Confesso que achei muito esquisito meu irmão chegar com aquela conversa de que estava apaixonado. Horácio não era exatamente o tipo de menino que saia por ai fazendo serenata ou declamando poesia. Mas num dia ele estava na cozinha de casa, acabrunhado e quando vejo o moleque estava falando que estava apaixonado, a gente conversou bastante, ele entendeu que não podia continuar bancando o retardado e resolveu volta a estudar, e se antes já era um moleque meio quieto, depois que voltou pra escola, parou com as palhaçadas com os outros meninos, passou a sair bem menos e estava sempre com um livro na mão.
Apenas meses depois ele volta a falar sobre a Manuela, que se encontraram e ficaram juntos e estavam namorando. E foi como se acontecesse algum tipo de transformação com aquele moleque.
Só a conheci pessoalmente algum tempo depois, mas Tato fez tudo direitinho, foi na casa dela, pediu aos pais dela para deixarem eles namorar, tudo de acordo com uma cartilha que eu nem sabia que ele conhecia.
Soube por minha mãe e minhas irmãs (que pareciam apaixonadas pela menina tal qual meu irmão) que eles andavam pra baixo e pra cima pela cidade na bicicleta, ela sempre empoleirada no guidão e que ela o ajudava com as matérias escolares. Mas não foi isso que me impressionou, e sim, todo mundo dizer que eles juntos pareciam duas crianças, que brincavam e riam alto e se divertiam com qualquer coisa.
Tato nem quando criança fez o tipo que se diverte com qualquer coisa.
A curiosidade me consumia, mas com meus horários e as atividades “extra curriculares” ficava difícil encontrar a “namorada do meu irmão”.
Até que um dia ela apareceu lá em casa no meio da tarde de um domingo quente.
Quando vi aquela menina passando pela porta e parando no meio da sala, a primeira coisa que pensei, meio sem saber direito o motivo foi: caralho… que porra é essa?
Eu sabia que ela era tamanho PP, mas aquilo era ridículo.
Com no máximo um metro e meio, ela parecia uma boneca, eu ficava mais confusa a medida que a observava, desde seus tênis keds branco, a canela, a panturrilha, os joelhos (que por sinal eram lindos também) e as coxas. A menina tinha curvas e não eram curvas inofensivas, e no olhar um tipo de sensualidade que parecia inocente no primeiro momento, mas no segundo te deixava sem ar, mas o mais foda, era que ela não fazia nada que desse a entender, que tivesse consciência desse poder de sedução. Era como ver duas pessoas opostas ao mesmo tempo na mesma criatura, uma menina que ainda lembrava uma criança e uma mulher que exalava sensualidade.
Tudo nela parecia ao mesmo tempo certo e errado.
Era certo se levasse em consideração que ela não era tão criança, mas era errado por que ela parecia uma criança, ainda mais no visual que estava naquele dia, o cabelo com maria-chiquinha, ela com as pernas de fora usando um short branco curtinho, mas decente, e uma camiseta baby look rosa bebê. Era uma criança, mas não era.
Desculpe, gente, comecei a história e nem me apresentei.
Meu nome é Helena, irmã do Horácio.
Como estava dizendo, o Tato fez tudo direitinho foi pedir permissão para os pais dela, devolvia a menina no horário combinado e ninguém nunca soube de os dois terem feito algo que não deveria, mas o pai dela não gostava do meu irmão e como o Tato estava na idade prestar o serviço militar, o pai dela deu um jeito de mexer os pauzinhos e mandar meu irmão para um quartel do outro lado do estado. Tato ficou dividido em várias partes, ele odiava a ideia de ficar longe da Manuela, mas, ao mesmo tempo, estava ansioso pela experiência de morar fora de casa, mesmo que fosse num quartel, outra parte estava feliz, pela chance de cursar uma faculdade bancada pelas forças armadas, se ele engajasse, o que seria talvez a única forma de ele cursar uma faculdade, mas chateado porque isso significaria ficar ainda mais tempo longe da namorada.
E era bonito ver como ele disfarçava perto dela, fazia parecer que não era nada demais, mas eu sabia o quanto ele estava sofrendo.
