De alguma maneira, sinto que Regina sabia que esse seria o único jeito. A única maneira de voltarmos sem o perigo de recomeçar tudo errado. Mas isso exigiu um enorme sacrifício por parte dela, e meu também...da minha parte, ficar décadas esperando até este momento, com a esfera espelhada cuidadosamente guardada comigo , sempre junto de mim, todo este tempo. Fiquei sozinho, não namorei ninguém, não casei, apenas tentando resolver as coisas pendentes da realidade anterior, para que todos saíssem bem. Mas isto é assunto para outras histórias.
Eu estava em uma pequena praça da minha cidade, uma praça que foi cenário de vários bons momentos da minha vida quando solteiro, e também com ela. Passei anos e anos calculando e imaginando, quando seria o momento perfeito, o “instante decisivo” da minha vida atual e da nossa vida futura. Quando seria o exato minuto onde eu poderia mudar o rumo de tudo, para que a vida voltasse ao que era, sem o risco de desabar em uma avalanche de acontecimentos desastrosos como antes.
Avistei os dois, um casal feliz. Desde que nos conhecemos, sempre fomos um casal feliz. Ela foi em direção a uma loja, ele ficou aguardando do lado de fora. Ou melhor...eu não deveria ter dito “ele” e sim, “eu”. Porque era eu mesmo que estava ali, aguardando Regina. E eu , embora décadas mais velho, ainda era eu, embora em outro corpo. Se Regina me visse, jamais acreditaria, mas eu tinha a certeza de que eu mesmo – meu eu mais jovem - entenderia.
Aproximei-me de mim mesmo, ainda jovem, com muitos anos felizes pela frente ainda, até que os fatídicos eventos desencadeados pela nossa entrada na Irmandade mudassem tudo, culminando com um final trágico.
“- Boa tarde” disse eu... “- preciso lhe dar algo, é muito importante”. E, sem lhe dar tempo para pensar, entreguei-lhe na mão a esfera espelhada que continha Regina. “- Por favor, não derrube, cuide dela porque , se você considera Regina quem você mais ama no mundo, deverá fazer isso” . O meu eu jovem me olhou, e perguntou: “- Mas por que? Por que isto é importante? E como você conhece Regina?”
“- Sei que você e Regina gostam muito de ler ficção científica. Asimov, Bradbury, Clarke...e você estuda esoterismo...já estudou muito mais, há alguns anos ”
“- Sim, mas...”
“- Se você acredita minimamente na possibilidade de uma viagem no tempo, e em projeção astral, que sei que já praticou, escute o que vou dizer, porque meu tempo é curto.”
Continuei:
“- Sei que não pareço com você, mas eu sou seu eu futuro, em outro corpo. Lembro de tudo o que você lembra, e muito mais do que isso, porque vivi sua vida futura”
Então, contei alguns acontecimentos da minha ( nossa) vida, poucos mas marcantes, e coisas que ninguém mais saberia. Perplexo, meu eu jovem falou:
“- Ninguém mais poderia saber isso, a não ser eu mesmo! Acredito!”
Na verdade, eu não tinha ideia do que aconteceria. Se eu iria morrer de velho, deixando meu eu jovem seguir sua vida com Regina até o momento em que a esfera abrisse e ela se lembrasse de tudo, ou se algo diferente iria acontecer. Eu prossegui:
“- No futuro, você desenvolveu a habilidade de projetar não apenas o corpo astral, mas também a mente na de outras pessoas, isso salvou nossas vidas, minha e de Regina, várias vezes.”
“- Então no futuro eu continuo com Regina”, meu eu jovem ficou feliz com a notícia.
“- Sim, mas para isso, você deve evitar contato com o Walter, nosso amigo de colégio...seria complicado explicar...mas esse contato vai desencadear...”
Nisso, Regina apareceu na porta da loja, ela estava com um pacote nas mãos. Eu não sabia o que fazer. Minha vontade era correr e abraçá-la, beijá-la, mas ela jamais iria entender. Então, entrei na minha própria mente.
Agora eu via o meu corpo idoso me olhando. Regina olhou mais alguma coisa na vitrine, e começou a vir em nossa direção.
Meu outro corpo , vagarosamente, foi desfalecendo, como um marionete cujas cordas foram cortadas. E mais: Foi se desfazendo, tornando-se a névoa rosada que eu tanto havia visto, com seu perfume característico. Afinal, a pessoa que eu havia incorporado havia morrido décadas antes, e certamente - só então entendi - havia sido substituída por um corpo materializado pela essência divina , graças à deusa Zarya, que também sacrificara sua virtude, dando seu sangue para que eu voltasse à vida, nesta vida.
Regina estava confusa.
