Destinos traçados nas estrelas - Final
Dizem que o tempo cura todas as feridas. Muito provavelmente isso seja verdade. Contudo, comigo essa premissa ainda não tinha funcionado. Três anos depois de deixar a cidade onde nasci e, apesar de ter meus dias assoberbados de trabalho, a lembrança daquela casa-covil e dos dois machos que a habitavam, continuava viva em minha memória. E, o pior, às vezes essa lembrança doía. Eu procurava me consolar no fato de que aqueles dois homens e eu não tínhamos nada além de sexo libertino, analisando a questão friamente.
Eu nunca mais voltei à cidade. Pouco mais de um ano depois de eu vir para São Paulo, minha irmã se casou e foi morar com o marido em Sorocaba onde ele era diretor-financeiro de uma empresa de porte. Quando souberam que minha irmã estava grávida, meus pais resolveram se mudar para Sorocaba para ficarem mais próximo dela e, subsequentemente do neto que estava a caminho. Com a mudança, também acabaram ficando mais próximos de mim e eu deles; pois a distância que nos separava era bem menor.
Reticente quanto a festas de aniversário, eu demorei a aceitar o convite da Marisa para participar de um jantar que ela estava preparando para comemorar a data do dela. Eu a conheci durante a residência, logo nos tornamos excelentes amigos, a ponto dela me escolher como padrinho do filho de dois anos. Ela era casada com um americano desagradável e horroroso que tinha vindo ao Brasil para assumir uma diretoria na multinacional onde trabalhava. Tudo o que ela tinha de amável, gentil, boa companheira e bonita, o sujeito tinha ao avesso. Apesar de tudo, e de ele ser extremamente seco e distante, acabamos por estreitar nossos laços tanto por conta do apadrinhamento do filho deles, quanto pelo fato de eu ter realizado uma cirurgia que o garoto precisou por conta de um apêndice cecal infeccionado. O menino, agora com cinco anos, era uma criança esperta e alegre que, após a cirurgia, tinha se apegado a mim de forma espantosa.
Eu estava exausto ao chegar tarde em casa naquela noite de sexta-feira. Com o trânsito caótico e uma chuva torrencial no final da tarde, cheguei moído e só pensava em me atirar na minha cama e esquecer que o mundo existia. Durante o banho, resolvi que ligaria para a Marisa dando uma desculpa qualquer para não comparecer ao jantar, pois a última coisa que eu queria era encontrar pessoas que mal conhecia e ter que me esforçar para colocar um sorriso na cara. Ela acabou sendo mais ágil do que eu. Ao chegar no quarto, vi que ela havia me enviado uma mensagem cobrando minha presença e me censurando por estar atrasado. Não ia dar para escapar.
Fui o último a chegar ao apartamento de cobertura luxuoso que a empresa tinha colocado à disposição do marido. Foi ele quem veio me receber. Como ele ainda não havia incorporado o hábito dos brasileiros de chegarem atrasados aos compromissos, e acostumado que as festas em seu país tinham hora para começar e terminar, ele me recebeu de mal humor, como se quisesse dizer – isso são horas de aparecer, deixando todos à sua espera? – Mas, disfarçou a contrariedade e colocou um sorriso forjado na cara. Havia umas trinta pessoas espalhadas entre as duas salas cercadas por enormes vãos de vidro que davam para um terraço espaçoso de onde se tinha uma vista privilegiada da cidade e do brilho de suas luzes no horizonte.
De imediato, não consegui atinar com o alvoroço com o qual um bando de mulheres me cumprimentou. Achei bizarro. Porém, retribuí da maneira mais cortês possível aqueles sorrisos enigmáticos e aquele entusiasmo exagerado. Meu susto veio quando a Marisa veio ao meu encontro, quando eu já estava com o filho dela no colo depois de lhe entregar um presente que havia comprado para ele, e me conduziu até a outra sala para me apresentar a mais alguns convidados. Num dos sofás, ao lado de um carinha bonito e uma garota vestida um tanto quanto espalhafatosa demais para a ocasião, me encarava o Alex. Aquela barba que ele muitas vezes deixava de fazer por pura preguiça, parece que se tornou definitiva naquele rosto viril. Ela sempre me encantou por provocar tesão em mim e, por ser deliciosa de acariciar. De resto, ele havia mudado pouco, quase nada na verdade. Talvez o olhar, sim, o olhar me pareceu mais circunspecto, mais sensato, arriscando até mais maduro. Podia não passar de uma impressão, dado que eu entrei em choque assim que o vi. O Alex era a última pessoa que eu imaginaria encontrar ali.
