Quando parecia que tudo estava indo bem , tendo retornado a um tempo anterior à Primeira Iniciação, de repente vi que Regina, minha belíssima esposa, não lembrava de Nguvu. Logo ele, que havia participado de várias experiências que tivemos...e inclusive feito sexo com ela várias vezes.
“- Querida...você não lembra mesmo do Negão? De Nguvu?”
“- Não... não faço ideia de quem seja!!”
“- Mas você lembra da primeira Iniciação na Irmandade...”
“- Claro que lembro! Como se fosse ontem!”
“- Mas quem foi que carregou você no colo nessa iniciação?”
“- Foi um homem forte e musculoso, mas não era Negão...”
“- Regina!!! Então foi uma das realidades alternativas por que passamos! Na primeira, na original, foi um Negão de nome Nguvu!!!”
“- Mas não pode ser!! Meist... o Mago Negro foi destruído! Ele não podia ter feito nada para mudar nossa Realidade!”
“- Mas tem que haver uma explicação! Não pode ter sido Zarya, ela não cometeria nenhum erro deste tipo...”
Regina ficou olhando para mim, como se não acreditasse no que estava acontecendo.
“- Meu amor... eu juro que não faço a mínima ideia de quem é esse Negão...”
“- Querida... você inclusive foi Domme dele, e ele seu Sub por um tempo...”
“- Ah não! Agora eu fui até Domme...tem dó! Iventa outra...”
“- Mas foi, Regina!”
“- Então como é que, quando você fala, eu acho que isso nunca existiu?”
“- Espere...fale de novo isso...”
“- Que nunca existiu?”
“- Só pode ser isso! A Grande Escuridão!”
“- Aiii amor... só de pensar nisso me dá um pavor enorme...”
“- Desculpe falar nisso, querida, mas o pavor que temos da Grande Escuridão era justamente...por...”
( Era muito difícil falar nesse assunto, pior ainda escrever sobre ele)
“...pelo fato de que ela significava a total inexistência, o vazio total...”
“- O nada absoluto... como se...” Ela falou.
“- Como se nada tivesse jamais existido”, concluí.
“- Então você quer dizer que esse..”
“- Nguvu “
“- Nguvu... que ele de alguma maneira... “
“- Não, Regina, não foi de alguma maneira. Ele se sacrificou por você, por todos nós, se jogando na Grande Escuridão, em direção ao Terror do Abismo, com o Cálice e a sua Tornozeleira.”
Regina se desmanchou em lágrimas.
“- Mas... se ele estava com o Cálice e a Tornozeleira, isso quer dizer que ele...”
“- ...Que ele era digno o suficiente para poder segurá-los, e que ele sabia que a energia combinada dos dois objetos poderia paralisar o Terror do Abismo até que eu conseguisse selar definitivamente a Fenda, e fazer com que a Escuridão desse lugar ao Áureo Amanhecer”
“- Mas como você lembra dele e eu não?”
“- Porque eu vi tudo, enquanto fechava a Fenda. Mas espere... Nguvu era um advogado famoso, talvez nesta época ele já tivesse seu escritório“
Resolvi pegar a Lista Telefônica ( nessa época, era assim que localizávamos os telefones das pessoas). Mas não havia nada. Fomos até o computador e entramos na Internet, procuramos nos mecanismos de busca ( eu gostava do Web Crawler e do Alta Vista ), e nada. Telefonei para a Ordem dos Advogados, também nada.
Era como se Nguvu nunca tivesse existido.Esse era o efeito da “Grande Escuridão”. A não-existência.
Então, contei a Regina como eu lembrava dele. E, se ela pudesse, certamente lembraria de maneira diferente, afinal ela havia sentido o caralhão dele dentro dela várias vezes.
Ela comentou:
“Eu lembro do André...”
“- Garanto que você gostava muito mais do Nguvu que do André... e ainda sentia algo por ele, mesmo depois que soube do que ele aprontou, tanto que acabou fazendo as pazes com ele”
“- Vai me dizer que também trepei com ele depois disso...”
“- Em um Ritual...”
“- Ah, não acredito...”
“- Mas ele aceitou o fato de que, embora apaixonado por você, você nunca poderia retribuir do jeito que ele queria, então ele se dispôs a lutar ao seu lado na...”
“- Na batalha final...” Ela ainda soluçava. Era um momento difícil.