Uma semana antes de ele se mudar para o quartel, trouxe Manuela para me conhecer. Meus pais e minhas irmãs falavam tanto dela, além de Tato que parecia enfeitiçado, que obviamente eu estava muito curiosa. Mas nada que eu pudesse imaginar corresponderia ao que vi e senti quando aquela menina entrou na sala com um sorriso gigante no rosto e olhando para mim como quem olha para uma personalidade famosa, um ídolo, uma heroína… sei lá… ela parecia feliz.
Ela vestia short branco e curto, camiseta grudada no corpo e tênis, usava maria-chiquinha e estava sem maquiagem. E era linda.
Eu estava no sofá, ocupando todo ele com meu quase um metro de pernas, que nesse dia estavam a mostra, pois sempre fiquei muito à vontade em casa. Era uma típica tarde quente de domingo, minha roupa estava secando no varal então, usava um shortinho de dormir fininho e bem leve, mas que, dependendo das circunstâncias pareceria provocante, até mesmo indecente. Usava também uma regata tão folgada que debruçar se tornava um movimento muito revelador. Tenho seios pequenos, mas não tanto. Só uso sutiã quando estritamente necessário e nunca dentro de casa. E meu cabelo estava solto, armado, como se quisesse fugir da minha cabeça, mas era bem desse jeito que eu o deixaria o tempo todo se fosse permitido pela moda e pelos desocupados que vivem para dar palpite na vida dos outros.
Na época ainda não era tão segura de mim a ponto de assumir meu cabelo solto e o fato de gostar de meninas também. Naqueles dias ainda não falavam de bissexualidade e as lésbicas ainda eram chamadas de sapatão, eram representadas na TV de forma caricata, e as poucas que eu conhecia tinham aquele aspecto masculinizado que nunca me atraiu. Por isso ficava na minha.
Sempre soube que gostava de meninas, mas só quando comecei a namorar um menino, que por sinal, além de ser muito gente boa, ter uma cabeça legal e ser louco pra me ver na cama com outra menina, foi quem mais me ajudou a aceitar que eu podia gostar de quem eu quisesse e sentir prazer com quem me desse tesão, é que a coisa ficou mais fácil de aceitar, de aceitar a mim mesma.
Perdi a virgindade com esse namorado e transamos muito durante todo o tempo que ficamos juntos, e se não era aquela coisa de fogos de artifícios e sinos, era bom, eu gozava gostoso com ele, mas sempre ficava aquela sensação estranha. Não sei como explicar. Era como se ao mesmo tempo que era gostoso, não satisfazia completamente.
Na época, apesar de ter admitido que tinha tesão também por meninas, nunca deu certo de ficar com nenhuma. Terminei o namoro porque ele gostava mais de mim que eu dele, era um cara legal, mas meio ciumento… a verdade é que ele era muito grudento e isso me irritava pra cacete.
Só na faculdade aconteceu de encontrar as condições ideias para enfim, experimentar. E é muito legal quando a gente suspeita que alguma coisa é gostosa e quando experimenta vê que é ainda melhor.
Por isso, posso dizer com propriedade e sem nenhum constrangimento que aqueles foram os melhores anos da minha vida.
A faculdade ficava a quase cinquenta quilômetros da cidade onde minha família morava, por isso nem sempre tinha como aproveitar todos os eventos que aconteciam, não tinha dinheiro para frequentar todos, mesmo que não morasse longe, mas quando se tem dezenove, vinte anos a gente sempre dá um jeito e mesmo tendo de trabalhar na manhã seguinte, passei muitas noites com os amigos em festas, bares, danceterias, em mais de um final de semana viajamos para o litoral só para fazer luau, sempre tinha um churrasco ou um encontro na casa de alguém…
Então, a verdade é que, sem desbancar para a promiscuidade, pois acho esse tipo de coisa muito nada a ver, assim que fiquei com uma menina pela primeira vez, na mesma ocasião me senti plenamente satisfeita e descobri o verdeiro significado da expressão “sexo casual” e como quase todo mundo ali tinha esse tipo de relação, literalmente “tirei a barriga da miséria”.