A Marisa foi me apresentando a todos no recinto e a mesma reação intrigante por parte das mulheres aconteceu naquele ambiente. O Alex não se adiantou, ou mudou seu modo de agir quando me viu, esperou que a Marisa me trouxesse até onde ele, o carinha e a garota estavam.
- Muito prazer! Você é realmente lindo! – exclamou a garota, colocando um sorriso tão espalhafatoso no rosto quanto o vestido que usava. Fiquei intrigado com aquele – você é realmente lindo – o que a fez ser tão objetiva e inconveniente com essa afirmação eu não compreendi.
- Desculpe, esqueci seu nome. – disse a Marisa quando quis me apresentar o Alex, o que significava que tinham se conhecido a pouco, ou não tinham nenhuma intimidade.
- Como vai Alex? – perguntei, ao lhe estender a mão com formalidade, para disfarçar a inquietude que havia tomado conta de mim ao reencontrá-lo.
- Vocês se conhecem? – indagou minha amiga, surpresa.
- Sim! Desde os tempos de faculdade, não é Bruno? – respondeu o Alex.
- Ora vejam só, o mundo é mesmo pequeno! – exclamou a Marisa. – Mas você é engenheiro, não é? – questionou ela, dirigindo-se ao Alex.
- Sim. Estudamos na mesma universidade lá no interior e, temos amigos em comum. – respondeu, sem tirar os olhos de mim. Ele estava tão nervoso quanto eu com aquele reencontro não planejado.
Como se uma festa de aniversário, por si só, já não conseguisse ser mais maçante, a descoberta do Alex entre os convidados havia se tornado quase uma tortura para mim. Somaram-se a isso aquelas constantes requisições pela minha presença nas diversas rodinhas, que formaram depois de o jantar ter sido servido, quando todos só de dedicavam a bebericar e jogar conversa fora. Passei por verdadeiros interrogatórios sobre a minha profissão, sobre a minha vida, sobre o fato de estar solteiro, sobre me acostumar ao caos da capital, e coisas tão sem propósito quanto essas. Eu procurava responder o mais cordialmente possível, embora aquilo estivesse me desgastando mais do que toda aquela semana atribulada que tive.
O filho da Marisa estava tão agitado com aquela movimentação toda que começou a se tornar inconveniente e precisou ser advertido por diversas vezes pelo pai, cuja paciência com crianças não era das maiores. Depois de ter levado uma bronca mais contundente, ele veio se abrigar no meu colo com os olhos marejados pelo choro. Acabei deixando que ele me levasse até o terraço da cobertura onde queria me mostrar a bicicleta que havia ganhado recentemente. Fiquei feliz por deixar aquele ambiente quente, barulhento e sufocante quando me vi sob o céu aberto e senti aquela brisa até um pouco fria no topo do edifício. A euforia em me mostrar seu novo brinquedo e como já sabia contornar as espreguiçadeiras e os imensos vasos do terraço, durou pouco mais do que dez minutos, antes do menino voltar para baixo. Eu permaneci ali, olhando para aquele céu que nem de longe se assemelhava ao do interior. Não havia nuvens, mas, ao invés de límpido, ele estava carregado obscurecendo o brilho da lua em quarto crescente e as poucas estrelas que conseguiam perfurar aquela camada refratária. Comparado às que se via brilhantes e faiscando lá no interior, elas aqui eram poucas, só as maiores conseguiam lançar seu brilho trêmulo para os observadores que ainda se dispunham a admirá-las nessa cidade.
- Procurando por lembranças? – não precisei me virar para saber de quem era aquela voz, eu não a esqueceria nem em mil anos.
