Ele era meu vício.
Um tipo de droga que eu precisava de dose diária, que não suportava ficar um dia sequer sem consumí-la, porque o corpo doía, pedia.
Então, as doses precisaram ser aumentadas a cada dia...
Nossa química era perfeita, nossos corpos se encaixavam e respondiam prontamente a cada estímulo, com ou sem toque... perto ou longe. Nada que eu tenha vivido antes.
Nossos encontros eram sempre perfeitos, nosso sexo impecável em cada uma de suas versões: selvagem, com puxões de cabelo, arranhões, tapas, seja no estacionamento, na piscina, no carro em movimento, na rua... ou devagar, sentando com carinho, rebolando devagar ou enquanto nos olhávamos nos olhos e eu observava sua cara de prazer, de tesão.
Com o passar dos anos e com algumas mudanças na minha vida e na forma como eu encarava as mudanças que ocorriam na vida dele, eu percebi que eu conseguia sobreviver sem aquele consumo diário.
Além disso, as doses foram diminuindo e apesar das reações do meu corpo, reagindo àquela redução, eu estava sobrevivendo.
Alguns dias eram mais fáceis, em outros a abstinência gerava um efeito catastrófico, mas eu sobrevivia. E com isso, a desintoxicação passou a ser um processo lento, mas contínuo.
A cada período mais difícil, eu voltava mais forte e aqueles efeitos que ele gerava no meu corpo, só de se aproximar e me olhar, já eram frágeis. Não tinham mais o mesmo efeito sobre mim e eu conseguia resistir!
Sem as minhas iniciativas, minhas provocações, ele foi deixando de fazer coisas que me encantavam, que geravam em mim aquele efeito viciante, de sempre desejar mais.
Eu percebi que ele já não era mais o mesmo. E então, o que era difícil, passou a ser mais fácil.
Eu passei a conseguir ficar meses sem qualquer dose diária e apesar de ainda sentir a falta dele, todos os dias, seria impossível voltar a me viciar novamente daquela forma, pois aquele cara pelo qual eu me apaixonei tão rápido e tão facilmente, que topava todas as minhas loucuras e aventuras, já não existe mais.
As escolhas mudaram, as vontades mudaram e as prioridades também. Para os dois.
É claro que nos deixamos muitas marcas, boas e ruins e tudo poderia estar sendo muito diferente do que é hoje.
Mas agora não importa quanto tempo passou, não importa o quanto eu queria que tivesse dado certo... e deu certo, pelo tempo que existiu.
Agora é hora de desapegar do que eu queria e está tudo bem, porque eu também já não sou mais aquela mesma pessoa.