havia me penetrado, mas da disparidade entre a espessura daquele caralho e da minha inelasticidade anal. Era eu quem sinalizava quando estava pronto para continuar a levar a pica no cu, empinando minha bunda e a comprimindo contra sua virilha. Ele então a fazia deslizar para dentro do buraquinho guloso, enquanto eu gemia tomado pela luxúria. Como ele havia me leitado há pouco, demorou até ele gozar. Nesse tempo, eu acabei gozando duas vezes. Minha porra voava para todo lado com o cacete balançando à medida que levava as estocadas no cu. Virei-me na direção do Jamil engatado no meu rabo e ele estava sorrindo. Excitava-o e dava-lhe prazer me ver gozando, era sua forma de saber que eu gostava do que ele fazia comigo. Meia dúzia de socadas profundas depois, ele ejaculou seu sêmen pegajoso em mim, que eu guardaria com todo carinho nas minhas entranhas como havia feito com todos os outros. Algo que também não se alterou desde nossa primeira transa, foi ele conferir o machucado imposto ao meu cuzinho por seu cacetão e, deliciar-se com aquela minha fragilidade anatômica.
Naquela noite, quando regressamos à São Paulo, ele não me deixou ir para casa a partir do aeroporto; levou-me até uma cobertura fazendo mistério sobre nosso destino, embora eu insistisse para que revelasse onde estava me levando.
- É aqui que você passa a morar a partir de hoje! – disse ao me introduzir no vestíbulo do apartamento. – Não quero mais depender de finais de semana, arranjos de última hora em hotéis, improvisações no escritório depois do final do expediente para poder te possuir. Esse é meu covil onde pretendo fazer de você meu amásio, e ser seu macho.
- Mas Jamil, não faz sentido eu morar num lugar como esse, estou habituado a lugares muito mais simples. – retruquei.
- Há algo que você até agora não assimilou. Me obedeça quando determino as coisas! Não me importa ao que você está habituado. A partir de agora você trate de usufruir a vida que estou lhe proporcionando. Você é meu, consegue compreender a extensão disso? Se eu quero ter você em tempo integral junto a mim, não me questione! Sou dominador, sou! Sou possessivo, sou! Sou mandão, sou! Acho que a partir daí seu papel fica claro, não fica? – indagou, usando um tom de voz autoritário.
- Tem momentos em que você me assusta, sabia?
- É porque você tem o poder de me deixar furioso, às vezes! Eu quero fazer de você um homem seguro, que sabe tomar suas próprias decisões sem depender da opinião dos outros. Quero que seja instruído, culto, refinado, pois é isso que vai abrir as portas do sucesso para você. E, o que é que você faz? Me questiona, me deixa puto ao mesmo tempo em que me enche de tesão. Portanto, não conte com uma benevolência constante. Se preciso, vou te disciplinar. Não será com um açoite, mas com isso aqui, que você muito bem sabe pode fazer um belo estrago no mesmo lugar no qual um pai aplica um castigo ao filho. – sentenciou, pegando na pica quanto me ameaçou.
- Depois você reclama quando te chamam de turcão bruto! Olha aí a prova! – devolvi.
- Turcão é o caralho! Você sabe que sou sírio e não turco. Só sou bruto quando a situação assim o exige, você também sabe disso! Agora vem cá! Não quero brigar com você quando viajo amanhã e fico quinze dias sem você. – ordenou. Eu me aproximei dele e o beijei. Ele meteu a mão na minha bunda e a apertou.
Ainda úmido, sentindo o leite que ele havia inoculado em mim em Angra, fui me deitar nu ao lado dele. Excitei-o propositalmente, seduzindo-o com uma mamada demorada na pica dele.
- Não precisa fazer isso! Não estou zangado com você! – disse ele, quando me sentei em seu colo tentando colocar a jeba empinada no cuzinho. – Você já está machucado o suficiente!
- Não estou fazendo isso achando que está zangado comigo! Estou fazendo isso porque quero que sinta saudades de mim, que não olhe para outro na minha ausência, que saiba que estarei aqui esperando ansiosamente a sua volta. Aiiiiiii! – afirmei, soltando um gritinho quando a cabeçorra deslizou para dentro do meu cuzinho ferido.
- Você sabe que vou sentir saudades, sabe que vou sentir sua falta, sabe que vou guardar toda a minha gala para quando voltar, seu putinho safado! Só não pense que vai me dobrar com essa bundinha dura e gostosa, tenho convicções mais rígidas do que você supõe. – afirmou, mas forçava o cacetão para dentro de mim.
- Tem convicções rígidas, é? Tudo que eu tento certeza que está rígido é isso aqui. – sussurrei no ouvido, travando o esfíncter e mordendo o pau dele. Só se ouviu meu gemido quando ele numa única socada, meteu todo caralhão até o talo em mim, e soltou um urro de prazer. Beijei-o para que não me contestasse mais, aguentando com galhardia a dor que seu falo grosso impunha à minha mucosa anal, antes dele me encharcar de porra.
O Jamil passou pelo escritório na manhã seguinte antes de embarcar rumo à Inglaterra. Não quis que eu o acompanhasse até o aeroporto e, me deixou incumbido de uma porção de coisas durante sua ausência, bem mais do que seria possível realizar nesse curto intervalo de tempo. Ele estava me testando, isso era certo.
No final da tarde passei na casa do meu tio, peguei minhas coisas e anunciei que estava me mudando. Não quiseram deixar transparecer, mas que isso causou um alívio neles ficou evidente. O Jamil havia me dado dois cheques polpudos para que deixasse com eles por terem cuidado de mim todos esses anos.
- Obrigado por tudo que fizeram por mim. Sei que nunca vou poder quitar minha dívida com vocês, mas isso deve ajudar a amenizar o prejuízo, tio! – disse ao lhe entregar o cheque. – Este é para o tio, Marcos, se o senhor puder fazer o favor de entregar quando ele passar por aqui, eu ficaria tremendamente grato. – disse, ao lhe entregar o outro.
- Não era preciso nada disso, Lucas. Você sabe que fizemos isso de coração! – respondeu, mas arregalou os olhos quando viu a cifra com a qual o cheques foram preenchidos. Em parte, não duvido que houvesse alguma sinceridade em suas palavras, mas também sempre ficou claro para mim que eu era uma carga extra que precisavam carregar.
- Eu sei tio! Mesmo assim, muito obrigado!
- Posso saber para onde está se mudando? – eu temia essa pergunta. Tinha ensaiado algumas respostas para ela, mas todas me pareceram mentirosas, e eu não era afeito a mentiras.
- A empresa me disponibilizou um apartamento. Fazem isso com alguns executivos, e meu chefe já me considera um deles. – respondi. Eles não precisavam saber que meu chefe era o presidente e dono das empresas, nem que eu era seu amásio, nem que ele estava me bancando.
- Que bom para você, não é Lucas?
- Muito, tio! Agradeço todos os dias por ter conseguido uma vaga na empresa, está me ajudando muito. – devolvi.
Para resolver uma das questões que o Jamil tinha deixado para eu solucionar durante sua ausência, recorri ao Eduardo, marido da Soraia. Até então eu tinha tido pouco contato com ele na empresa. Víamo-nos nos corredores, cumprimentávamo-nos e era tudo. Meu contato com ele tinha sido mais frequente quando dos eventos familiares na casa do Jamil, pois ambos parecíamos dois peixes fora d’água naquela casa onde não éramos benvindos. Eu muitas vezes tinha me perguntado o porquê de ele não ter se separado da Soraia depois que virou pessoa non grata após ela constatar que não gerava filhos não por culpa dele, como sempre o havia acusado, mas por incapacidade dela. Ele tolerava pacientemente, as agressões verbais que ela lhe dirigia, as humilhações que o fazia passar, o descaso que fazia para com os problemas dele. Sem mencionar a prevaricação que ela impetrava com o piscineiro bombado em academia do condomínio onde residiam, de um primo em segundo grau que toda vez que vinha à São Paulo, circulava com ela para cima e para baixo e, ninguém me tira da cabeça, dentro do leito conjugal. Como cópia fiel da mãe, sua aleivosia era fruto da mesma árvore. Tudo isso me fazia enxergar o Eduardo como um molengão, um cara sem brios, um capacho que preferia a boa vida à própria honra.
- Olá Eduardo! Recebi essas planilhas da matriz da financeira e, ao analisá-las me pareceu haver uma inconsistência de dados; como esse é seu departamento, não vejo ninguém mais apto a me orientar com elas. Você se importaria? – indaguei, ao procurá-lo num departamento obscuro no qual estava alocado. Isso era outra coisa que eu me questionava, como o genro do presidente ocupava um cargo tão abaixo de seu potencial, num departamento sem muita relevância.
- Claro! Vamos ver do que se trata. – respondeu solícito e afável.
- Sou inexperiente em muitos assuntos ainda, e não gostaria de deixar passar algo que o Dr. Jamil possa vir a contestar depois. – afirmei, enquanto ele analisava a papelada que lhe entreguei.
- Você tem razão! Esses dados aqui não batem! Venha comigo, vamos resgatá-los no banco de dados e você vai ver que estão errados. – a segurança e exatidão de sua atitude não deixava dúvidas de que ele conhecia muito bem todos os meandros da holding. – Veja, aqui estão os dados reais! Como vê, ou foram transcritos de forma incorreta, ou foram adulterados propositalmente. – afirmou.
- E qual é a sua opinião sincera? – questionei.
- Peça ao diretor da financeira que reveja os dados, sem mencionar que você encontrou a inconsistência, se ele lhe devolver com as devidas correções, provavelmente foi um erro de transcrição, mas caso contrário, houve má fé. Talvez estejam tentando puxar o seu tapete, imaginando que seu pouco tempo de casa não lhe permita ter pleno controle de tudo. – a sinceridade dele me comoveu.
- Obrigado, Eduardo! Não sei o que faria sem sua ajuda. Valeu!
- Não se esqueça que você descobriu a inconsistência, eu só te ajudei a descobrir uma maneira de fazer a checagem. Na próxima vez você sabe onde procurar. – devolveu, como que minorando sua ajuda.
Assim que as planilhas chegaram às mãos do diretor da financeira, recebi uma ligação dele. Empertigado, alegou não haver nada de errado com os dados. Foi jocoso ao menosprezar minha capacidade e, deu a entender que eu não passava de um garoto inexperiente tentando encontrar pelo em casca de ovo. Na chamada de vídeo com o Jamil naquele dia, expus o caso, e pedi sua ajuda.
- O que você acha que deve ser feito com pessoas das quais você perdeu a confiança? – foi sua resposta.
- Não sei, talvez lhes mostrar que sei que estão erradas. – arrisquei.
- Não! Uma empresa é como um relógio, cada peça precisa estar no seu devido lugar, bem ajustada, pronta a dar sua contribuição no momento exato em que é solicitada. Um único parafusinho, por menor que seja, fora do lugar, fará o relógio todo dar defeito. Ele só volta a assinalar o horário correto quando a peça for substituída. – explicou.
- Entendi! Então vou esperar a sua volta para te mostrar o caso todo. – afirmei.
- Não senhor! O que foi que eu mandei você fazer na minha ausência? Resolver as questões, não foi? Pois faça o que é preciso! – ele ficou sério ao me impor sua resolução.