A universidade, por ser estadual, tinha gente praticamente do país inteiro, e isso facilitou muito a minha vida, eram pensamentos, culturas, formas de ver a vida, de ver o sexo, de brincar e de se relacionar muito diferente daquilo que eu pensava e muito diferente entre si. Como nunca fui tímida, na primeira semana de aula já conheci uns 80% de todo mundo que estava na universidade, não era só o povo que fazia o mesmo curso que eu, conheci quase todo mundo, literalmente.
Posso dizer que o primeiro ano foi um curso intensivo de sexo, em que trepei com quase todo mundo que me dava tesão. Do segundo ano em diante a coisa ficou mais calma, mas, mesmo assim, conheci todo tipo de gente, desde aqueles e aquelas que se apaixonavam ao primeiro beijo, até algumas e alguns que beiravam a ninfomania, transformei em verdadeiras devassas algumas beatas que juravam que morreriam virgens, mas que no primeiro beijo já tomavam a iniciativa de tirar minha roupa, conheci machões que adoravam quando eu enfiava dedos ou brinquedos em seus rabos, e conheci meninos afeminados que no final da noite se acabavam na minha cama. Fui a primeira de alguns e de muitas e a inesquecível de uns e de outras. Ainda hoje, quando o assunto é diversão, penso que numa “boa noite” se não teve sexo, não foi uma noite tão boa.
O mais legal era não ter de fazer isso em segredo, mesmo que a vida de universitário tenha muito daquela coisa de “mundo de fantasia” ainda assim era muito bom não ter de esconder meus sentimentos e prazeres de ninguém, não saia anunciando para o mundo e também não levava todo dia uma pessoa diferente pra cama. Na verdade, apenas os amigos mais próximos e aquelas pessoas com quem transei sabiam das minhas preferências.
Desde sempre fui mais alta e mais forte que a maioria das meninas com quem cresci e isso me irritava, pois tinha a impressão que se eu fizesse qualquer movimento brusco poderia machucar alguém, mas quando comecei a lutar kickbox, com o único namorado que tive, o que mais me atraiu no esporte foi a oportunidade de extravasar toda aquela energia represada em mim. Treinando na academia da faculdade aprimorei a técnica e conquistei o respeito do pessoal, afinal, eu batia com força, mas ao mesmo tempo não tinha nada de sapatão (sempre odiei essa expressão).
Como disse, nunca fui tímida e por isso conheci muita gente, mas amizade é outra coisa e os amigos e amigas que conquistei na faculdade eram aquelas pessoas com quem eu podia ser que eu era de verdade, sem preconceito e sem encheção de saco. Me divertia falando de roupas e maquiagem com as meninas e sobre futebol e vale tudo com os meninos e a gente ria muito juntos. A não ser quando todos os meninos estavam de olho numa menina e ela preferia ficar comigo, aí eles “pegavam mal”. Mas no outro dia estávamos de bem de novo.
E por incrível que pareça, quando vi Manuela me olhando com aquele sorriso espetacular, o que pensei foi, que meu irmão ficaria muito bravo comigo, mas eu tentaria a sorte com aquela criaturinha linda.
O foda era que, apesar de na faculdade eu ser “conhecida” como a bissexual gente boa que se dava bem com os meninos e com as meninas, em casa não falara daquilo pra ninguém, tinha certeza que o Tato desconfiava, ele podia ser tudo, mas não era nada bobo.
Ia ser meio complicado desenvolver aquela história.
Manuela e eu nos demos bem de forma instantânea. Ela sentou comigo no sofá e ficamos conversando durante horas. Tato ficou meio putinho de ela dar atenção pra mim, mas, pelo jeito, ela fazia dele o que bem entendesse. Perceber isso me deixou meio na bronca, proteger meus irmão era algo instintivo em mim, mas percebi também que ela tratava meu irmão como se ele fosse algum tipo de divindade, então, como eles estavam na mesma onda e do jeito deles pareciam se entender, não pensei mais nisso.