- Não! Só me recordando que da última vez em que admirei um céu estrelado elas me conectavam a alguém e, meu coração estava carregado de esperanças. – respondi, sem me virar.
- E eu estava em cima do teu corpo e cheio de tesão para entrar em você! – completou ele, naquilo que minhas palavras não ousaram.
- É verdade!
- Por que você abandonou? – questionou ele.
- Faço minha a sua pergunta!
- Eu não te abandonei!
- Nem eu!
- Se veio embora sem ao menos se despedir de mim, o que fez então? Chamo isso de abandonar!
- Quem foi que não apareceu ao encontro que havíamos marcado para eu me despedir de você? Esperei, em vão, durante horas.
- Ninguém me disse que aquilo seria um encontro de despedida. Fui o último a saber!
- Porque foi o último a se interessar pelo que havia entre nós!
- Ou foi porque você estava mais ligado ao meu pai do que a mim?
- Você sabe que isso não é verdade! Admiro seu pai pela maneira como sempre me tratou.
- E pela maneira como ele fodia seu cuzinho! – exclamou ele, com ressentimento na voz.
- Não! Pela maneira madura como ele me dava segurança, se mostrava protetor, me ensinava a dar amor a um homem, coisa que você nunca fez.
- Me diga como queria que eu fizesse isso quando você não tinha coragem de dizer para a sua família que eu era o teu homem? Quando escondia a verdade até de si mesmo?
- Não foi exatamente o mesmo que você fez comigo em relação a seus amigos?
- Não, não foi! Eu só não queria que eles convivessem com quem me abandonaria a qualquer momento, me trocando por algo mais importante. Eu não queria ficar como otário na frente deles. – afirmou.
- A opinião deles sempre foi mais importante para você do que o que eu sentia por você!
- E o que você sentia por mim? – indagou, postando-se à minha frente.
- É ridículo e descabido termos essa conversa aqui e agora! O tempo para falarmos sobre isso já passou. É melhor que fique assim! – respondi.
- Vai me abandonar mais uma vez? – questionou ele. Antes que eu pudesse responder, a Marisa veio me resgatar daquele sufoco. Ela me encarou cheia de suspeitas. Não havia quase mais ninguém quando desci e voltei para as salas agora bem silenciosas.
O Alex estava à minha porta na manhã seguinte, antes mesmo de eu ter acordado. Levei um susto quando o interfone tocou e eu me revirava sonolento na cama. Despertei de vez assim que o porteiro me avisou de quem se tratava. Deixei-o subir, apesar de não ter a mínima disposição para travar uma batalha de empurra-empurra para ver de quem havia sido a culpa por não termos dado certo naquela época.
- Numa coisa sua amiga tem razão, você é o homem mais lindo que eu conheço! – disse ele, quando lhe abri a porta. Não dei crédito às palavras dele, uma vez que ainda estava só com a bermuda do pijama e ele não podia me ver em trajes sumários para se assanhar todo.
- Do que está falando? Bom dia para você também! O que faz aqui a essa hora?
- Sua amiga fez a maior propaganda a seu respeito pouco antes de você chegar à festa ontem. Assegurou à mulherada que elas iriam conhecer um dos homens mais lindos da face da terra. Aposto que não teve uma que não ficou toda molhadinha entre as coxas quando confirmaram a afirmação dela. – despejou, o que me fez compreender aquela recepção bizarra da qual tinha sido protagonista na noite anterior.
- Tem gente que é cega para o que está bem diante de seu nariz! – retruquei.
- Ela não sabe sobre você?
- Nunca toquei no assunto com ela ou com quer quem que fosse no meu local de trabalho. Talvez tenha sido por isso que fez alarde sobre a minha pessoa. – argumentei.
- Vindo de você não se podia esperar outra coisa! Sua sorte é que você sabe disfarçar muito bem, precisa prestar muita atenção a pequenos detalhes para saber que você não gosta da fruta. Tanto é que acredito que até hoje sua família não desconfie de nada! – afirmou ele.
- Veio aqui para me censurar? Pode dar meia volta e me deixar em paz! – devolvi.