- Ah, Jamil! Você sabe que não levo jeito para isso.
- Pois trate de levar! Lucas, eu quero que você se posicione, não que se acovarde diante dos problemas. – ele continuava sério, e eu arriscaria, bravo.
Antes do final do expediente, pedi à Beatriz que redigisse e enviasse a carta de demissão do diretor da financeira. A repercussão dessa carta abalou as estruturas da holding por quase uma semana. Ficou claro para todos que meu poder já não se limitava a substituir impressoras com defeito para ajudar uma amiga com os problemas de seu setor. Ao retornar e saber da minha atitude, o Jamil trancou a porta do escritório e me enrabou em pleno expediente, me deixando tão assado que mal pude caminhar depois disso.
- Meu tesãozinho está aprendendo rápido, não é? – rosnou ele na minha nuca, enquanto sua rola arregaçava meu cuzinho. Fiquei duplamente feliz, uma por ele me elogiar, outra por receber seu leite cremoso no rabinho.
O que eu sentia pelo Jamil era algo que parecia nunca estar devidamente elucidado para mim. Os primeiros dois anos foram de gratidão, afinal ele havia aberto um mundo de oportunidades para mim; me dando o cargo de seu assessor, me apresentando a coisas com as quais eu nunca havia sonhado, bancado meus estudos e, me iniciando sexualmente. Depois, veio o período de afirmação, no qual ele me fez descobrir do que eu era capaz, do que poderia vir a me tornar um dia e, de consolidar o nosso relacionamento, que deixava de ser de patrão e empregado, para uma cumplicidade sentimental e sexual. Ultimamente, eu tinha entrado numa fase de questionamentos, não que não os houvesse antes; mas, de uns tempos para cá, havia surgido em mim uma necessidade de ser amado, de ouvir de sua boca que me amava, e não que gostava de mim. Gostar a gente gosta de um tipo de comida, de um lugar, de um filme, de uma obra de arte, de um corpo sensual. Muitas vezes enquanto eu gemia debaixo do corpo dele ao transarmos, e sua pica entrar e sair do meu cuzinho como um bate estaca perfurando o solo, eu gania seu nome, dizia que o amava, dizia que ele era meu homem e meu macho. Enfim, me declarava aberta e sinceramente, entregando-lhe não apenas afeto, carinho, mas o mais sublime amor que meu coração podia sentir. Isso, apesar de deixá-lo visivelmente feliz e satisfeito, nunca o fez afirmar que também me amava. Pensei, inicialmente, que seu casamento fracassado o havia blindado contra esse sentimento. No entanto, eu percebia em cada gesto seu que ele nutria algo profundo por mim. Eu apenas temia que fosse apenas uma atração sexual pelo meu corpo e pelo que fazíamos durante o sexo; ou que fosse um sentimento semelhante ao que Pigmaleão, o rei da ilha de Chipre, segundo a mitologia grega, tinha em relação à estátua de Galatéa que ele havia esculpido, por não encontrar em toda a ilha uma mulher que satisfizesse seu ideal feminino de doçura e castidade, e pela qual se apaixonou, e que, mais tarde Afrodite transformou numa mulher de carne e osso com a qual Pigmaleão se casou. Ou seja, eu temia que o Jamil também pudesse estar tão empolgado com a sua obra, no caso eu transformado segundo seus desejos e expectativas, como ocorrera com o rei.
- Você me ama Jamil? – tive a coragem de perguntar depois de uma longa performance na cama, onde eu o fizera gozar duas vezes, enquanto ele brincava com seu dedo impudico no meu cuzinho lanhado.
- Por que me pergunta isso? O que acabamos de fazer não responde a sua pergunta? – devolveu ele.
- Em parte! Você nunca me disse as três palavrinhas mágicas – EU TE AMO – e quando estou me entregando para você de corpo e alma, eu sonho ouvi-las de sua boca.
- Você não acha que seria piegas um homem na minha idade estar afeito a esses ímpetos de paixões juvenis? – retrucou.
- Não, não acho! É certo que você não se empolga com paixões juvenis, mas a paixão não tem idade, ela vem quando se está com quem se gosta, com quem significa muito para nós, com quem nos dá alegrias e prazer. – argumentei.
- Pois você acaba de enumerar tudo o que sinto por você! Você é importante na minha vida, gosto de você, você me dá alegrias e prazer, então onde residem suas dúvidas? Em palavras que qualquer um pode pronunciar a qualquer momento, banalizando seu sentido? – devolveu ele.
- É que tem vezes que acho que você é como Pigmaleão, gosta de mim porque sou fruto do que você mesmo produziu. Ou, outras vezes ainda, me sinto como a Julia Roberts no filme Pretty woman, a prostituta que o Richard Gere transformou numa senhora da sociedade, ensinando-a a se comportar, dando-lhe presentes caros, tudo para que pudesse estar à altura das necessidades dele. – afirmei.
- Você se sente assim, uma puta?
- Não, porque não sou mulher. Mas, me sinto como se fosse algo parecido. Um garotão jovem de corpo atraente, pobre, que tem muito a aprender na vida, pelo qual um homem maduro e rico se sente atraído, e o transforma em seu pupilo e seu amante. Não foi isso que você fez comigo? – questionei.
- Eu não pensei que você se sentisse assim! Acho que já te demonstrei diversas vezes o que você significa para mim. – respondeu.
- É que eu amo você Jamil! Amo com todas as minhas forças e de todo o coração! Não é gratidão, reconhecimento ou fidelidade que sinto por você, embora também nutra esses sentimentos em relação a você. O que sinto é amor mesmo, amor verdadeiro, amor que não conhece limites. – confessei.
- E o que você acha que sinto por você? – indagou.
- Não sei! Sinceramente não sei.
- Isso só prova que o amor nos cega! Vê como você mesmo não sabe reconhecer o que existe entre nós. Não fique assim, é uma pequena crise de identidade, logo, logo você se reencontra e, todas essas bobagens somem dessa cabecinha linda. – asseverou. Não era o que eu queria ouvir naquele momento, em que seu esperma morno ainda formigava nas minhas entranhas, e que ele era tudo que eu mais amava no mundo.
Desde que passei a acompanhá-lo nas viagens à negócios internacionais, um novo mundo se abriu para mim. A cada contrato celebrado, a cada associação com outras empresas no estrangeiro, eu me tornava um executivo mais completo e confiante. Ao completar 30 anos eu era o mais respeitado e jovem executivo da empresa. Toda segurança que eu construí na minha vida profissional, desmoronava assim que eu abria minhas pernas para levar aquela verga potente e sedenta no cuzinho. Quando estava com o Jamil, acariciando seu peito, beijando sua boca, chupando seu caralhão, lambendo seus culhões, eu voltava a ser aquele molecão recém-contratado no primeiro emprego, cheio de questionamentos, que idolatrava seu chefe; e via nele o macho no qual ele mesmo se transformou perante mim, ao usar meu cuzinho como bem lhe aprouvesse para saciar suas taras. Eu vivia um período tranquilo comigo mesmo. Muitos dos meus questionamentos tinham ficado no passado ou, eu simplesmente os tinha colocado de escanteio, vivendo apenas o momento atual e, torcendo para ele se perpetuasse no futuro.
Ocorre que nada se perpetua. E, eu não demorei a sentir isso na pele. A Amirah estava em Miami, onde, há alguns anos atrás, não deu sossego até que o Jamil comprasse um apartamento duplex no Oceana Bal Harbour, um condomínio de luxo a 20 quilômetros das principais praias de Miami. Eu só conheci o apartamento no último revellion, pois foi onde a família se reuniu para festejar o novo ano. Era algo bem típico do gosto duvidoso da Amirah, decorado de forma espalhafatosa como bem gostava a grande maioria de latinos endinheirados que residia no condomínio. A Amirah sempre foi avessa a Europa, dizia que eram países onde se respirava mofo e velharias, pois seu intelecto nunca conseguiu compreender a importância e valor das relíquias seculares daquele continente. O dinheiro nunca lhe acrescentou cultura, apenas deslumbramento e futilidade. Esse era o motivo que a levava a passar temporadas ali, longe do marido, com um novo affair a cada estação, esbanjando à rodo um dinheiro a que julgava ter o direito de gastar. Esse foi o motivo que levou o Jamil a se descontrolar e ligar para ela, não obtendo resposta durante todo o dia. Estávamos apenas ele, eu e a Beatriz no ainda no escritório quando ela retornou as ligações dele. Tiveram uma discussão feia ao telefone, com direito a gritos de ya kalba sharmoota, yaqta’ ‘omrak mara, e por aí vai, que fizeram as veias do pescoço do Jamil saltarem de tanta raiva, ao receber os extratos dos cartões de crédito que a Amirah usara sem nenhuma parcimônia, totalizando US$ 86.000, num único mês. E, que ele tinha como certo, foram usados para bancar presentes para algum cafajeste latino com o qual ela estava se deitando. A Beatriz e eu o observávamos a certa distância, embora eu estivesse morrendo de vontade de chegar junto dele e pedir que não se exaltasse tanto, que isso poderia lhe fazer algum mal. Mas o lugar e as circunstâncias não eram as mais propícias para eu demonstrar minha preocupação e meus sentimentos íntimos para com ele. Só o fiz quando ele bateu o telefone ameaçando a Amirah de cortar sua cota nos cartões. Ele respirava com dificuldade. Levou um tempo até me ouvir e, quando o fez, erguendo seu rosto na minha direção, notei que havia algo errado naquela expressão desconectada da realidade.
- Jamil! Jamil! – berrei assustado. – Dr. Jamil! Está me ouvindo, Dr. Jamil! – corrigi, quando me lembrei que não estava a sós com ele. – Beatriz! Por favor me ajude aqui, o Dr. Jamil não está bem. – berrei, cada vez mais preocupado.
- Dr. Jamil! Dr. Jamil, o senhor pode nos ouvir? – tentou ela, aflita.
- Peça a um dos seguranças que venha me ajudar a colocá-lo no carro, precisamos levá-lo a um pronto socorro com urgência! – ordenei.
Ela e o segurança me acompanharam até o hospital, durante o trajeto ela tentou diversas vezes que ele desse alguma resposta, mas foi em vão. Assim que o retiraram do carro e o colocaram na maca o Jamil teve uma parada cardíaca. Não fosse a necessidade de responder às perguntas que o médico me fazia eu teria desmaiado ali mesmo, pois minhas pernas não queriam suportar meu corpo. Eu despejei tudo o que sabia sobre as condições de saúde do Jamil, os stents que havia implantado, as duas pontes de safena que foram feitas há quase uma década, a falta de ar da qual vinha se queixando ultimamente, mormente depois de deixar meu cuzinho galado até as tampas, a hipertensão que necessitou um ajuste recente na dose da medicação, e tudo que julguei ser útil naquele momento. Passei horas numa sala de espera aguardando notícias. Já havia dispensado a Beatriz e o segurança, pois estiveram comigo até muito além de seu horário de expediente. Ela se recusou, mas depois de um tempo também a convenci a ir para casa, com o argumento de que sua presença no escritório no dia seguinte seria de vital importância. Quando permitiram meu acesso a UTI, o Jamil estava inconsciente, segundo o médico, para o controle de seu estado de ansiedade. O quadro que ele me apresentou não podia ser pior. O enfarte havia se alastrado sobre áreas já mal irrigadas do coração, comprometendo em muito a funcionalidade do órgão.
