Segredos inconfessos de uma monarquia
Um mensageiro havia trazido a correspondência informando da chegada dele. Havia um envelope grande com o brasão e o timbre selando o conteúdo. Eram, na verdade, três, um para a minha mãe, outro para mim e, um terceiro que foi o único a ser aberto, e que continha a informação com a data de sua chegada, acompanhado do príncipe herdeiro. Ao contrário das outras vezes em que chegavam correspondências desse tipo, desta vez a rotina no palacete não sofreu nenhuma modificação. Fez-se uma única menção à sua chegada durante um jantar, quando minha avó e minha mãe trocaram não mais do que algumas frases a respeito. Pouco se falava sobre meu pai no palacete. Cresci ouvindo comentários pouco elogiosos à sua pessoa. A família da minha mãe, especialmente meu tio, o imperador, o detestavam, isso era certo. Talvez para não gerar em mim nenhum recalque, esses comentários aconteciam quando eu não estava presente. Por outro lado, penso e, ainda sinto assim, que me poupavam tanto da curiosidade de saber coisas sobre ele, quanto de descobrir a natureza de seu caráter. A carta endereçada à minha mãe, ficou fechada entre outros papeis sobre a sua mesa na saleta que usava todas as manhãs, após o desjejum, para atualizar suas correspondências, diante das janelas altas que davam para um carvalho de galhos retorcidos e baixos, onde haviam pendurado um balanço quando eu era pequeno. Encontrar aquela correspondência intacta por todos aqueles dias, foi o que também me desestimulou a abrir a minha, que ficou jogada na biblioteca, onde o criado as deixava sobre uma bandeja de prata diariamente.
Minha mãe antecipou em uma semana sua temporada na residência de verão, partindo com um pequeno séquito de criados exatamente cinco dias antes da data prevista para a chegada dele. Eu sabia que isso não fora por acaso, as lembranças que guardava daquele homem deviam ser as piores possíveis. No meio daquela semana, eu recebi o convite para passar o final de semana na casa de um amigo, numa propriedade não muito distante da cidade, onde sua família criava cavalos entre colinas cobertas de uma relva verdejante e tufos de flores multicoloridas àquela época do ano. Assim, eu parti na véspera da chegada do meu pai ao palacete, onde minha pobre avó se viu obrigada ao papel de anfitriã. Os anos ao lado do meu falecido avô, como rainha consorte daquela nação haviam desenvolvido nela a diplomacia para enfrentar muitas situações difíceis, aquela não seria certamente uma das piores pelas quais já havia passado. Ficou, portanto, claro que, fossem quais fossem as razões que fizeram meu pai se deslocar para tão longe e, pessoalmente, a sua visita não era desejada.
Eu regressei no meio da tarde da tarde da segunda-feira, para encontra-lo sentado na biblioteca, que havia improvisado para continuar despachando as questões do reino, com dois de seus conselheiros. Eu tinha cinco anos quando meu tio nos resgatou das mãos daquele homem, e não me lembrava da fisionomia dele, o ano era 1838. No entanto, não foi difícil identifica-lo entre aqueles três senhores, quase quinze anos depois. Ele era o da expressão mais arrogante, que brotava de seus olhos pequenos e escuros. Ele se pôs em pé assim que me viu, deixando de lado os papeis que tinha nas mãos e, parando de ouvir o que um de seus conselheiros dizia naquele momento. Tentou esboçar um sorriso quando veio ao meu encontro com os braços abertos. Eu lancei um cumprimento geral a todos que estavam na biblioteca e, imóvel, deixei que me apertasse em seus braços, sem demostrar nenhuma emoção naquele encontro, depois de tantos anos. O abraço dele era frio, distante, desprovido de qualquer emoção, algo que ele estava se vendo obrigado a fazer por que havia interesses maiores por trás daquele reencontro. Algumas frases vazias proferidas por ele tinham a única intenção de monstrar aos presentes que havia uma ligação de pai e filho entre nós, mesmo que, de fato, ela nunca tenha existido.
- Ora, ora! Nosso principezinho Carlos Gustavo de cabelos cacheados se transformou num belo rapaz!
Para mim, meu tio era o único e legítimo dono dessa afeição. Era quem eu reconhecia como um pai, era quem em cujo caráter eu me espelhava, era quem havia exercido esse papel desde que eu me conheço por gente. Aquele velho diante de mim, não passava de um estranho e, eu não me deixei abalar por sua presença. No jantar daquela noite, quando também conheci meu meio-irmão, Francisco Guilherme, pude observar a satisfação da minha avó com o meu comportamento e a minha atitude perante aquele homem. A indiferença com a qual eu o tratava, lhe dera a certeza de que eu era muito mais um legítimo Holstein-Gottorp do que um membro da Casa Oldemburg. Meu pai, enquanto monarca desta última, por capricho e chantagem, conseguiu efetivar um casamento peculiar com minha mãe, a sexta filha na sucessão do trono Holstein-Gottorp, portanto, muito distante dessa possibilidade vir a acontecer. No entanto, era o prestígio e algumas influências que abririam as portas para um melhor relacionamento com as demais dinastias europeias, entre as quais sua fama não era das melhores, que alimentava o sonho do meu pai se casar com uma jovem pelo menos trinta anos mais nova do que ele. Diante de pressões e chantagens que custariam muito ao seu pai e ao reino, ela cedeu e se uniu a ele sem nenhum sentimento nobre que o justificasse, a não ser o de não criar problemas ao pai.
O casamento foi breve e desprovido de qualquer envolvimento, exceto o que levou ao meu nascimento, uma necessidade que meu pai viu de tirar proveito da situação futuramente. Há poucos meses de eu completar cinco anos de idade, veio a descoberta de um casamento mais antigo. O receio do escândalo da bigamia vir a público, o que certamente o levaria a perder a coroa e a cair em desgraça, aliado às ameaças do meu tio, que tinha pela irmã caçula uma afeição ímpar, obrigou meu pai a deixa-la partir sem criar maiores empecilhos quando meu tio veio nos resgatar de suas mãos. Com a reputação comprometida, minha mãe se isolou no palacete ao qual minha avó se juntou quando meu avô faleceu e, onde levávamos nossa vida em harmonia.
Meu irmão, Francisco Guilherme, não se valeu de rapapés para obter minha atenção ou aprovação. Pareceu-me que, a primeira lhe era indiferente e, a segunda, completamente desnecessária. Tínhamos uma diferença de idade de oito anos, o que parecia pouco para o abismo que havia entre nós. Logo ficou evidente que ele estava ali a contragosto. A razão eu ainda desconhecia, mas sua insatisfação de estar diante da presença da minha avó materna era uma certeza. Ele parecia diminuir diante dela, embora ele fosse um homem alto, de estrutura vigorosa, e ela, uma senhora em seus setenta anos de idade, de corpo esguio, com um porte altivo, que sua estatura mediana não conseguia minimizar. Enquanto ela olhava de cima para baixo para aquele que ela sabia ser um coitado, apenas pelo fato de ter sido criado pelo meu pai, ele mal se atrevia a encará-la de tão inseguro.
A verdade e, o motivo daquela presença incômoda vieram à tona no dia seguinte. Eu havia retornado do meu passeio matinal após o café da manhã quando, ao passar pela porta da biblioteca, onde meu pai despachava improvisadamente, ouvi a voz destacada do meu irmão.
- Vocês acham mesmo que isso tem a menor chance de dar certo? Já olharam bem para ele! Aquilo não é um homem. Como querem que ele faça o que tem que ser feito? – questionava indignado, caminhando de um lado para o outro diante da mesa do meu pai.
- Nós já havíamos alertado Vossa Majestade! O embaixador enviado há alguns meses fez um retrato fiel do seu irmão, o que nos levou a duvidar do êxito dessa empreitada. – disse um dos conselheiros, que estava de costas para a porta.
- Ele não é meu irmão! É um pederasta que vive à sombra do tio, preocupado em lançar moda com aqueles trajes questionáveis e movimentos delicados, cuidadosamente estudados para impressionar, mais aos homens do que às mulheres. – retrucou meu irmão, num tom mais enfático.
