Capítulo 2 – A Joaninha Albina dos Infernos
Pior que a viagem foi bem mais rápida do que eu tinha imaginado. Foram só umas 5 horas (3 delas eu devo ter passado dormindo usando três bancos traseiros) e a gente já conseguia divisar a cidade no horizonte.
E eu fico impressionado com o quão deserta era a via principal que cruzava o meio da cidade, não tinha nenhum carro circulando (e era uma plena quarta-feira).
- Vocês acham que ninguém trabalha hoje? Algum feriado local? – Pergunta o Boris, o mais certinho do grupo (sei lá, eu digo isso só pelo óculos dele).
- Boris, era para ser uma cidade isolada, e não fantasma. Quem sabe ter um ou outro veículo nas ruas. Mas nenhum carro ou pedestre? Aí já é demais. – Alexei retruca (esse era o loirão fortão, o líder do grupo, também me baseando em puro achismo).
Mas realmente tinham pessoas.
Eu não falei para ninguém ali, mas enquanto o ônibus ia passando algumas casas (as poucas sem placas de vende-se) tiveram as suas pequenas aberturas de janelas e suas cortinas fechadas. Era quase como se uma pandemia (outra além da atual) tivesse infestado a cidade de zumbis e os moradores estivessem se escondendo dentro de suas próprias casas.
O Salsicha (eu só chamaria o motorista assim de agora em diante) para na frente de um hotel grande (devia ser o único da cidade, aquelas paradas feitas para os turistas).
- Aí. Podem descer, você me pagaram para ida e volta. Eu vou ficar dormindo aqui e amanhã eu levo vocês lá para a floresta e voltamos bem rápido.
Eram só três dias (com uma passeio combinado na floresta dos contos misteriosos do local) e o Salsicha já queria reduzir para dois. Ele visivelmente estava com tanto medo que o seu cagaço conseguia até ser sentido através daqueles pelos sujos e grandes da cara.
E nós trezes descemos e fomos até a recepção.
- Oi!! Eu queria um quarto grande com-
A Anastasia já estava toda animada no balcão quando ela para e todos nós notamos o básico.
Não havia atendente e ninguém no hotel.
As luzes e tudo estava funcionando, mas não havia cliente ou funcionário nenhum ali.
- Já que é assim. Achado não é roubado. Vamos para a cobertura, Ana.
O Vladimir (ele era o mais chato e arrogante de todos, eu digo isso só porque ele não largava do meu pé com as piadas) pula a mesa e pega as chaves dos quartos e sai jogando para a gente. E no final ele fica com o da cobertura com a Anastasia.
Essa noite vai ser bem longa.
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E como foi.
Não sei se realmente foi sem querer.
Eu só sei que o Vladimir me deu o quarto embaixo do dele na cobertura. E agora eu escutava a cama de cima tremendo e a Ana gemendo alto pra porra. Eu acho que nem atrizes pornôs histéricas gritam tanto na hora do sexo.
- O Vlad deve ter uma piroquinha de uns 7 cm e você é uma péssima atriz, Anastasia. Vê se cala a sua boca, vagabunda. – Eu xingava e resmungava pra mim mesmo e brincava com o meu isqueiro preferido.
Até que ela para.
A Anastasia (que segundos atrás gemia que nem uma cadela no cio) tinha parado e só havia agora um silêncio sepulcral.
Ou era isso que eu pensava.
- SOCORRO!! ALGUÉM ME AJUDA!!!
Era a voz do Vladimir gritando assustado.
Eu guardo o meu isqueiro no bolso e saio correndo para o quarto dele.
- Vlad! Abre a porta!
O Vladimir abre a porta e desaba choramingando no chão. E sem tempo eu pulo ele e vou checar o que havia acontecido.
E eu descubro.
- Puta que me o pariu.
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Mano.
Como eu posso descrever o que eu vi?
Tinha a porra de um besouro do tamanho de uma bola de basquete (era grande assim) colado no pescoço da Anastasia e com um ferrão que me parecia ser do comprimento de uma caneta (era longo assim) enfiado fundo na jugular dela.
De forma instintiva eu saco o meu isqueiro e vou aproximando ele do inseto, que mais parecia uma barata branca alienígena de tão feio.
E deu certo.
O bicho (a joaninha gigante que devia ter sido alimentada com whey protein durante a vida inteira dela) sai do pescoço da Anastasia e foge pela janela. Eu acudo a Ana e vejo uns pingos de sangue que faziam um rastro de onde a joaninha albina dos infernos tinha saído pra fora.