A cada novo encontro com Manuela mais na dúvida eu ficava. Aquela sensualidade em seus olhos, a forma como molhava os lábios, a forma como meu irmão olhava para ela como se estivesse o tempo todo se controlando para não agarrá-la na frente de todo mundo, isso tudo misturado com o jeito infantil dela, o jeito como dependendo da situação ela parecia a mulher mais gostosa do mundo, mas no momento seguinte era uma criança que você convidaria para pular amarelinha na calçada em frente de casa, estava me deixando maluca.
Sem contar que, alguma coisa me dizia que ela tinha plena consciência de tudo que despertava nas pessoas.
Como não podia deixar de ser, a medida em que a conhecia mais, mais gostava dela, Manuela é aquele tipo de pessoa por quem a gente se encanta sem nem saber como, não estava apaixonada e nem nada, gostava dela como namorada do meu irmão e até como amiga, apesar de ainda não termos trocado confidências sérias.
Se não a visse, conseguia pensar nela como uma menininha lindinha e meiga que namorava meu irmão.
Mas era chegar perto dela e me dava uma vontade de beijar sua boca que em alguns momentos, quando me distraia, acabava encarando os lábios dela com desejo.
Dias depois meu irmão foi para o quartel e, com certeza por culpa do pai dela, ficou impossibilitado de voltar para casa nos três primeiros meses. Passei a vida toda com ele, era natural sentir falta, mas para falar bem a verdade, fiquei surpresa ao perceber o quanto sentia a falta dele. A primeira semana foi normal, a segunda também, mas na terceira semana, mesmo ele dizendo pelo telefone que estava tudo bem, eu estava cada vez mais preocupada.
Sou o tipo superprotetora com o Tato e com minhas irmãs e não me interessa se tem dez ou cem anos, vou sempre me preocupar com eles.
No sábado que completaria um mês que Tato estava longe, logo cedo, ainda não era nove da manhã, ouço alguém chamando no portão. Estava acordada por que estava, não sou de perder o sono, mas quando acordo cedo, saio da cama e vou fazer alguma coisa, e naquela manhã não foi diferente. Estava sentada na minha cama, lendo uma apostila da faculdade, ainda com a roupa com que dormira, um short de malha e uma regata, e pensei que se tivesse de atender ao portão seria melhor trocar de roupa. Sabia que minha mãe estaria na feira ou no mercado e minhas irmãs não acordam cedo nos finais de semana nem com terremoto atingindo a casa.
Olho pela janela e Manuela está no portão e mesmo aquela distância dava para notar que alguma coisa não estava certa. Mandei que entrasse e fui recebê-la na sala.
Manuela estava sentada no sofá e quando vi, parecia outra pessoa, ao contrário de como normalmente ela aparecia lá em casa, naquele dia o cabelo estava solto e meio bagunçado, mas não o tipo de bagunçado de quem esteve se divertindo, a cara era de quem não tinha dormido e os olhos vermelhos e inchados denunciavam o choro.
Não era mais aquela menina que estava sempre lindinha com suas roupinhas meigas e keds branco. Ali na minha frente estava uma mulher que sofria.
— Helena… – disse ela e na voz era claro o esforço que fazia para não chorar – não aguento mais de saudade do meu Dinossaurinho…
Se ela tivesse começado com qualquer outro assunto, e se de seus olhos não descessem tantas lágrimas, talvez eu conseguisse manter a pose, mas eu também estava com saudade do Horácio e há dias vinha me segurando, mas naquele momento, sentada ao lado daquela menina que confiava em mim o suficiente para me permitir participar de um momento tão frágil, acabei me contagiando por sua tristeza e desmoronei junto com ela e comecei a chorar. Ela tomou a iniciativa do abraço e durante um bom tempo ficamos ali, sentadas, abraçadas e chorando uma no ombro da outra.
Minha mãe chegou e vendo a cara de choro em nós duas, tratou de nos dar o que fazer. Acabou que Manuela passou o dia conosco, levei-a embora quando anoiteceu, mas quando acordei no dia seguinte ela estava de novo no sofá, sentada com minhas irmãs, vendo desenho animado na televisão. Depois disso, no final de semana seguinte ela surgiu com uma mochila e dormiu no sofá e desde então, passa mais tempo lá em casa que na casa dela.