Eu a abracei e beijei.
“- Querida...vamos resolver isso... o sacrifício dele vai ser lembrado, vou fazer de tudo para que a memória dele volte a existir. E , já que falamos em Magia, pode ser que consigamos até...”
“- Mas não podemos. Não somos mais o que éramos, eu não sou uma Deusa nem Imperatrix, e você não é um Mago, um Guardião do Universo... somos só duas pessoas com memórias maravilhosas e nada mais.”
“- Mas temos o Livro que estamos escrevendo. Se, de alguma maneira, meus Manuscritos foram alterados, vamos escrever, e, escrevendo, ele de alguma forma terá existido. E será lembrado e devidamente homenageado.”
“- Nguvu... desculpe, amor, mas que nome mais esquisito...”
“- Significa ‘Macho Poderoso’ na língua Swahili.”
“- Como é que eu poderia esquecer um Macho Poderoso? Impossível!!”
“- Mas esqueceu, ou pior, nunca lembrou porque não existiu.”
Nas horas seguintes, fui contando com todos os detalhes tudo o que aconteceu, como foi na primeira Iniciação, quendo eu a vi entrando no Salão no colo dele, os dois completamente nus, depois como ela gozou muito forte, e várias vezes, com o caralhão dele na bucetinha e depois no cuzinho...
Minha esposa ouvia com expressão de surpresa, os olhos arregalados.
“- Ah não... impossível...”
“- Foi assim, querida...bem como estou falando...”
Depois, como eu e você fizemos sexo em público...
“- Ah, isso eu lembro bem, ficamos umas três horas...pode pular essa parte...”
Aí falei do calabouço e de como Nguvu a havia chicoteado, extraindo vários orgasmos, quanto mais ele batia mais ela gozava...
“- Eu lembro das chicotadas, mas era o ...você sabe... mago negro...
“- Hmmm...então, quando Nguvu desapareceu, a outra realidade assumiu... isso não me parece bom.”
“- Amor... mas agora eu também sei que ele existiu...”
“- Não, você na realidade não sabe... você acredita porque eu contei a você. Mas não lembra de nada a respeito dele.”
“- Verdade. E agora?”
“- Não faço ideia. Se eu estivesse lá no Castelo, reuniria os Cavaleiros e iríamos em busca dele, do Cálice e da Tornozeleira. Mas aqui...”
“- Amor... espere... isso só vai acontecer dentro de vários anos. Quando formos entregar o Livro, podemos ver se localizamos Nguvu.”
“- Mas e se ninguém lembrar dele lá também?”
“- Aí fazemos a busca pelo Cálice, é uma coisa já meio tradicional, não?”
“- É uma ideia.”
Regina estava pensativa. Olhava para cima, para os lados...
“- Em que está pensando, Regina?”
“- Como pode ser isso? A Realidade é tão frágil assim?”
“- Pelo jeito é”
Mas, por mais que a Realidade seja frágil, nada se compara ao seu oposto. A não-existência, o Nada, o vazio total. A simples observação do que era, e do que poderia ser, ser eliminado complatamente da existência, provocava um pavor imenso em mim e em Regina. E por isso mesmo era tão difícil descrever os dias da Grande Escuridão.
Os dias passaram. É curioso como a rotina do trabalho diário nos faz acreditar que o tempo passa mais rápido. Obviamente, é umq questão de percepção. Mas é justamente essa percepção que interfere na nossa interpretação de Realidade.
Eu pensava muito nisso ultimamente. Após várias experiências nesse sentido ( descritas em episódios anteriores), estava claro que existiam várias realidades paralelas. E que Regina, de alguma maneira, era uma espécie de “ponto fixo” que, se mudasse para uma outra realidade, continuaria tendo total lembrança de como era sua realidade original. Exceto pela “ Grande Escuridão”.
Curiosamente, quando Nguvu sumiu completamente da existência ( não sei se nesta realidade ou em outras) Regina o esqueceu. Talvez por se tratar de uma não-realidade. E eu lembrei, sabe-se lá por que... talvez pela ação da Deusa Zarya. Aliás, devíamos nossas vidas a Ela.
E foi justamente nessa noite que, após termos feito amor bem gostoso, e Regina dormia, nua, abraçada em mim, que senti um peso sobre nós. Abri os olhos.
