Capítulo 51 - Nada é tão fácil
Cássia contou algumas histórias sobre seu tempo de policial, como virou delegada e o que fazia no dia a dia.
Do nada, minha mãe perguntou:
-Mas seu marido te permite fazer tudo isso? Ou você não é casada...
Cássia não exitou em responder:
-Bem, eu não tenho um marido.
-Mas você tem um ou namorado pensa em se casar? -Minha mãe insistiu, percebendo que Cássia não era mais tão jovem.
-Isso sim, mas não com um homem. -Percebendo o embaraço da minha mãe, Cássia emendou: -Eu sou lésbica.
Um silêncio se formou entre nós, minha mãe parecia digerir tudo aquilo e eu estava perplexa com a naturalidade que Cássia falou. Tentei quebrar o gelo:
-Léo mandou lembranças mamãe.
Por sorte, minha mãe começou a falar de Léo e continuamos a conversa sem mais inconvenientes.
Nós jantamos e quando deu 22 horas, Cássia anunciou que iria embora. Cumprimentou minha mãe e a mim com um beijo no rosto e partiu, comigo a acompanhando até a porta.
Assim que voltei, ia subindo para o quarto, quando minha mãe me chamou.
-Querida, eu sei que eu não sou moderna, e não entendo muito dessas coisas de amor entre dois homens ou entre duas mulheres, mas... Essa sua amiga, ela tem uma companheira?
Suspirei, antes de falar:
- Não, mamãe...
-Hum... Me diz uma coisa, meu amor, você já pensou no fato de que ela pode estar interessada em você?
Eu me assustei.
-Por que diz isso, mãe?
-Bom, pelo jeito como ela olha pra você. Comecei a perceber logo depois do que ela revelou...
-Hum... -Fiquei pensativa.
-Você gosta dela como amiga, não é?
Minha mãe perguntava enquanto fazia um trabalho de crochê. Aliás, ela me olhava vez ou outra por cima dos óculos.
-Mãe, eu... Não sei... - Eu queria contar, mas não sabia se era o momento.
Minha mãe largou o crochê e segurou gentilmente minhas mãos:
-Minha querida, eu não quero me meter na sua vida e nem parecer preconceituosa, mas eu entendo sua confusão, você nem sequer namorou algum rapaz pra saber se realmente é isso que quer...
-Mas mãe... Eu já sou adulta... Eu não admitiria que a pessoa que eu mais amo, que é a senhora, fosse contra eu me apaixonar por alguém que me faz bem...
-Bella, eu nunca disse que sou contra. Apenas que gostaria que você pensasse a respeito. Talvez desse uma chance praquele seu amigo, o Rodrigo. Só pra ter certeza. Mas se decidir que mesmo assim, está interessada numa mulher, eu terei que aceitar...
Eu fui dormir pensando no que minha mãe falou. Eu amava Cássia e não tinha dúvidas disso. Foi amor a primeira vista, eu já sonhava com ela há muito tempo. De qualquer forma, deixaria que minha mãe acostumasse com a ideia.
Antes de dormir, passei uma mensagem de Boa noite para Cássia. Não contei a ela, a conversa que tive com minha mãe. Queria poupá-la disso.
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Dois meses se passaram do meu namoro com Cássia. Minha mãe sabia de tudo, mas nada falava. Parece que ela ignorava que eu estava tão apaixonada por Cássia, e a tratava como minha amiga, quando ela ia lá em casa. Era por isso, que ela evitava tanto ir lá. Muitas vezes ainda, minha mãe insistia para que eu falasse com Rodrigo, que o procurasse. Isso me machucava muito, mas eu evitava falar, apenas a ignorava, assim como ela ignorava a aliança no meu dedo.
Eu passava mais tempo com Cássia, em sua casa, do que na minha própria casa, pois aos finais de semana, saia na sexta, no fim do expediente e voltava no final do domingo.
Em uma sexta-feira, Cássia me buscou no hospital e me fez uma surpresa: Me presenteou com um lindo vestido vermelho, justo e me levou para um restaurante fino, o mais caro da cidade.
-Nossa, a que devo tudo isso? -Disse depois que o garçom saiu.
-É só uma surpresa, você merece. Pra comemorar os dois meses de namoro... - Disse sorrindo. Não sei por que, mas senti algo estranho em sua voz.
-Obrigada então. -Sorri também.
Ela passou a mão em minha perna, por baixo da mesa, antes de responder, dando uma piscada logo ao fim da frase:
-Não me agradeça agora a verdadeira surpresa será quando a gente chegar em casa.
Continua...
