Havíamos descido ao litoral e as coisas não estavam bem.
Quando estávamos planejando a viagem, pedi ao Saulo que cuidasse do apartamento a ser alugado. Eu veria as outras coisas, as comidas e bebidas, as nossas bagagens, nossos programas, a ida à ilha de barco que ele tanto queria. Ele podia se concentrar no apartamento.
Distraído, lembro que ele me respondeu que não me preocupasse. Eu limpava do meu pente alguns fios negros do meu cabelo e ele escovava os dentes, os dois no banheiro. Encostou sua barriga proeminente em minhas costas, com a escova na boca, e disse algo sobre como adorava minha cintura fina e a marca da minha "bundinha gostosa" naquele short de pijama, um comentário que repudiei e achei vulgar. Me deu um beijo no pescoço e foi dormir pesadamente, roncando.
Estávamos casados há 7 anos, eu com 28 agora, ele com 40, mas parecia mais tempo, eu pensava.
Me empenhei nos preparativos da viagem. Minha dieta era estrita. Precisava de iogurte com baixo teor de gordura, granola e frutas pelas manhãs, uma garrafa de kombucha para fazer meu intestino preguiçoso funcionar. Às tardes, fazia uma salada "caesar" e parava de comer depois das 6 da tarde, tomando jarras de água com limão para enganar a fome. Fazia minha rotina de agachamentos e bicicleta antes de dormir. Foi assim que mantive minha forma desde os 21.
Minhas bagagens sempre eram grande demais, dizia Saulo. Não poderia ser diferente. Além das porções de comida, precisava acomodar minhas roupas, os vestidos, as roupas de ginástica, as roupas íntimas, os acessórios de maquiagem, os cremes, entre outras coisas. A mala sempre acabava estufada.
Descuidadamente, como acontecia desde o começo de nosso casamento, ele deixou a tarefa do apartamento para a última hora, e as coisas derivadas disso não foram boas.
Quando chegamos, à noite já, vimos que o lugar, apesar de grande, ficava a umas quatro quadras do mar, sem vista.
A região registrava uma onda de calor naqueles dias, e nossas roupas estavam cobertas de suor. Ao entrar, meu primeiro reflexo foi correr ao aparelho de ar condicionado e ligá-lo. O aparelho não funcionava. Fazia um barulho estranho e dele saía somente ar quente.
O Saulo tomou um remédio para dormir que tinha e despencou na cama nessa primeira noite, eu me recusei a tomar, não gostava de remédios, que me faziam perder o controle de mim mesma, e, além do mais, não funcionavam para mim. Ele suava e roncava, um sono conturbado por causa do calor. Eu passei a noite em claro, me debatendo na cama, virando de um lado para o outro, sem conseguir dormir.
Logo de manhã cedo pedi a ele que telefonasse a alguém que pudesse fazer o serviço de reparo do ar condicionado, de outro modo, seria impossível permanecer ali.
Ainda tonta pela falta de sono da noite anterior, entrei numa demorada ducha fria, para limpar todo o suor do corpo e ver se espantava o calor. Me maquiei no espelho, agora mais acordada pela água gelada da ducha. Passei meu perfume. Coloquei uma camiseta leve em decote v com um "short" de algodão, que havia comprado em Nova York. Me senti um pouco melhor.
Sentei na cama para terminar a rotina matinal. Comecei a passar meu creme hidratante nas pernas, quando o técnico chegou. Era um jovem mulato claro alto, devia ter uns 25 anos. Estava com um macacão azul de servente de pedreiro, meio pequeno para ele, e umas chinelas gastas.
O Saulo o trouxe ao quarto, no que o técnico me viu e fez uma saudação breve, meio envergonhada, e foi direto à máquina, com ferramentas na mão, para abri-lá.
Continuei minha rotina e notei que o mulato dava de vez em quando umas olhadelas para as minhas pernas, no começo olhadelas rápidas, depois um pouco mais demoradas. Voltava-se para recolher alguma ferramenta da caixa e ficava uns segundos fitando minhas coxas e meus pés à medida que o creme branco se dissolvia na pele, talvez pensando alguma besteira, nunca devia ter visto mulher, eu pensava. Senti um embrulho no estômago, fiz questão de manter o rosto sério e apressar o creme, para sair dali o quanto antes.
Notei que ele tinha um corpo magro, forte e definido, talvez do trabalho, mas uma força natural, não intencional, diferente da definição masculina que via às vezes na academia, que só vinha com dieta especial, repetições tediosas, e, às vezes, uma ajuda hormonal, pelo que ouvia dizer. Tinha também umas feições finas, lábios pequenos, nariz arrebitado, meio feminino até, mas uns olhares de bandido malandro, as sobrancelhas vivas e os olhos meio fechados, sorriso de canto de boca.
