Eu a avistei próxima à minha casa na primeira vez. Ela passeava com o cachorro. Eu já havia acordado num dia especialmente erótico; há dias assim, nós sabemos. Isso porque não era nada de especial a princípio, mas sua visão me excitou muito: blusinha branca, cabelos cacheados e presos, uma calça de brim justa e havaianas. Era uma mulher de altura média, talvez baixa, mas com belas proporções de brasileira: uma bunda linda. Para mim, não tinha ainda trinta. Aparentemente, havia posto qualquer roupa que estivesse a mão antes de sair.
Eu subia a rua que, no topo, ela atravessava. Deu para perceber, assim, que seus seios eram pequenos e tudo aquilo me pareceu muito proporcional, harmônico… Eu diria, orgânico.
Na noite anterior, havia tentado jogar uma conversa numa mulher jovem, uma funcionária da empresa, de outro setor, quando estávamos em grupo no bar. “Mafê”. Era parecida: baixa, belas pernas, dentes lindos, um pouco mais morena. Cheguei próximo, conhecia alguns do grupo dela, trocamos algumas palavras mas a coisa não avançou. Eu mesmo não sabia bem o que queria na hora. Fiquei na vontade.
Apertei o passo para chegar mais perto dessa garota. Eu só iria tentar dar uma boa olhada, ultrapassá-la e, quem sabe, vislumbrar algo de seu rosto. Puxar assunto a respeito do cachorro? Não seja ridículo… “Só passe por ela e vá trabalhar.” Realmente, era linda. Meu tipo, se isso existe. Passeando com o animal por aqui, certamente é minha vizinha. Vou vê-la de novo, é certo.
No outro dia, não a vi, mas pensei nela no meio da tarde, voltando para casa. Já no seguinte, vi-a subindo minha rua, da janela. Mesmo cabelo preso, cor de cobre sob o sol baixo. Vixe, poeta metalúrgico agora. Só podia ser para me matar: um vestidinho leve de verão, que, sem querer, deixava ver um pouco das coxas. Bati uma e ejaculei pensando naquelas pernas e naquela bunda.
No trabalho, encontrei Mafê. Senti que estava na minha: confessou que me estalqueava nas redes de vez em quando. “Que dia é hoje?”, pensei. Não sendo segunda nem terça, já faz sentido sair à noite. Perguntei se ela queria.
“Hum… Vamos sim. “
“Pode ser no Pereira?”
Eu não sou criativo com relação a lugares para se sair à noite, embora tenha frequentado quase tudo em São Paulo. Era um bar tosco, mas lá eu me sentia seguro. Isso é sempre importante. Além do mais, ainda era quinta e eu apostei que ela não queria ir muito longe.
“Beleza. Nos vemos lá?”
Às seis e meia já estávamos dividindo uma Heineken e petiscos, que me fazem parecer menos alcoólatra. Homens com pastas baratas e muheres de saltos vulgares passavam pela calçada, à frente do bar, em direção à estação.
“Arquitetura. É isso que quero fazer. Conhece a Bauhaus?
“Sim.”
“É uma puta inspiração. Adoro design. Você acha que passei da idade?”
“Nada. Você disse que tem… Vinte e cinco, é isso?”
“Vinte e seis.”
“De maneira nenhuma.”
“E você, gosta do que estudou?”
“Me permite ganhar meus trocados.”
Respondia distraidamente, intercalando goles levemente dramáticos.
“Gosto desse seu ar blasé.”
Estava gostoso, um pouco calor. Mas eu já tinha passado dos trinta e tinha me tornado mais objetivo com o tempo.
“Você é uma coisa linda, sabe?”
“…” (Risinho envergonhado)
“Eu tenho uma porção de discos bons em casa e só consigo pensar em ouvir com alguém especial como você.”
Afinal, ela já devia estar na minha e era só uma questão de ter um pretexto.
“Quem sabe? O que você tem?”
“De tudo. Coltrane, Ella Fitzgerald. Tem pop também; um pouco de mpb… Talvez folk.”
Conversa quase fiada, mas com lastro: eu juntava esses álbuns desde os catorze. E essa menina parecia ser meio cult. Acho que a garota lá da rua, pelo seu ar, também, aliás.
“Daqui a pouco preciso ir. Tenho cursinho.”
“A que horas?”
“Bom, já perdi a primeira aula e estou prestes a perder a segunda.”
“Entendi. Mas, veja bem: uma sessão de boa música pode ser mais valiosa do que uma noite de escola.”
Eu não ia forçar mais do que aquilo. Então surgiu um pensamento incontrolável, uma breve esperança de ainda conseguir pegar o passeio vespertino da vizinha. Caí na real, arrependido, e tive certeza de que eu não valia nada.