Entendi que ela estava castigando o pai por ter mandado o meu irmão para longe.
Tendo com quem conversar sobre o namorado, sobre a saudade e coisas do tipo, em poucos dias ela voltou mais ou menos ao normal, ainda dava para perceber tristeza e saudade em seus olhos, mas, pelo menos, estava de novo ao comportamento a que eu estava acostumada.
A coisa começou a ficar interessante quando, certo dia, ao chegar em casa no final da tarde encontrei-a na cozinha com minha mãe. Meu irmão me contara que na família dela, depois que os irmãos saíram de casa para estudar, moravam apenas ela e os pais, mas como ambos trabalhavam fora ela ficava muito tempo sozinha.
Enquanto minha mãe sovava a massa do pão no tampo de pedra da mesa, Manuela empoleirada numa cadeira assistia fascinada, como se achasse o máximo ver minha mãe surrando a massa. Pela cara que fazia e pelas exclamações de espanto que saiam de sua boca, parecia imaginar que minha mãe tivesse poderes mágicos para juntar um monte de ingredientes e resultar naquilo, como se massa de pão fosse algo muito fora do comum. Mas era tão bonito vê-la feliz, mesmo que com algo tão simples, que fiquei ali, observando as duas enquanto riam e brincavam com assuntos que eram só delas.
Quando percebeu minha chegada Manuela pulou da cadeira e veio me abraçar e qualquer carinho fraternal que imperasse até momentos antes se transformou em desejo. Eu usava bermuda e camiseta regata, com um top por baixo, estava suada, pois o dia fora um dia muito quente, mas isso não pareceu incomodá-la e o abraço durou mais tempo do que o normal. Ela pediu licença para minha mãe e me puxou pelo braço até a sala, minhas irmãs estavam no tapete fazendo a lição de casa e a televisão estava ligada, mas sem som, as meninas levantaram a cabeça e deram um sorriso para a cunhada e voltaram a atenção para o que estavam fazendo.
Sentamos no sofá, e ela se esticando toda se aproximou, quase colando a boca na minha orelha e perguntou, num tom tão despreocupado que fez parecer que não era nada demais.
— Helena, você tem tesão em meninas?
Nem preciso dizer que tive um pequeno infarto quando ouvi aquilo e me afastando dela fiquei olhando em seus olhos tentando achar um jeito de disfarçar depois ter reagido daquele jeito. Manuela sorria como se ela fosse a mulher madura e eu a menina inexperiente, me olhava com paciência e mudou a posição em que estava sentada de modo que seu corpo ficasse entre eu e as minhas irmãs, eu apenas a olhava assustada, sem imaginar o que ela pretendia.
Sua mãozinha subiu pelo meu braço me arrepiando inteira, como se fizesse parte do movimento ela fez uma pequena pausa para acariciar meu seio e continuou o caminho até parar com a mão no meu ombro. Eu estava com os olhos arregalados, assustada que ela estivesse fazendo aquilo, ali, na sala, com a minha mãe na cozinha, perto das minhas irmãs, mas ela continuava agindo como se não estivesse acontecendo nada demais e também por isso eu já estava com a calcinha molhada.
Mais uma vez ela se esticou toda para alcançar minha orelha, colou a boca nela e sussurrou de um jeito tão gostoso que me fez ter calafrios de tesão.
— O gato comeu a sua língua?
Levei um tempo para engolir o bolo que estava na minha garganta e o medo de gritar se tentasse dizer alguma coisa, mas quando consegui me controlar, perguntei.
— Por que está fazendo isso, Manuela? – minha voz não parecia minha, saiu uma coisa estrangulada, cheia de desespero, expectativa e medo.
Estava com tesão por aquela menina desde o primeiro momento em que a vi, mas ela era a namorada do meu irmão e parecia uma criança, então, tudo isso bagunçava a minha cabeça.
— Estou sem gozar desde que o Dinossaurinho foi para o quartel, – disse ela tão baixinho que eu tive de chegar mais perto para ouvir – estou ficando louca, sempre te achei uma mulher linda, essas suas pernas me deixam alucinada e faz tempo que percebi a forma que você me olha.
