Semanas passaram desde o lance com meu padrasto dentro da garagem. Continuava refém do meu patrão e tendo que pagar seu silêncio com o meu corpo. Estava administrando a situação, pois adoro fazer sexo, tanto quanto gosto de ganhar presentes. A gente acaba se acostumando até com os infortúnios. 'A pessoa é expulsa do céu, então faz do inferno o seu paraíso', diria o filósofo.
Em um fim de semana de sol fui com minha turminha do colégio passar alguns momentos agradáveis em uma das cachoeiras da região. Fiquei aborrecida com um carinha que não parava de apontar a lente enorme de sua câmera em minha direção. Mandei-lhe um sinal erguendo meu dedo mau. Funcionou, pois ele abaixou o equipamento, sorriu e moveu a cabeça em um sinal de que havia entendido o recado.
Pouco depois ele se aproximou, sem a câmera, estávamos dentro da piscina natural.
— Desculpe ter bancado o paparazzi, é que você fotografa muito bem.
— Tranquilo, eu adoro bancar a modelo, só não gosto que fiquem invadindo a minha privacidade.
— Desculpe novamente.
— Eu desculpo, se você me fizer um book. Claro que pagarei pelo seu trabalho… Se não for muito caro. Quero mandar para uma agência de modelos.
Nós nos entendemos e começou a rolar um lance. Demos um perdido em nossos grupinhos e iniciamos uma sessão de fotos sem compromisso durante nossa caminhada em meio ao verde. Paramos quando atingimos um setor quase deserto daquele parque: uma lagoa escondida pela vegetação e uma mini cachoeira como imagem de fundo.
Depois da nossa brincadeira na água nos deitamos na margem, o lugar era propício para os beijos ardentes, ousar nos carinhos, e deixar que o contato entre nossos corpos fosse mais atrevido e gostoso. A cena seguinte foi a exposição do meu corpo nu só pra ele, e o dele só pra mim. Sem fotos e sem registros. Abraçados rolamos na relva e seu membro encontrou o caminho do meu sexo com a ajuda do movimento dos meus quadris. Fechei os olhos curtindo o deleite da penetração e o saboroso contato de nossas peles. O vai e vem iniciado a seguir foi de matar de prazer.
Tudo conspirava a favor: o ambiente tranquilo, som de pássaros, água caindo, cheiro de frutos, de flores e o calorzinho de fim de tarde. Adicione a tudo isso o fogo de um corpo masculino me golpeando vigorosamente e terá a cena perfeita para fazer meu momento de clímax chegar cedo e perdurar por minutos após a última contração do seu membro, os quais foram posteriores ao seu gozo, o qual desejei que não chegasse ao fim.
Nosso barato foi interrompido pelo som de pessoas se aproximando da área. Enquanto a gente se vestia afobadamente, dois casais surgiram de dentro da vegetação. Foram simpáticos dizendo que poderíamos ficar à vontade, eles também curtiam naturismo. Sorrimos e trocamos algumas gentilezas, mas deixamos o quarteto quando eles começaram a desnudar-se e voltamos para o Camping.
Encontrei novamente o Lucas (o fotógrafo) na segunda-feira. Em nosso passeio na cachoeira eu já ficara sabendo que ele era sobrinho do meu patrão e filho daquele casal que me viu só de toalha na varanda da casa do homem. A mulher era irmã do seu Reginaldo. O pai não se dava muito com o cunhado, segundo ele, tinha algo a ver com diferenças políticas.
Achei que o Lucas poderia ser-me útil em minha busca na casa do seu tio. Precisava daquelas provas que me incriminavam. Mas também estreitei os laços com ele por ter curtido o cara, a química entre nós rolou legal.
***
Os dias seguiram, procurei esconder do meu patrão a minha proximidade com seu sobrinho. Evitei a casa do Lucas apesar dos seus inúmeros convites. Por motivos óbvios não era prudente o meu contato com seus pais, ou ele ficaria sabendo do meu rolo com seu tio.
Porém, eu possuo o mau hábito de procurar por problemas. Alguns dias depois despertei em um sábado quente, olhei em volta ainda confusa e a ficha caiu. Estava na casa do Lucas, passava do meio dia. Fizemos uma festinha particular durante a noite toda. A sala estava um lixo: garrafas e latas de bebidas, restos de pizza e pontas de erva espalhados pelo cômodo. Estávamos ambos pelados, foi assim que apagamos após horas e horas de álcool e transas. Os pais dele foram para a casa de praia no Guarujá e retornariam somente na tarde do dia seguinte (domingo). A gente tinha bastante tempo para arrumar aquela bagunça, depois eu daria o fora. Chacoalhei o dorminhoco:
— Acorda amor! Já é hora do almoço.
Ele resmungou, mas nem se mexeu. Não insisti, iria tomar um banho, estava me sentido nojenta. Ao levantar levei um susto, alguém tentava abrir a porta, ouvi o som de chave na fechadura e no instante seguinte a porta abriu e o pai do Lucas adentrou o cômodo. Foram segundos divertidos em que ele deu seu melhor sorriso de satisfação esboçando um olhar de conquistador. O quarentão era atraente, senti-me uma pop star de hollywood, tanto que até relaxei o corpo em uma pose mais sensual e sem cobrir as partes. Mas deu ruim, a megera da mulher apareceu por detrás dele me fulminando com olhos de quem não acreditava no que via. Ela desferiu todo o seu ódio em minha direção. Reagi imediatamente puxando uma tapeçaria que estava sobre o sofá e escondi a minha nudez.