“Está bem, porque não relaxamos um pouco na sua casa? Tem sido uma semana dura.”
Tomamos um Uber. Por sorte, minha casa não estava o chiqueiro que costumava ficar no meio da semana. Mafê achou interessante o fato de não ser um apartamento.
“Seria um saco ter de reservar um salão de condomínio sempre que eu quisesse fazer um churrasco. Quer tomar alguma coisa?”
Eu achava ridículo aquele protocolo, parece filme americano. “Oferecer um drink”. Como se a gente já não estivesse alto.
“Me dê um copo d’água.”
Servi a água e quase pus um álbum em que Fitzgerald canta acompanhada de Joe Pass; mas logo comecei a achar que essa menina era mais Chico Buarque. O toca-discos chinês estava com a rotação estranha, mas achei que passaria batido. Sentei-me ao lado da garota e perguntei o que achava do som.
“Bom. Sofisticado”.
“O que você costuma ouvir?”
“Um pouco de tudo, também”.
Mafê começou a parecer um pouco nervosa. Tinha um objetivo, portanto. Estava com as pernas cruzadas sob a saia, e eu conseguia ver só até seus joelhos. Também estava com o tronco um pouco voltado para mim, numa posição que eu achei um pouco torta, mas que tinha elegância. Cheguei para perto, ela não recuou; beijei sua boca.
“Você é uma coisa linda.”
“Você já disse isso hoje” _ disse, mais relaxada. “Veja, eu não quero fazer certas coisas hoje, entende?”
“Entendo.”
Beijei-a novamente, mais devagar e mais demorado. Minha mão no limite mais baixo de sua cintura. Percebi que ia se excitando.
“A gente não vai ficar todo torto no sofá se você vier no meu colo. Sem compromisso, juro.”
Pareceu pensar.
“Certo…”
Mafê sentou-se no meu colo, de frente para mim, e, para isso, teve de levantar um pouco a saia. Eu podia segurar sua cintura e ver suas panturrilhas e seus pés. Beijava seus lábios grossos, passava minha língua por seus lindos dentes e cultivava uma bela ereção, sentida por ela através de minhas calças e sua calcinha. Os movimentos se intensificavam. Afastei-me brevemente para olhar, e seu rosto, de olhos fechados, mostrava resolução. Segurei mais firme em sua cintura, ajudando-a a se mover no vai-e-vem. Ia logo chegar ao orgasmo, enquanto eu me segurava. Respiração intensa.
“Não pare…”
Pus a mão sob sua blusa e busquei seu seio. O toque no mamilo, ainda que sobre o sutiã, fe-la mover-se ainda mais rápido e, após dois segundos, contrair-se no pico de seu prazer. Soltou um gemido contido enquanto esfregava-se forte. Então, deu um suspiro, beijou-me brevemente e levantou-se para se aprumar. Olhou-me com um sorriso bonito e delicado. Havia sido intenso, e me sentia um pouco impressionado por ainda não ter ejaculado. Mas, fosse como fosse, ia ter de terminar o processo da minha parte, e não consegui imaginar num jeito melhor do que dentro daquela boca, fixo naqueles olhos. Talvez ela tenha adivinhado meus pensamentos, ao menos em parte.
“Você tem camisinha?”
“Tenho sim.”
Levantei-me, busquei e voltei ao sofá, no mesmo lugar, entreguei-a e aguardei enquanto ela continuava em pé na minha frente. Ela tirou os olhos de mim só para dar atenção à embalagem. Pediu que eu abrisse o zíper. Entregou-me o preservativo, no que o coloquei.
Mafê, então, pegou uma almofada do sofá e a usou para ajoelhar-se. Queria me dar o prazer mais intenso que sua moral, recato ou fosse o que fosse, permitiam naquele momento. Molhou os lábios e alcançou meu pênis com sua boca. Começou movimentos de vai e vem, primeiro mais devagar, e daí, um pouco mais rápido. Aquilo fazia sua bunda se mexer. Parou um pouco e me olhou de novo.
“Achei que fosse terminar na hora!”
“Estou quase lá…”
Voltou a abocanhar meu membro, e, agora, foi um pouco mais fundo. Seus cabelos cacheados pousaram sobre mim e me lembrei… Da garota da rua. Fiquei duro como nunca.
“Isso… Continua!…”
Não houvesse aquela camada de borracha, os jatos teriam ido fundo em sua garganta. Contive-me e não segurei sua cabeça, mas pedi que não parasse. Mafê, meio sem querer, acabou usando um pouco a língua, e aquilo foi demais. A ejaculação continuava e enchia a camisinha.