Terminei, por fim, e levantei da cama em direção à sala. Senti o mulato fuzilando com os olhos a parte de trás dos meus shorts enquanto saía do quarto. Como o povo da praia é sexualizado, pensava, tão diferente da cidade, talvez pelo calor e pelo sol que deixavam os miolos meio moles, que obrigavam todos a expor mais o corpo. Tudo era meio nojento e animal, eu pensava, a mente devia ficar grudada de suor como a pele, talvez por isso que não funcionava direito nos praianos. Talvez por isso que nada funcionava direito ali na praia.
Enquanto tomava meu iogurte com kombucha, ouvi o Saulo e o mulato discutindo, o último com uma peça na mão.
-500 reais? Mas isso é o preço de um aparelho novo.
-Amigo, um aparelho novo que nem esse tá mais de 2 mil. Se quer arranjo peça nova dessa e resolvo o problema em dois dias.
-Não, isso é um roubo. Não vou pagar 500.
-Cuidado com o que diz, chefe. Quem rouba é ladrão. Eu sou trabalhador.
-Esse preço é um roubo. Obrigado e até logo.
O mulato largou a peça em cima do aparelho, e, ao que me viu tomando meu café da manhã, fez uma breve saudação e partiu.
Saulo começou a esbravejar e ligar para outras lojas e técnicos, para atestar, no final, que aquilo que o mulato havia dito era verdade. Insisti com ele que comprássemos um novo aparelho, porque não aguentaria mais noites naquele calor. Ele retorquiu que era muito caro ali no litoral, que ligaria para o mulato para combinar o conserto e compraria um ventilador, com o que aguentaríamos aqueles dois dias a mais até o reparo do aparelho. Era um plano capenga. Não sabia como havíamos nos casado, eu, metódica e organizada, ele, um completo bagunçado.
Fomos à loja do centro da cidade à tarde e trouxemos ao apartamento um aparelho ventilador.
Naquela segunda noite, o ventilador não ajudou em quase nada. O aparelho, barulhento, ficava circulando o ar terrivelmente quente do quarto. O Saulo tomou um outro comprimido e caíu no sono. Eu fiquei me debatendo na cama.
Pelas primeiras horas da madrugada, uma chuva agradável começou a cair, chuva que prometia aliviar um pouco o calor. Senti aquela brisa fria dos jatos de água entrando pela janela, e sorri. A alegria não durou muito. A chuva virou torrencial e tive de fechar a janela do quarto. O calor voltou e não me deixou pregar o olho por mais de uma hora.
Pela manhã, descobrimos que a chuva havia derrubado um poste de luz, e estávamos sem energia. Ainda, nossas malas tinham ficado embaixo de uma das janelas da sala, o que havia molhado minhas roupas.
Pulei o café da manhã e minha rotina de beleza matinal, vesti a camiseta do dia anterior, a única que não estava molhada, e fui direto ao centro comprar novas roupas, debaixo de um calor insuportável. O Saulo ligaria para o técnico e tentaria agilizar o serviço do ar.
Achei as roupas mais leves que pudesse encontrar, uns vestidos de chita muito baratos. Aproveitei e comprei umas chinelas também. Na volta, parei em um quiosque para comprar uma limonada, ou suco de laranja, para me hidratar.
O homem da venda era um senhor já, de seus 50 anos, parrudo, com uma cabeça chata que parecia ainda maior com sua calvície. Estava rodeado de uns outros dois matutos, que pararam quando eu cheguei. Ficaram fitando meus seios, minhas pernas, meu corpo, sem muito pudor. Achei que era culpa do vestido que comprara, que devia ser transparente demais e estava suado. Era um vestido branco com detalhes azuis florais de chita, e havia notado, no provador, que ele marcava um pouco a peça preta de biquini que eu usava por debaixo.
Pensei novamente em como os homens da praia eram despudorados, me olhando daquele jeito. Devia ser o calor infernal. A vista de uma mulher bonita era, talvez, como se fosse um oásis para eles, um pouco de refresco, como aquela limonada que eu bebia sentada ali, enquanto o dono da venda fitava minhas pernas, levando uma toalinha na testa.
Talvez fosse o contrário, a visão de uma mulher deixava as coisas ainda mais quentes para eles. Não, provavelmente era um refresco. Tudo ali já era tão quente e insuportável que teria de ser um refresco. Era preciso ser muito forte para aguentar viver num lugar daqueles.