- Ele vai precisar de mais stents, de outras pontes de safena? – indaguei, como se coubesse a mim decidir o que seria o adequado para ele.
- Temo que não! Estamos tentando estabilizá-lo para que possa suportar um transplante, se encontrarmos um coração disponível nesse período. – as palavras dele não eram nada animadoras.
- Isso, um transplante! Não é mais nenhum mistério fazer essas cirurgias hoje em dia. Isso vai recuperá-lo! – eu continuava falando sem nenhum conhecimento de causa, apenas movido pela necessidade daquele homem, meu homem, não me abandonar.
No quarto dia tiraram a sedação do Jamil. Ele me encarou e sorriu quando notou que eu segurava sua mão. Tentou falar alguma coisa, mas a língua parecia um pedaço de chumbo em sua boca.
- Não faça nenhum esforço! Vou chamar o médico e dizer que você acordou. – avisei. Ele prendeu minha mão com força e não me deixou ir.
Nos três dias seguintes ele parecia melhorar a olhos vistos. Eu já não estava com aquela cara lúgubre do dia da internação. Ele também já conseguia se expressar melhor e, dava para entender o que dizia com algum esforço. Eram minhas conversas com o médico no final do dia que me deixavam cada vez mais angustiado, pois o que ele me relatava não era nada bom.
Eu havia avisado a Amirah e as filhas e, embora cientes da gravidade da situação, nenhuma delas apareceu no hospital, onde eu passava o dia ao lado do leito do Jamil. O único que veio ver como ele estava foi o Eduardo, que também se prontificou a me prestar qualquer tipo de ajuda que eu necessitasse.
- Sabe o que eu estranho nessa família, Eduardo, é o desamor que reina entre eles. Da Amirah não se espera muito mesmo, mas da Aisha e da Soraia, um mínimo de compaixão pelo pai seria de se esperar. – afirmei.
- As duas só veem no pai uma fonte de renda, um banco que financia suas extravagâncias. Minhas primeiras desavenças com a Soraia começaram justamente por ela ser tão insensível em relação ao pai que lhe deu de tudo. – revelou ele.
Era madrugada quando o Jamil balbuciou meu nome. Eu estava quase cochilando ao lado dele.
- Oi amor! Precisa de alguma coisa? – perguntei, quando ele fixou seus olhos bem abertos em mim e sorriu.
- Só de você! Como você está aqui, tenho tudo de que preciso. – disse ele, apertando minha mão.
- Conversei com seu médico hoje e ele me disse que já estão à procura de um coração novinho em folha para você! – exclamei, tentando animá-lo.
- Chegou a hora de você caminhar com as suas próprias pernas. Como eu sei que fiz um bom trabalho, também sei que não vai ter dificuldade nenhuma para fazer isso. – sentenciou.
- Não diga isso, Jamil! Você vai ficar bom e vamos retomar a nossa vida.
- Não crie expectativas, Lucas! Sou um motor que chegou à quilometragem máxima, não há mais o que retificar. – afirmou
- Você não pode falar assim, cadê o homem que ergueu um império e nunca se deixou abalar com detalhes? – indaguei, sentindo que o nó que estava na minha garganta ia sair a qualquer momento.
- É sua vez de se mostrar firme! Tire esse choro da cara e preocupe-se em tocar a sua vida. Eu não passei doze anos te ensinando a ser um homem de fibra para você ficar aí chorando feito um garotinho. Há muito o que fazer e eu conto com você, não me decepcione! – sua voz era quase inaudível, ele arfava e parecia ter corrido uma maratona.
- Pare de falar! Poupe as energias! E não fale como se fosse me abandonar! – retruquei rude.
- Ah, seu tolinho sentimentalóide! Eu devia ter te dado muito mais surras de pica para você não virar esse chorão. – disse, com o olhar cada vez mais embaçado.
- Então dá quando formos para casa! – exclamei. Ele voltou a ficar em silêncio, essas poucas frases o haviam exaurido. Gostei que parasse de falar, pois essa falta de esperança tinha me arrasado.
- Eu te amo, Lucas! – exclamou, de súbito. Eu comecei a chorar convulsivamente. Havia esperado anos para ouvir isso dele. Mas, tentei não o encarar para que ele não me visse chorando como um garotinho, como ele acabara de afirmar. – Eu me apaixonei por você naquele dia chuvoso em que suas roupas colaram no seu corpo e eu tive a mais deliciosa das ereções. Desde então te amo cada dia com mais paixão e loucura. – confessou. Inclinei-me para beijar sua testa, um sorriso se abriu na minha direção, como o sol que pesponta num alvorecer de verão. A mão que apertava a minha perdeu repentinamente o tônus, seu olhar se fixou em mim, mas já não me via. Eu quis gritar, mas nada saiu da minha boca. Os equipamentos ao redor do leito começaram a bipar, uma enfermeira me afastou do lado dele. E eu chorei a mais não poder.
Se não estivesse sentindo tanta dor, eu teria classificado o sepultamento como uma cena patética. Amirah, com uma filha de cada lado, todas em sóbrios e sofisticados vestidos pretos, óculos escuros, apesar do dia nublado, encenavam o papel de viúva e filhas inconsoláveis e desamparadas, numa atuação que beirava a comicidade. Recebiam as condolências com uma discrição fingida, cabisbaixas, como se um dia o Jamil tivesse tido alguma importância em suas vidas que não a de pródigo provedor. Sem sombra de dúvida, eu era o único ali que estava verdadeira e profundamente mortificado, que me questionava como seria a minha vida sem ele a partir de então, que sentia como se me houvessem arrancado a própria alma. Em nenhum momento deixei que o olhar recriminatório da Amirah me intimidasse, e fiquei tão próximo ao esquife quanto queria estar.
- Como você está? – indagou-me o Eduardo, num breve momento em que se aproximou de mim.
- Desolado, perdido, solitário. – respondi.
- É natural que se sinta assim, mas dê tempo ao tempo, ele amenizará seu sofrimento. E, não se sinta solitário, pois não está e nunca estará. – reconfortou-me. Pelo lado racional eu sabia que ele tinha razão, mas nesse momento eu não era um cara racional, apenas um amante destroçado.
Dois dias após o sepultamento, numa aparição surpresa e inusitada à empresa, a Amirah e as filhas vieram a ter comigo no escritório do Jamil.
- Basta que o gato se afaste para que os ratos tomem conta de tudo, não é? – indagou, invadindo a sala antes que a Beatriz as anunciasse e detivesse, deixando a pessoa que eu estava atendendo abismada e desconcertada.
- Falo com vocês em instantes! Estamos quase terminando aqui e logo as recebo. – disse educadamente, controlando o sangue que me fervia nas veias. – Sra. Beatriz, por favor acomode a Sra. Amirah e as filhas na sala de reuniões e ofereça-lhes o que quiserem. – emendei, dirigindo-me à Beatriz, que me encarava um tanto assustada.
- Quem você pensa que é, seu moleque depravado, concubino aproveitador! Eu não preciso ser recebida nessa empresa porque ela é minha, eu entro e saio daqui na hora que bem entender e, é você quem precisa ser anunciado antes de chegar à minha presença. Saia imediatamente dessa cadeira, não é porque você se deitava com o meu marido que lhe foi conferido o direito de sentar-se nela. – despejou irada, deixando meu interlocutor perplexo com tamanha baixaria.
- Sra. Beatriz! Por favor, peça aos seguranças que retirem essa senhora daqui o quanto antes, ou não respondo por mim. – a Beatriz partiu em disparada e retornou com dois seguranças, pois sabia que o Jamil havia deixado um grande legado em mim e, que eu não titubearia em tomar a mesma atitude que ele tomaria nessa situação.
- Você não pode fazer isso, seu pederasta enrustido, cafajeste, moxannas bint kalb! – vociferou a megera, enquanto a enxotavam do escritório. Só eu sei o que me custou manter o autocontrole, pois eu a teria esganado até a morte se as condições fossem outras.
- Lamento que tenha precisado presenciar uma cena tão deplorável! Ela é a viúva do Dr. Jamil e ainda está sob o impacto de sua morte. – afirmei ao meu interlocutor, para minorar aquela desfaçatez. Ele me devolveu um sorriso amarelo e constrangido. E eu, tratei de encerrar o mais breve possível nosso assunto para ir ter com a Amirah.
- Não sei se você já foi informada, mas existe um testamento deixado pelo Jamil e, que o advogado agendou para a sexta-feira para ser aberto e lido diante das pessoas contempladas por ele. – afirmei ao ter com ela. O Eduardo estava na sala e tentava inutilmente tirar a Soraia dali, recebendo como resposta uma saraivada de ofensas.
- É exatamente por isso que estamos aqui! O Jamil não tinha que deixar testamento algum, tudo o que era dele nos pertence por direito. Eu já contratei um advogado para resolver essa questão. Só me faltava eu me submeter a uma das loucuras do Jamil depois de morto. Eu não vou aceitar mais nenhuma de suas desfeitas. – berrava ela.
- Pois faça isso! No entanto, seu advogado já deve tê-la orientado que o testamento é soberano sobre qualquer uma das suas vontades. É a do Jamil que importa, e é essa que será seguida! Enquanto você não for a dona das empresas, retire-se daqui! Não vou permitir que você blasfeme contra o Jamil na minha presença! Ele a odiava, você bem sabe! Não banque a viúva desolada, que esse papel não lhe cabe. – asseverei.
A abertura e a leitura do testamento não poderia ter sido mais surprendente. A Amirah fora deserdada por danos materiais e morais pelo Jamil, tendo ele mencionado e anexado provas ao testamento, coube-lhe apenas uma pensão irrisória a título de benevolência por ter lhe dado duas filhas. Os 50% dos bens destinados aos herdeiros necessários, a Aisha e a Soraia, foram transformadas em ações ordinárias de duas empresas, cabendo-lhes apenas a retirada dos dividendos ou, em caso de venda, essa ocorrer apenas para a holding. O controle das ações não lhes dava direito a voto ou cadeira no conselho consultivo das empresas que faziam parte da holding. Os outros 50% de seu patrimônio foram doados respectivamente, a mim, 30%, ao Eduardo, 10%, e a um grupo de funcionários em proporções menores os demais 10%. O leitor do testamento precisou esperar que os ânimos da esposa e filhas se acalmasse para continuar a leitura. Ficaram comigo também a casa de Angra, a cobertura e uma das fazendas que haviam sido colocadas em meu nome cerca de cinco anos antes de sua morte e, portanto, já não faziam mais parte de seu patrimônio.
- Esse desgraçado viado filho da puta explorou meu marido esses anos todos e vai ficar com quase toda sua fortuna! Eu não vou aceitar isso! Dr. Saulo, diga a esse sodomita miserável que vamos lhe arrancar até o último centavo do que me pertence por direito! Fui eu quem aguentei aquele traste durante mais de trinta anos e não vou sair com uma mão na frente e outra atrás depois disso tudo! – berrava ela, sem perceber que estava municiando o escritório de advocacia que havia redigido o testamento com subsídios suficientes para contra argumentar sua petição.
- Acalme-se Sra. Amirah, a princípio não há o que contestar. O Dr. Jamil deixou explícitas as razões pelas quais não lhe deixou nada. É muito difícil rebater as provas que ele deixou registradas. – aconselhou o advogado dela.