“- Achei que havia alguém aqui com você... mas sumiu! Quem era?”
“- Um senhor idoso... me deu isto.”
“- Que bonita! Parece uma bola de cristal, mas é espelhada! Quanto custou?”
“- Quase nada...” Olhei para o sigilo, bem pequeno, na esfera. Quando seria o momento certo para abri-la? Afinal, eu havia me mesclado comigo mesmo, apenas as memórias de tudo o que aconteceu vieram instantaneamente, como um turbilhão.
Eu lembrava claramente do homem idoso chegando, e do que eu estava fazendo um pouco antes de chegar na praça com Regina, então era eu mesmo. E também lembrava dos anos que passei aguardando e observando, até que achei ser o momento certo.
“- Amor, você está esquisito. Você está bem?”
“- Estou... é que lembrei de umas coisas...” E eu não estava mentindo.
Abracei minha esposa e a beijei. Era estranho, porque, ao mesmo tempo que eu havia aguardado décadas para finalmente voltar a abraçá-la e beijá-la, eu lembrava claramente que havíamos feito amor bem gostoso algumas horas antes.
Finalmente, eu estava com Ela. Mas... e a esfera? Será que Regina iria entender? Que era ela mesma? Será que ela gostaria de saber o que aconteceu em uma vida futura, em outra realidade possível? Porque, se tudo desse certo, esta seria uma outra realidade, sem os “inomináveis” ( no decorrer dos anos, decidi que apenas pensar no nome deles poderia atraí-los ) , sem o Mosteiro, sem o Castelo, sem a Irmandade Vermelha. E sem sessões de sexo selvagem.
Eu teria que contar a ela,e também teria que aceitar se ela se recusasse a abrir a esfera. Mas também havia a possibilidade de não acontecer nada...não, eu não podia pensar nisso, seria duvidar da Deusa. Mas quantas vezes duvidamos, principalmente em momentos difíceis de nossas vidas?
Naquela praça, havia uma loja de artigos esotéricos, vi uma bola de cristal com um suporte muito bonito, dourado ,com pedrinhas que imitavam rubis, e comprei.
“- A gente coloca a esfera aqui, e guardamos a bola em outro lugar.” Fomos para o estacionamento pegar nosso carro.
Chegamos em casa, era uma tarde de sábado.
Uma parte de mim lembrava do sexo gostoso na noite anterior, mas a outra ansiava por ela há quatro décadas. Não tive dúvidas, e a abracei e beijei mais do que com paixão, foi quase desesperadamente.
“- Nossa, amor, que fogo!”
“- Querida, meu amor, eu te amo tanto! Você nem imagina... “ Mas eu não podia dizer tudo, não ainda.
“- Ai , falando assim eu topo tudo!” Ela riu.
Mesmo ansioso, fui tirando a roupa dela lentamente e com muito carinho. Ela parecia impressionada.
Tirei seus sapatos, sua blusa, seu soutien, sua saia, sua calcinha, e a vi totalmente nua, após tanto tempo. A parte de mim que ficou sem Ela por décadas chorava por dentro.
Beijei cada parte do seu corpo delicadamente, depois lambendo e mordiscando, pressionando seus pontos do prazer.
“- Ahn...amor... que tesão... onde aprendeu a fazer isso...desse jeito...?”Nós dois havíamos aprendido muitas técnicas diferentes nas Irmandades e Ordens que participamos...mas apenas eu lembrava.
Quando abrir a esfera, então?
“- Regina, amor da minha vida...a mais bela, a mais inteligente, a mais maravilhosa...”
“- Nossa...amor...você está muito esquisito...mas NÃO PÁRA! NÃO PÁRA!”
Apenas com essas carícias , sem estimular o clitóris ou penetração, ela teve um orgasmo forte. Então, desci com a boca até sua bucetinha, lambendo, chupando, sorvendo avidamente. Passei para o clitóris, extraindo dela mais orgasmos, prolongados e seguidos. Ela delirava.
“- Aiiii amor, aiiiamor, aiiiamor....”
Então, eu penetrei sua bucetinha, ela ficou como que alucinada.
“- AHHHHHAMORAHHHHTÔGOZANDOOOOOOO!!!!!
Eram orgasmos muito intensos e longos, eu não recordava se ela gozava desse jeito, nessa época.
Ela finalmente desfaleceu e caiu na cama, relaxada.
“- Ah querido... essa foi demais...diferente...”
“- Resolvi tentar umas coisas novas...” Ela sorriu.
“- Ah amor, você me agrada tanto...”
Peguei nas nádegas dela, acariciando e apertando, e acariciei seu cuzinho.
“- Querida, você está muito cansada? Porque...”