Me deu certo prazer o pensamento de que eu podia ser um refresco, um suplício no meio daquela selva. Cruzei as pernas numa pose especial enquanto o dono me olhava e deixei o vestido assanhar um pouquinho nas coxas, os pézinhos ao vento. O olho do dono engordou nas minhas pernas e eu sorri de leve.
Na saída, tentei pagar e ele negou, disse que a limonada era por conta da casa. Tive mais uma vez, ao deixar a vendinha, a sensação de ser fuzilada por trás, onde, imaginava, meu bíquini preto fazia marcas no vestido, mas não senti nojo dessa vez.
Ao voltar ao apartamento, Saulo estava preparando as malas. Me disse que o mulato havia subido o preço para 700, o que era inaceitável. Estava subindo para a cidade, para comprar um aparelho novo por esse preço e trazer no dia segunte.
Pela terceira noite seguida, agora sem energia elétrica, sem ventilador, sem o Saulo e sem chuva, me debati, sem conseguir dormir por mais de uma hora.
Entrei exausta na ducha fria, que me acordou de vez. Parei em frente ao espelho e peguei, automaticamente, o kit de maquiagem e os perfumes. Pensei que tudo aquilo era besteira, que tinha uma fome enorme e deveria comer antes de tudo. Abri a geladeira para descobrir que o iogurte e a kombucha tinham estragado, afinal, a geladeira não estava funcionando e o calor era infernal.
Estava faminta. Coloquei um dos vestidos de chita que havia comprado no dia anterior, o corpo já suado. Estava aprendendo a adorar aqueles vestidos, tão frescos e confortáveis. Sentia a sensualidade do meu corpo aflorar vestindo-os, o tecido grudando na pele pegajosa de suor, marcando meus seios, minhas coxas e nádegas.
Desci ao quisque para comprar algo para comer. O dono, sozinho agora de manhã, sorriu muito para mim, me olhou com aqueles olhos de desejo e me pediu que sentasse, que traria o cardápio.
-Para começar, umas ostras e uma cerveja escura bem gelada.
O dono da venda sorriu.
-A essa hora da manhã, dona?
Eu ri.
-faz séculos que não me alimento direito.
Poderia comer um ostrário inteiro com a fome que tinha. Devorei as ostras e fui bebericando aos poucos a cerveja escura. Depois de acabar, chamei o dono da venda e pedi um banana split de sobremesa. Veio uma tigela reforçada, uma bananona, duas grandes bolas de sorvete e um sorriso malicioso do dono na hora de servir. Disse a ele que não sabia que o prato era tão bem servido, que achava que não aguentaria. Ele me respondeu que havia feito uma porção especial para mim, e que, a depender do apetite que tinha visto com as ostras, achava que eu daria conta do prato inteiro. Pensei novamente em como o povo da praia era sensual, mas dessa vez me pareceu natural que fosse no meio daquele sol e calor.
O dono seguia, do quiosque, com cara de tarado, minhas pernas, meus seios espremidos no vestido preto fininho e, agora, minha boca devorando aquela banana caturra madura, embebida no creme branco do sorvete derretido. Achei tudo aquilo divertido, devia ser a cerveja, pensei.
Senti o sono das noites mal dormidas voltando. Pedi um café pingado para arrematar a refeição. O dono, talvex ao sentir que eu iria embora e meio tomado pelo calor, deixou suas partes íntimas, suspensas em uma calça velha de ginástica, roçarem meus ombros ao trazer a bandeja com o café. Não achei nada daquilo. Só fiz questão de pagar dessa vez.
Quando entrei no apartamento, li a mensagem do Saulo no celular, dizendo que não tinha achado o aparelho e que estava voltando, chegaria à noite. Fazia um calor insuportável, mesmo com todas as janelas abertas. Minhas pernas respingavam de suor.
Bateu na porta o técnico do aparelho de ar, e abri. Me disse que não conseguira falar com o Saulo no último dia, mas que trouxera a peça para a troca, e que faria pelo preço antigo, 500. Pensei em um instante em dispensa-lo e dizer que o Saulo tinha desistido, perdido um dia procurando aparelhos na capital e que agora voltaria sem nada, que já estava ficando acostumada com o calor, que não importava mais, que nada importava. Mas somente assenti com a cabeça e deixei-o entrar para fazer o conserto.
-Seu marido, dona?
-Subiu para resolver uns negócios e volta de noite.
-Ele pode me pagar depois.
-Não precisa. Acho que tenho o dinheiro.