- O senhor é um incompetente! Está do meu lado ou do lado desse bint kalb? Eu vou arrancar tudo dele, nem que tenha que matá-lo para isso! – berrava encolerizada.
- A senhora está se incriminando, é melhor se controlar! – aconselhou mais uma vez o advogado.
- Controlar o zib, é isso que vou fazer! – retrucou exasperada. – Espere só, você ainda vai ouvir falar muito de mim, seu miserável! – gritou em minha direção, antes de ser praticamente arrastada pelo advogado que já deixava visível seu desencantamento com aquele caso perdido.
Afastei-me de tudo e todos por uma semana. Precisava encontrar equilíbrio para levar a vida adiante e, em meio a tantas atribulações e problemas seria impossível encontrar paz. Ao entrar no carro não tinha um destino predeterminado na mente, apenas pus o carro em movimento e saí. Cerca de duas horas depois estava seguindo rumo a Angra, mais por inércia do que por ter escolhido esse destino.
- Olá, Sr. Lucas! Lamentamos pelo Dr. Jamil. O senhor deve estar arrasado, e com razão. – disse o Otávio ao vir ao meu encontro prontificando-se a pegar minha bagagem.
- Olá Otávio, tudo bem por aqui? Agora, mais do que nunca, não me chame de senhor, apenas Lucas é o suficiente. – respondi.
- Desculpe, é o hábito!
Almocei com eles na cozinha, o que a Zulmira achou um sacrilégio.
- Se a dona Amirah nos visse aqui estaríamos na rua no mesmo instante. – disse ela, inconformada com minha postura.
- Pois ela não está, e nunca mais vai estar! – afirmei, relatando-lhes superficialmente os últimos acontecimentos.
- Então o senhor é nosso novo patrão! – exclamou o Otávio. O Dr. Jamil deixou um ótimo pé de meia para a Zulmira e para mim. Ele explicou tudo numa carta que chegou há poucos dias. É o suficiente para nos aposentarmos, mas se o senhor, digo, se você não se importar gostaríamos de continuar trabalhando na casa. – revelou.
- Eu agradeço! Não sei ainda o que vou fazer da vida, mas com essa casa, apesar de suntuosa demais para o meu gosto, eu gostaria de ficar. Passei bons, senão os melhores momentos da minha vida aqui. – confessei. Ambos foram discretos, mas sabiam do que eu estava falando. Talvez não soubessem que eu tinha perdido a virgindade ali, mas que eu e o Jamil mantivemos muitas vezes relações sexuais no andar de cima, não era nenhuma novidade.
A Beatriz, durante aquela semana, se encarregou de manter todos afastados de mim, poupou-me de questões menores e protelou as mais importantes com a mesma eficiência que tinha para com o Jamil.
- Já de volta, Lucas! Contei que fosse se ausentar por mais uma semana, por isso não agendei nada importante para esta. – avisou-me, quando me encontrou sentado no escritório olhando absorto para a paisagem da cidade.
- Fez bem Beatriz, muito obrigado! Preciso retomar as coisas, não podemos nos dar ao luxo de ficar estagnados. – respondi.
- Teria lhe feito bem ficar mais uns dias afastado. Você precisa viver esse luto antes de retomar sua vida. Ele te daria uma bronca se estivesse aqui! – afirmou ela. Outra que provavelmente sabia muito mais sobre a minha relação com o Jamil do que deixava transparecer.
- Ele daria mesmo, não é? Até posso ouvi-lo .... – antes de conseguir continuar comecei a chorar.
- Viu por que deveria ficar afastado? Ninguém gostou tanto do Dr. Jamil quanto você. Olha que tenho anos de casa, conheço a família dele outro tanto e, posso afirmar sem receio de errar, que você foi quem mais gostou dele. Ele sempre soube disso. – afirmou ela.
- Eu o amei, Beatriz, eu o amei! – as palavras saíram da minha sem controle. Eu não tinha do que me envergonhar, e ela por certo não trairia nossa amizade por saber disso.
- Ele também te amou! Como você acaba de fazer agora, ele deixou escapar seu sentimento por você no dia em que me mandou comprar aquele carro com o qual te presenteou. – revelou ela.
- Tantos anos atrás? Ele só me disse que me amava naquele leito de UTI, quando já era tarde demais. – revelei.
- Era o jeito dele! Ninguém nunca soube o que se passava no coração daquele homem. Talvez nem ele mesmo. – conjecturou.
Naquela noite também recebi a visita do Eduardo. Eu já estava de pijama, pretendia me deitar cedo para ver se conseguia me livrar de uma dor de cabeça incapacitante quando o interfone tocou.
- Oi, Lucas! Como foi o retiro? Você está melhor? – questionou.
- Não foi o suficiente para acabar com esse vazio que sinto aqui dentro. – afirmei, tocando a mão no peito.
- É natural que não! Isso leva tempo, vocês eram muito unidos. Conte comigo se precisar. – asseverou.
- Obrigado! Mas, o que o traz aqui? Há alguma pendência a ser resolvida na empresa? – indaguei.
- Não! Não tem nada a ver com a empresa. No dia da leitura do testamento entrei com o pedido de divórcio da Soraia. Já não morávamos mais juntos há alguns meses, não sei se você sabia. Eu voltei a morar cm meus pais provisoriamente. Porém, o que me traz aqui é essa carta. Ela me foi entregue pelo leitor do testamento naquele dia. – disse ele, entregando-me um envelope que já havia sido aberto e era endereçado a ele.
Ao começar a ler a carta logo me vieram as lágrimas. O texto era tão objetivo e decidido como seria a própria fala do Jamil. Nele, ele agradecia o Eduardo por ter mantido o casamento com a Soraia atendendo a um pedido dele, apesar da incompatibilidade e da infidelidade com a qual sua filha retribuía o obséquio do Eduardo. Mencionava o distúrbio psiquiátrico da filha após descobrir que não podia gerar filhos e, o pedido que ele lhe havia feito para não a abandonar quando deixou a clínica de reabilitação, temendo por um agravamento da crise e um potencial suicídio. Também explicava o motivo de ter lhe deixado 10% da fortuna e, pedia que ele me apoiasse na diretoria da holding, dando-lhe o cargo de vice-presidente. Eu li e reli o texto em silêncio, enxugando vez ou outra as lágrimas, antes de lhe devolver o papel com as mãos trêmulas.
- Nem sei o que dizer! Você se sacrificou esses anos todos para atender a um pedido dele? A impressão que sempre tive é que aquele cargo que você ocupava era uma espécie de castigo, uma punição que ele lhe havia imposto, por isso jamais discuti o fato com ele, embora tenha mencionado sua capacidade muito acima da função.
- O cargo foi uma imposição da Soraia, para me humilhar! No entanto, o Jamil me compensava regiamente para ficar naquela posição e não deixar a empresa. Ajudou meus pais e minha família como forma de se redimir por não ir contra a vontade da filha. Mas, eu preciso dar um basta em tudo isso. Se a Soraia optar por um caminho sem volta o problema é dela. Eu não me admiraria se ela e a Amirah caírem em desgraça em pouco tempo, ambas sempre detestaram o Jamil. A Aisha o marido ainda controla e, acredito que agora sem o Jamil, ele a faça sofrer ainda mais, pois como o Jamil especificou no testamento, ele não terá acesso as ações da companhia. Por fim, se você permitir e assim o desejar, eu assumo a vice-presidência. Confesso que não é algo que eu almeje ou com o que tenha sonhado, mas ao seu lado creio que formaremos uma boa dupla. – afiançou.
- Claro! Sem sombra de dúvida! Não sei por que ele não te deixou a presidência, você é muito mais apto do que eu, conhece as empresas há muito mais tempo. Eu não sei se estou à altura de tocar aquilo sem o Jamil do meu lado. Nunca pensei que permaneceria nas empresas no dia em que ele não estivesse mais à frente dos negócios. Você conhece minha história, sabe que sou uma pessoa simples, que não me vejo controlando todo aquele império que ele construiu. – sentenciei.
- É o que ele queria! Ele te preparou por doze anos para que você desse continuidade ao que ele construiu. O Jamil confiava em você e fez de você o executivo capaz que se tornou. Ele tinha visão de futuro, e preparou tudo para que você possa seguir em frente.
- Foram mais ou menos essas as palavras que ele usou para me convencer quando estava no leito da UTI. – revelei. – Fique comigo, Eduardo! Sozinho não consigo. – pedi.
- Estarei com você para o que for preciso! Não se deixe abater, vamos fazer isso juntos, ok? – ele tomou minha mão entre as dele e, pela primeira vez eu senti que não estava mais só.
Segunda-feira, sol tímido de inverno pespontando entre um nevoeiro em rápida consumição, eu atrasado por conta da noite mal dormida, acabei concluindo que seria mais proveitoso tomar meu café na cafeteria anexa ao supermercado perto de casa do que prepará-lo eu mesmo e, correr o risco de me atrasar para o compromisso agendado para o início da manhã. Peguei minhas chaves, pasta e a gravata que não tive paciência para fazer o nó, e saí em disparada. Não notei as duas motocicletas que me seguiam uma dezena de metros atrás. Elas emparelharam comigo na vaga do estacionamento e, ao descer do carro, fui imediatamente rendido por três sujeitos que me cercaram por todos os lados.
- Nada de gracinhas! Nem pense em chamar a atenção se quiser continuar vivo! – ameaçou um deles, levando-me até a traseira do carro onde o porta-malas já se encontrava aberto.
- Entre aí, rápido, rápido! – ordenou outro, que cutucava a ponta da arma nas minhas costelas.
- Podem ficar com a carteira e os cartões! – exclamei, temendo entrar naquele porta-malas e ficar talvez horas sob sequestro.
- Pode enfiá-los en el culo! Não nos servem de nada sem você e as senhas! – vociferou o mais agressivo, com sotaque castelhano, e que aparentemente comandava a operação.
Segui as orientações sem resistência. Pouco antes da tampa do porta-malas se fechar, vi que uma mulher a certa distância presenciara o sequestro e começava a fazer uma ligação no celular. Sacolejei em posição fetal por cerca de três quartos de hora, ora batendo a cabeça na dobradiça da tampa, ora dando joelhadas contra o metal da estrutura, à medida que o carro fazia curvas em alta velocidade. Subitamente, devíamos ter entrado numa rua não asfaltada ou em precárias condições, pois os sacolejos aumentaram e eu já não ouvia o barulho de trânsito à nossa volta. O carro parou e duas portas bateram, o sujeito do sotaque disse algo que não consegui distinguir. A tampa do porta-malas se abriu e eu fui arrancado dele com brutalidade. As duas motocicletas estavam a menos de dez metros do carro e seus ocupantes se aproximaram a passos largos. Estávamos numa rua deserta, com um muro alto e longo de um lado, que acompanhava a curva da rua e, um matagal denso no terreno abandonado do outro.
- Debruce sobre o capô! – ordenou o piloto de uma das motocicletas. Suas mãos me apalparam, tateando pelo tronco e descendo até a cintura e coxas.
- Ande logo com isso! Não temos o dia todo! – exclamou o do sotaque.
Meu cinto foi desafivelado, duas mãos agarraram o cós da minha calça e, num puxão abrupto e violento, minha calça desceu até os joelhos, expondo minha bunda. Um chute numa das minhas pernas me obrigou a apartá-las.
