A vida quase nunca é uma coisa justa.
Veja por exemplo o caso de Amanda.
Linda de um jeito que menina nenhuma deveria ser, suas curvas já causaram mais acidentes que muita rodovia mal sinalizada. Uma menina de quase 1,70 metro, pele sedosa e clarinha como se nunca tivesse se exposto ao sol, dona de coxas roliças e bunda perfeita, era o paraíso daqueles que eventualmente estavam acordados quando usava a academia do condomínio, a barriga lisa e a cintura fina como se tivesse nascido de espartilho impressionam de longe, seios médios e firmes, de mamilos pequenos e rosados, cabelo castanho escuro cortado a Chanel, olhos castanhos esverdeados, nariz lindo como se esculpido à mão, lábios cheios e o sorriso mais perfeito que qualquer ser humano já viu.
Academicamente era quase um gênio. A facilidade em adquirir e apreender conhecimento era algo fora do comum, nunca em seus anos de estudo tirou menos que a melhor nota possível.
Se tivesse talento, seria a mais requisitada modelo para tudo, desde passarela a exposição de carros de luxo, mais de uma vez fora convidada a se deixar fotografar para todos os tipos de revistas, agências do mundo inteiro sonham com alguém como ela.
No entanto, Amanda não usufruía desses benefícios, muito pelo contrário, ela fazia de tudo para não chamar a atenção, saia de casa somente quando inevitável e era talvez a pessoa mais solitária que qualquer um aqui poderia conhecer.
O problema com essa menina perfeita é a mais profunda e infeliz timidez.
O caso era tão sério que a pobre menina quase não tinha amigos, obviamente ainda era virgem apesar de estar na época em que aconteceu essa história em vias de completar 22 anos.
Para tornar a coisa ainda pior, já que desgraça pouca é bobagem, a menina tinha imaginação fértil e além disso era extrema e facilmente excitável. Também por isso andava de cabeça baixa, pois se seus olhos encontrassem algo que despertasse seu interesse – o que podia ser as coxas ou a bunda de um dos rapazes que jogavam bola na quadra do condomínio ou os seios insinuados em decotes de uma colega de faculdade – ela automaticamente ficava vermelha como se todo o sangue de seu belíssimo corpo subisse para as faces.
Mais de uma vez, distraída permitiu que seus olhos mirassem a virilha de alguém que passava, ou de um professor em frente a turma e tentava adivinhar o que havia por trás dos tecidos, se a pessoa usava cueca box ou calcinha, qual seria o tamanho e o formato do pênis ou se se a vítima de seus delírios estaria depilada ou se o clítoris era delicado e saliente como o seu.
Em seu quarto, num cofre embutido na e nem seus pais sabiam a senha, guardava uma coleção de brinquedos com os quais passava horas por dia se aliviando do sofrimento de reprimir tanto desejo.
As únicas pessoas que ela considerava como amigos eram Lucília e Igor, eram quase guarda-costas da menina, ambos estudam na mesma faculdade, moram no mesmo prédio, tem a mesma idade e conhecem Amanda desde o Jardim de Infância.
Igor era homossexual e mesmo que de certa forma a menina pensasse nele como inofensivo, reconhecia que o amigo era um belo exemplar de homem, bonito, perfumado, elegante e sexy, em mais de uma ocasião Amanda ofereceu a ele um de seus orgasmos. E o rapaz secretamente, e muito constrangido, apesar gay, reconhecia – para si mesmo – que se tivesse oportunidade, adoraria tentar algo com a vizinha.
Lucília era um caso mais complicado.
Sexualmente ativa desde os quatorze anos, orgulhosamente hétero, namorando firme um cara que a fazia plenamente satisfeita na cama, reconhecia – também apenas para mesma – que Amanda a confundia. Amava a amiga como não poderia deixar de ser, queria o bem dela, mas não raramente aconteciam momentos em que sentia inveja pela outra ser tão linda, mas isso acontecia raramente, apenas quando estava insegura, o que de fato acabava com sua paz era a imagem da amiga surgir em sua mente em momentos específico, a sós ou mesmo com o pênis do namorado dentro de si, em que Amanda aparecia em seus pensamentos e lhe oferecia os orgasmos mais intensos de sua vida.
