_ Isso é tom para se falar com a sua mãe, Jonas?
_ Pare de enrolar e me diga o que você disse para o meu namorado que fez ele sumir sem mais nem menos?
"Aliás, com que direito você se mete na minha vida desse jeito?"
_ Com o meu direito de mãe!
_ Ah, pelo amor de deus, Lúcia!
_ Eu não disse nada. Quem foi falar com aquela coisa… foi o seu pai.
"Você está impossível! Não obedece, tira notas baixas e agora me inventa essa de ser boiola? Tome vergonha na cara!
" Eu contei tudo para o seu pai e ele que foi lá e resolveu tudo. E fez muito bem."
Movido pelo ódio, Jonas partiu até a casa do pai saindo batendo a porta.
Dirigiu em alta velocidade.
Chegou na casa do pai o chamando aos berros e foi atendido pela madrasta Cristina, que estava vestida de camisola e segurando o pequeno Enzo no colo.
_ O que você está fazendo aqui a essa hora e alterado desse jeito, Jonas?
_ Cadê o meu pai?
Jorge saiu de casa vestido com um pijama e um cigarro entre os dedos.
_ Que escândalo é esse, moleque?
_ O que você foi fazer na casa do Bruno? O que você disse pra ele que o fez ir embora?
_ Venha, entre. Ninguém precisa saber da nossa vida.
Jonas entrou respirando fundo. Fechava os punhos e o seu rosto estava avermelhado.
_O que você fez para o meu namorado?
_ Você não tem vergonha na cara de falar desse jeito? Eu não fiz filho para ser uma bicha. Eu não tenho nenhum pouco de orgulho disso.
_ Eu também não tenho orgulho de ter um pai homofóbico e vendido. Então, estamos quites.
"Agora sem delongas e me fale logo, porra!"
_ Ei, baixa o tom de voz.
Jonas o olhava com fúria.
_ Eu fui até lá para conversar com a moçoila .
Jonas franziu o cenho em sinal de desaprovação com o deboche de Jorge.
_ Mas não havia ninguém em casa. Segundo a vizinha, ele havia ido embora.
_ Deixa de ser mentiroso! Você disse alguma coisa pra ele. Ninguém some do nada.
_ Vai vê que ele está devendo algum bandido, agiota, ou simplesmente tem outro… eu não sei. Mas me poupou trabalho.
Jonas andava de um lado para o outro tentando aliviar o nervosismo.
_ Meu filho, você é um cara pintoso e jovem. Esquece esse lance de viadagem. Tanta mulher gostosa por aí. Com essa cara de galã da Malhação não é difícil pegar mulher. Olha eu posso te levar a um prostibulos que lá só tem gostosa…
_ Você não tinha o direito de se meter na minha vida.
_ Claro que tenho! Sou eu quem te banco. Pago a sua escola, cursinho de inglês, o karatê e ainda recebe mesada. Enquanto viver sob o meu sustento terá que fazer o que eu quiser. E eu não aceito um filho boiola.
"Jonas, eu não queria ser radical contigo, mas não me resta outra alternativa. Ou você para com esse papo de viadagem e vira homem ou não receberá mais um centavo meu."
_ Pegue esse dinheiro e enfia no…
_ Olhaaaa.
_ Eu sou gay! Bicha! Boiola! Viado! Chame do que você quiser! Mas a realidade é essa! Eu sou assim e não vou viver uma vida infeliz dentro do armário só para tê agradar!
"Você pode até ter destruído o meu namoro com o Bruno, mas não me impedir de viver e ser feliz. Eu vou ser feliz! Você não destruir a minha vida como fez com a Gabriela. "
_ Não seja injusto comigo. A sua irmã se matou! Foi muito triste, mas não venha me culpar.
_ E sobre a porra do seu dinheiro, eu não quero mais um centavo.
Jorge deu uma gargalhada.
_ E vai viver de quê? Orgulho não enche barriga!
_ Eu vou trabalhar!
Jorge gargalhou com mais intensidade.
_ Você? Trabalhar?
Jonas saiu revoltado.
Cristina olhava espantada para o marido.
_ O seu filho é muito agressivo e você ainda fica rindo?
_ Você ouviu o que ele disse? Trabalhar.
Jorge deitou no sofá e pôs a mão na barriga.
_ Eu não sei qual é a graça. Ele já tem dezessete anos. Está na idade.
_ Jonas é moleque de apartamento. Criado com pera e leite. Não sabe fazer nada. Nem as cuecas lava.
_ Olha que ele pode te surpreender.
_ Você vai vê que daqui a pouco ele volta pedindo dinheiro. Você vai vê.
A melancolia acompanhou Jonas durante semanas. O rapaz não tinha motivação para levantar da cama.
Sentia uma imensa saudade de Bruno, do calor do corpo do amado, dos beijos quentes, do sorriso radiante e da voz que tanto amava ouvi.
Os amigos sempre tentavam motivá-lo o convidando para sair e chegando até a apresentá-lo a outros rapazes, mas Jonas recusava a todos. Nenhum o despertava interesse, Já que era Bruno quem desejava.