- Controle-se! Você não está em sua casa! Esse palacete tem mais ouvidos nas paredes do que você é capaz de imaginar. – censurou meu pai. – Ademais, não importa a aparência dele. Ele nasceu homem e tem o que é preciso para desempenhar a missão a contento. O resto pouco importa! – emendou. Aquela conversa não me permitiu chegar a nenhuma conclusão, a não ser, que o pederasta era eu, o que não era novidade alguma para mim.
Contudo, não foi essa a conversa que me deixou perplexo e incomodado, mas a que tive com meu pai, naquele mesmo dia, horas mais tarde, e a sós. O que não se podia negar em sua personalidade era a capacidade de juntar pequenos trunfos aqui e acolá, para serem depois usados a seu favor em propósitos, na maioria das vezes, escusos. Ele não fugiu à regra, quando começou a enfileirar, antes de entrar propriamente no assunto que o fizera se deslocar por tantos quilômetros, alguns problemas de Estado que meu tio vinha enfrentando com a Prússia devido a questões de fronteiras territoriais que ao longo de anos haviam consumido importantes reservas com a manutenção de exércitos empenhados em conflitos armados, deixando o Estado financeiramente vulnerável e sujeito a revoltas sociais com as quais se via envolvido no momento. Não apenas meu tio enfrentava esse tipo de problemas, mas outras monarquias pela Europa passavam pelo mesmo dilema. Ao terminar com esses prolegômenos, despejou o que queria. Que eu, na qualidade de um príncipe, também seu herdeiro, fizesse um filho em sua nora, uma vez que o primogênito, depois de muitas opiniões médicas, era o responsável por não conseguir engravidar a esposa, por conta de uma parotidite contraída após a puberdade. Chegaram a essa conclusão após considerarem que a notória fama de mulherengo de meu irmão e, sua incursão por diversos leitos femininos nunca foi capaz de gerar uma única prenhez nas vadias com as quais se deitava.
- A proposta é simples! Você inseminará a sua cunhada sem que ela o saiba, depositará seu esperma nela e produzirá o herdeiro que seu irmão está impossibilitado de gerar por conta própria. Como meu neto, ele entrará na fila sucessória após o seu irmão garantindo que a coroa permaneça por anos na Casa dos Oldemburg. Poucas pessoas saberão da verdade, e você terá sua vida de volta tão logo o herdeiro venha ao mundo. Além de estar garantindo a tranquilidade de seu tio que, por minha intervenção junto aos Hohenzollern, não terá conflitos que o impeçam de restabelecer as finanças e a paz no reino. – a frieza de suas palavras me chocou.
- Isso é uma barbaridade! Um crime! Eu jamais me prestarei a um papel como esse! – respondi furioso.
- Deixe de lado seus achaques! Você sabe muito bem que nossas vidas não nos pertencem, mas às pessoas que governamos. Mesmo sendo um fedelho mimado, você sabe quais são as responsabilidades da nobreza e, não pode fugir de suas origens nem do que vem com elas. – retrucou ele, demonstrando impaciência. – Vou lhe dar alguns dias para pensar, mesmo porque, precisamos que faça alguns testes antes de levá-lo conosco. Nesses dias, aproveite para avaliar muito bem o quanto você pode ajudar o seu tio, ou prejudicá-lo, essa decisão estará exclusivamente em suas mãos! – ameaçou, pois certamente já havia um plano traçado caso eu me recusasse.
- Que testes? – indaguei, só para não ter que ouvi-lo verbalizar quais as desgraças que faria meu tio enfrentar.
- Falaremos nisso oportunamente, em dois ou três dias. Sua preocupação agora é outra, é bom que foque nela sua atenção. – recomendou, reiterando as ameaças.
Procurei meu tio no dia seguinte. Não com a intenção de lhe contar que estava sendo chantageado, mas para saber se o que meu pai dizia podia realmente ter algum impacto sobre seu reinado. Infelizmente, a resposta foi que sim. Uma aliança seria muito benvinda naquele momento, permitindo recuperar a economia sem os altos gastos com os exércitos controlando as questões fronteiriças. Um abalo nas relações já conturbadas com a Prússia podia, sim, vir a se tornar mais um grave problema.
- Mas, o que te levou a encher sua cabecinha com essas questões? – perguntou meu tio, embora eu e ele muitas vezes conversássemos durante horas sobre as questões de Estado, mesmo eu não estando profundamente interessado nelas, mas para deixa-lo desabafar com alguém que confiasse.
- Estive analisando algumas questões, e achei que esses fatos podiam ter, de alguma forma, alguma influência sobre elas. – despistei.
- Então logo terei um bom conselheiro para me ajudar com a diplomacia estatal! Seu raciocínio conseguiu ter uma visão bem precisa sobre essas questões. Mas, viva sua juventude, e deixe essas preocupações comigo, está bem? Eu te amo! – esse era meu tio, o homem que eu mais admirava nesse mundo.
- Eu também te amo! – exclamei, abraçando-o com força.
Agora só me restava enfrentar meu pai, ou melhor dizendo, concordar com ele, ao menos em tese, para ver o que podia ser feito mais adiante. Ao me ver regressar ele soube que eu tinha ido me aconselhar com meu tio, era esperto o suficiente para saber que eu na minha impetuosidade juvenil recorria a alguém mais experiente. Havia um risinho sarcástico em seu rosto quando cruzei com ele. Nenhum de nós disse uma palavra. O acordo estava feito, não seriam necessários mais desgastes para firmar o que não podia acontecer de outra forma.
No dia seguinte, o médico que acompanhava meu pai em sua comitiva veio ter comigo. Queria saber se eu ainda era virgem, se me masturbava com frequência, como eram minhas ejaculações e, outros questionamentos tão embaraçosos quanto esses. Ele precisava presenciar uma masturbação minha para avaliar se eu tinha o potencial de engravidar uma mulher. A questão era tão descabida que chegava às raias da burrice. Eu era um homossexual, mas continuava tão homem quanto qualquer outro, tudo em mim funcionava como deveria funcionar. A questão não se resumia a saber fazer ou ser capaz de fazer sexo, mas com quem eu preferia fazer sexo, quem despertava esse desejo em mim. De qualquer forma, por insistência e exigência do meu pai, eu me vi diante dele e do médico, num dos quartos do palacete, batendo uma punheta para provar que me pau servia para outras coisas além de mijar. Eu estava tão constrangido que tive dificuldade de segurar meu pintinho, que parecia ter encolhido pela metade quando baixei as calças diante daqueles olhares. Enquanto manipulava meu pau, tive que recorrer aos sonhos eróticos que vinha tendo ultimamente com o recém-nomeado capitão da minha escolta pessoal, e, que me levavam a acordar em plena madrugada com a camisola toda esporrada por ter gozado sem nem ao menos ter encostado no meu pau.
Ele veio substituir o antigo que também havia sido promovido. Era um homem alto no vigor de seus trinta anos, que estava aprendendo a dar ordens a seus subalternos e, a se fazer obedecer. Ele havia assumido o posto há pouco, mas já em nosso primeiro encontro, deixou uma impressão tão intensa em mim que passei a observá-lo detalhadamente cada vez que estávamos juntos. Os sonhos eróticos com ele começaram depois de uma pequena viagem de dois dias até a residência do Duque de Kornenthal, cujo filho havia frequentado o colégio comigo. O segundo dia da viagem transcorreu num dia particularmente quente do verão, o que nos obrigou a fazer diversas paradas ao longo da estrada para que os cavalos e os homens pudessem descansar e retomar as energias. No início da tarde, com o sol a pino, deu-se uma parada mais demorada para esperar que o sol amenizasse um pouco. Numa clareira à beira da estrada, sob algumas árvores, o cocheiro parou a carruagem. Os guardas apearam dos animais e os levaram até uma curva do rio, onde águas mais mansas, permitiam que eles entrassem em segurança e se refrescassem. Eu estava enfastiado, queria esticar as pernas, queria caminhar, e saí da carruagem. A maioria dos homens havia se despido e saltado na água fria do rio, exercitando-se com um folguedo qualquer que haviam inventado. Caminhei na direção oposta à deles, pois sabia que se me aproximasse, eles parariam a brincadeira e se recomporiam. Cruzei alguns arbustos e, por trás deles, vi o capitão com o torso nu, os suspensórios baixados, inclinado sobre umas pedras jogando água fresca sobre a cabeça, a nuca, o tórax e os braços. Seus músculos molhados reluzindo sob o sol, aquela linguiça gigantesca debaixo da calça justa do uniforme provocaram um frenesi em mim como nunca havia sentido antes, e uma vontade de saboreá-la até descobrir todos os seus aromas e sabores. Foi a primeira vez que senti meu cuzinho piscando, e ele piscava de desejo. Uma pisada descuidada fez crepitar uns galhos secos sob meus pés, e ele ficou de prontidão, descobrindo minha presença. Ele imediatamente se aproximou de mim.