O Lucas acordou com os berros da mulher e ouviu um montão, eu também ouvi os piores desaforos, de vadia pra baixo. “Que merda! — pensei — Que fase de azar da porra”.
A dona continuou soltando os cachorros e o Lucas ficou sabendo do lance que tive com seu tio. Menos mal que ela não sabia da história toda. Pela conversa deduzi que o irmão dela (meu patrão), fez a mulher acreditar que aquela foi a nossa única vez, em um momento de fraqueza dele.
O pai do Lucas contornou a situação convencendo a mulher de que o baseado em posse do filho poderia vir a público e complicaria não só a vida do meu parceiro de orgia, mas do coroa também, ele tinha aspirações políticas de concorrer a vereador. Então era melhor ela não foder com a minha vida, ou todos nós dançaríamos. Felizmente o assunto não chegaria até à casa dos meus avós, ficaria só entre nós mesmos.
A mãe do Lucas ainda teve que engolir a minha presença quinze dias depois durante uma reunião familiar para comemorar o aniversário do pai do Lucas e o lançamento do seu nome como candidato à uma cadeira na câmara municipal. Era o meu retorno à residência depois daquele flagrante. A dona da casa recebeu-me contra sua vontade, não disfarçou. Nem me importei, também não ia com a cara dela.
Lá pelas tantas, depois que os convidados foram embora, o pai do Lucas não permitiu que ele me levasse em casa, todos já haviam bebido demais. Disse para eu dormir na sua casa e de manhã ele me daria uma carona.
A dona ficou possessa, mas acatou a vontade do marido, no entanto, não permitiu que eu dormisse com o Lucas, ela me colocou em um quarto de empregadas na área de serviço.
De manhã cedinho a mulher me acordou e mais um vez foi agressiva dizendo que se eu tivesse só um pouco de bom senso deixaria o filho e a família dela em paz e sumiria da vida deles para sempre.
— Por que a senhora me odeia tanto? Eu gosto do Lucas, jamais faria algo que prejudicasse ele ou o pai dele.
— Como você é dissimulada, garota, acha que sou tonta. Você me aguarde!
Controlei a vontade enorme que tive de gargalhar e responder sua pergunta. Se aquela sonsa soubesse o que aconteceu naquele quartinho durante a madrugada, ela teria vindo armada para me matar. Deixei a dona com suas dúvidas. Saí do quartinho vestida só com a camiseta do Corinthians que peguei emprestada com o Lucas, serviu-me como uma mini camisola. Peguei todos os meus pertences e fui em direção ao lavabo recompor a aparência. Depois passei no quarto do Lucas para despedir-me, ele já estava acordado e digitando algo no Notebook.
— Oi Lu, vou nessa. Quando a gente se vê de novo?
Ele continuou digitando sem olhar pra mim, depois respondeu de má vontade:
— Não sei… A gente se fala depois.
Estranhei sua reação fria, também fiquei curiosa com aquele texto, pois consegui ler o título em negrito: “Dois Pervertidos na Madrugada”. O Lucas parou de digitar e, mesmo sem dizer nada, ficou evidente seu desejo em compartilhar comigo o conteúdo daquela mensagem. Bateu um medinho e um mau pressentimento, ainda assim eu li enquanto reinava o silêncio no interior daquele quarto.
“Deitado no piso eu observei pela fresta da porta as pernas de uma jovem. Meu ponto de visão estava limitado até pouco acima do meio de suas coxas, onde também era visível o cós de uma camiseta branca que ela trajava. Suas mãos de unhas bem cuidadas e pintadas de vermelho desceram devagar do interior da malha segurando sua calcinha. A lingerie de renda negra passou pelos seus pés graciosos e foi deixada sobre o piso. Um homem postado defronte a ela deu dois passos em sua direção e a ergueu, as pernas femininas ficaram suspensas enlaçando o homem abaixo dos quadris. Iniciou-se um movimento em ritmo de cópula e a respiração de ambos foi intensificando até ficarem ofegantes. Com movimentos cada vez mais acelerados, não demorou para atingirem o ápice. Evidenciado foi pelo gemido feminino lançado ao ar e ecoando mesmo com a tentativa de contê-lo, talvez colando a boca na do seu amante. Aquele som espontâneo transmitia um sincero e profundo sentimento de prazer. Foi acompanhado de um leve urro masculino, também contido, como se ambos estivessem ainda com os lábios colados ao chegarem ao orgasmo simultâneo.
Pensei em invadir o quarto e…”
O Lucas havia parado com o texto naquela frase incompleta. Virou a cabeça em minha direção e seus olhos tristes me fitaram de modo incriminatório. Fiquei sem palavras. Por sorte a megera da mãe dele veio me buscar e levou-me quase aos empurrões dizendo que o marido já estava saindo e não poderia se atrasar.
— Você é especial Lu — falei já saindo porta afora e joguei um beijo pra ele.
Ele não segurou uma gargalhada irônica e só eu entendi o porquê. Aquele texto dele era o relato exato da transa que eu tive com o seu pai quando ele me visitou no quartinho naquela madrugada. Ou seja, a mãe dele estava entregando a galinha para a raposa tomar conta.
Parti com a sensação de ter perdido meu parceiro para sempre, pois seu texto erótico era nitroglicerina pura. Meus pensamentos fluíam a milhão: “Puta que pariu! O estrago pode ser grande. Por que aquele coroa veio me atentar?… Claro, foi só pra me foder. Alguém deve ter me jogado uma praga, estou precisando me benzer, pois é um flagra atrás do outro. Também preciso controlar minha libido, eu sei”.
Fim… Por enquanto.