O que mais o torturava era desconhecer o motivo da partida de Bruno e rumo do seu destino.
Dona Chiquinha soube por Olivia que o neto não estava bem e decidiu ir visitá-lo, passando por cima da sua antipatia por Lúcia.
A velha senhora ficou entristecida ao vê o querido neto vestido com pijamas as quatro da tarde, e os cabelos despenteados e a barba e o bigode crescendo.
Ela reparou que Jonas perdeu peso e o os ossos da face estavam começando a ficar visíveis.
Apesar de não gostar da ex agora, Lúcia a recebeu de braços abertos e com toda hospitalidade. Tinha esperanças que dona Chiquinha convencesse Jonas a procurar um médico, já que o rapaz a negara a fala desde o dia que soube da partida de Bruno.
_ Meu querido, você não pode ficar desse jeito! Você ainda é tão jovem! Precisa reagir, sair deste quarto, viver a vida com a alegria que sempre teve.
"Eu ando muito preocupada contigo."
_ A senhora não entende. Ninguém entende. Dizem que eu sou jovem demais e que o que eu sinto não é amor. E sim fogo de adolescente.
"Mas não é verdade! Eu o amo muito. E isso tá doendo pra caralho!"
_ Eu não duvido que você o ame. Amor não é exclusividade dos adultos.
"Sabe, quando eu tinha a sua idade eu namorei um rapaz que trabalhava num mercadinho perto da minha casa. Eu estava tão apaixonada por ele. Mas o meu pai não aprovava. Dizia que eu era muito nova para namorar.
"Aí ele me mandou estudar em outra cidade e nunca mais eu o vi. Olha sofri, sofri muito. Até que eu conheci o Nelson e me apaixonei de novo, até que eu descobri que ele era casado e lá foi eu sofrer novamente.
Logo em seguida conheci o seu avô e o resto da história você já sabe."
_ E o que isso tem a ver?
_ Tem a ver que podemos amar muitas vezes na vida. O fim de um relacionamento não é fim da vida.
"Quando conhecemos um homem achamos que é único, aí até que conhecemos outro e todo aquele amor se dissolve.
"Você ainda é muito jovem, há de conhecer outro rapaz e se apaixonar novamente. E será um que te mereça e não faça o que esse Bruno fez. Às vezes, meu filho, "há males que vêm para o bem". Nós não sabemos nada sobre esse menino, vai que ele estava aprontando alguma?"
_ Eu não acredito nisso. Tenho pra mim que o pai e mãe fizeram alguma coisa.
_ Ah, bobagem! Seus pais podem ser dois palermas, mas o que eles poderiam fazer para afastar esse menino da cidade? Eles não têm esse poder.
Jonas abraçou a avó. Ele a amava muito. Sempre doce e compreensiva. Ela foi uma das primeiras pessoas que Jonas revelou a sua sexualidade e a primeira a aceitá-lo.
O rapaz viu na situação uma oportunidade de dar um passo à frente na sua vida.
Pediu a avó se poderia morar na sua casa temporariamente. Jonas desejava muito sair da casa da sua mãe e se livrar da dependência financeira dos seu pai.
O pedido foi aceito de imediato. A velha sonhara, que vivia solitária, sentia-se feliz em dividir a casa com o amado neto.
Rafael e Cíntia eram dois grandes amigos de Jonas. Eles ficaram durante dias tentando o tirar da bad o convidando para sair e todas as propostas foram recusadas.
Rafael não desistiu até que um dia, Jonas aceitou o convite do amigo de ir à pizzaria do pai do amigo.
Ele foi recebido de braços abertos pela família do amigo, que o estimava muito.
_ Que bom que você veio! Estávamos com saudades de você. _ disse dona Marta mãe de Rafael.
_ Só peço um pouco de paciência com o atendimento. A casa está cheia e estamos com um garçom a menos. O Geraldo pediu demissão e ainda não conseguimos encontrar um substituto.
Jonas viu uma oportunidade para conquistar a tão sonhada independência financeira e se ofereceu para ocupar o cargo vago.
Dona Marta resistiu a princípio, pois achava que a falta de experiência do rapaz o atrapalharia de executar um bom trabalho. E além disso, Jonas não era acostumado ao trabalho duro. Sempre teve uma vida confortável financeiramente. Ela temia que o jovem desistisse na primeira oportunidade.
Contudo, o seu marido, o Nestor decidiu dar uma oportunidade ao jovem e o contratou.
Jonas iniciou o trabalho no dia seguinte.
Os primeiros dias foram cansativos e a rotina do rapaz se resumia em colégio, trabalho e casa.
Com o passar dos dias, Jonas se sentia melhor emocionalmente. Interagia com os outros funcionários e clientes. Sorria com as brincadeiras do dia a dia e com isso a tristeza pela saudade de Bruno ia diminuindo.
Os seus pais se revoltaram quando o jovem anunciou que não prestaria vestibular. Que odiava estudar e que tocaria a sua vida como bem entendesse.