- Vlad, seu inútil! Segura aqui o ferimento dela que eu vou procurar ajuda.
O Vladimir vem se rastejando pelo chão (ainda chorando) e eu boto uma gaze que eu achei no banheiro na mão dele.
- Pressiona o ferimento da mordida que ela ficará bem. O inseto não botou veneno nela. Ele estava só sugando o sangue da Ana. Só cuida do buraco e para o sangramento que tudo voltará ao normal.
Normal porra nenhuma.
Mas eu precisava falar algo para acalmar o Vlad, mesmo que eu não soubesse se a informação era verídica ou não (eu tenho cara de biólogo?).
E os outros quartos vão abrindo e os outros casais param de trepar e vão até o quarto da cobertura ver o que aconteceu com o Vladimir e a Anastasia, enquanto eu corria no sentido inverso e não respondia nada pra eles.
E eu desço pulando de 3 a 5 degraus até lá embaixo.
- Salsicha!! Pega o seu carro e vamos para um hospital!!
Não tinha ninguém.
Nem Salsicha.
Nem Scooby.
Ninguém.
O motorista havia nos deixado ali sozinhos e sem ônibus algum.
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Eu dou uma respirada lá embaixo e dessa vez eu subo pelo elevador (o do meio estava operacional ainda).
E lá em cima eu vejo uma confusão de jovem assustados e seminus de pijamas na frente do quarto da cobertura.
- Saiam da frente. Deixem me ver como eles estão.
Eu achei que a veria no chão e o Vlad estancando a ferida.
Mas o que eu vejo era algo grotesco e digno de ser um filme de terror.
A Anastasia estava colada em um dos cantos do quarto e cresciam raízes brancas dela. O próprio corpo dela estava ficando pálido e claro, igualzinho à joaninha albina dos infernos que tinha a atacado.
- Amor! Me tira daqui! Eu não consigo sair! Vlad, faz alguma coisa! – A Ana gritava em desespero e chorava.
E com todos ali em volta (eu incluso), o Vladimir tenta ter uma atitude de homem e levanta pra tirar a sua mina da parede.
E ele segura com as duas mãos um braço dela e puxa.
E puxa.
E puxa.
Até que.
- Amor! Eu irei te tirar dessa árvore! Ana, eu estou quase...
Ploc.
- Lá.
O braço dela quebra e fica na mão do Vlad. Não era como se ele tivesse arrancado da carne dela, não houve sangue, o braço quebrou e fez um clac (ou creque, creck, crack, foda-se) igual a de um graveto.
- NÃO!! SEU MERDA!! VOCÊ ARRANCOU O MEU BRAÇO!! HAAA!! SOCORROOOO!!!
E do toco (tinha saído a mão e o antebraço) na altura do cotovelo começa a nascer um outro tronco branco ali, como um enxerto vegetal que tinha como tronco base a própria Anastasia, que continua crescendo e ocupando o quarto inteiro.
O Vlad solta o braço dela no chão.
E sai do quarto mudo e sorrindo com um olhar morto pra frente.
Que merda!
E agora?
- Ana! Eu vou levar o pessoal para um lugar seguro e buscar ajuda pra você. – Eu tento ajudar me metendo na briga do casal.
- Mentiroso! Seu piromaníaco! Você vai me deixar aqui que eu sei! Voltem aqui! Não! Seus malditos! Eu ainda estou viva! VOLTEM!!! NÃO!!!
E eu saio e todos me acompanham pra fora (com certeza eles já queriam ter fugido com medo a muito tempo atrás).
- D-D-Dimitri, o que faremos agora?
Era a Yelena (namorada do Boris) me perguntando.
- Vamos deixar a Anastasia aqui. Se descobrirmos uma cura a gente volta. O arrombado do motorista fugiu. Vamos sair a pé da cidade. Eu vi um posto de gasolina não muito longe. Podemos pedir ajuda fora dessa cidade e escapar.
- T-Tudo bem.
Eu e o Alexei lideramos o grupo e depois que todos se vestem e buscam as suas mochilas fomos até a saída da cidade.
Que agora estava bloqueada.
Por algo muito similar ao que eu tinha visto poucos segundos atrás.
- Mas que caralho é isso?
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Muito obrigada mesmo (^-^)