- Onde estão os guardas que deviam estar com o senhor na carruagem?
- Eu os liberei para se refrescarem com os colegas.
- O senhor não deveria ter feito isso! É uma imprudência sem tamanho! Pode colocar sua vida em risco. – enumerou. Eu só conseguia olhar para aquele tronco sensualmente peludo, largo e imenso.
- Eles precisam relaxar, assim como você! – exclamei. Ele não esperava por isso.
- Todos estão tendo seu turno de revezamento. – disse, só para disfarçar o quanto meu olhar o estava perturbando.
- Eu me sinto seguro com a maneira como o senhor conduz a guarda, é isso que importa. – afirmei
- Numa visão simplista até pode ser, mas não é bem assim. – devolveu ele, mais descontraído depois que eu lhe dirigi um sorriso quase infantil.
- Quem ousaria me fazer algum mal com tantos guardas e um homem como o senhor fazendo minha guarda pessoal? – indaguei, ao mesmo tempo em que deslizava o dedo indicador e médio juntos da altura dos mamilos dele até o cinturão no qual estavam afixados o coldre da pistola e a bainha da espada, percorrendo a trilha de pelos que ali se tornava mais densa e farta.
- Há mais mal-intencionados do que o senhor imagina! Os riscos estão por todos os lados.
- Também estou com vontade de tirar as roupas e entrar nessa água fria, o senhor vai fazer a minha escolta? Certamente não correrei nenhum risco de vida. – ele esboçou um sorriso antes de responder.
- De vida posso garantir que não! – respondeu ele. Sabendo, contudo, que o assunto predileto dos guardas quando estavam de folga no alojamento jogando cartas e conversa fora, era o tamanho das minhas nádegas e seus contornos sensuais sob as calças justas, que muitas vezes, pareciam estar sendo mastigadas pelo cu quando o tecido ficava preso entre as bandas. Cada um, então, dizia o que faria se tivesse acesso a essa bunda carnuda, fazendo os demais caírem na gargalhada.
Arranquei minhas roupas e entrei na água, ele me imitou dois minutos depois e nadou até mim. Apoiei minhas mãos em seus ombros e sorri. Um par de mãos vigorosas se fechou sobre as minhas nádegas e um sorriso também apareceu no rosto dele. Mesmo dentro daquela água fria, meus glúteos eram quentes, firmes e a pele tão aveludada quanto a de um pêssego.
- O senhor é um homem muito interessante, capitão!
- E o senhor não deveria ser tão imprudente! – respondeu apressado, pois vozes começavam a se aproximar de nós, fazendo-o sair apressadamente da água com o caralhão tão duro que mais parecia uma espada brotando no meio de suas coxas. Antes, no entanto, ele havia levado o dedo até as vilosidades da minha rosquinha, extraindo dos meus lábios um gemidinho tão sensual que, por pouco, não o fez esquecer de suas obrigações desejando me penetrar ali mesmo. Desde então, nunca mais tive uma noite na qual aquele cacetão não vinha roubar minha tranquilidade.
O médico e meu pai pareceram ter ficado satisfeitos com o que viram. Meu pau endureceu, o orgasmo veio, mesmo naquela situação forçada e os jatos de porra voaram na direção da toalha que eu havia estendido à minha frente.
- Mecanicamente parece que tudo está em ordem! – disse o médico. Sim, seu imbecil, a homossexualidade não fez de mim um deficiente, pensei comigo mesmo.
- Ótimo! É o que precisávamos saber. – retrucou meu pai.
Nos arredores do palacete havia uma famosa estação de águas termais, instalada numa suntuosa construção com diversas salas forradas de mármore e colunas que sustentavam o teto abobadado, que ficava no meio de um vasto jardim em estilo renascentista. A sugestão de passarmos uma tarde lá partira do meu pai, tentando fazer com que meu irmão e eu nos tornássemos minimamente toleráveis um ao outro. O que até então, naqueles poucos dias, parecia jamais acontecer. Nem tanto por mim, mas por ele estar se sentindo desvalorizado e humilhado com aquela proposta bizarra.
Eu estivera uma única vez naquele lugar. Não era um lugar que eu devesse frequentar, segundo minha mãe, sem uma justificativa que me satisfizesse. Desta vez, logo depois de entrar numa das salas, logo compreendi o porquê da restrição da minha mãe com aquele lugar. Embora todos os homens ali estivessem nus, foi quando eu entrei que o tom das vozes dos poucos homens que estavam ali baixou repentinamente e, olhos cobiçosos acompanharam meus passos. O gingado do corpo e o sobe-e-desce das minhas nádegas, ao me inclinar na borda de uma das piscinas, onde um leve vapor emergia numa névoa me fez sentir a tensão que havia se apossado de algumas daquelas virilhas. Foi quando também, contemplei o que meu irmão tinha entre as coxas musculosas. A pica do capitão, mesmo avistada por uma fração de segundos, já tinha me deixado maluco, mas o cacetão pesado e cabeçudo que balançava entre as pernas do meu irmão era tão grande quanto o de um jumento. E havia ainda aquele sacão pendendo pesado e revestido de uma pentelhada negra e densa. Impossível não sentir o corpo todo se agitar.
- Esse é para ser o pai do herdeiro da Casa Oldemburg! – exclamou ironicamente meu irmão que, pela primeira vez, me tinha completamente nu diante dos olhos. – A ideia me parece cada vez mais hilária! – acrescentou, provocativo, tentando com isso afastar os pensamentos libidinosos que haviam se instalado em sua mente com a visão do meu corpo nu e esculturalmente sensual.
- Poupe-me de seu sarcasmo! Se você tivesse dado conta do recado, não teria que estar aqui! – exclamou meu pai.
- E você acha que o que está no meio dessas coxas vai dar conta? – continuou provocando meu irmão, pois meu pinto não era realmente nada de impressionante.
- Posso não ter algo tão descomunal entre as coxas quanto você, mas ao menos ele funciona plenamente, enquanto o seu não passa de uma linguiça flácida. – respondi, com um risinho zombeteiro. Ele partiu para cima de mim feito um animal selvagem.
Ambos fomos ao chão, frio e úmido. Suas mãos vigorosas se fecharam ao redor do meu pescoço. Seus olhos estavam injetados de fúria. Eu me debatia em vão tentando me safar daquelas mãos e da força daqueles músculos avantajados. Comecei a gritar e pedir por socorro. Meu pai tentou puxar o Guilherme pelos ombros, mas não tinha forças suficientes para controlar aquele corpão ensandecido. Meu rosto começava a ficar arroxeado. Havia agora, pelo menos, meia dúzia de homens tentando arrancá-lo de cima de mim.
- Solte-o, você vai matá-lo! – berrou alguém, antes de eu ver um manto escuro encobrir meus olhos.
Quando recobrei os sentidos, eu estava deitado sobre um tablado quentinho, envolto numa toalha, com a cara do médico me encarando de modo aliviado. Meu pai estava logo ao lado e, meu irmão caminhava de um lado para o outro, bufando feito um touro bravio. Se havia uma distância entre nós, agora ela era abissal. Meu pai falhara completamente na mais banal das diplomacias, fazer com que dois irmãos conseguissem conviver civilizadamente.
Uma semana depois, o séquito real voltou para casa. Eu tentei levar comigo o capitão da guarda, alguns criados, só para não me ver diante de rostos completamente estranhos e nos quais não sabia se podia confiar. O não do meu pai foi tão categórico que minha insistência o deixou furioso. Sua única concessão foi permitir que eu não seguisse na mesma carruagem que ele e meu irmão, mas isso ele fez para não ter que aguentar brigas durante a viagem, e não para atender minhas frescuras.