Ela entendeu na hora, e empinou a bundinha. Peguei o lubrificante, passei bem no anelzinho e no meu cacete, e coloquei a cabeça lentamente. Ela suspirou.
“- Hmmmm....gostooosooo...”
Depois, enfiei tudo, até minhas bolas baterem nas nádegas de Regina. Passei a bombar e dar tapas, como ela gostava, já naquela época. Coloquei minha mão na frente de seu rosto, ela lambeu gostosamente. Ela gozou forte, dei meu punho para ela morder.
“- HMMMMMMMMMMM!!!!” Ela mordeu com força, deixando as marcas de seus dentes na minha pele. Eu bombei mais, forte, ejaculando forte e prolongadamente no cuzinho dela.
Ela ficou ali, relaxada, e cochilou ao meu lado. Falei a ela para ficar descansando.
Tomei um banho, em seguida vesti uma calça e camiseta, e fui ao supermercado que ficava a duas quadras de casa para comprar pão, Regina disse que iria fazer uns bifes para o jantar, e tomaríamos um vinho.
Era uma sensação muito diferente, continuar o mesmo, mas subitamente lembrar de coisas que aconteceriam em um futuro paralelo. No entanto, eu estava ali. E com Regina, o que era a coisa mais maravilhosa de todas. Só faltava abrir a Esfera Espelhada... e a ansiedade me tomava. Qual seria a reação dela?
No supermercado, tocava uma música antiga, com roupagem nova. Pensei em como eu também estava assim. Eu mesmo, de volta ao meu corpo de muitos anos antes. E minha esposa? Estaria ela inteira na Esfera? Ou seria como naquela máquina da Tecnomagia de Waite, apenas uma parte? Não, eu precisava confiar na Deusa, Zarya.
Comprei pão, presunto, queijo, algumas coisas mais, não muita coisa, porque eu tinha ido a pé.
Cheguei em casa, abri o portão, ouvi uma música tocando. Certamente, Regina havia acordado e ligado o aparelho de som.
Quando abri a porta, levei um susto!
Regina estava completamente nua, dançando na sala. Seus cabelos estavam diferentes.
Ela, que nessa época de nossas vidas, era um pouco mais fechada, séria, estava radiante. Parecia completamente diferente de quando estávamos andando na rua.
Isso só poderia significar uma coisa...
“- A esfera!” exclamei.
“- Como você sabe?”
“- Só pode ser!” Eu a abracei apaixonadamente, beijando seus lábios. Ela me beijou sofregamente, mordendo meu lábio, chupando minha língua.
“- Como foi que aconteceu, querida? A esfera...como...?”
“- Você sabe que eu tenho mania de limpeza. Fui colocar a esfera naquele suporte que você comprou, e acabei limpando, passei um poquinho de álcool e...”
“- Apagou o sigilo!”
“- E a esfera simplesmente se dissolveu na névoa rosada.... LEMBREI DE TUDO!” Lágrimas de alegria escorriam pelo seu rosto!
“- Que maravilha, querida!!! Finalmente estamos juntos de novo, por inteiro!”
“- Ah amor... Mas então... o que aconteceu lá? Eu lembro de estar amarrada no Portal, que estava se fechando, e de repente tudo sumiu... como foi? Após fecharmos o Portal, nós morremos ? E como viemos parar aqui?”
“- Nossos corpos físicos se dissolveram, não nós “
Então, contei o que aconteceu, como Zarya capturou a essência dela na Esfera, e como me transportou no tempo e no espaço, para o corpo de um homem rico que havia morrido de overdose. E tudo o que aconteceu nas décadas que se seguiram.
“- Aii amor!!! Quanto sofrimento! Para mim, foram segundos! Então fiquei na esfera todos esses anos?”
“- O tempo é relativo, tanto que estamos jovens de novo e lembrando de tudo o que ainda aconteceria...”
“- Mas e agora? Como vai ser? O mundo vai acabar, e não estaremos lá?”
“- O mundo não vai acabar. Quando voltei, acordei na mente de um homem jovem, mas rico por ter herdado uma pequena fortuna, e que havia morrido de overdose... e com a esfera espelhada na minha mão. Eu lembrava de toda a nossa vida... mas havia vômito por todo canto, aquele maldito pó branco em todo o rosto... não sei se havia sido acidental ou proposital. Sei que a primeira coisa que fiz foi jogar tudo no vaso sanitário.
Nos dias seguintes, fui me inteirando da vida dele. Quando os que forneciam o pó me contataram, falei que havia me convertido a uma nova religião, e iria parar. Dei uma boa quantia a eles para que não me procurassem mais. Era o início da década de 60, então, para fazer o que eu queria, não bastava apenas o dinheiro dele.