— Mas e o Horácio?
Por questão de segurança, pois, por mais excitante que fosse ter aquela conversa a dois passos das minhas irmãs, eu já estava tremendo, levantei e agarrei seu braço e levei-a para o quintal. Nos sentamos no banco e ela logo veio passando a mão pelas minhas costas, me abraçando pela cintura e me puxando em direção a ela. Como Manuela é muito menor que eu, me senti segura para olhar para ela, desde que mantivesse a cabeça erguida ela não poderia fazer muita coisa. Ela percebeu minha intenção, riu e respondeu a pergunta.
— Vamos imaginar que a gente brinque juntas, você e eu. A gente conversaria primeiro, eu explicaria que por mais deliciosa que fosse a brincadeira eu jamais largaria meu Dinossaurinho e aí você escolheria se quer brincar ou não.
— O meu irmão concorda com isso? - perguntei tentando ganhar tempo.
Ela percebeu meu desconforto e se afastou um pouco, mas mesmo que ela fosse para o outro lado do planeta o estrago já estava feito. Eu levaria aquela menina pra cama, isso era certeza, só precisava primeiro ter a “conversa” que ela prometera. Precisava entender.
— Nem eu e nem o seu irmão pretendemos sair por aí trepando com todo mundo, mas a gente combinou que tesão é uma coisa e a relação que a gente tem é outra totalmente diferente. O Dinossaurinho é meu, mas se por um motivo ou outro a gente não puder ficar juntos, ele pode comer outra menina, isso não muda o fato de que ele é só meu. E o mesmo serve para mim, eu posso, principalmente porque agora que ele está longe, ficar com outra pessoa, isso não me fará menos dele. O único problema é que aqui todo mundo me conhece. Não tem como eu olhar para outra pessoa sem que todo mundo saiba. E não quero e não vou permitir que as pessoas façam brincadeiras de mal gosto com meu namorado.
— Só não entendo como você pode ser tão madura em relação a sexo sendo quase uma criança… – fiquei aliviada quando percebi que minha voz tinha voltado ao normal – Você confunde a minha cabeça… uma hora você tenta me seduzir, na outra brinca de boneca com minhas irmãs.
— Por que não posso ter tudo? Ser criança, brincar com bonecas e, ao mesmo tempo ser a menina que gosta de sexo? Uma coisa não exclui a outra. Gosto das coisas de criança e gosto de pensar que assim as pessoas que gostam de mim se preocupam menos.
Ela precisou de quase uma hora para contar sua história, desde que começou a se interessar por sexo até o namoro com meu irmão.
— Desde que nos vimos pela primeira vez eu percebi você me olhando do jeito que você me olha, conversei com o Dinossaurinho e ele deixou eu ficar com você. Só não recomendo que se apaixone por mim, nunca vou trocar o Dinossaurinho por ninguém, nunca.
— Eu gosto demais de diversão para namorar… - disse em voz alta sem pensar.
— Isso quer dizer que topa brincar comigo, Leninha, por favor? - perguntou ela e pela primeira vez a percebi ansiosa.
Apenas concordei com um gesto de cabeça, olhei para as janelas da sala e da cozinha e não vendo nenhuma movimentação, puxei Manuela para mais perto de mim, segurei sua nuca com firmeza e beijei seus lábios, enfiando a língua em sua boca. O beijo tinha uma boa dose de fúria pelas tantas horas que ela fez meu sangue ferver, mas a menina entendia do assunto e em questão de segundo tomou conta da situação me beijando de volta com tanta vontade, com tanta fome, que acabei me rendendo, aliviando um pouco a pressão e entrando no ritmo dela.
Ela certamente era algum tipo de bruxa, pois mesmo sabendo dos riscos que corria de ser flagrada por minha mãe ou por minhas irmãs naquele amasso, continuei saboreando o beijo da Manuela por muito mais tempo do que seria seguro.
— Sua mãe disse que posso dormir aqui hoje… você se importa se dormir com você? - disse ela com a boca perto da minha.
Foi o que bastou para me fazer gemer em estado absoluto de desespero.