Tentei não gostar da minha cunhada, pois isso certamente facilitaria em muito a minha ignóbil missão, talvez até amenizando a culpa e o remorso dos quais eu já sofria antecipadamente. Mas, foi inútil, uma vez que ela era uma criatura alegre, expansiva, que me recebeu como a um irmão, e me introduziu em seu mundo com uma afeição sem limites. Era o destino conspirando contra mim, pensei. Aos poucos, fui deixando as reservas de lado e me apaixonando pela jovialidade e alegria daquela criatura, ao ponto de estarmos fazendo confidências um ao outro, nos demorados passeios pelos bosques e vales ao redor do palácio real. Percebi que ela era uma pessoa solitária, havia crescido sem a presença de irmãos e tivera uma infância restrita às diversões que suas amas lhe ofereciam. Uma delas ainda a acompanhava e, talvez fosse a única pessoa com quem dividia seus anseios e segredos, até a minha chegada. Ela falava pouco do marido, o que logo me levou a desconfiar de que também tinha sido vítima de um casamento arranjado para atender interesses alheios, antes dos dela próprios. Também foi muito sagaz ao logo perceber que entre o Guilherme e eu existia uma tensão que nos mantinha em polos opostos em qualquer conjuntura. Eu evitava conversar com ela sobre meu irmão que, àquela altura, eu já não sabia mais se odiava ou me comprazia de sua situação. Ele, por sinal, parecia estar gostando da minha amizade com a esposa, embora não o manifestasse e, até se mostrasse enfastiado com os assuntos das minhas conversas com ela.
- Como foi a tarde de falatório das comadres? – questionou-me certa vez com a cara emburrada, quando a Ana e eu voltávamos de um de nossos passeios, todos risonhos devido aos assuntos que havíamos discutido.
- Foi ótima! Tivemos muito tempo para falar mal de você! – respondi, embora ele, nem por um segundo, tivesse feito parte das nossas conversas.
Os médicos a acompanhavam constantemente na questão da gravidez que não acontecia. Examinavam-na com frequência, instituíam terapias, davam-lhe chás, sugeriam-lhe banhos com ervas, aplicavam-lhe unguentos na vagina e, davam vazão aos mais delirantes tratamentos para justificar seu empenho em ajudá-la a gerar um herdeiro. Ela aceitava a tudo com uma resignação que chegava a ser mortificante, tudo para entregar ao marido o que não ela, mas ele próprio não era capaz de produzir.
- O que vocês estão fazendo com essa boa alma é o que pode haver de mais hediondo! O senhor há de pedir muita clemência quando estiver às portas da morte para redimi-lo do que está fazendo. – disse eu ao meu pai, diante de tudo aquilo.
- Sua opinião não me interessa! Um fedelho que nunca produziu nada na vida, e dela não conhece absolutamente nada, não tem capacidade de me recriminar. Aliás, advirto-o de que pare de me acusar seja lá do que for diante de meus conselheiros ou outros serviçais. Minha paciência com você anda por um fio! – devolveu, expondo quem realmente era meu pai e, o caráter degenerado que o constituía.
Acompanhando as menstruações da Ana, os médicos sabiam quando ela entrava no período fértil e, na primeira ocasião em que isso aconteceu, quando já havia decidido que o plano podia ser implementado, eu fui convocado a executar minha missão. A beberagem fora-lhe ministrada por meu próprio irmão, pouco antes de se insinuar para ela e propor mais uma cópula. Como sempre, ela aceitou sem desconfiar de nada. Assim que os soníferos começaram a agir, a alcova se encheu dos cúmplices daquela barbárie, eu entre eles. E, a ação começou.
A situação era tão vexatória que eu me amaldiçoava por ter cedido às chantagens do meu pai. Com a princesa dopada de soníferos que a fizeram ingerir momentos antes, deitada praticamente nua no leito conjugal, onde ingenuamente achava que ia fazer amor com o marido; eu tive que me aproximar, erguer a túnica fina, quase transparente, que cobria seu pequeno sexo e, me punhetando feito um alucinado para alcançar um gozo que parecia não querer vir nunca, por caminhar diametralmente oposto à minha natureza, aliado à presença de toda aquela plateia assistindo ao espetáculo degradante que ia acontecer ali, eu só suplicava para aquilo chegar logo ao fim. Ajoelhado à curta distância dela, a punheta começava a dar indícios de chegar a uma conclusão. Antes de não conseguir mais segurar o gozo, mergulhei meu pinto na maciez daquela fenda indefesa, e descarreguei nela toda a tensão que me atormentava, inclusive um choro convulsivo de arrependimento. Sem nenhum esboço de que aquilo a afetara, ela permaneceu tão profundamente perdida em seu sono que jamais saberia a que ponto a crueldade humana era capaz de chegar. Eu, por meu lado, estava transtornado, me sentia um crápula, um ser abjeto e desprezível, que teria muito a se penitenciar por ter participado disso tudo, mesmo que contra a minha vontade.
Ele veio atrás de mim tão logo eu havia terminado de gozar na bucetinha de sua esposa, enquanto ele assistia meu corpo pelado e a rabeta carnuda gingando numa sensualidade sem tamanho. Terminada minha missão, deixei a alcova onde o vitupério havia se consumado sob o olhar de pelo menos meia dúzia de pessoas, entre elas o próprio rei e o maior interessado de que tudo aquilo surtisse os efeitos desejados, ele que assistira a tudo calado vendo a jovem esposa ser inseminada pelo irmão, uma criada de quarto que havia acompanhado o triste destino da criança que ajudara a criar, e agora estava sendo tão aviltantemente enganada, e dois médicos que estavam ali mais para orientar que se fizesse tudo o mais academicamente possível para uma situação bizarra como aquela, e que também, foram os encarregados de ministrar à pobre moça os soníferos que garantissem que ela jamais seria capaz de revelar a barbárie que estavam cometendo contra ela. De tão enojado com tudo aquilo, nem me dei ao trabalho de cobrir meu corpo nu, e segui rumo ao meu quarto carregando nada além de remorsos.
- O que quer aqui? – minha pergunta carregada de revolta foi dirigida a ele em tom ríspido, o que pareceu não incomodá-lo, pois veio se juntar a mim na cama.
- Sei que isso foi um sacrifício para você. Por isso, estou aqui para te agradecer. – dessa vez não havia nenhum rancor em sua voz, talvez um pouco de humilhação.
- Isso vai completamente contra a minha natureza. Não houvesse sido chantageado pelo nosso pai, jamais me submeteria a algo tão aviltante.
- Quero que saiba que sempre fui contra essa ideia. Mas nosso pai ainda é o monarca desse reino e, seus atos, embora questionáveis, visam tão somente garantir o futuro desse país. – disse ele, sem me convencer.
- Acredita mesmo nisso? As atitudes daquele velho nada têm de dignas, tão somente visam garantir a continuidade de seu poder. Você é ingênuo se não consegue enxergar o que está bem diante dos teus olhos.
- E você vê tudo sob o prisma do rancor, por não ter convivido com ele. – devolveu
- A isso eu só tenho que agradecer ao destino, ter me poupado de viver ao lado de um pai como esse. – afirmei, sem nenhum peso na consciência. – Agora saia! – já esgotei minha cota de tolerância com essa família por hoje. – emendei, expulsando-o dali. O que não surtiu efeito, pois ele já estava aboletado ao meu lado, tão sensualmente vestido naquelas ceroulas curtas amarradas à cintura apenas pelo cordão tão displicentemente atado que não fechara a fenda da braguilha, permitindo uma visão perturbadora do enorme tufo de pentelhos negros.
Ele não retrucou, talvez temendo que isso exacerbasse minha ira e a expulsão se tornasse inevitável. Ficou me admirando em silêncio. Seu olhar parecia queimar minha pele, mas eu não a quis cobrir. Havia algo naquele olhar que me fascinava, que despertava uma luxúria pecaminosa, que deixava o ar carregado de emissões incestuosas. Eu era obrigado a me render aos fatos, meu irmão mais velho era um homem muito atraente. Seu corpo parecia constituído de músculos tão rígidos quanto uma armadura de ferro, os cabelos pretos, levemente ondulados que brilhavam conforme a luz insidia sobre eles eram uma característica herdada dos ancestrais paternos, bem como a vastidão de pelos que se distribuía sobre seu tronco largo, seus braços hercúleos e coxas vigorosas. Por esse aspecto, nem parecíamos irmãos, mesmo que só pela metade, pois meus cabelos praticamente lisos, de um tom caramelo suave e o corpo totalmente desprovido de pelos, a exceção dos ralos pubianos, em nada lembrava que tínhamos um ancestral em comum.
