Carlos continuava sua rotina diária de tédio, prostrado diante da televisão, com um controle na mão esquerda e o celular na direita, enquanto maratonava mais uma série desses serviços de streaming, tentando ignorar a proximidade irritante de sua cadeira de rodas. Os pais se ajeitavam para uma ida ao mercado, o que significaria, na verdade, que iriam também à feira de hortaliças, à igreja, para deixar as últimas doações e na casa da irmã de Carlos, Aline, aonde iriam almoçar, ficar com os netos e tirar um cochilo merecido, antes de voltar para casa.
— Filho, vou deixar a chave escondida naquele buraquinho do muro, tá bom? Avisa à Renata aonde está, ela vai saber. — Carlos ouviu a voz bondosa e controlada da mãe. Estava preocupada com ele. Tentou, com todas as forças, responder de tal forma que o tirasse da cabeça dela.
— Pode deixar, mãe. Fica tranquila, vou ficar bem.
Senão fosse por seu Túlio, o padrasto que desempenhou o papel de pai, certamente Cristina ficaria em casa para cuidar do filho. Por isso, despediram-se de maneira rápida, evitando a possibilidade de Tulio fazer tudo sozinho.
Logo depois de ouvir o portão fechar, e as vozes dos pais se afastarem, Carlos voltou a atenção para a série, tentando ignorar a visita da fisioterapeuta. Queria muito dizer “nem mesmo sábado eu me livro dela”. Talvez, na presença de alguém, até mesmo diria, dissimulando o carinho nutrido para ela.
Renata estacionou o carro de forma ataboalhada, relando no meio-fio, pintando de branco os pneus direitos. O relógio do painel do HB-20 indicava seu leve atraso, resumido. Por breve três minutos. Tirou os materiais de trabalho do porta-malas bagunçado, já mentalizando as palavras da dona Cristina sobre onde poderia encontrar a chave; terceiro azulejo, contando da direita para a esquerda, a partir da caixinha dos Correios embutida no muro.
Embora não fosse a primeira vez que entrava na casa dos pais de Carlos, ainda encantava-se com a beleza e simplicidade da residência. O jardim, escondido pelo muro pintado, refletia um verde marcante, recheada de plantas resistentes, principalmente considerando-se o inverno seco que dominava a cidade.
Renata o cumprimentou com sua característica simpatia, arrancando um sorriso do rosto carrancudo dele. Em poucos minutos, Carlos refazia os exercícios da fisioterapia, com o auxílio dela. Odiava-os, do fundo do coração; a parte superior do corpo salpicava de suor e dor, enquanto as pernas não davam sinais de voltar a responder aos comandos. Respirava, pacientemente, enquanto a fisioterapeuta o incentivava, ao passo que fazia a contagem:
— Vamo, Carlos, tá acabando; tá indo bem, continua!
Durante o tempo de descanso, eles se distraiam, conversando sobre banalidades quaisquer da vida. Muitas vezes, Carlos gostava apenas de ouvi-la, dedicando-se a admirar a beleza dela.
Ela o conduziu até o banheiro, começando a extrapolar o limite profissional, ajudando-o a se despir. Carlos até fez questão de tapar suas intimidades, contudo, Renata dispensou. Afinal, fazia parte do seu trabalho não se importar com esses pormenores como a nudez. E, também, fazia parte da curiosidade em saber como Carlos era debaixo de todos aqueles panos. Depois de ser acomodado na cadeira própria do banho, Carlos começou o processo padrão de todos os dias, pelo menos duas vezes no decorrer das 24 horas. Lavou todo o corpo, ciente de sua repulsa diante de uma chuveirada mal dada.
Saiu do banheiro trajando seu roupão e a cueca que sempre ficava numa das gavetas. O cabelo ainda estava molhado, mas preferiu que secassem ao natural. Já rememorava o local do dinheiro que os pais deixaram para que pagasse a sessão. Não tinha coragem para pedir a troca de fisioterapeuta. Renata realmente ajudou em sua melhora. Gostava dela, até demais, mas não sentia-se apto para arriscar nada. E, se não tentaria algo, por que raios se sujeitaria aquele platonismo?
