Naquela noite voltei para casa com a cabeça explodindo em pensamentos. Em primeiro lugar, eu não conseguia acreditar no que tinha rolado entre mim e o Danilo na garagem, no banheiro e no quarto. Tudo bem que no quarto ele se esquivou, mas eu vi como ele estava de pau duro. Além disso, eu finalmente teria a chance de dormir junto com ele. Sem contar que, na casa de Búzios, eu provavelmente poderia fechar a porta e talvez o Dani se sentisse mais à vontade para tentarmos algo. Esperanças e expectativas não me faltavam para a virada do ano.
Até bem próximo da viagem, eu sonhava com o Danilo todas as noites e, em várias manhãs, acordava com o pijama sujo de esperma. Eu queria tentar de novo. Com certeza o Danilo ficaria mais manso em Búzios, porque a curtição seria muita. Eu pesquisava na internet como dar o cuzinho sem dor e em silêncio. Com muita vergonha, comprei um lubrificante na drogaria, a fim de facilitar as coisas, caso minhas expectativas fossem correspondidas.
Na véspera da viagem eu mal dormi. A minha bagagem era de alguém que estava de mudança definitiva. Para piorar, ainda optei por levar prancha, skate, patinete e quase levei a bicicleta. Apenas desisti, porque meus pais já estavam ameaçando não me levar, já que não teria espaço para mim no carro.
Meus pais e os do Dani combinaram de se encontrar em um posto de gasolina na estrada. Assim, na metade da manhã do grande e aguardado dia, avistei Danilo tomando uma Coca-Cola, sem camisa, encostado no carro do meu padrinho.
- Oi.
- Fala, Duda.
Ri. Pelo visto, acabara de ganhar um apelido novo.
- Fala Danila. – Revidei implicando.
- Saudade?
- De tudo.
Danilo me olhou, fazendo cara de desentendido.
- Dudu! – Meu padrinho veio me abraçar. – Você até agora não andou no carro. Vem com a gente.
Com mais essa ajuda do Destino, consegui fazer a viagem toda ao lado do meu admirado Danilo. Ele, porém, colocou os fones e foi ouvindo música por um bom tempo. Foi então que minhas ideias começaram a surgir. Inventei que estava apertado para ir ao banheiro e fiz o comboio parar no Shopping Graal, na ViaLagos. Danilo ficou no carro, mas tudo bem. Minha intenção era somente pegar meu presente de Natal que estava no carro do meu pai. Antes disso, porém, tive que fingir ir ao banheiro e aproveitei e comprei um chocolatinho para dar para o Danilo e, quem sabe, aproximá-lo de mim, já que, desde o dia em que nos pegamos, ele estava distante.
- Toma.
- Que isso?
- Kitkat. Comprei pra você.
- Nossa, eu amo.
- Eu sei.
- Você é o melhor, primo.
Nem preciso dizer que me subiu um calor pelas pernas nesse momento. Porém, fingi que não estava soltando fogos de artifício por dentro. Em seguida, a viagem prosseguiu e eu usei meu segundo trunfo: o iPad que ganhei no Natal. Antes, porém, esperei Danilo acabar de comer o chocolate. Não sei se era impressão, mas achei que, por duas vezes, peguei-o olhando em minha direção, como se buscando um modo de me fazer puxar assunto. Preferi fingir que não tinha percebido nada.
Quando Danilo estava perdido em pensamentos, tirei o o tablet da mochila e comecei a assistir Riverdale no Netflix. Assim que ele percebeu o que eu tinha em mãos, arregalou os olhos admirado.
- Dudu, de quem é esse iPad? É seu?
- Sim.
- Nossa, que maneiro.
- Estou assistindo Netflix. Quer ver também?
O tubarão mordeu a isca. Assim, consegui que Danilo passasse o resto da viagem grudado em mim, posto que dividíamos o fone e a tela do tablet. A partir de então, voltamos a conversar como dois velhos amigos.
A casa em que ficamos era deslumbrante. Duas suítes no andar de cima, um quarto no de baixo, junto com a sala, um banheiro e a cozinha.
- Ué? Cama de casal? – Reclamou Danilo.
- Pode deixar que não vou ocupar o seu espaço.
Queria que ele continuasse à vontade comigo. Afinal, embora eu na verdade quisesse montar nele e finalmente terminar o que começamos em sua casa, não queria que ele ficasse na defensiva, achando que eu era um tarado que não o respeitava. Eu gostava dele e tinha esperanças que, se ele me visse como algo mais, como naquele dia, pudéssemos ser mais íntimos sem que ninguém soubesse de nada.
Para isso, eu dispunha de apenas seis dias, que era o tempo daquela viagem de réveillon. Apesar desse objetivo super importante, eu não queria que meu passeio ficasse resumido a isso. Até porque era apenas uma aposta, que poderia dar errado. Então, se eu levasse outro toco, pelo menos teria aproveitado de outras formas.
- Dani, bora para a praia? Eu trouxe prancha. Pode usar ela se quiser. A fim?
- Agora não. Estou meio com sono.
- Ok.
Sem tentar demonstrar minha decepção, resolvi ir à Geribá, onde poderia encontrar outros surfistas. A praia estava linda. Um sol de rachar e a água geladíssima. Porém eu gostava daquele jeito e logo fui remando para o fundo, na esperança de já começar a diversão. Não havia muitos caras surfando, mas logo um trio me chamou a atenção. Eram dois caras e uma garota. Eles estavam rindo muito e um deles atraía-me o olhar. Fiquei admirando-os de longe e, mesmo não fazendo parte do grupo, ria das palhaçadas que esse cara exibido fazia. Ele, tal como eu, apenas usava a parte inferior da roupa de neoprene. Com isso, pude reparar que suas costas eram musculosas. Ele queria plantar bananeira em cima da prancha e, com o esforço para tanto, seu corpo expunha músculos definidos por todos os lados: barriga, braços, costas. Em determinado momento, ele conseguiu um ponto de equilíbrio, mas logo veio uma onda e ele caiu. Todos, inclusive eu sem perceber, soltamos um “aaaahhh”, por a onda tê-lo derrubado justamente quando ele tinha conseguido realizar a façanha. Claro que, mesmo sem querer, acabei chamando a atenção do grupo para mim.
- Oi. – Disse a garota.
- Oi. Desculpa me meter. Eu vi ele de ponta cabeça na prancha e fiquei olhando...
- Tranquilo. Sou Roberta, esse é o Pedro e o Igor.
- Satisfação. Eduardo.
Em pouco tempo, já estávamos falando sobre tudo. Já tinha contado que estávamos passeando, que ficaríamos até depois do réveillon e até onde ficava a casa em que eu estava com a família. Eles, por outro lado, disseram que iam sempre à Búzios, mas nunca enjoavam. Eles todos eram mais velhos do que eu em torno de 4 anos, mas isso não fez a menor diferença. O Igor, o surfista-malabarista, era bem calado, mas me olhava profundamente, quando falava. Eu ficava sem jeito e desviava, mas nada que me deixasse realmente constrangido. A Roberta e o Pedro eram namorados. Eu perdi a noção do tempo e quando me atentei, vi Danilo na areia gesticulando freneticamente.
- Galera, preciso ir. Meu primo está me chamando.
- Nos vemos amanhã por aqui? – Perguntou Igor.
- Acredito que sim. Vocês vão vir?
- Vimos todos os dias praticamente.
- Ah, então a gente ainda se vê esse ano. – Brinquei.
- Com certeza. Valeu, novinho. Até amanhã.
- Até.
Continua ...