- Você é bem tetudo! – exclamou, quebrando o silêncio que vinha permitindo sua permanência ao meu lado. – São dois cones se projetando do seu peito encimados por mamilos castanhos e biquinhos rosados, posso apostar que são macios. – emendou, após uma ligeira pausa, na qual seu olhar se concentrou nos meus peitinhos, e o fizeram esboçar um gesto que estava levando sua mão para cima deles, e que eu interrompi antes de ele atingir seu intento. Ele disfarçou com um sorriso.
- Vai ficar aí olhando para mim feito um babão? Seria melhor se voltasse para junto de sua esposa. – sugeri.
- Para que? Ela só vai acordar amanhã sem se importar onde passei a noite. – retrucou desolado. – Além do que, você também está me observando, disfarçando muito mal seu interesse pelo meu corpo – afirmou, ousado.
- Deixe de falar besteira! O que pode haver aí que seja do meu interesse? – respondi ligeiro.
- Não sei, você é que deve saber, e pode descobrir!
- Já que mencionou, o que são essas cicatrizes? – perguntei, referindo-me a uma em forma de uma espessa linha saliente em seu ombro direito que devia ter passado por um processo de cicatrização complicado; a outra em seu braço esquerdo bem sobre o bíceps musculoso, um pouco encurvada que deixava a pele no local mais avermelhada; além de uma terceira, na parte interna de sua coxa direita praticamente escondida entre os pelos densos e, a com o histórico provavelmente mais antigo.
- Sequelas de batalhas! – afirmou presunçoso. Não contive o riso debochado, ao qual ele aderiu depois de ver o quanto essa afirmação me divertiu.
- E que guerra foi essa que te levou aos campos de batalha, se sua passagem pelo exército não foi mais do que uma figuração. – desbanquei-o. Meio a contragosto ele esboçou um sorriso.
- Por acaso você esteve na fronteira quando garantimos a nossa hegemonia sobre aquele território, para saber que minha atuação foi apenas figurativa? – devolveu.
- Pois eu aposto que você vestiu aquele uniforme mais para impressionar e correr atrás de virgens incautas daquelas terras distantes do que para defender um único palmo de terra. Você está mais para um Casanova do que para um herói de guerra! – afirmei. – Mas, ande lá! Deixe de contar vantagem e me diga como surgiu essa cicatriz. – nesse momento era eu quem havia levado as pontas dos dedos sobre a cicatriz do ombro e as deslizava delicadamente ao redor dela. – deixando-o cativado.
- Essa foi no exército, sim! Está certo que não foi no campo de batalha. – admitiu, começando a esboçar um risinho. – Eu e uns colegas havíamos ido a uma taberna para nos divertir com umas garotas. A coisa desandou quando a que eu estava pegando era a filha do taberneiro, e o irmão dela resolveu lavar a honra da irmã pouco casta e partiu para cima de mim com uma faca. Acabou me acertando antes de um dos meus colegas conseguir atravessar uma espada na barriga do sujeitinho. Essa foi quando caí do cavalo que me derrubou sobre um monte de madeiras empilhadas e, uma delas, com uma farpa pontiaguda se cravou no meu braço. – continuou, ao mesmo tempo em que meus dedos faziam movimentos suaves sobre seus bíceps. À medida que nenhum ato heroico estava na origem daquelas cicatrizes, como eu já havia imaginado, minha curiosidade continuava me levando a tateá-las, me fazendo chegar à última, camuflada entre os pelos da parte interna de sua coxa, ele revelou também a causa desta. – Eu era muito garoto quando consegui esta aí. Subi mais alto do que deveria numa castanheira e, ao tentar descer, meu pé escorregou e um galho mais abaixo abriu um talho na minha perna. – revelou, um pouco constrangido por ter querido inventar histórias mirabolantes a respeito delas. Eu ri.
- Você é mesmo um presunçoso, achou que eu ia acreditar nas tuas fantasias. Eu sabia que não ia encontrar nada de interessante por trás delas. – debochei.
- Ao menos minha intenção serviu para que seus dedos, finos e delicados como os de uma mulher, percorressem meu corpo. Só aí já ganhei o meu dia! E, se você subir um pouco mais de onde está, garanto que vai encontrar algo bem interessante! – exclamou, desavergonhado. Eu me apressei a tirar a mão dali, antes que aquele cacetão pendendo pesadamente para aquele lado tivesse a menor intenção de assumir uma posição mais arrojada. Foi ele a esboçar um risinho debochado ante meu temor.
- Ficou assustado? – inquiriu, outra vez admirando a nudez do meu corpo, acintosamente.
- Por que haveria de me assustar? – retruquei com certeza arrogância. Por pouco não deixei escapar – já que esse bagulhão não serve para nada mesmo – mas a lembrança de suas mãos pesadas no meu pescoço tentando me esganar e seu olhar de fúria ainda estavam nítidos na minha memória, o que me fez optar pelo silêncio.
- Eu poderia ficar horas admirando o seu corpo. Ele se parece com o dos querubins que costumam pintar nos afrescos das igrejas, perfeitos, esculturais, com curvas insinuantes, dobras sensuais, especialmente a que há entre suas nádegas e as coxas, tudo carregado de uma luxúria quase sacra. – afirmou, num devaneio provocado por aquele olhar cheio de cobiça.
- E você dando asas a sua imaginação de pervertido! – exclamei, zangado.
- De um pervertido não. Mas, de um homem cheio de desejos carnais por essa rabeta roliça. – devolveu sereno e convicto.
- O que só vem a provar que já passou da hora de você voltar ao seu quarto e me deixar dormir em paz.
- Vou ficar exatamente onde estou, não atendendo ao que dizem suas palavras, mas ao desejo que está em seu corpo. – a petulância dele parecia não conhecer limites. Eu estava fatigado demais para arrumar uma confusão àquela hora, e me resignei em partilhar a cama com ele.
Com a menstruação atrasada em dois meses, o relato de enjoos matinais que a prendiam na cama até quase o meio das manhãs, e o fato de mal conseguir suportar o cheiro do marido deram aos médicos a confirmação do que tanto esperavam. Ela estava grávida. Uma única penetrada, uma única gozada e eu a havia inseminado. Sim, pois era assim que eu me via e, a ela nessa questão, uma fêmea no cio e um fornecedor de esperma, como se fazia com o gado, com os cavalos que estavam nos estábulos reais, com uma cadela e um cão dos quais se desejava uma ninhada.
Eu não saberia definir o que o crescimento daquela barriga significava para mim. Eu me alegrava por que a Ana se alegrava. Eu me culpava por que nunca quisera gerar um filho. Eu rezava por que tinha a certeza de jamais ser perdoado pelo que fizera. Para piorar tudo, o Guilherme vinha ter comigo praticamente todas as noites, uma vez que já não era mais admitido no mesmo quarto da esposa, que sentia seu ventre se revolvendo toda vez que ele se aproximava dela. Carente, ele já não me via como quem viera para terminar de expor suas fraquezas, mas como alguém que talvez conseguisse perceber toda sua aflição. Mais do que isso, ele vinha sentindo uma atração cada vez maior pelo meu corpo, algo para o qual não encontrava explicação, mas que queria deixar fluir até as últimas consequências.
Nossas conversas que avançavam pelas madrugadas insones, aquele corpão, às vezes semidesnudo, outras completamente nu, aqueles olhares quentes que emergiam de seus olhos e, aquelas mãos que já não se reprimiam mais quando sentiam vontade de tocar minha pele me deixavam numa inquietação sem tamanho. Eu queimava por dentro de tanto tesão, e me mostrava cada dia mais disponível para aquele caralhão grosso e cabeçudo que teimava ficar ereto quando daquelas visitas noturnas dele. O inevitável acabou acontecendo.
- Rasgou o cuzinho! – exclamou ele um tanto perplexo, ainda segurando meus glúteos apartados, contemplando a rosquinha se contrair, depois de tirar lentamente o cacetão de dentro dele, onde havia despejado uma quantidade absurda de esperma, e um discreto filete esbranquiçado escorria se mesclando às gotículas de sangue que afloravam entre as preguinhas rotas.