Ergueu os olhos, percebendo o ineditismo da situação que se apresentava diante de si, bem como a surpresa, tiraram as palavras de Carlos. Renata, trajando um robe preto de seda, erguia-se imponente em seu salto alto preto ao lado da cama. Admirava, estupefato, a fisioterapeuta, enquanto ela girava rapidamente, como quem pedisse uma opinião. O sorriso dela diante do espanto dele a tornava ainda mais confiante. O desamarrar do robe revelou a lingerie rendada, da mesma cor, e as mais variadas tatuagens que estampavam a pele dela, dos ombros aos pés; uma flecha trespassada entre os seios, uma fênix vermelha voava absoluta entre flores na altura da coxa direita, enquanto na esquerda uma coruja exibia um olhar penetrante para quem a encarasse. Suas costas exibiam uma flor de lótus, localizada entre as escápulas. Nas alturas dos punhos, rosas juntavam-se com as tatuagens hennas das palmas da mão.
— Você tá fantástica...
— Hum, acho que essa é a reação certa. — A voz da fisioterapeuta assumiu uma rouquidão nova aos ouvidos dele. Ela sorriu maquiavelicamente, confiante no plano, o qual corria tal qual esperava. — Deite-se, por favor.
Carlos sentia seu corpo ser consumido pelo medo racional na mesma medida que o desejo carnal. Devagar, rolou sua cadeira até ao lado da cama, de frente para Renata. Mantinha o olhar firme nela, como se procurasse a razão da sensação de ameaça no olhar castanho-esverdeado dela.
Entrou na cama, coberto apenas pelo roupão e pela cueca boxer que usava. Ele apoiou as costas na parede, hipnotizado pela figura completamente estranha que adentrava naquela fortaleza da solidão. Ela engatinhou até onde Carlos estava; tomou o rosto dele pelas mãos e tascou-lhe o beijo suspenso na última sessão de terapia. As línguas se tocaram, misturando o sabor do café e o sabor do proibido.
— Não devíamos fazer isso. Você é minha terap...
Renata o calou com um beijo, respondendo o dilema moral. Mas, ainda havia o dilema carnal à cerca de Carlos;
— Você sabe que não consigo...
Ela sorriu, mais uma vez sabendo a resposta.
— Deixa isso comigo.
A fisioterapeuta levantou-se da cama mais uma vez, com os olhares de Carlos preso em seu corpo. Ele ouviu um barulho de zíper, os objetos sendo revirados no oco da bolsa. Não demorou muito para o retorno dela. As mãos de Renata trouxeram consigo dois frascos, um cinza-grafite e outro próximo do tal do branco-gelo, e um par de luvas pretas.
— Você confia em mim?
Carlos limitou-se a assentir com a cabeça, enquanto Renata enroscava-se sobre o colo dele, o envolvendo em seus beijos, interrompendo-os brevemente para mordiscadelas e lambidas muito bem calculadas, ao passo que ia tirando demoradamente o roupão dele, em meio a afagos e arranhões, bem mirados pelo tronco peludo, ainda com gotas d’água escorrendo pelo corpo dele.
Quando Carlos finalmente relaxou, Renata decidiu apimentar mais a situação. Com a mão direita, deslizou levemente, anunciando a sua chegada com a unha, até alcançar a cueca, em meio aos arrepios dele. Sorriu, orgulhosa de si, ao sentir o leve calor febril começar. Firme, o segurou confiante, apreciando a maciez. Começou levemente a massagem, alternando os movimentos, ora o colocando contra a barriga, enquanto o alisava com a palma da mão, ora fazia o movimento comum. A respiração dele aumentava, em meio a ansiedade e o receio pelo que viria e/ou poderia a seguir. Focava-se no corpo de Renata, acariciando-a depois de tanto querer e tanto negar a simples hipótese.
Carlos sentia um latejar-tintilar crescente tomando o local entre o ânus e o saco, enquanto Renata o tocava. Sorria encantado, reconhecendo depois de tanto tempo aquela sensação. Ainda assim, a preocupação ainda estava lá, temendo o dispersar.
— Vou te deitar, tá bom?
— OK.
Ele respirava fundo, enquanto Renata o acomodava numa posição. Os travesseiros foram colocados no lado desocupado da cama, deitando-o completamente. Ela afastou suas pernas, colocando-se no meio, e trouxe seus acessórios mais perto deles. Calçou a luva de couro pacientemente, lambuzando-a em seguida de um liquido viscoso transparente, espalhando com a mão descoberta. A curiosidade de Carlos estampava seu rosto. Reiniciou o toque de momentos antes, mantendo a velocidade.
