Dizem que quando o amor toca o coração, o sentimento que nasce dentro de nós é inigualável. É como se estivéssemos dando vida a algum sentimentalismo morto há anos. E eu sentia isso, todas às vezes que olhava aquela menina.
Quando os pais de Aurora morreram e a deixaram sob a minha custódia, eu jamais me peguei a olhando com outros olhos, me recrimino até hoje por mudar isso. Infelizmente, algumas coisas, nos impossibilitam de não fazer presente o sentir.
Às vezes, tento arrancar essas vontades e desejos de dentro de mim, já me peguei várias vezes olhando meu reflexo no espelho e dizendo para mim mesma: a tire do seu coração. Na verdade, não queria que ela saísse dali, mas sim que ocupasse outra posição. Queria que fôssemos como mãe e filha, essa era a intenção desde o começo.
Quando Aurora confessou estar apaixonada por mim, eu queria morrer. Desejei com todas as minhas forças que aquilo fosse um tipo de brincadeira sem graça. Mas não era.
"–Eu posso fazer o bolo sozinha Maeve, não precisa ficar me dando instruções a toda hora.
– E te dar a chance de arruinar o jantar com meus pais hoje? Nem a pau!
Digo em um tom de brincadeira mas percebo que Aurora havia se fechado, pareceu ter ficado ofendida.
–Oh meu bem, me desculpe. –Me aproximei dela segurando em seus ombros e fazendo olhar pra mim– Não pensei que estivéssemos falando sério.
Aurora soltou o ar dos pulmões e me lançou um daqueles olhares esquisitos, que por mais que eu me esforçasse muitíssimo, jamais conseguiria decifrar.
–Não gosto quando desacredita de mim. –Sua voz saiu baixa e envergonhada, aquilo me fez sentir mal. Eu não queria que ela se sentisse inferior a nada e não queria que eu fosse a pessoa que a fizesse sentir isso.
–Eu acredito em você. –Segurei em seu rosto e sorri fraco acariciando seus cabelos com leveza.– Aurora, os fatores externos nunca serão o bastante para diminuir a imensidão que você é.
Senti sua pele se arrepiar e mirei seus olhos confusa, abaixei minhas mãos esperando sua resposta e ela veio como um vulcão entrando em erupção. Aurora me puxou de forma avassaladora, me beijou com volúpia e precisão. Seus lábios deslizavam pelos meus de forma urgente e com ternura ao mesmo tempo. Ela beijava bem, muito bem pra idade dela. O que estávamos fazendo? O que ela fez?
–Aurora! –A empurrei sentindo meu sangue ferver ao mesmo tempo que confusão.
Ela me olhava assustada, parecia que nem ela sabia o que estava fazendo. Por que ela fez isso? O que levou Aurora a me beijar? Caralho!
–Me desculpa Maeve! Por favor eu não..
–Por que você fez isso? –Coloquei pra fora a dúvida que me remoía por dentro.
Enquanto olhava pra mim, parecia buscar as palavras certas, e aquele silêncio só fazia a raiva crescer dentro de mim.
–Diz! –A incentivei cheia de ódio
–Não está óbvio? –Perguntou de forma sarcástica–Porque eu te desejo! Eu te amo, te amo como mulher.
Arregalei os olhos perplexa, o que ela estava falando? Será que eu havia feito algo e a deixado confusa? Talvez a culpa daquilo fosse minha. Senti meus olhos marejarem, não sabia como lidar.
–Aurora você é como uma filha pra mim!
–Mas você não é minha mãe! Droga! Se não me quer, diga! Mas não arrume pretextos para negar o meu amor."
Depois daquele dia eu me culpei por muito tempo, cheguei ao ato de analisar meu comportamente para vê se estava deixando algo a desejar, ou se estava fazendo coisas que a fez pensar que eu a quisesse.
Aurora e eu retomamos nossa convivência, mas não era a mesma coisa nunca seria, era um dano impossível de reverter. Porém, com o tempo... eu deixei de me importar. Eu a amava, e jamais me afastaria dela por desejos momentâneos despertados na adolescência. Como Aurora acabará de completar seus 18 anos, imaginei que essas fossem desventuras da idade e me prendi à esperança de que isso fosse passar.
O problema, é que o sentimento começou a crescer em mim também. Isso acarretou vários problemas em mim e no meu relacionamento. Eu estava noiva, prestes a me casar quando parei de sentir atração pelo meu noivo. Não sentia mais nada, não havia desejo,paixão e nem amor. Todas as vezes que estava com ele, eu pensava em como seria viver aqueles momentos com ela. E não me culpo por isso, me culpo por não me sentir culpada.
Não conseguia mais fazer amor com o meu noivo, tentamos até terapia de casal. Mas não deu certo no final. Terminamos com muita relutância da parte dele, Gael insistira em dizer que isso passaria, que iríamos consertar as coisas...
Mas eu percebi que não havia nada quebrado ali, não tinha o que consertar. Era apenas eu e o meu desejo por uma menina mais jovem. Eu estava apaixonada por Aurora e aquilo começou a implicar intrinsecamente na minha vida e nas minhas ações.
Isso era imoral e eu nunca...jamais pensei que fosse acontecer. Mas existem muitas formas de amor, e aquela que eu sentia por Aurora, era especial demais para se desvencilhar sem ao menos pensar bem antes.