Eu sabia quais empresas iriam surgir e dominar o mundo no futuro, e investi nessas pequenas empresas de computadores , algumas ainda funcionando em garagens, mesmo contra as opiniões de corretores de ações que diziam que jamais alguém iria ter um computador em casa. Eu falava que era o meu dinheiro, então aplicava. E multipliquei o capital do homem. Isso me permitiu viajar pelo mundo. Meu dinheiro estava aplicado em contas ao redor do mundo.
“- Mas e o M...”
“- Não fale os nomes deles. Nunca mencione , pode ser paranoia minha, mas cheguei à conclusão que apenas mencionar seus nomes poderia atraí-los de algum lugar.”
“- E Diana? Drake?”
“- Pois é. Tomei o cuidado de, quando chegou a época, ir a Londres. Não falei meu verdadeiro nome, mas consegui falar primeiro com Diana, revelando coisas que apenas ela sabia, e convencendo-a que jamais deveria aceitar entrar na máquina da Tecnomagia. Claro que ela ficou perturbada, mas eu fiz os cumprimentos tradicionais e gestos da Irmandade, e ela me jurou que não entraria na máquina. Falei de seu futuro com Drake, superficialmente, ela se convenceu .”
“- E você não pegou ela?” Era a minha Regina, mesmo...
“- Não peguei ninguém em todas essas décadas. Guardei minha energia sexual para alguma eventual defesa. Depois encontrei Drake. Lembre-se que não sabíamos a localização exata do Castelo.
Mas ele se convenceu, quando dei uma descrição exata de todas as partes que havíamos visto, desde o pub, os quartos, as masmorras, os refeitórios, a enfermaria de segurança... aí falei sobre os safados. E o outro.
Ele teria que evitar que eles fizessem o que, ao final, fizeram, quase acabar com o mundo.
Drake, no entanto, me falou que, para isso, deveria haver uma energia sexual imensa, impossível de conseguir. Aí eu disse que havia visto um futuro onde isso havia acontecido, e descrevi fatos sobre ele, Dee, Crowley, Wolfe, Hawke, Price, Sands e Heller que o deixou assombrado.
Obviamente, sabendo de tudo isso, ele pensou em me deter e transferir para a ala de segurança máxima do Castelo, mas usando minha habilidade, eu ‘desapareci” bem na frente dele, deixando em seu bolso uma carta, agradecendo pela amizade dele e Diana nessa outra realidade.”
“- Nossa amor, quanta coisa!”
“- Eu tinha que resolver mais coisas ainda. Através de projeção astral, contatei Mestre Crítias no Templo Oculto, falando sobre os sacrifícios canibais e Hephaistos. Ele foi quem mais rapidamente entendeu tudo. Também procurei Pierce no seu Templo de Eos, e lhe entreguei uma carta, detalhando como contatar a Deusa com quem ele viveria.”( aí gente, só lendo os episódios anteriores...)
“- E a Val...ela você pegou”
“- Não. Mas falei com ela na década de 70. Contei dos perigos da Irmandade, descrevi os vários apuros que passamos, e o que aconteceria com ela se se envolvesse com o...safado...”
“- Ainda fui à Rússia, onde, por coincidência...”
“- Que é algo que não existe...”
“- ...Isso... encontrei a mesma velhinha, Zarya disfarçada, e, além de lhe dar uma imensa quantia para ajudar no seu trabalho oculto, agradeci pelo seu sacrifício. Ela em olhou bem nos olhos, sabia o que eu estava dizendo. Também peguei um guia, que era o Igor Ulyanov...”
“- Karalhov!!”
“- Lembra que falamos que no Brasil ele iria se dar bem? Pois, após minha estada lá, onde avisei secretamente a polícia sobre a seita do polvo assassino, eu dei a ele uma boa quantia em dinheiro e passagens para a Brasil, dizendo que havia muitas mulheres que adorariam um cara como ele”
“- Na carta que enviei a Drake, falei do Ritual que livraria Wolfe e Hawke de sua maldição, que Connor e Laylah – que ainda iriam ir até o Castelo no futuro – poderiam ajudar. E para Price, um mapa dos pontos que poderiam ajudá-lo em seu problema. “
“- Mas essas são coisas que ainda irão acontecer” disse Regina.
“- E não estaremos por perto, se as Deusas permitirem” , falei.
“- Verdade...só que lembramos de tudo. “
“- Acho que podemos escrever um livro, se não, com o passar do tempo, acabaremos esquecendo algumas coisas”
“- É uma boa ideia. Daria um bom livro de ficção.”
“- Só que para nós foi a mais pura realidade.”
E AGORA???FIM???