— Você confia em mim?
— Sim.
— Eu confio em você. Quero que relaxe...
Renata explicou seu plano, usando o mesmo tom que usava nas sessões de terapia, quando explicava o porquê de determinado exercício ou do aparelho, deixando claro.
— Quero! — Carlos respondeu, desesperado depois de ter experimentado por um momento fugaz o tal do tintilar, ignorando o receio.
Ela sorriu, puxando-o para mais próximo dela, seu quadril próximo do dele. Tirou a cueca dele, acomodando as pernas dele com os travesseiros. Ficou de joelhos, recomeçou o toque, com a mão direita, revestida pela luva, enquanto a esquerda destampava a bisnaga branco-gelo com a habilidade de quem estava muito acostumada com o movimento necessário. Despejou um pouco da viscosidade gelo em sua coxa, e com os dedos, esfregou centímetros embaixo das bolas dele, cuidando para que não escorresse. O corpo de Carlos reagiu ao gel, provocando uma risada dele.
— É gostosa a sensação, não é? — Renata perguntou, provocando-o.
— Muito. — Ele respondeu maravilhado.
— Calma, que eu ainda nem comecei. Prometo que vai melhorar muito mais.
Renata, como uma mulher de palavra que prezava ser, num movimento muito rápido, deitou-se próxima ao quadril dele, abraçando sua perna esquerda, e lambendo a região na qual aplicou o gel, sentindo um sabor levemente apimentado invadindo sua boca, provocando um ardor completamente suportável, ao passo que tomava cuidado para manter a velocidade do movimento com a mão, mantendo-o atento. O gemido de Carlos tornou-se mais intenso, sentindo ela alternar entre a lambida e o assopro refrescante prazeroso.
Ela retornou para a posição inicial. O peito de Carlos subia e descia rapidamente, como nos exercícios de alguns minutos anteriores. Ele nem precisava dizer, Renata sabia que sua promessa estava se concretizando.Pausou o movimento por um instante, colocando lubrificante na mão encourada. Esfregou, massageando principalmente o bumbum dele, espalhando por toda a região próxima, indo até as virilhas febris.
Antes do ponto principal do plano, Renata resolveu encarar Carlos, na tentativa de encontrar alguma dúvida ou arrependimento nele. Tocava-o pele a pele, o que já o agradava. Ainda assim, havia um quê de pedido em seu rosto.
— Relaxe, Carlos. Olha para mim e relaxe.
Renata, depois de uma breve provocação, que consistia em brincar nos arredores, inseriu seu dedo médio devagar no cu dele, em meio a resistência natural do corpo. Não precisava dos conhecimentos de anatomia da faculdade para reconhecer o ponto que tocou, pouco tempo depois. A mente de Carlos focava-se nas sensações, ao invés da reação de contrair. Ele sentia os primeiros movimento dela dentro de si, conhecendo a sensação. Não doía, como ela prometeu. Escravo da falta, pediu, no sussurro mais audível possível.
A fisioterapeuta sorriu, aumentando o movimento dentro e fora dele, chamando pelo instinto de Carlos, apreciando a sensação em suas mãos; em uma, erguido, como há um tempo não se via, na outra, descoberto, como nunca antes. Carlos, ofegante, contorcia-se de prazer, tentando travar com a mão os gemidos roucos que emitia, sem pudor algum. Renata o controlava em suas mãos, não deixando que ele reprimisse seu prazer, tampouco que explodisse, testando sua resistência. Um pouco antes, parou o movimento da sua mão esquerda, ao mesmo tempo que tirava lentamente o dedo da mão direita de dentro dele.
Ele implorava por mais, só mais um pouco. Renata tirou a luva, atirando-a no chão. Não estava nos planos, mas o que era a vida sem riscos? Ela também o desejava, não? Por isso, tirou os travesseiros, mantendo a abertura das pernas de Carlos. Subiu um pouco na cama, agilmente. Puxou a lingerie de lado, deslizando poderosa e lentamente, sentindo-o dentro de si. Deram-se as mãos e Renata começou a rebolar. Ele admirou a expressão de prazer a tomar, enquanto acompanhava com suas mãos o movimento do quadril dela.
Pararam, ofegantes, bobos e risonhos, apenas quando o dilema carnal de Carlos foi resolvido.