- O que você queria, depois de enfiar esse pauzão gigantesco em mim numa selvageria desmedida, como se fosse um bicho? – lamentei, sem deixar de constatar a satisfação que exultava de seu rosto barbado.
- Perdi a cabeça! Eu estava com tanto tesão que só queria entrar aí dentro! – exclamou, se justificando. – Você gemia e rebolava tão assanhado com o meu dedo chuchando seu cuzinho que eu achei que você estava pedindo pela minha rola. – emendou, procurando aplacar a culpa de ter me esgarçado daquela maneira.
- Seu dedo estava me excitando, foi a única maneira que encontrei de extravasar o que estava me deixando alucinado. – expliquei.
- Quer dizer que a culpa de termos chegado a isso foi só minha?
- Não foi o que eu disse! Eu nem mencionei a palavra culpa. É você quem está com remorsos pelo que fez, seu abrutalhado!
- Pronto, admito! Perdi a cabeça, como já falei, quando vi essa bunda toda à minha disposição. É da minha natureza, o que vou fazer? O tesão falou mais alto. – não deixava de ser hilário ele admitir sua compulsão sexual.
- Espero que da próxima vez você se lembre, ao menos, que tem uma pessoa debaixo de você, e não uma vaca ou uma égua capazes de aguentar um caralhão desse tamanho. – sugeri. Ele se esforçou para conter o risinho que já se amoldava em seus lábios. – O que foi? Que risadinha é essa?
- Quer dizer que vai rolar uma próxima vez? – perguntou, com a cara transbordando libertinagem.
- Não vá se animando! Nem cheguei perto de afirmar uma possibilidade dessas.
- Mas, pensou nela! – exclamou ousado. – O que eu vou interpretar como você já ter me perdoado pela impulsividade incontrolada.
- Abusado! – aquele líquido pegajoso e morno encharcando minhas coxas, não me deixava sentir raiva dele, só uma atração incestuosa que se tornava cada vez mais intensa. Deixei de ver nele qualquer traço de fraternidade. Ele passara a ser um homem, um macho, com o qual eu sentia o maior prazer em copular.
O ventre da Ana se tornava mais proeminente a cada semana que passava. Ela estava um pouco enfastiada, nada parecia deixa-la feliz, nem nossos longos passeios diários dos quais ela tanto gostava. Eles haviam se encurtado bastante, o que era compreensível por ela se cansar com mais facilidade naquele estado, mas havia dias em que nem aconteciam. Me remoendo de tanta culpa, eu ia ao encontro dela nesses dias, para encontrá-la em seu quarto, sentada numa poltrona diante das janelas contemplando o céu e os jardins com um ar pesaroso.
- Você está bem? Não se anima a ir até lá fora, está quentinho sob o sol? Podemos nos sentar no gazebo se você não quiser caminhar um pouco. – tentei animá-la.
- Não, obrigado! Prefiro que você fique aqui ao meu lado. Estou um pouco cansada hoje. – devolvia numa voz apagada.
- Claro! Vamos ficar aqui. Posso ler um pouco para você se quiser. – prontifiquei-me, procurando algo que a distraísse e a tirasse daquela melancolia.
- Não é necessário! Se você ficar segurando minha mão já é o bastante. – e lá se ia a manhã, eu com a mão dela entre as minhas e algumas sentenças esparsas promovendo um diálogo insosso.
- Não sei o que seria de mim se você não tivesse vindo para essa casa. – sentenciou, me encarando com um olhar triste, mas doce, que me atingia com a mesma intensidade de um punhal cravado no peito.
- Grávidas passam por esses momentos de tristeza e melancolia, é natural no seu estado. Em breve isso tudo passa e você vai até achar graça disso. – consolava eu.
- Nunca vi um homem conhecer tão bem a alma de uma mulher como você! Se eu tivesse tido irmãos, gostaria de ter um igualzinho a você. – se ela tivesse a noção do quanto isso me feria, do quanto eu me arrependia da minha vilania, jamais pediria algo assim.
Enquanto isso, o Guilherme havia se tornado presença constante na minha cama. Despejado a princípio do quarto conjugal quando das crises de enjoo da Ana, agora era ele quem não se sentia confortável ao vê-la passar por tudo aquilo, sabendo da sordidez que se escondia por trás de tudo. Ele experimentava culpa e remorso, tanto quanto eu. Costumava ser esse o pretexto com o qual vinha ter comigo. Nos consolávamos mutuamente. Quando esses sentimentos se afastavam, vinha o da cumplicidade, do tesão, e quando dávamos por nós, ele já estava atolado em mim, sendo aconchegado na maciez e constrição das minhas carnes.
- Tento entender o que te faz gostar de um sujeito como eu, que nem consegui ser homem o suficiente para minha própria esposa. – disse certa vez, ao terminar de encher minha ampola retal com seu sêmen.
- Por que diz isso, após fazer o que acabou de fazer comigo? Quem não sonha com um homem como você, másculo, potente, meio descontrolado, às vezes, é preciso dizer, mas capaz de deixar a gente nas nuvens. – afirmei.
- Eu me sinto mais homem quando estou com você! Acho que por não me sentir pressionado a te engravidar, experimento um prazer e uma satisfação que jamais experimentei com uma mulher. – revelou.
- Você é um homem! Você é um macho! Ponha isso na sua cabeça! E, não deixe que te façam acreditar no contrário. Você não é um mero reprodutor, é um homem ardente que só precisa de alguém que te dê todo o carinho que merece. – na tentativa torpe de criar um futuro monarca competente, meu pai havia tirado daquele garoto todas as oportunidades de se sentir amado, querido e coberto de carinho.
- Quero ser seu homem! Diga que me aceita, mesmo sabendo como sou. – suplicou, abrindo seu coração e sua alma para quem, pela primeira vez, não se importava por ele ter seus defeitos, fossem eles de personalidade ou de natureza sexual.
- Você não só é meu homem, como é meu macho! Se você soubesse como eu me sinto quando você derrama essa abundância de esperma saboroso em mim, jamais duvidaria de não atender as expectativas de quem quer que seja. – devolvi.
- Eu amo você, Carlos! Ainda bem que não aprendi a te amar como irmão, pois eu te amo da maneira mais carnal e libidinosa possível. Eu te amo como se fosse a minha fêmea, a fêmea pela qual eu disputaria o mundo só para poder copular com você. – disse, tomando-me em seus braços e procurando avidamente pela minha boca receptiva.
E, era assim, que nossas conversas acabavam em tórridas noites de amor entre os lençóis, construindo um relacionamento sólido que, enquanto se tronava mais e mais notório, incomodava sobremaneira nosso pai, que via a antiga resignação do Guilherme dando lugar a uma postura crítica e desafiadora.
Eu não te trouxe para cá para disseminar a discórdia entre meu filho e eu! – alegou certa vez, quando foi veementemente enfrentado pelo Guilherme.
- Nunca tive essa intenção! Se você achou que o manteria eternamente sob seu cabresto, é porque não conhece seu primogênito. Como aliás, não conhece nada da alma humana! – retruquei.
- Não se iluda achando que sua permanência nesse palácio está garantida, apenas por ter viabilizado um herdeiro. Após o nascimento dele, eu não contaria com sua estabilidade nessa corte. – ameaçou.
- Eu jamais quis fazer parte de corte alguma, muito menos da sua! A minha maior satisfação será a do dia em que eu puder voltar para junto das pessoas que me amam e a quem eu amo e respeito. Nada do que você tem aqui me fará falta! – devolvi, deixando-o possesso.