- O que vão fazer comigo? Por favor, não façam isso! Eu já disse que podem ficar com os cartões e o dinheiro, mas deixem-me ir. – supliquei.
- Não me interessam esses trocados! Quero outra coisa de você! Quero te dar uma lição que nunca mais vai esquecer. – vociferou o estrangeiro, ao mesmo tempo em que o vi se aproximando empunhando um pedaço de cabo de vassoura na mão. Pensei em gritar, mas o revólver, cujos projéteis eu conseguia ver através dos orifícios do tambor, à centímetros da minha testa me desencorajaram de tal iniciativa.
Ao mesmo tempo em que a mão do sujeito alojada no final da minha coluna me pressionava contra o capô quente do carro, ele se posicionava para me empalar com aquele pedaço roliço de madeira. A ponta dele deslizou no meu reguinho tentando encontrar a portinha do meu cu. Eu segurei a respiração e me preparava para gritar mesmo que um balaço me estourasse os miolos ali mesmo. Nisso, duas viaturas da polícia entraram à toda velocidade na rua, levantando uma nuvem de poeira atrás de si. O que apontava a arma para a minha cabeça, se virou e disparou contra os policiais. No revide, dois disparos atingiram seu peito e ele despencou sobre o capô. Outro que tentou sacar uma arma também foi alvejado e gritava segurando ambas as mãos sobre o ventre, de onde o sangue vertia manchando sua camiseta. Outro foi alcançado e mobilizado por dois policiais antes de conseguir chegar à motocicleta para empreender uma fuga. O estrangeiro ergueu os braços, deixando cair o cabo de vassoura entre as minhas pernas, e se rendeu. Eu tremia abalado, observando cada detalhe da cena que me cercava, e ainda via em câmara lenta tudo sendo reprisado na minha mente. Continuava imóvel debruçado sobre o capô, esquecendo por completo que minha bunda estava toda nua e exposta.
- O senhor está bem? – questionou o policial que se aproximou de mim e, segurando meu braço, me ajudava a ficar de pé.
- Sim, sim, acho que estou! – balbuciei, apressando-me a puxar a calça para cima sob os olhares impudicos dos policiais.
- Lamento por só o encontrar agora. Perdemos o carro de vista a algumas centenas de metros atrás, enquanto os seguíamos e, não vimos quando embicaram nessa rua. Tem certeza de que está bem, senhor? – informou o policial. – O senhor teve muita sorte, recebemos uma ligação denunciando o sequestro e, as câmeras do estacionamento do supermercado ajudaram a identificar o carro que passamos a perseguir. – acrescentou.
Realmente, em questão de minutos, chegaram ao local mais três viaturas, que participavam da busca. Na delegacia, enquanto se lavrava o flagrante, o delegado me informou que uma busca nos registros dava conta de o estrangeiro ser um colombiano procurado pela Interpol por tráfego de drogas e fuga do território americano.
- Amirah! – exclamei. No mesmo instante o estrangeiro me encarou.
- O que o senhor disse? – indagou o delegado.
- Esse sujeito está a mando de uma mulher chamada Amirah, ex-esposa do meu ex...., ex-esposa do meu ex-patrão. – revelei.
- O senhor o conhece?
- Não, não o conheço, mas ele certamente pode lhe dar as informações de quem o contratou para me sequestrar. – informei.
- O senhor então conhece quem mandou fazer isso?
- Não posso afirmar com toda certeza, mas ela me ameaçou há uns meses atrás durante a leitura do testamento do marido e jurou se vingar, por isso minhas suspeitas me levam a crer que foi ela quem mandou me sequestrar. – contei.
- Você sabe do que ele está falando? É melhor colaborar, pois temos outros meios de arrancar a verdade de você, seu gringo filho da puta! – ameaçou delegado
- Não sei de nada! Quero meu advogado! – disse o gringo.
- Meu amigo, você está no Brasil, é um gringo de merda e só vai ver um advogado depois de dar todo o serviço. Aqui não é os Estados Unidos onde é só pedir um advogado e tudo é feito nos conformes. Eu vou arrancar a verdade de você nem que precise arrancar seu couro antes, está me entendendo, gringo de merda? – berrou o delegado. Nos primeiros socos que levou na cara caindo ali mesmo, o gringo começou a dar o serviço. A Amirah estava se deitando com ele e o convenceu a me empalar para se vingar de mim.
Ela berrava que tinha direitos e não podia ser tratada daquela maneira por duas cadelas negras que não deveriam tocar nela para que não fossem esmagadas como ratazanas por seus advogados, conforme ameaçava, a plenos pulmões, as duas policiais que a traziam algemada e à força para dentro da sala do delegado. Toda empáfia e intimidação cessaram quando ela me viu e ao seu amante de cara deformada pelos socos que levou.
- Seu idiota imprestável e incompetente! Não é à toa que metade da polícia mundial está no seu encalço. – xingou ela, ao perceber que a casa caíra e, que agora ela também precisava prestar contas do crime que cometeu.
- Fico feliz que o Jamil não tenha sido obrigado a ver esse absurdo! A que ponto você caiu, Amirah! De uma empertigada socialite à uma vagabunda que se alia a um gringo cafajeste e traficante. Suas filhas hão de sentir orgulho da mãe que tem! – exclamei, encarando-a sem piedade ou comiseração.
- Moxannas bint kalb! Naak, ibn il-‘aHba! – gritou encolerizada na minha direção.
Pouco antes do delegado me liberar, o Eduardo e dois advogados do departamento jurídico adentraram à delegacia.
- Como você está? Foi a Beatriz quem me avisou quando você ligou dizendo que não compareceria ao compromisso agendado por que havia sido sequestrado. – disse o Eduardo.
Os advogados se apresentaram rapidamente ao delegado e ele os tranquilizou de que minha presença não seria mais necessária, que o flagrante havia sido registrado e que agora só dependia da justiça a continuidade do processo.
- Agora estou bem, obrigado! Vamos sair daqui e seguir direto para a empresa, meu dia ainda será cheio. – respondi.
- Não faça isso com você, Lucas! Vá para casa, dê-se um tempo! Não será agindo assim que seus problemas vão se resolver. – ponderou o Eduardo.
- Os meus, com certeza, não, mas os demais não vão se transformar em mais um peso. – retruquei.
- Cabeça-dura! O Jamil não era o mais paciente dos homens, não sei como ele te aturou. Ou melhor, eu sei, foi por te amar demais. – sentenciou.
- Bem! Agora que você chegou às suas conclusões, vamos indo. – revidei. Ao mesmo tempo em que ele me encarava carrancudo, esboçou um sorriso amistoso.
Por formação de quadrilha, sequestro a mão armada, envolvimento com traficante internacional, a Amirah foi condenada a cinco anos de prisão. Um antecedente que eu desconhecia, receptação de joias roubadas nos primeiros anos de casada com o Jamil, a levaram a ter que cumprir a pena em regime fechado. Daquela vez, o dinheiro do Jamil a salvou da pena, mas agora ela foi decisiva para sua condenação.
Há dois anos minha vida passou a se resumir entre a casa e o trabalho, com ocasionais fins de semana em Angra. Quando a morte do Jamil completou um ano fui levar flores ao túmulo, fiquei arrasado por uma semana. No segundo ano, voltei a chorar ao lado da sepultura e, penei dessolado por outra porção de dias. Tudo a minha volta parecia ter perdido o encanto.
- Você precisa se libertar dessa tristeza, Lucas! Isso está te fazendo muito mal. Há dois anos não vejo um sorriso de alegria em seu rosto. Não se vive sem sorrir. E, esses sorrisos forçados que você tem aqui no trabalho não contam, pois não trazem nenhum benefício para a sua dor. – era novamente a Beatriz, preocupada com a minha soturnidade.
- Obrigado, minha amiga! Um dia tudo passa, só preciso ter paciência. – retroqui.
- Já passou do tempo, pois você é jovem e precisa refazer a sua vida. Não espere mais! – aconselhou ela. Dei-lhe um beijo na testa, mas ela sabia que eu não faria nada para mudar meu fado.
- Faz tempo que você não aparece! – observou a Zulmira quando fui tomar meu café naquela manhã de sábado em sua cozinha em Angra.
- Estou um tanto quanto atarefado e fico com preguiça de vir dirigindo até aqui. – respondi. – Depois, não é a mesma coisa de antes. Essa casa me traz muitas lembranças. – emendei.
- Posso imaginar! Por que não traz uns amigos? Com pessoas a sua volta as lembranças vão se apagando. – sugeriu ela.
- Sabe de uma coisa, Zulmira. Eu fiz poucas amizades durante o tempo em que convivi com o Jamil. De uma certa forma, nós nos bastávamos. – confessei.
- Mas não pode continuar assim! Você é tão moço, é tão lindo, precisa encontrar novas amizades. – ela se portava como uma mãe tentando animar o filho, eu a amava por isso. – Hoje vou fazer aquela zarzuela que você tanto gosta para o almoço, ou outra coisa se você preferir. – emendou
- Você é um anjo! A zarzuela vai me deixar feliz pela semana toda. Ainda me recordo daquela massa com frutos de mar que você preparou da primeira vez que estive aqui, uma maravilha! Você poderia comandar a cozinha de um hotel cinco estrelas em qualquer arte do mundo, seus pratos são fantásticos! – elogiei.
- Obrigada! A dona Amirah dizia que minha comida não prestava nem para servir a presidiários. Nossa! Nem me lembro de quantas vezes ela repetiu isso na frente de convidados quando a casa estava cheia deles, não foi Otávio? – revelou.
- Talvez seja por isso que hoje ela esteja comendo lavagem na prisão! Tenho certeza de que daria até a alma para ter um dos teus pratos como refeição. – retruquei.
Ao entardecer fui até o trapiche. Não ventava e o sol já havia amainado, a maré batendo nas pilastras de modo cadenciado levou meus pensamentos para longe. Levei um tempo até notar a sensação de que estava sendo observado. Ao me virar contra os raios oblíquos do sol se pondo, distingui a figura do Eduardo, parado a alguns metros, em silêncio, me observando com um discreto sorriso.
- Te assustei? Juro que não foi minha intenção. – disse, ao ser notado.
- Não! Você aqui! Só estou surpreso. – respondi.
- Estava entediado, a semana foi dura no escritório, precisava arejar. – afirmou.
- Devia ter dito que queria vir descansar, poderíamos ter vindo juntos. – devolvi.
- Só tomei a decisão de vir para cá no fim da manhã. Espero não estar atrapalhando sua tranquilidade. – disse, ao sentar-se junto a mim na beira do trapiche.
- De forma alguma! Você é muito bem-vindo! – algo me dizia que a mão da Beatriz estava por trás dessa aparição repentina.
- Vou te confessar uma coisa. Fui ao seu apartamento na noite passada. Pensei em convidá-lo para jantar. Dei com os burros na água! – ele sorriu tímido novamente.
- Você não disse nada no escritório, senão poderíamos ter combinado.
- Lá é difícil falar dessas coisas.
- Tem razão, estamos sempre tão atarefados que, ao nos darmos conta o dia já acabou. – ponderei.
- Também! Mas é difícil de falar sobre outras coisas. Pensei que no seu apartamento ou aqui fosse ser mais fácil, no entanto, estou aqui sem saber o que dizer. – afirmou. Eu não estava entendendo nada.