Enquanto ele fazia, agachado, o conserto, olhava para ele agora com outros olhos, e o achava um belo espécime de macho. A pele mulata linda, os braços fortes expostos pela regata e as coxas bem definidas que marcavam sua calça de ginástica, parecida com aquela que o velho havia me roçado os ombros. O bigode fininho compunha também bem seu rosto, de traços finos.
Imaginava como seria viver, na base da cadeia alimentar, pobre, sem meios, naquele calor todo. Eu era orgulhosa das minhas rotinas, da minha disciplina, do meu auto-controle, mas eu nunca havia passado por dificuldades. Nasci em berço de ouro e vivi em palácios ao longo da vida.
Ele me olhava de vez em quando, talvez tentando me decifrar, tentando me achar no meio do caminho entre aquela princesa perfumada, que passava creme em suas pernas com um ar de nobreza, ou essa figura agora, de vestido praiano baratinho, suando para valer por todos os poros. Não sei qual figura apelaria mais para ele, mas eu queria ser um refresco.
Sentei na beirada da cama e comecei a secar, com as toalhas, meus pés e pernas, que estavam pingando de suor. Deixei o vestido assanhar um pouquinho nas coxas. Ele, vez em quando, buscava as ferramentas e dava uma olhadela no espetáculo.
Peguei um livro, deitei de bruços na cama e deixei que ele pudesse apreciar minhas nádegas sob o tecido preto do vestido, que já se pegava com minha pele. Talvez ele pudesse deduzir minha roupa intima marcando meu vestido, o que podia excita-lo. Notei que os barulhos da caixa de ferramentas ficavam mais e mais frequentes.
Ele me avisou que havia terminado o serviço. Era preciso esperar a energia voltar para ver se tudo estava certo, mas garantia que agora o ar funcionaria direito. Fui à sala pegar minha carteira, e perguntei a ele se não queria um copo d'água, afinal, o calor era insuportável.
Ele me agarrou contra a parede.
-Sei do que você precisa para apagar esse calor, dona, não é água nem ar condicionado.
Ele levou minhas mãos à sua genitália. Me desesperei, achei que iria desmaiar, o coração começou a disparar, tentei gritar e me debater. Mas, como o calor, acostumei depois de um tempo.
Comecei a acariciar suavemente suas partes íntimas, primeiro, por cima da calça de ginástica, com o que ele deixou de forçar meu corpo e passou a gemer baixo nos meus ouvidos, mordendo-os com força de vez em quando.
Suas partes íntimas marcavam e molhavam o tecido das calças, tamanho o desejo, pensei. Coloquei as mãos por dentro. Ele estava sem cuecas, e disse um "ai" em meu ouvido.
Passava minha mão por todo seu membro, que estava muito, mas muito rígido. Quando desci a seus testículos, ele disse um outro "ai".
Ele passava suas mãos ásperas por todo meu corpo, encontrando meus mamilos rígidos dentro do vestido, depois apertando minhas nádegas, depois, passando os dedos por cima de minha calcinha. Eu deixava me render, pensando que queria ser o seu refresco naquele calor, e ele era o meu também.
Senti um cheiro forte de suor debaixo de meus braços.
-Vou ao banheiro passar um perfume.
-Não. Eu gosto do seu cheiro de vagabunda.
-Eu também gosto do seu cheiro de macho.
Ele pingava de suor e tinha um cheiro forte de mulato, que me excitava muito. Me pegava com força nas mãos. Me jogou na cama de bruços, se deitou por cima de mim e começou a me penetrar com sua banana caturra, indo e vindo com seu quadril com força enquanto eu sentia meu corpo pressionado contra o colchão.
Ele pingava e gemia por cima de mim. Ás vezes me chamava de "delícia" e "gostosa", às vezes de "vagabunda" e "cadela". Falava para eu pedir seu sexo em voz alta, para dizer que ele fazia melhor que meu marido. Eu dizia que ela era meu macho, o que deixava ele rígido como uma pedra dentro de mim e louco de tesão por mim. Ele dizia que ia gozar dentro, que faria um crioulinho bonito dentro de mim.
O movimento de empurra-empurra do quadril se transformou numa convulsão e ele passou a ejacular dentro de mim, em espasmos de seu membro rígido dentro de mim e urradas no meu ouvido.
Despediu-se de mim sem dizer muita coisa importante. Falou que eu era muito gostosa e foi embora.
De noite, a energia elétrica voltou. O aparelho estava agora funcionando, e gelando a casa inteira.
Tomei um longo banho quente e fui deitar em seguida.
Acordei no meio da madrugada, com o Saulo me abraçando por trás na cama. Pensei nas minhas roupas de Nova York, no iogurte,na kombucha, na capital.
A vida tinha voltado ao normal.