Em público todos se comportavam da melhor forma possível, mas em segredo, cada um em seu momento, todos com seus medos, davam vazão a suas vontades e sonhavam, mesmo sem querer, em um dia satisfazer as vontades que várias vezes lhes tirava o sono.
A coisa toda começou a mudar em certa ocasião quando Amanda fora obrigada a participar de uma festa. Apesar de todos os problemas, a menina era vaidosa e quando tinha a oportunidade de participar de algum evento em ambiente onde se sentia segura, gostava de caprichar na apresentação.
Na noite em questão, entrou numa nuvem de perfume Light Blue – Dolce & Gabanna – colocou uma calcinha com tecido suficiente apenas para cobrir a suculente vagina depilada com capricho, subiu em um par de sandálias de salto alto, colocou um vestido rodado que deixava boa parte de suas coxas a apreciação dos afortunados, realçava a cintura fina e com um decote generoso mostrava no espelho para a própria Amanda aquilo que ela pensava como o objeto perfeito para todo tipo de sacanagem.
Sempre perto dos pais, como quem busca proteção, observava discretamente as pessoas no recinto e nada lhe chamava a atenção. Sentia o fio de sua calcinha lhe acariciando o meio da bunda, sua vagina úmida parecia latejar por causa do desejo ainda não satisfeito no dia, a noite estava quente e sem saber o teor alcoólico da bebida doce que experimentou e gostou, quando passava de duas da manhã estava bêbada pela primeira vez na vida. Sentindo-se sufocada pelo calor, pelos efeitos da bebida e pelo tesão que naquela noite parecia quase fora de controle, saiu para tomar ar sem bolsa e sem celular, de ombros retos e bunda arrebitada, andava com a falsa tranquilidade adquirida, ignorando os olhares cobiçosos de todos por quem passava.
O lugar onde acontecia a festa estava localizado a poucos metros de uma grande avenida no Bairro de Pinheiros, zona nobre da cidade de São Paulo e sem saber exatamente como, Amanda quando se deu conta estava na calçada.
Talvez pela dose generosa de coragem líquida ingerida, a menina desfilou pelo lugar movimentado sem perceber para onde estava indo e sem noção ou sem se importar que sua figura chamasse tanta atenção. Depois de algum tempo cansada e desorientada, a rua lhe pareceu ameaçadora e olhando para cima percebeu pelos raios que cortavam o céu que estava na eminência de chover. Com isso e mais as dores nos pés, pois faziam horas que ela estava sobre os saltos, apesar da rua escura e quase deserta, sentou em um ponto de ônibus imaginando que a qualquer momento se sentiria melhor e poderia encontrar o caminho de volta para a festa.
Ela não saberia dizer se cochilou ou o que foi, pois de repente se assustou com o barulho ensurdecedor de um trovão e a chuva que caia torrencialmente a sua volta. O medo e mais o estado embrigado a fazia sentir-se doente e Amanda sentada ali, sozinha naquela cobertura improvisada abraçou o próprio corpo que tremia apavorado.
Nesse instante passa um carro por ela, que obviamente não percebeu, bem como também não notou quando o mesmo veículo fez a volta no quarteirão e passou novamente, parou alguns metros adiante e voltou até se posicionar o mais perto possível. Dele saiu um homem, mais tarde a moça descobriria se chamar Arthur, ele saiu do carro sem se importar com a chuva, sentou perto dela e assim que sua presença foi notada e ele olhou mais atentamente para a menina que lhe chamara a atenção pela beleza, percebeu o quanto ela estava apavorada, então, apenas lhe ofereceu um sorriso, mas não tentou se aproximar.
Arthur parara ali por imaginar que fosse uma garota de programa, serviço que passara a contratar depois do divórcio e para fumar, pois não gostava que seu carro cheirasse a cigarros.
A chuva persistia e Amanda arriscou lançar novo olhar ao seu companheiro de ponto de ônibus. Ele novamente apenas sorriu para ela. Na vez seguinte em que seus olhos se encontraram ele arriscou dizer “oi”. Mas só depois de se olharem mais duas vezes Amanda conseguiu responder o mesmo cumprimento num sussurro.