- Está com algum problema? Posso ajudar de alguma maneira?
- Estou! ... Não vai ser moleza, mas vamos lá! Meu problema está em te dizer que estou gostando de você. ... Ruim, não é nada disso! ... O que quero dizer é que ... estou apaixonado por você, que sinto um tesão enorme por você, que está complicado me controlar quando estou ao seu lado. – verteu numa torrente de palavras.
- Eduardo! Como assim? – agora eu é quem perdi o rebolado.
- Como eu não sei! Isso vem crescendo aqui dentro há meses. Quando tive certeza dos meus sentimentos, fiquei com receio de você me interpretar mal, de achar que por eu saber como era seu relacionamento com o Jamil estivesse querendo me aproveitar de você. É confuso! Hoje resolvi tomar coragem e colocar para fora. – revelou
- Nem sei o que dizer! Estou realmente surpreso! – respondi.
- Ficou aborrecido?
- Não! Claro que não! Fiquei lisonjeado e pasmo, só isso!
- É um bom começo.
- Começo?
- Sim! Não me mandou à merda! Não ficou indignado! Até agora não me expulsou. – disse colocando um sorriso malicioso na cara barbada.
- Você sabe que eu seria incapaz de te tratar dessa maneira.
- Estou brincando! Já que não vai me botar para correr, talvez eu possa até me atrever e beijar essa boca. Sonho com esses lábios vermelhos e brilhantes faz tempo. E, olhe que são sonhos censurados para menores! – exclamou, tocando seu pé no meu.
- Sonhos censurados para menores com você devem mesmo preencher o imaginário de muita gente! – ele era um tremendo de um macho corpulento, atraente e sensual. Quando souberam do divórcio, não faltou quem não suspirasse por ele na empresa.
- A mim só me importa que preencham o seu! – atreveu-se, mais confiante e encorajado por eu estar aceitando a conversa numa boa.
- Faz tanto tempo que não levo uma cantada que estou fora de forma!
- Você está se saindo bem, acredite! Ficaria melhor se aceitasse o beijo. – asseverou, aproximando-se de mim e passando seu braço em volta do meu tronco.
O beijo veio lentamente, após os lábios dele tocarem delicadamente os meus, avançarem até prender meu lábio inferior, continuarem até nossas bocas se selarem e sua língua me penetrar. Completamente envolvido em seus dois braços, que me trouxeram para junto dele, o beijo avançou para um estágio devasso, carnal. Sua saliva se mesclava com a minha e aquela língua me lambia libidinosamente. Uma das minhas mãos se apoiava em seu ombro; a outra, espalmada sobre o peito, foi sendo levada pela dele em direção a sua pica, encontrando-a presa numa ereção debaixo da bermuda. Eu a sentia latejando vigorosa e tomada de um ímpeto predatório. A mesma sensação começou a dominar o beijo. Eu retribuía a impetuosidade dele me entregando a sua devassidão. Porém, não fiz mais do que me entregar. Havia tanto tempo que eu não sentia uma boca selada à minha, que aquela reação não podia ser diferente. Quando ele me soltou e voltou a se aprumar, reinou um silêncio perturbador e demorado. Seria eu a ter que dar uma resposta? A que pergunta? Era ele que precisava continuar a me galantear? Já não bastavam as declarações que acabara de fazer? Tudo isso ficou no ar, naquele silêncio. Ficou como uma barreira entre nós, apesar dos nossos ombros estarem se roçando ao menor movimento que fazíamos. Mas, ambos continuavam a admirar aquele pôr-do-sol, aquelas águas tranquilas mudando de cor à medida que o crepúsculo avançava, um ou outro veleiro com as velas enfurnadas voltando dos passeios, com as pessoas acenando em nossa direção à medida que passavam por nós.
O Eduardo ficou para o jantar, ficou de pernoitar para me fazer companhia. Tal como eu tinha feito, ele elogiou o prato que a Zulmira preparara, arrancando um sorriso de felicidade dela e do marido. O Eduardo sempre foi gentil, agora me dei conta disso. Foi o primeiro a vir falar comigo quando o Jamil me levou à sua casa pela primeira vez. Eu era um potro xucro, um peixe fora d’água naquela mansão intimidadora, mas ele não se importou com isso, fez o que pode para que eu me sentisse bem. Ultimamente, quando estava a argumentar com algum cliente na empresa, eu tinha reparado em como ele transmitia confiança e segurança através daquele sorriso simpático que o caracterizava. Tinha reparado também como eram potentes as suas mãos, havia nelas algo de muito viril, sem que eu pudesse especificar exatamente o quê. Foi a mesma impressão que tive naquela tarde no trapiche, quando ele veio se encontrar comigo apenas de bermuda, deixando aquele torso largo e másculo exposto ao sol e, aquelas coxas musculosas e peludas muito próximas das minhas. O Eduardo é um macho tesudo. Estava chegando a essa conclusão devido às minhas carências afetivas, ou ele era mesmo um macho tão gostoso quanto minha imaginação queria me fazer crer? Ele mexia com as mulheres no escritório, fazia-as suspirar, fazia-as acompanhá-lo com um olhar de cobiça e, provavelmente fazia-as ficarem com as bucetas molhadas. Eu devia levar isso em consideração ao não depositar exclusivamente na minha maneira de enxergá-lo, o homem interessante que ele é. Será que eu era realmente gay? Não teria sido levado a crer que sim quando o Jamil me possuiu pela primeira vez, tirando meu cabaço? Em doze anos ao lado dele eu nunca tinha olhado para outro homem da maneira que um homossexual deveria fazer. Será que eu confundi todos esses anos o amor que sentia pelo Jamil como um amor erótico e, não como um amor fraternal de filho protegido para pai zeloso e incestuoso? Não, eu não teria cometido um erro tão primário. Depois, ainda havia a se considerar que nunca tinha me interessado por uma garota, e que eu gostei, desde a primeira vez, daquela verga imensa e grossa entrando no meu cuzinho. Portanto, eu era gay. Acho que tudo isso tinha feito com que naquela tarde no trapiche as coisas não tenham evoluído para além daquele beijo. O Eduardo quis uma resposta e, eu não soube dar.
Ao nos desejarmos boa noite antes de subirmos para os quartos, o Eduardo parecia ainda esperar por algum sinal meu que o fizesse avançar em sua investida. Eu o decepcionei com um – DURMA BEM – e um sorriso amigo, não um sorriso apaixonado. Não fui imediatamente para a cama, fiquei sentado apenas de cueca, após o banho, diante da varanda do quarto olhando para as estrelas e pensando em todas essas coisas. Será que vou conseguir me apaixonar por alguém novamente? Era essa a pergunta que não encontrava resposta. O Eduardo, talvez? Ele foi genro do Jamil, era meu sócio na empresa, será que misturar as coisas não nos fará sofrer algum dia? A Beatriz, e não só ela, mas outros amigos, já tinham me dito que eu racionalizava demais as coisas, que não me atirava do abismo e deixava as coisas simplesmente acontecerem como deveriam acontecer, sem querer controlar tudo.
Bati tão suavemente na porta do quarto do Eduardo que praticamente nem eu consegui ouvir. Era ainda o mecanismo de defesa atuando, se ele não pudesse me ouvir eu regressaria para o meu quarto e deixaria tudo como está. Porém, ele ouviu, e me mandou entrar. Não sei porque foi tão difícil dar aqueles poucos passos até me encontrar no meio do quarto. Ele estava reclinado na cabeceira da cama, tinha um livro nas mãos e tirava lentamente os óculos. Eu nunca o tinha visto usando óculos. Ele ficava lindo com eles, intelectualizado, competente, charmoso. Usava apenas uma cueca branca bem amoldada ao seu corpão, tão sexy que podia estar na capa de uma revista ou num outdoor. A maneira como olhou para mim me fez sentir nu, em meu íntimo agradeci por ter jogado o robe sobre os ombros antes de iniciar aquela aventura.
- Atrapalho? – indaguei com a voz falhando. Ridículo, eu estava cheio de pudores.
- Claro que não! Estava me distraindo até o sono chegar. E você, também está sem sono?
- Um pouco! Estive pensando em hoje à tarde. – era bom ir soltando tudo logo antes de me arrepender e deixar tudo parado como estava.
- Nem a comida deliciosa da Zulmira conseguiu tirar o sabor do teu beijo da minha boca. – devolveu ele.
- Então ... é sobre ele que eu queria falar .... – titubeei como um garoto se declarando pela primeira vez.
- Não continue se for me dizer que eu não devia ter feito aquilo, que não gostou do meu beijo, ou que eu passei dos limites do apropriado para um sócio. – disse ele, interrompendo minha fala.
- Não! Não é isso. Eu gostei, e muito! Por isso estou confuso. Não queria que qualquer engano quanto ao que eu sinto venha a atrapalhar nossa amizade e nossa sociedade. – esclareci.
- Entendo! ... Quer dizer que você gostou? – a pergunta veio com um sorriso largo, cheio de esperanças, ladino, sensual. Tive a impressão que foi a única coisa que ele ouviu do que eu disse.
- Gostei! – respondi, mais uma vez tão tolamente embaraçado.
- Podia vir me dar outro, então, o que acha? – livro e óculos foram imediatamente para a mesa de cabeceira, suas pernas se abriram como que para dar espaço para seu membro se expandir, se eu viesse a ter em seus braços. Eu fui.
- Acho que seria maravilhoso, especialmente se vier acompanhado daquele abraço que me envolveu essa tarde, tão acolhedor e quente. – afirmei. Ele puxou o cinto do robe e o tirou dos meus ombros, deixando a seda escorregar sobre a minha pele.
- Não sabe como isso me deixa feliz! – retrucou.
Ao mesmo tempo em que me encaixava em seu peito e seus braços, beijei-o cheio de tesão. Suas mãos deslizavam pelo meu corpo, tão ávidas, que mal sabiam o que tocar primeiro. A cobiça e o tesão estavam estampados em seu olhar. No calor da empolgação ele meteu a língua na minha boca, e eu a suguei com carinho, mas de um jeito safado e permissivo. Ele puxou minha cueca para baixo e acariciou minha bunda, dando voltas sobre cada uma das nádegas, separando-as com puxões devassos, deslizando o polegar ao longo do meu rego. Eu comecei a tremer em seus braços, tomado pelo frenesi do desejo sexual latente que começava a despertar de uma longa hibernação. Ele sorriu ao perceber que estava conseguindo atiçar minha libido reprimida. Puxou-me com mais força para junto dele e rodopiou o dedo sobre as minhas preguinhas. Eu soltei um gemido libertador, um gemido entalado há mais de dois anos, um gemido que assinalava que eu estava pronto para receber sua volúpia e seu sexo. Meu corpo, preparado pelo tesão, exibia a pele arrepiada, os biquinhos dos mamilos enrijecidos, o pau ficando duro, o cuzinho piscando como fosse um farol a indicar o caminho para o meu buraquinho e para o prazer. Ele ficava cada vez mais louco com aqueles sinais indicando que estava sendo desejado. A cabeçorra arroxeada e melada da rola dele saiu pela parte de cima da cueca, de tão duro que o cacetão dele estava. Tirando minha cueca de vez, ele me puxou com a bunda nua para cima de sua ereção, moveu-se de um lado para o outro, para que eu sentisse sua verga roçando meus glúteos e meu rego. Cada vez que ele dava uma enfiadinha de dedo na porta do meu cuzinho eu tinha vontade de gritar, de implorar para ele me possuir, de lhe pedir para ser meu macho. No entanto, eu só conseguia beijar aquele rosto hirsuto, aqueles lábios úmidos e libertinos, e chupar sua língua e seus sabores. Ele se demorava me dedando, como se quisesse me ver explodindo de tesão. E eu estava prestes a fazê-lo, pois queria aquela jeba latejante dentro das minhas entranhas me fazendo sua fêmea, sua cadela, sua égua, só para ter seu esperma em mim.