_ Você é um irresponsável! Eu investi anos na sua educação para que me jogue tudo fora! _ dizia Jorge revoltado.
_ Eu não gosto de estudar e não vou fazer isso para te agradar. A filha estudiosa, que te daria orgulho prestando vestibular para medicina foi morta por negligência de vocês.
_ Não use a história da sua irmã para mudar de assunto.
_ Você é um fracassado! Sempre será um! Eu perdi foi tempo com você. Quer ser um garçom pra sempre?_ disse Lucia revoltada.
_ Não. Aliás, isso não é da sua conta.
Jonas tinha um emprego e não morava mais na casa da mãe. Não se importava mais com as cobranças dos pais.
Em um ano, Jonas passou de garçom para pizzaiolo. Interessou-se pela atividade de fazer pizzas e se tornou melhor do que o seu Nestor, que o ensinara.
Com as economias e um empréstimo cedido por sua avó, Jonas e Rafael abriram em sociedade uma pizzaria.
O negócio prosperara. O que fez Lúcia e Jorge perceberem que estavam enganados em relação ao futuro do filho. Contudo, eram orgulhosos demais para admitir.
Jonas gostava da sua liberdade e por isso, resolveu alugar um apartamento para viver só. E assim fazer as suas resenhas com os amigos sem incomodar a avó.
Na vida amorosa não conseguiu se envolver com ninguém. O espectro de Bruno ainda o assombrava.
Com o passar dos anos, a tristeza transformou-se em raiva. Quase não falava mais no amado, mas ainda guardava fotografias e sentia dificuldades em esquecê-lo.
Imaginava que Bruno estava feliz enquanto ele sofria e isso o revoltada. Maldito covarde! Ele tinha o direito de saber o motivo do término. Ele não era um imbecil que Bruno poderia brincar com os seus sentimentos daquele jeito.
Suas relações não passavam de sexo casuais. Recebia propostas de namoros por homens apaixonados, mas quando percebia que despertava a paixão de alguém, ele se afastava. No fundo sentia -se vingando de Bruno.
Os seus amigos e irmã tentavam convencê-lo de que deveria esquecer Bruno e dar uma oportunidade para se apaixonar novamente.
_ Oito anos já se passaram e você ainda fica nessa?_ dizia Rafael.
_ Já está na hora de tirar as teias de aranha do seu coração. _ brincava Cinthia.
_ Eu não sei o porquê que vocês ficam com esse papo chato de namoro. Para que vou me prender a um se eu posso ter vários? É até um desperdício, já que há muitos caras por aí precisando de um pau amigo. Eu só quero ajudá-los. _ Jonas dizia com um sorriso cínico e piscando o olho para um rapaz que estava sentado numa mesa enfrente a deles no bar.
_ Se você só quisesse passar o rodo eu até te entenderia, mas o seu problema é que tu ainda tá preso num sentimento do passado. Você precisa se libertar.
Jonas olhou sério para Cinthia. Ele odiava a cobrança dos amigos em relação a Bruno.
Seu incômodo estava no fato de que os amigos tinham razão. Por mais que transasse com vários homens e sentia uma certa raiva, ele ainda amava a Bruno.
Ligou o celular para provocar os amigos e abriu o aplicativo Tinder.
Deslizou o dedo para o lado para escolher o próximo date.
Escolhia os homens como se escolhece uma pizza.
Até que os seus olhos se encantaram ao ver a foto de um belo garoto loiro de olhos castanhos. O rapaz se apresentava como Matheus, tinha 18 anos e vestia-se com bermudas, regata branca e um boné preto. O que chamou a atenção de Jonas era o sorriso ousado do rapaz, de dentes brancos e bem alinhados contornados por lábios finos e rosados.
O olhar era de menino travesso, o que deixou Jonas encantado.
Deu um grito de vitória quando viu que deu match. Fato que o fez esquecer a conversa desagradável que teve com os amigos há alguns minutos atrás.
_ Olha isso. Maior gatinho._ disse mostrando a foto aos amigos mesmo sabendo que Rafael é hétero e Cinthia lésbica.
_ Ele parece ser muito novinho.
_ Cinthia, quanto mais novinho, mais apertadinho.
_ Você é nojento.
Jonas não perdeu tempo em chamar o rapaz no chat.
_ Oi.
_ Oi.
_ Gente! Ele me respondeu!
_ E aí? Tá querendo o quê?😉
_ Dinheiro, saúde e poder.
_ 🤣🤣🤣
_ Eu disse aqui, anjo. Mas tu é ambicioso, hein.
_ Sim. Em todas as áreas da vida. Comigo é oitenta ou oitocentos.😈
_ Hum! Gostei. 🤤
_ E aí, Matheus, o que tu faz da vida?
_ Dou pinta.
_ 😂😂
Jonas sorria com os lábios e os olhos brilhavam.
Cinthia olhou para Rafael e disse:
_ É Rafa, pelo jeito seremos ignorados.
_ O jeito é pedir mais uma torre de shop. _ disse Rafael encolhendo os ombros.