— Está perdida, menina? - perguntou Arthur com cuidado e sem se aproximar.
O termo despertou a curiosidade de Amanda que quando olhou de novo para o outro lado do ponto viu um senhor de beleza simples, levemente molhado, em roupas elegantes e na casa dos quarenta anos.
— Estou bêbada. – Amanda surpreendeu a si mesma ouvindo aquela informação sair de sua boca numa voz típica.
— Quer uma carona para casa? – perguntou Arthur e por incrível que pareça, não havia maldade em suas intenções.
— Não é seguro… – balbuciou a menina com a voz pastosa.
— Quer que ligue para alguém?
Ela demorou um pouco para responder e quando o fez apenas confirmou as suspeitas de Arthur.
— Não lembro… o telefone de ninguém… é por isso que a gente… a gente salva… no celular…
— Quer que chame um uber? – perguntou ele.
— Não é seguro… – disse ela novamente e quanto mais falava mais bêbada parecia – não gosto… de motoristas de uber… nem de táxi… eles olham para mim… eu não gosto… eles me dão medo…
Arthur que era pai de duas meninas pouco mais novas que Amanda logo percebeu o que estava acontecendo e apenas se acomodou melhor no acento de plástico e acendeu um cigarro, disposto a fazer-lhe companhia até que a menina se sentisse melhor.
Não ignorava o quanto Amanda era linda, mas as condições dela tiravam todo o tesão da situação.
Depois de alguns minutos ele se surpreende com a voz dela.
— Você vai ficar aqui comigo?
— Sim. Até você se sentir melhor.
— Porquê?
— Porque preciso de companhia e você parece uma menina legal.
Amanda gostou da gentileza de ele se dispor a cuidar dela, de não dizer que ela estava bêbada e gostou mais ainda de ele não ter insistido em oferecer mais nada. A medida que se acostumava com a presença de Arthur ali, tão calmo, o medo foi diminuindo e ela sem saber de onde tirou coragem chegou mais perto e voltou a falar.
— Eu sou virgem.
Ele olhou para ela como se não entendesse a informação, mas Amanda estava preocupada demais em se livrar daquele peso em seu coração para se dar conta da reação do outro, então, continuou.
— As pessoas olham para mim como se eu fosse um pedaço de carne num espeto. E eu queria ser… não… eu queria não ser mais virgem… queria ter coragem de fazer isso. Sabe? Queria não sentir tanto medo de tudo…
Arthur em silêncio tentava entender que conversa era aquela.
Como assim uma mulher linda como aquela ainda era virgem?
— Acho quer tenho de ficar bêbada mais vezes. Eu nunca falei isso nem para meu terapeuta. Você tiraria a minha virgindade, moço?
— Você teria de estar bêbada quando isso acontecesse? - perguntou Arthur se divertindo com a conversa sem sentido.
— Sim. Eu não teria coragem de fazer isso de outro jeito.
— Então, a resposta é não – disse Arthur olhando nos olhos embaçados de Amanda – Jamais faria isso. Prefiro que as mulheres com quem vou para a cama estejam cientes do que está acontecendo.
— Mas eu preciso… você não entende… eu… tenho… tanta… vontade de saber como é… me ajuda… por favor… - Amanda até tentou continuar falando, mas um cansaço sem tamanho tomou conta e sem notar fechou os olhos. E dormiu.
Arthur teve de estender rápido os braços para impedir que a menina caísse do banco, segurou-a pela cintura e apoiou-a em seu tórax. Cogitou esperar que acordasse, mas a chuva parara a algum tempo e se resolvendo por algo mais confortável e como não morava longe dali, pegou-a no colo e acomodou-a no banco do carona. Chegou em seu prédio em menos de dois minutos e subiu com ela no colo. Colocou-a no quarto que suas filhas usavam quando vinham visitá-lo, tirou suas sandálias e a cobriu com uma manta. Sentou numa poltrona ao lado da cama e olhando para o roto perfeito dela, adormeceu.