Capítulo 3 - A Árvore Branca e a Vermelha
O ônibus estava ali parado com uma enorme árvore branca na frente dele.
Eu chego com os outros e não havia motorista nenhum.
- Dimitri, onde está o motorista? – Boris me interpela e fala o óbvio.
- Não sei. Vem e vamos entrar no busão. Eu sei dirigir isso.
E eu vou contando os membros que tinham escapado do hotel antes de subir no carro.
E antes de partir.
Eu vejo uma única mão para fora da Árvore.
Eu então me aproximo e a mãozinha começa a se mexer e a tentar me agarrar.
- Hey... Moleque... Um bicho me mordeu... Eu... Socorro brother... Me tira daqui...
A voz era baixa e distante. Como era só uma mão que ficou fora de tronco eu não conseguia escutar a voz abafada da pessoa.
Mas havia ficado claro para mim que esse era o motorista e que ele foi picado por um outro inseto bizarro daquela cidade e virado esta árvore branca.
Quer dizer que quando estes insetos sugam o seu sangue a pessoa vira uma árvore branca?
E depois de ver a Anastasia eu sabia que não havia como retirar o Salsicha dali (com certeza eu arrancaria o braço se imitasse o que o Vlad tinha feito no hotel).
- Foi mal. Eu prometo que eu vou achar ajuda pra você.
- Não... Volta... Aqui...
Eu subo no ônibus e vou dando ré no carro, as rodas dianteiras tinham se prendido nas raízes mas eu consigo soltá-las.
- Dimitri, para onde vamos? – Yelena pergunta (a namorada do Boris).
- Eu não sei. O motorista virou esta árvore branca e bloqueou a estrada. Acho melhor voltar pra cidade.
- Oi? Quer que voltemos para aquele inferno?
Parecia uma péssima ideia, mas era a única que eu tinha em mente.
- Sim. Talvez a outra saída não esteja bloqueada. Vamos atravessar a cidade inteira e sair pelo norte.
Eu viro o volante e depois de desfazer o jogo eu dirijo de frente pra cidade.
E lá vamos nós
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Eu consigo avançar bem e atravessar o hotel onde a Anastasia estava.
É mesmo.
Como será que ele está?
Eu acho o Vlad com meu olhos e o observo sorrindo em um banco sozinho. Ele tinha sofrido um trauma tão grande ao arrancar o braço da namorada como um graveto que ele parecia o Coringa nesse último filme que saiu. Vladimir tinha dado aquele estalo de loucura e só voltaria (eu esperava) para a lucidez depois de algumas horas em paz.
Paz.
E nessa hora, como se Deus estivesse me provocando, eu vejo uma nuvem branca gigantesca na frente na estrada.
- Dimitri? O que seria isso? – Questiona a Yelena, perguntando pra mim ao invés do próprio namorado, o nerdão do Boris.
- Não sei. Parece os insetos do hotel. Fechem todas as janelas. Não deixam que eles mordam vocês! Ou vocês virarão aquelas árvores brancas bizarras!
E enquanto eu dirigia, todos (exceto o Vlad) começam a se agitar e a fechar todas as janelas.
A nuvem de insetos bate no vidro e se esmagam, eram pequenos como baratas (bem menores que a joaninha infernal que atacou a Anastasia), e quando se esmagavam no vidro a gosma deles parecia com...
Com...
Com esperma?
Foi a primeira coisa que me veio a mente. Porém a minha intuição me dizia que eu estava certo de alguma forma. Não era o conteúdo gosmento verdinho (aquele sanguinho verde, sei lá se posso falar isso, não sei se barata ou insetos tem sangue), a consistência lembrava muito mesmo a de sêmen.
- Dimitri!!! Para o carro!!!
E dou uma freada brusca e olho para trás.
- Não acredito nisso.
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A gente tinha esquecido de fechar a portinhola do teto e os insetos entraram por ali.
E os bichos invadiram o ambiente e tinham se avolumado na boca da Yelena e estavam explodindo fundo na garganta dela.
- Glup glup!! Glohglohgloh!! Glup!!
O Boris (o namorado nerd e frouxo dela) batia no rosto dela com vários tapas nervosos e estava matando os insetos que tentavam entrar nos orifícios faciais dela. Nesse meio tempo o resto do grupo fechava a entrada do teto de onde eles tinham vindo.
- Amor! Cospe tudo! Bota pra fora. Vai ficar tudo bem.
O rosto dela estava todo sujo de geleca branca e ela cuspia o pouco que não havia engolido dos insetos que se mataram (estranhamente coordenados e em harmonia) fundo na garganta dela. Se tirasse o cenário de filme de terror ao nosso redor e deixasse só aquela adolescente da maneira que ela estava, seria idêntico a um bukkake onde a atriz pornô está toda gozada e com o estômago cheio de porra de vários caras.
Mas ela não tinha sido mordida pelos insetos, então a Yelena ficaria bem.
Ou era isso que eu pensava.
A Yelena começa a ficar com a pele avermelhada e a virar uma enorme árvore também.
- Não! Yelena! Mas como isso é possível?! Os insetos não te morderam!
Boris chorava e abraçava ela, enquanto a sua namorada florescia e crescia ocupando o carro. Era igual a Anastasia, exceto que a garota estava ficando vermelha ao invés de branca.
Anastasia teve o sangue sugado e ficado branca.
E a Yelena comeu insetos e ficou vermelha.
Uma tiraram o vermelho (o sangue) e ela virou uma árvore branca.
E a outra deram o branco (a gosma dos insetos) e ela virou uma árvore vermelha.
E com esse padrão bizarro na cabeça eu começo a gritar para todos descerem.
- Vamos! Já atravessamos a cidade. Vamos a pé o resto.
Com todos lá fora e chorando (tirando o Vlad que estava rindo no seu mundinho), eu vejo o Boris ainda abraçando a Yelena lá dentro do ônibus.
- Boris, solta ela. Não vamos abandonar ela. Vamos atrás de ajuda e depois voltaremos.
Anastasia.
Salsicha.
E agora a Yelena.
Era a terceira pessoa em poucas horas que eu falava o mesmo papo-furado, sendo que eu nem sabia se havia algum cura humanamente possível para eles.
E a Yelena finalmente fala algo, com um timbre embargado e emocionado.
- Vai, mozinho. Eu estou bem. Oh... Eu sinto o meu corpo se preencher de amor e satisfação. Tchau, Boris.
Eu puxo o garoto de óculos e saio com ele.
- Yelena!! Não!!
E enquanto saíamos do ônibus e ela terminava de engolir o velho transporte russo com seus troncos, eu ainda escuto a voz dela lá dentro dizer.
- Eu preciso acordar a Rainha pra ela. A minha amada precisa disso.
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