Eu precisava fazer alguma coisa antes de ensandecer de vez. Os beijos na boca foram descendo pelo pescoço dele, viraram lambidas ao chegar em seu tórax cabeludo, percorreram o trajeto até o umbigo sobre tapete sensual de pelos que se atiçava quando minha boca se detinha por mais de alguns segundos num único lugar. Ele começava a arfar, sentindo que minha boca gulosa se dirigia à sua virilha e a seu sexo impaciente.
- Ah, Lucas! Bota logo a minha pica na tua boca que assim você me mata de tesão, caralho! – gemeu ansioso.
Ele urrou quanto meus lábios se fecharam ao redor da chapeleta. Eu lambi e chupei o melzinho saboroso e másculo dele, à medida que ele brotava da uretra. A rola ainda continuava presa dentro da cueca, e isso estava deixando o Eduardo doido. Eu o encarei sorrindo quando posicionei minhas mãos no cós e comecei a puxar lentamente a cueca para baixo. O caralhão estava finalmente livre, lindo, reto, muito grosso, veiúdo, tão grande que um palmo meu não daria conta de medi-lo. Também liberei o sacão, colocando minha mão embaixo dele e chacoalhando-o delicadamente para que os imensos bagos escorregassem soltos de um lado para o outro dentro dele.
- Você é enorme Eduardo! Vou te pedir para ter paciência comigo, pode ser? – balbuciei temeroso, pois sabia que aquela verga ia me estraçalhar.
- Não precisa temer! Vou ser bem cuidadoso. Quero te lacear aos poucos, tentando não te machucar. – a entonação em sua voz grave era a mesma que usava nos negócios deixando seu interlocutor confiante. Confesso que não me fiei em suas palavras, pois o que estava diante dos meus olhos tornava sua fala inócua.
Mas eu estava com tanto tesão e tão carente que fosse lá o que ele fosse fazer comigo, seria recebido com todo carinho e afeto. Foi nisso que o Jamil me transformou, num homem não-homem, num homem que sentia prazer e se realizava em satisfazer outro macho, num homem que não se importava com rótulos e que apenas se sentia feliz quando conseguia dedicar todos os sentimentos positivos, todo amor, toda paixão que cabia em meu coração a outro macho merecedor desses sentimentos.
O Eduardo até tentou, pobre macho, iludido de que conseguia controlar seu tesão e conquistar o terreno aos poucos. Creio que a maioria pensa assim, mas acabam se perdendo na própria volúpia, na gana ensandecida, no açodamento que a testosterona impõe a seus corpos. Portanto, a sutileza e a maneira cuidadosa com a qual começou a lamber meus mamilos, enquanto eu afagava sua cabeleira, apenas me deixaram mais alerta, mais receptivo. Eu tinha os biquinhos e as aréolas dos mamilos bem salientes, tão impudicos quanto um peitinho de menina moça. Houve um tempo em que me envergonhava deles, mas o Jamil me ensinou a aceitá-los daquele jeito, lindos, provocantes, sensuais como ele dizia antes de devorá-los. O Eduardo não foi diferente. Ao sentir sua consistência rija, a lisura fresca da pele que os circundava, a maciez quente com a qual preenchia sua boca, a vontade de chupá-los e mordê-los ganhava uma impetuosidade desenfreada. A pressão que ele exercia ao chupá-los criou dois montículos no meu peito liso, algo que sua voracidade não deixou escapar. Ele os mordeu com força, tracionou-os me fazendo gemer, e imprimiu a marca de seus dentes ao redor deles. Amanhã seriam hematomas arroxeados a atestar sua sanha, mas isso seria amanhã, quando ele já tivesse me deixado como lembrança um prazer sem igual. Aos poucos, ele foi beijando meu ventre, até pensei que fosse chegar até meu pinto duro, mas ele o contornou para minha felicidade, e foi beijar minhas coxas, abrindo-as e expondo minha bunda. Mordiscadas próximas à dobra entre as coxas e a bunda carnuda, também deixavam marcas avermelhadas na pele alva, como se ele estivesse cravando sua marca no território do qual estava se apossando. Aquela proximidade de seu rosto e do ar morno de sua respiração numa região tão íntima estava me deixando maluco, minha respiração entrecortada era o testemunho de que ele estava conseguindo seu intento, me deixar tão excitado que só ia querer levar rola no cu sem pensar as consequências. Na primeira linguada sobre as preguinhas, eu gani o nome dele, e segurei sua cabeça entre as minhas pernas abertas. Espasmos perpassavam meu corpo à medida que aquela língua safada lambia minha rosquinha me fazendo gemer descontroladamente.
- Quero você olhando nos meus olhos! – exclamou, quando me puxou até a beira da cama, colocou minhas pernas em seus ombros e apontou a cabeçorra no meu buraquinho.
Mesmo morrendo de tesão, com uma vontade imensa de sentir aquela jeba dentro de mim, a gana predatória em seu olhar me assustou, meu esfíncter anal travou e, por mais que eu quisesse, ele não se abria. O Eduardo forçou a pica rija como aço contra a rosquinha, eu soltei um gemido. Era de ânsia pelo prazer, e dor pela distensão. A segunda forçada foi mais implacável, e ele conseguiu meter seu membro em mim. Eu gritei, a dor foi mais intensa e lacerante do que eu previ. Devia ser por conta dos mais de dois anos que nada entrava por aquele orifício. Ele me encarou com doçura, estava onde queria estar, alojado na minha carne receptiva. O travamento dos músculos anais ao redor de seu falo só lhe acrescentou prazer; talvez nem ele podia imaginar que o cuzinho de um cara de trinta anos ainda pudesse estar tão apertado. Isso o levou a forçar com mais cautela, fazendo com que a verga apenas deslizasse suavemente para dentro daquela fenda. Eu gemia, o prazer ainda não tinha vindo, era tão somente a dor de ser rasgado. Minhas mãos tinham se agarrado ao lençol como se isso me ajudasse a dissipar a dor da penetração, cada vez mais profunda, cada vez mais invasiva e avassaladora.
- Olha para mim! – exigiu novamente. Eu obedeci. Era isso que eu sabia fazer com um macho, obedecê-lo, e não me envergonhava disso, sentia uma satisfação enorme.
A ordem dele veio porque queria contemplar minhas feições ao receber aquela vara gigantesca, acompanhar as contrações faciais, a formação de um tímido sorriso, o temor cedendo progressivamente lugar ao prazer, enquanto a cadência do vaivém que ele imprimia ao meu ânus ganhava potência. Foi com isso que ele sonhou, foder meu cu, foder forte, foder com paixão e tesão, foder até eu o aceitar como meu novo macho. As estocadas me faziam ganir, devastavam minhas entranhas e eu não podia estar mais feliz. Tão feliz e realizado que ejaculei sobre a minha barriga. O Eduardo riu quando me viu esporrando, era a prova de que precisava para saber que eu sentia prazer com seu coito. Entre os gemidos e ganidos eu balbuciava seu nome, quase como um sopro que me escapava da alma em júbilo.
- Agora eu sei porque o Jamil não largava o osso! Tu é gostoso para caralho! Teu cuzinho é o próprio antro da perdição! – rosnou ele, ainda bombando feito um touro ensandecido.
Eu já começava a sentir um segundo orgasmo se formando com aquele sacão batendo no meu rego, só de imaginar a quantidade de porra que os culhões que eu chupara há pouco estavam produzindo. Quando ele suspendeu a respiração, arfou profundamente, deu uma estocada bruta e urrou, o esperma veio como uma torrente represada que se abriu deixando sua virilidade escoar em jatos potentes e cremosos. Em segundos meu cuzinho estava todo esporrado. Ele se inclinou sobre mim e nos beijamos, tão carinhosa e demoradamente que o mundo podia acabar ali.
- Obrigado por ter sido tão gentil e carinhoso! – sussurrei em seu ouvido, enquanto meus dedos percorriam suas costas.
- Não me agradeça! Diga apenas que vai me dar todo esse prazer outras vezes. – retrucou ele.
- Juro que vou! Juro que vou, Eduardo! – asseverei. Naquele momento, com sua rola ainda enfiada no meu cuzinho, eu podia dizer que me apaixonaria por ele. Mas, eu não queria fazer juramentos vãos, promessas que não sabia se seria capaz de cumprir. Então apenas o beijei. Beijei muito, beijei com devoção, beijei com um carinho especial.
- O Jamil foi seu dono, como se você fosse o cachorrinho dele, obediente, servil, pronto para descobrir os prazeres sexuais; e ele soube te conduzir e te recompensar por tudo que fez por ele. Mas eu vou ser diferente. Vou ser seu companheiro, vou ser seu macho, vamos ser um só mesmo sendo dois. – eu só vim a compreender a exata dimensão daquela afirmação algum tempo depois. E, constatei que ele tinha razão. Eu amei o Jamil, sem dúvida, mas foi um amor servil como ele disse; pois, no fundo, apesar de o Jamil também me amar, a seu jeito, ele nunca se desvinculou do casamento fracassado e da família que constituiu. Eu fui seu amante, a sua válvula de escape para tudo que não tinha dado certo em sua vida, a última oportunidade de ser feliz em meio ao turbilhão de problemas que o atormentavam.
Ele não estava na cama na manhã seguinte quando abri os olhos com o sol batendo no meu rosto. Chamei por ele duas vezes, pois pensei que estivesse no banheiro; mas, não obtive resposta. Espreguicei-me e imediatamente sua presença se fez sentir, tanto na contração dolorida dos esfíncteres, quanto na umidade aderida à mucosa anal. Sorri sozinho feito um tolo, era esplendido sentir outra vez o rabo dilacerado e o sêmen de um macho. De alguma forma, me senti mais completo.
- Meu belo adormecido já acordou? – indagou sorridente quando entrou no quarto com a bandeja do café da manhã nas mãos. – É meu modo singelo de dizer que a noite de ontem não podia ter sido mais maravilhosa. – acrescentou, quando veio me beijar.
- Vou ficar mal-acostumado! Mas vou gostar mesmo assim! – devolvi, ao mesmo tempo em que o puxava para cima de mim e o cobria com beijos lascivos e úmidos.
- Está me deixando de pau duro! – murmurou, agarrando e apertando meus glúteos em suas mãos.
- É que eu pensei que o leitinho fazia parte da refeição! – sussurrei excitado com seu corpo quente.
- Não brinca com fogo! Eu vou te foder outra vez! – ele já rosnava com o tesão exacerbado.
- Vai mesmo? Vou contar um segredo – mal consigo esperar por isso! – o que meu cuzinho piscando não era capaz de expressar deixei que a boca fizesse.