O que eu não sabia, era que eu ia engolir as minhas palavras quando a Ana pariu um garotão rosado, de olhos tão azuis quanto os meus e, cabelos negros como os dos membros da Casa Oldemburg. Depois de uma noite de vigília e expectativa, no meio de uma manhã ensolarada da primavera o herdeiro veio ao mundo, saudável, agitado e berrando a plenos pulmões. À porta do quarto, eu e o Guilherme parecíamos dois malucos, caminhando a esmo de um lado para o outro. Quando o médico veio permitir nossa entrada, eu hesitei, afinal, tudo devia parecer que era o Guilherme o pai daquele rebento, e não seu meio-irmão homossexual. No entanto, ele me puxou pela mão, como se segurá-la entre a dele, lhe desse a coragem que lhe faltava para encarar a esposa que pensava estar lhe entregando o fruto daquele casamento. Ele pegou o pacotinho que uma das parteiras lhe pôs nos braços, tremendo feito uma vara verde. Examinou-o com um olhar terno e comovido, olhou na minha direção e veio depositá-lo em meus braços. Assim que meu olhar pousou naqueles olhinhos azuis que me encaravam, senti as lágrimas rolando pelo meu rosto. Meu filho, parte de mim, era meu filho que estava em meus braços. A coisa mais preciosa que eu já tivera na vida, percebi subitamente. O Guilherme se aproximou, olhou no fundo dos meus olhos e, através das lágrimas que embaçavam minha visão, encontrei os dele todos marejados. Ele depositou um beijo carinhoso na minha testa, e eu comecei a chorar. Um sentimento egoísta brotou em ambos. De repente, aquele gesto de me entregar o recém-nascido nos braços ganhou uma conotação inusitada. Foi como se aquela criança fosse fruto das noites de amor que tivemos, nos tornando as pessoas mais plenas e felizes que havia sobre a face da terra. A cena deixou quem estava no quarto estarrecidos. Ninguém compreendeu exatamente o que estava acontecendo e, tão logo eu notei aquelas expressões, me dirigi para junto da Ana, beijando-a e a felicitando, antes de lhe devolver o filho nos braços.
Não demorei a notar que a felicidade da Ana com a chegada daquele filho parecia não estar completa ou, que temia por alguma coisa. Alguns dias depois, consegui que se abrisse e me contasse o que a afligia.
- Temo que de agora em diante, o Guilherme me faça um filho a cada dois anos, me transformando numa parideira. Não que eu não sinta nada por ele, mas se me tivessem dado a chance de escolher, certamente não o tomaria por marido. O que sinto por ele é afeição, amizade talvez, embora esse sentimento só tenha ganho seu real significado depois que eu te conheci. Acho o Guilherme um homem tanto quanto egocêntrico, que só enxerga a si mesmo e aos seus propósitos, como o pai. E eu não gostaria de passar a minha juventude parindo filhos para esse homem até meu útero não servir para mais nada. – confessou.
- Não se aflija com esses pensamentos, isso não vai acontecer! – fui tão enfático na afirmação que ela me encarou de modo estranho. – Quer dizer, ele não me parece ser esse tipo de homem que se vale das mulheres como reprodutoras. Tive meus senões com ele, de início, mas aprendi a vê-lo com outros olhos desde que estamos morando sob o mesmo teto. Ele é um homem à procura de si mesmo, e ainda não se encontrou plenamente. – afirmei
- Ele mudou bastante mesmo depois que você chegou! Por isso, eu te peço, não vá embora! Eu só me sentirei segura com meu filho se você estiver por perto. Sei que você nos ama, e eu preciso desse amor. – suplicou.
Com as semanas passando, eu já não me sentia mais cúmplice de um crime, mas cúmplice daquele amor que sentia pelo meu filho e pelo Guilherme. Subitamente, percebi que, jamais poderia abandonar meu filho, que seria incapaz de abrir mão dele, de que aquele avô nunca faria dele um joguete para atender seus caprichos.
- Tenho receio do que nosso pai é capaz de fazer ao nosso filho! – expus ao Guilherme.
- Não há o que temer! Eu estou aqui, vou cuidar dele e de você, não importa a que preço. – asseverou.
Eu acreditei piamente em suas palavras, até o dia em que a velha ama que ajudara a criar a Ana, deixou de trabalhar nessa função e desapareceu do palácio. A Ana me disse que ela havia pedido para cuidar da própria vida, já que se sentia velha para continuar com seus afazeres, embora não soubesse explicar de onde surgira, tão repentinamente, tal decisão. A primeira coisa na qual pensei, foi em meu pai se livrando das testemunhas de sua atrocidade. Uma inquietação quase doentia se apossou de mim, pois eu sabia que a crueldade daquele homem não conhecia limites quando se tratava de eliminar as pedras de seu caminho. Comentários à meia boca de criados palacianos reforçaram essa suspeita.
Menos de dois meses depois, foi um dos médicos, cúmplice daquela armação, que se mudou para outra cidade, segundo as explicações pouco convincentes que chegaram aos meus ouvidos. O fato é que o sujeito desapareceu. O outro, que chegara a fazer parte da comitiva que tinha ido me buscar, morreu de uma enfermidade que nem a família suspeitava, algumas semanas depois do desaparecimento do primeiro. Eu quase enlouqueci quando veio a notícia de que aquele conselheiro que ajudara meu pai a desenvolver toda a estratégia daquele golpe, fora assassinado por rebeldes insatisfeitos com a crescente exigência de impostos mais elevados, prejudicando duramente algumas regiões mais pobres do reino. Eram coincidências demais para um espaço tão curto de tempo e que, estavam se mostrando providenciais na ocultação daquele segredo real.
- Nosso pai está matando essas pessoas! Não se espante se me encontrarem morto nos corredores do palácio dentro de algum tempo. – disse ao Guilherme, tão transtornado que ele veio me apertar em seus braços quando a notícia do assassinato do conselheiro chegou ao palácio.
- Não diga bobagens! São fatos isolados que, por coincidência, aconteceram numa breve sequência. Nosso pai pode ser duro e insensível, mas não é nenhum carrasco sanguinário. – afirmou.
- Não consigo acreditar nisso! Eram as pessoas que sabiam de tudo! Eram as testemunhas que podiam revelar a verdadeira origem do nosso filho. Não é estranho?
- Você está impressionado, só isso! Nada vai te acontecer! Ele jamais faria mal a um filho.
- Eu gostaria de poder acreditar nisso! Ele me odeia! Agora que já servi aos seus propósitos, não tenho mais nenhuma serventia. – aleguei.
- Ele não te odeia, apenas fica furioso quando bate de frente com você, pois não está acostumado a ser questionado ou ter suas ordens postas em xeque. O que você faz o tempo todo. – afirmou.
- É porque não concordo com seus métodos, com suas ideias, com suas posições. – justifiquei.
- Vocês vão brigar eternamente, até já me acostumei a isso. – disse, dando uma risada descontraída.
Numa tarde do outono seguinte, quando o Guilherme a Ana, meu filho que recebeu o nome de George Eduardo por uma sugestão que ambos acataram unanimemente, e eu tomávamos chá no gazebo entre as faias e carvalhos que já haviam começado a mudar a coloração de suas folhagens, aproveitando as últimas tardes amenas antes do inverno que se aproximava, fui surpreendido pelo pedido inusitado dos dois.
- Queremos que você seja o padrinho do George! Sabemos que não há ninguém nesse mundo que o ame mais do que você! Aceita? – disse a Ana, esperando minha resposta. No olhar do Guilherme já havia a certeza da minha resposta.
- Sim, é claro! Você não faz ideia do que esse menino significa para mim! – exclamei, transbordando de felicidade.
- Acho que fazemos sim! – deixou escapar o Guilherme. – Queremos que o veja crescer e participe de cada avanço da vida dele. – emendou, quando a Ana olhou para ele tentando saber de onde vinha tanta certeza de eu saber o quanto o George significava para mim.
A possibilidade de eu voltar a viver com minha avó e minha mãe ficava cada vez mais remota. Meu lugar era ali, ao lado do meu filho e do meu homem. Eram eles que precisavam do meu amor, assim como eu do deles.
- Você já desistiu dessa ideia de nos deixar, não desistiu? – perguntou o Guilherme, naquela mesma noite, depois de ter passado horas no meu quarto debruçado sobre um projeto de irrigação que melhoraria as condições de alguns campos numa região onde os produtores viviam perdendo suas colheitas e, no qual havia se empenhado de corpo e alma.
- Digamos que descobri que há mais coisas me prendendo aqui do que em qualquer outro lugar. – afirmei, caminhando até ele, e deslizando suavemente minhas mãos de seus ombros para seu tronco enquanto o envolvia nos meus braços. Ele afastou a papelada que tinha diante de si e abriu um sorriso ladino.
- Que coisas, por exemplo? – ele sabia a resposta, mas ouvi-la saindo dos meus lábios que roçavam seu pescoço parecia mais interessante.
- Nosso filho, por exemplo! – exclamei, quase num sussurro.
- Só ele?