Era Zarya ! Aquela mulher linda, de olhos azuis penetrantes, pele bem alva, corpo e pés perfeitos... de repente, lembrei do momento em que estava morrendo e ela veio sobre mim. Ela percebeu e me beijou. Nesse momento, Regina acordou. Zarya tomou seu rosto entre as mãos e beijou seus lábios.
“- Zarya!!” Ela exclamou, tão surpresa como eu.
Senti que, em frente à Deusa, eu deveria me ajoelhar, agradecendo por ter salvo nossas vidas, mas Ela estava sobre nós, e parecia confortável. E, diferente daquela vez em São Petersburgo, nos acariciava suavemente.
Mesmo que Regina quisesse sentir ciúmes, não poderia. Não estaríamos ali se não fosse por Ela.
“- Zarya, nós...”
“- Não precisam agradecer por nada. Fiz o que devia ser feito, com plena consciência das consequências.”
“- Mas...não estou entendendo”, disse Regina, “- Que consequências?”
“- Como eu disse lá em São Petersburgo, normalmente não interferimos nos assuntos humanos. “
“- Ah,Zarya!” Disse eu, “- Você sacrificou sua virgindade para nos salvar, e isso certamente desagradou seu ...”
“- Pai? Ah não!” Ela sorriu. “- Deusas não têm Pai, todas são manifestações da Essência Primordial. Mas é certo que minha função no panteão eslavo incluía meu estado virginal.”
Regina me olhou, não se conteve e murmurou:
“- Você comeu ela!”
Zarya riu.
Eu respondi:
“-Mas eu falei, querida...disse que ela sacrificou sua virtude para nos salvar. E eu estava morrendo. Foi justamente o sangue dela – acho – que permitiu que minha consciência fosse projetada para um outro corpo.”
“- Você fez isso por ele?” Regina perguntou.
“- Não me leve a mal, Roberto” Ela sabia meu verdadeiro nome... “...mas o que fiz, foi por Regina.”
“- Por mim?”
“- Salvei seu marido porque eu tinha a certeza que ele faria de tudo para encontrar o momento certo para abrir a Esfera que continha a sua essência vital, com todo o seu conhecimento, emoções e memória. E é por essas qualidades que eu retornei aqui.”
Eu suspeitei que ela fosse pedir algo em troca...
“- Não pense que as Deusas pedem retribuição pelo que fizeram, mortal.” Ela pareceu contrariada.
“- Não é isso, Zarya...Senhora...se pedisse minha vida agora, eu a daria com satisfação, porque Regina está aqui, salva e segura...”
“- Eu entendi...mas não quero sua vida. Como vocês dois sabem, muitas vezes Deuses e Deusas agem na Terra através dos humanos. “ Zarya nos acariciava e esfregava levemente seu corpo nos nossos, como se estivesse gostando do contato pele a pele. Mas fiquei quieto. Se ela quisesse alguma coisa, era melhor deixar que tomasse a iniciativa.
“- Faço tudo o que pedir, Zarya”
“- Eu também”, falou Regina.
“- Não, Regina...na verdade, Roberto vai precisar trazer você de volta à realidade, em uma existência paralela.”
“- Como assim?”
“- Sei que vocês não estão mencionando os nomes “deles”, mas vocês sabem quem... o pior deles conseguiu alterar a Realidade em um outro plano, onde Regina simplesmente deixou de existir, como ocorreu com Nguvu nesta linha de tempo.”
“- Mas então... ele a jogou no Abismo lá?”
“- Não. Usou Alta Magia. O efeito é similar, mas creio que, se você conseguir resolver o problema lá, poderá ter ideia de como resolver aqui.”
“- Não sei se eu conseguiria, mas pode me enviar até para o Inferno que eu irei feliz, sabendo que minha esposa está bem.” Notei uma lágrima escorrendo no rosto de Regina.
Zarya então falou:
“- Ficarei aqui com ela, enquanto sua mente vai para lá.”
“- Então meu corpo fica aqui...”
“- Certamente. Não posso falar mais nada, mas tenho a certeza que sua engenhosidade e criatividade o farão entender logo o que aconteceu por lá.”
“- Muito obrigado por ter nos salvo, Zarya. Eu nunca poderei agradecer o suficiente.”
Regina me abraçou e me beijou, Zarya também.
Então, tudo sumiu.
CONTINUA