Quase desmontamos a bandeja quando ele girou meu corpo, me pôs de bruços e meteu o pauzão no meu rabo esfolado. Enquanto fodia feito um garanhão, eu me inclinava oferecendo meu pescoço que ele logo chupou, minha boca que ele não perdeu tempo em cobrir com a dele e, minha bunda que eu empinava contra a virilha dele favorecendo suas estocadas imergindo a rola até o talo. Foi maravilhoso gozar logo cedo, eu precisava disso. O fato de ele ter me machucado, tanto na noite anterior quanto agora, não tinha a menor importância. Eu era muito mais feliz com o rabo arregaçado e dolorido do que sem poder me entregar a um macho.
- Você é de enlouquecer! Por que está deixando eu te machucar? Não foi intencional, mas acabou acontecendo, e você não se opôs. – questionou, quando as evidências estavam no lençol.
- Porque gosto de você! Sei que não fez de propósito, e isso é ainda mais gratificante. Foi porque você é um homem maravilhoso, deliciosamente viril. – respondi.
- Sou um fodedor, é bom que você saiba! Para nós homens, digo, homens machos, não há nada mais gostoso do que dominar outro homem, submetê-lo ao nosso tesão, fodê-lo como se o estivéssemos hierarquizando, fazer dele algo como uma espécie de fêmea, mesmo ele não o sendo, como é o seu caso. Escreva o que vou te dizer agora. Eu vou fazer de você o meu passivo submisso. Você pode determinar tudo lá na empresa, dar ordens, se impor, mandar e desmandar; mas entre quatro paredes e em nossa casa juntos você será minha fêmea obediente, meu passivinho carente de pica, de segurança, de proteção de um macho. E, eu serei esse macho! O teu macho! – asseverou.
- Quer dizer que vamos ter uma casa juntos? Quem te deu essa certeza? – questionei.
- Eu mesmo! Sei que ainda não me ama como eu quero, mas eu vou te conquistar. Você vai me amar como nunca amou alguém na vida! E vai ser meu, da mesma forma e certeza que eu sou seu. – afirmou convicto.
- Está me comovendo, sabia? – era tudo o que eu tinha a dizer àquele homem incrivelmente sedutor e maravilhoso naquele momento. Aquele calor afável, que vicejava em meu peito, já era a semente desse amor, que ele soube existir em mim até antes do que eu mesmo.
O bom do Eduardo é que ele, apesar de determinado, não era invasivo. Ele esperou partir da minha boca o pedido para morarmos juntos. O risinho petulante que ele me deu quando fiz o convite me pareceu a convicção dele saber que eu estava me apaixonando por ele.
- Sei que você viveu uma história nesse apartamento que o Jamil te deu, mas eu quero construir a nossa história fora daqui. Quero eu comprar nosso novo lar, quero ser eu a te instalar nele. – disse, após algumas semanas morando juntos.
- Isso não é nenhuma necessidade de autoafirmação, é? – indaguei.
- Certamente não é! Chame como quiser o fato de eu querer te bancar, mesmo sabendo que não precisa disso e, inclusive, tem mais posses do que eu. Mas, é assim que eu quero que funcione! – afirmou.
- Macho dominador! É assim que eu chamo essa imposição.
- Então é isso, sou um macho dominador! Está bom para você?
- Muito bom! Aceito!
- Eu não digo sempre que é por isso que nós nos damos tão bem! Você é um anjo!
- Pensei que fosse seu passivinho! – retruquei, seduzindo-o.
- Você gosta de ser meu passivinho, não gosta? Gosta da rola potente do teu macho garanhão, não gosta? Seu safado! Quando você me encara com esses olhos reluzentes, essa boca úmida e esse jeito de putinha eu fico sem chão. Minha cabeça só pensa em te foder, as duas. – afiançou rindo.
- Eu sou seu passivinho, e vou te provar! – exclamei, enleando meus braços em seu pescoço e começando a beijar seu rosto, sua boca, seu peito, ventre e cacetão, onde trabalhei gulosamente até ele encher minha boca com seu leite denso cheiroso.
O Eduardo estava irreconhecível. Eu mesmo mal podia acreditar que aquele homem apagado num departamento secundário da empresa pudesse ser o cara pujante, firme e decidido que morava comigo. Ele comprou uma casa como havia prometido. Eu quis dividir com ele a aquisição e a reforma que ele empreendeu para que se adequasse ao meu gosto, mas ele não permitiu e, a bronca que me deu foi nossa primeira briga. Nada muito sério, uns dias de cara emburrada, uns dias dando respostas curtas e irritadas que, quando decidi que já estavam ultrapassando os limites do bom senso e da irrelevância da causa, coloquei um fim. Nem foi difícil, bastou sair do banho nu, fingir displicentemente que procurava a bermuda de um pijama na gaveta da cômoda do quarto, enquanto ele se ocupava com a leitura de um livro pouco antes de irmos dormir; colocar umas gotas de perfume atrás das orelhas antes de vestir a bermuda, quando já conseguia sentir seu olhar fixo nas curvas da minha bunda e, quase certo de que uma ereção já estava se consumando entre suas coxas; desejar-lhe um – BOA NOITE – num tom seco e formal, semelhante ao que ele vinha usando comigo nos últimos dias, ajeitar-me ao travesseiro virando a bunda em sua direção, para que o livro fosse colocado sobre a mesinha, junto com os óculos, a luz do abajur apagada, fazendo com que o quarto ficasse na penumbra e, uma encoxada sutil e cautelosa, com a verga dura como eu havia suposto, roçando minhas nádegas. A respiração dele fazia o ar morno que exalava acofiar a pele da minha nuca, tão próximo ele estava de mim, sedento por inalar o perfume que eu acabara de aplicar. Como a primeira encoxada não obteve a resposta que ele esperava, veio a segunda, determinada e com parte da rola já fora da cueca.
- Zangado? – questionou, todo dengoso.
- Você provavelmente, porque eu não! – devolvi, fingindo não demonstrar interesse por aquele caralhão do qual já estava com saudades.
- Fico puto quando você me questiona em nosso relacionamento. Eu já te disse que na empresa você faz como quiser, mas aqui sou eu quem manda. – sussurrou, mal conseguindo controlar o tesão que minha bunda quente estava provocando em sua virilha.
- Eu apenas queria dividir as despesas com você, como dividimos nosso amor, nossa cumplicidade, nossa vida comum. – devolvi, simulando me ajeitar mais uma vez na cama só para empinar ainda mais a bunda em sua direção.
- Eu fodo, eu banco! Estamos combinados?
- Sim, senhor! – mesmo não vendo seu rosto, sabia que havia um sorriso nele. Um braço me envolveu e me puxou para junto dele, ao mesmo tempo em que outra encoxada funcionou como um convite ao armistício. Bastou eu pegar sua mão, beijá-la carinhosamente, e começar a chupar seu polegar libidinosamente como costumava chupar seu cacetão, para ele arriar afobadamente meu pijama e metê-lo todo lambuzado no meu cuzinho.
Faltava pouco menos de um mês para as obras da reforma serem concluídas quando o Eduardo jogou um envelope recheado sobre a minha mesa no escritório. Já era tarde, tinha sido um dia exaustivo, e eu estava louco para ir para casa.
- O que é isso? Mais problemas? O dia hoje não foi fácil. – indaguei.
- Abra! – ele tinha uma expressão ladina e exultante que tentava disfarçar.
- Passagens? Reservas em hotéis? Mapas turísticos? Roteiros? E, o que significa isso? – questionei ao retirar o último item do envelope, uma aliança com nossos nomes gravados em seu interior. Ao voltar a encará-lo, duas lágrimas já rolavam pela minha face.
- Não era bem essa a reação que eu esperava! – disse ele, aproximando-se de mim e me tomando em seus braços.
- Desculpe! Fiquei sem chão! Isso é um pedido de casamento, seu bobo? – balbuciei choroso.
- É só para formalizar o que estamos vivendo! Aceita? – ele quando me olhava com aquele olhar pidão, transbordando de amor para dar, fazia minhas pernas bambearem, meu coração disparar e meu corpo desejá-lo como o próprio ar que precisava para viver.
- Amo você, Eduardo! Amo muito, seu safado! – murmurei, beijando-o longa e amorosamente. Foi a primeira vez que declarei meu amor. Conforme prometera, ele havia conseguido fazer com que eu me apaixonasse por ele, que o amasse com todas as minhas forças.
- Como é? Não ouvi direito. – ele sorria feito uma criança que acaba de ganhar um presente.
- Amo você, seu convencido!- repeti.
- O negócio é o seguinte, o expediente já acabou, estamos aqui só nós dois, e eu vou te foder! – exclamou, começando a me desnudar como se disso dependesse sua sobrevivência. Em minutos eu estava debruçado sobre minha mesa, com as pernas abertas, o caralhão dele me estocando tão afoitamente o cuzinho que eu tinha a impressão de que, a qualquer momento, a cabeçorra ia aflorar na minha boca, perpassando todo meu corpo. Gemi feito uma cadela sendo arrombada até ouvir seu brado gutural assinalando que estava gozando e encharcando meu cuzinho com seu esperma.
Na surdina, tendo ele deixado tudo preparado nos diversos departamentos da empresa para que pudéssemos nos ausentar por três meses, partimos para uma viagem que marcou definitivamente o início da nossa união.
- Nosso casamento começa oficialmente hoje. – disse ele, ainda no avião, quando tomou minha mão entre as dele. – Vamos pedalar pelos campos da toscana cheirando a alecrim, dirigir com a capota aberta pelas estradas rurais da Provença sentindo o perfume dos campos de lavanda, tomar um café sentados numa praça de Viena enquanto uma orquestra toca Mozart no festival de verão, acordar num chalé a beira de um lago nos alpes suíços, percorrer a pé as ruelas medievais de uma cidadezinha no interior da Inglaterra, caminhar por uma praia de areia fofa na costa mediterrânea da Espanha e tudo o mais que nosso desejo e vontade estejam a fim de fazer. Só te previno de uma coisa, todo o tempo você vai estar com esse cuzinho todo assado e arregaçado, sentindo minha porra umedecendo suas entranhas, só para não se esquecer jamais de que sou seu marido, seu macho. Porque eu vou meter em você toda noite, todo o dia, e a todo momento que esse teu corpo me seduzir.
- Estou tão feliz, Eduardo! Tão feliz como nunca me senti! – exclamei, com os olhos marejados, ao encostar minha cabeça em seu ombro.
- Eu também nunca estive tão feliz como agora! Nós merecemos essa felicidade, por que a conquistamos à custa de muita abnegação, trabalho e desventura. – declarou.
E foi com a janela do hotel aberta para o lago Genebra em Zurique, naquele final de tarde, que gemi o primeiro – EU TE AMO – daquela viagem, enquanto ele fazia aquele cacetão deslizar num vaivém potente no meu cuzinho distendido, e eu fincava as pontas dos meus dedos em suas costas. Só o ouvi rosnar outro – EU TE AMO – em resposta, enquanto ejaculava sua masculinidade espessa e morna em mim.
ya kalba sharmoota = sua cadela prostituta
yaqta’ ‘omrak mara = que deus te mate puta
moxannas bint kalb = bicha filho da puta
zib = caralho
Naak, ibn il-‘aHba = foda-se, filho da puta