- Não! Meu homem também! – afirmei, no exato momento em que uma das minhas mãos entrava insidiosamente em suas calças.
- E quem é seu homem?
- Só vou te dar uma chance de adivinhar. – sussurrei, sentindo que o que meus dedos seguravam começava a ficar duro como o aço.
- Preciso de uma dica! – retrucou ele, entrando na brincadeira, desabotoando a braguilha e afastando as pernas para que eu me instalasse entre elas.
- Vou dar só essa aqui! – exclamei, antes de colocar aquele cacetão que eu havia liberado das calças na boca e começado a lambê-lo com entusiasmo. Ele soltou um gemido, entregando seu mastro às minhas carícias.
A virilha do Guilherme concentrava quase todo o cheiro de sua pele, que rescindia a couro, algo que desencadeava em meu corpo um desejo quase insano de me esfregar naquele corpão másculo e peludo. Ele havia descoberto essa minha fraqueza logo nas primeiras vezes que as intimidades entre nós aconteceram. Eu continuava segurando aquela verga pesada enquanto a sugava e a fazia endurecer na minha boca. Vez ou outra, ele me agarrava pelos cabelos, firmava minha cabeça e socava o caralhão na minha goela, enquanto eu perdia o folego e ele soltava uns urros guturais. O pré-gozo começava a ficar cada vez mais abundante, mesclando-se à minha saliva e fazendo meu cuzinho piscar de tanto tesão. Ter-me ali entre suas coxas, ajoelhado diante dele com sua rola na boca causava-lhe um prazer imenso. Ele se esquecia de que aquele sumo que eu engolia numa satisfação sem par, não tinha o poder de inseminar ninguém. Ele apenas se agarrava às minhas afirmações de que aquele néctar era a mais sublime e deliciosa poção que eu podia saborear. Ao encará-lo, sem parar de sugar aquela cabeçorra e, encarando-o como que pedindo por sua dádiva, ele gozou na minha boca. A enfermidade que o acometera na puberdade tirara dele a capacidade reprodutiva, e parecia tê-lo recompensado com uma farta produção daquele néctar adocicado e de sabor amendoado. A cada orgasmo aquele macho despejava uma quantidade absurda de esperma cremoso e esbranquiçado, que tinha se tornado minha droga viciante. Com o polegar, ele me ajudou a terminar de engolir aquele tanto que havia escorrido no meu queixo, por eu não ter conseguido engolir tudo aquilo na mesma rapidez com que os jatos enchiam minha boca.
- Eu sou seu homem, não sou? – questionou, com uma expressão doce ao me puxar para seus braços e me apertar contra o peito.
- Nunca duvide disso! – sussurrei, tirando minha camisola e me deitando na cama, para a qual o atraí com os braços e as pernas abertas. Ele sabia se enfiar dentro delas de tal maneira que nossos corpos se transformavam numa unidade única, numa lascívia pecaminosa, num conjunto sensual e harmônico.
O George crescia rodeado daquele amor ímpar, que o fazia titubear enquanto tentava descobrir a quem chamar de pai, uma vez que tanto o Guilherme quanto eu o cercávamos do mesmo amor. Como toda criança em sua esperteza e criatividade, aos quatro anos ele havia encontrado a solução para aquele dilema, com a simplicidade e objetividade características de uma alma pura, um passou a ser o pai Guilherme, outro passou a ser o pai Carlos. Assim, ele resolveu a questão do sentimento que nutria por nós dois, sem ferir ou melindrar nenhum de nós. A Ana achou graça da solução que ele encontrou, e aprovou a decisão do filho.
Nós três também havíamos encontrado uma maneira de conviver em harmonia. Algumas vezes eu suspeitei que a Ana sabia do que rolava entre mim e meu meio-irmão. No entanto, aquilo parecia tão providencial e cômodo para ela, que se sentia aliviada por não ser cobrada no seu papel de esposa, que não valia à pena questionar aquela intimidade que havia entre o Guilherme e eu. Enquanto isso, ele e eu vivíamos a mais tórrida relação incestuosa que nossa criatividade podia explorar, advinda de uma paixão que só fazia crescer.
Meu pai morreu poucas semanas antes do George completar cinco anos. Fora acometido de uma doença aguda que não o prendeu ao leito mais do que alguns dias, antes de deixar esse mundo. Sua partida não me abalou. Nos últimos tempos, até que já não discutíamos tanto, mas nossas diferenças continuavam. Eu havia descoberto que ele não era aquele assassino frio que eu pensava, quando descobri que cada um daqueles sumiços, a princípio suspeitos, não se confirmaram; que foram fuxicos da criadagem, boatos dos bastidores palacianos e, que tudo acontecera conforme haviam me relatado. Isso amenizou um pouco a imagem que eu fazia dele, embora não tivesse sido o suficiente para redimi-lo do que fizera a nós três.
- Será que eu saberei conduzir as coisas de agora em diante? O peso dessa coroa é muito maior do que eu havia imaginado. – confidenciou-me o Guilherme, quando se viu responsável pelo trono e pelo destino daquele povo.
- É claro que vai! Você pode tudo o que quiser! Basta que faça o que manda sua razão e seu coração. Você é um homem maravilhoso, cheio de talentos e qualidades! – respondi.
- Só você me vê assim!
- Não é verdade! Você é assim!
- As finanças estão péssimas, as insatisfações sociais crescem por todos os lados, rebeldes tumultuam as ruas das cidades nos acusando de deixá-los na miséria. Esse quadro não é exclusividade dessa nação, está acontecendo por toda a Europa, colocando as monarquias como as grandes vilãs do sofrimento do povo. Como governar numa situação dessas? – seus receios tinham fundamento
- Há excessos por parte da nobreza, temos que admitir. Mas, nem toda responsabilidade pelas más finanças pode ser atribuída às monarquias. A falta de compromisso com infraestrutura de gerações anteriores deixou essas nações falidas. O povo pensa que os monarcas nadam em fortunas que, nós muito bem sabemos, não corresponde à realidade para todos, como é o nosso caso e o do meu tio, por exemplo. – afirmei.
- Tenho que mudar essa realidade!
- E vai! Você sabe muito bem o que fazer! Quem não sabe são os revoltosos. Pensam que os cofres públicos não se esgotam, que são infinitos, que não há restrições orçamentárias, que suas revoltas não custam fortunas para manter a estabilidade social. Nossos antepassados jamais admitiriam isso, mas é hora de dividir as responsabilidades. Deixemos que o povo, os revoltosos, criem suas associações, se unam e proponham soluções para a melhoria das classes operárias. Sabe qual é a primeira coisa que farão, assim que se virem obrigados e encontrar soluções? Você sabe, não sabe?
- Aumentarão impostos! Diante da escassez de verbas, farão exatamente aquilo de que nos acusam tão ferrenhamente.
- Exatamente! Por isso, tire esse peso de suas costas. Você não é obrigado a ser o único a carregar esse fardo. Delegue parte das leis e das ações a esses revoltosos, deixe que criem partidos e defendam suas posições. Você será o magnânimo que atendeu aos anseios do povo, e eles, se degladiarão feito feras sobre os recursos, cada um tentando carregar para si o maior quinhão. Desde a Revolução Francesa vivemos uma onda de liberalismo, as monarquias estão fadadas à bancarrota, especialmente as tiranas.
- Você pensa como eu! Fico pensando se temos o direito de trair nossos antepassados abrindo mão de nossas coroas, seria justo com os esforços que sempre fizeram?
- Se não as partilharmos espontaneamente, elas nos serão arrancadas à força, muito provavelmente junto com nossas cabeças. A concentração do poder num único homem por direito sucessório é algo do passado. Você pode abrir caminhos para uma nova nação, e sei que o fará com brilhantismo. Abrir mão desse poder exclusivo não é uma derrota, é uma maneira de encontrar paz para si mesmo. As disputas acirradas continuarão, mas não poderão mais ser imputadas aos monarcas que atenderam às reivindicações populares.
- Eu só quero poder viver feliz ao seu lado e ao lado do nosso filho! Vocês são as únicas coisas que me importam. – disse ele, vindo me abraçar e colando sua boca na minha.
- Eu te amo, meu homem! – sussurrei, enquanto abria minha boca para aquela língua insaciável que, me penetrava como um preâmbulo para a penetração daquele caralhão roçando e endurecendo junto à minha coxa.