- Não! Vim saber se você ainda sente por mim o que eu continuo a sentir por você. Além da enorme saudade, é claro! – asseverou, com um sorriso contido.
- Que importância tem isso agora? Faz tanto tempo!
- Faz três anos e dois meses! Quando minha raiva por ter sido abandonado passou, eu fui te procurar. Seus pais haviam se mudado, a Renata se recusou a me dar seus contatos dizendo que você tinha quebrado o maior pau com ela por ela ter me dado seu telefone da primeira vez. Nenhum dos teus colegas de turma, que ainda estava na cidade, sabia do seu paradeiro. Achei que tinha te perdido para sempre. Até ontem, quando o destino te devolveu para mim. – eu precisava ir com cuidado, o Alex sabia como usar as palavras quando seus interesses estavam em jogo, e eu estava decidido a não cair na lábia dele mais uma vez para depois amargar aquela dor que senti quando vim para São Paulo sem um único beijo dele, sem a menor esperança de voltar a senti-lo pulsando intrépido dentro de mim.
- Eu já disse que não te abandonei. Não vamos voltar a esse assunto e a essa discussão, por favor!
- Ok! Concordo. Até porque não vim para brigar com você, vim para te ter de volta em meus braços, para te sentir junto do meu coração, de onde você nunca saiu. – ele me encarava com aquela carinha de filhote perdido, que tive vontade de me atirar em seus braços. Eu ainda amava aquele homem mais do que tudo nessa vida. Me desarmei por completo, e deixei que me contasse como tinha vindo parar em São Paulo, e como a coincidência de trabalhar na mesma empresa do marido da Marisa tinha nos reaproximado novamente.
Ele foi me colocando a par de tudo que havia acontecido com ele naqueles últimos três anos, inclusive que o Mario tinha encontrado uma companheira havia cerca de um ano, sob a alegação de que eu tinha voltado a despertar nele a confiança de que encontrar uma pessoa carinhosa num relacionamento sincero, ainda era possível. Que fora o vazio que eu havia deixado que o fez voltar a procurar por uma estabilidade amorosa. Obviamente que junto com aquela fala mansa também veio a sacanagem libertina, em se tratando do Alex eu não esperava outra coisa. Ele não tirava os olhos do meu corpo, em particular, da minha bunda.
- O que tanto fica me encarando com essa cara de peixe morto? – questionei em dado momento, pois já tinha me desacostumado daquele olhar libidinoso.
- Você está gostoso pra caralho! Até parece que essa bunda andou crescendo desde a última vez que estive dentro dela! Tesão do cacete! – exclamou, sem pudores.
- Não começa, Alex! Não vá se iludindo achando que chega aqui me chavecando com algumas frases de desculpas, me passando uma cantada e exibindo esse bagulho no qual você não para de mexer desde que te deixei entrar, que por isso vou me atirar em seus braços. – era exatamente o que eu tinha vontade de fazer, mas ele precisava saber que eu não era mais aquele virgenzinho inexperiente que ele levava no bico com a maior facilidade.
- Você está com alguém? – repentinamente seu rosto tomou uma expressão preocupada. Acho que até então, ele não tinha aventado essa possibilidade e, só o fato de que isso pudesse acontecer o desestabilizou.
- Não! De onde tirou essa ideia?
- Você está diferente! Está mais circunspecto, ponderando mais as coisas!
- Não me deixando impressionar por você querer me foder, como acontecia anteriormente, não é? – completei.
- Talvez! – balbuciou pensativo. – Teve alguém durante esse tempo que estivemos afastados? – questionou, depois de uns minutos de silêncio, quando retomou a coragem, tanto de perguntar, quanto de ouvir uma eventual resposta positiva.
- Isso importa?
- Muito!
- Não, não tive ninguém. Estava ocupado demais com a residência e o trabalho.
- Jura?
- Não! Isso não é questão que exija juramento.
- Fico feliz de saber que nenhum outro homem se satisfez com o que é meu! – afirmou, num tom de voz baixo e grave. – O que eu preciso fazer para você voltar para mim? – indagou, pegando rapidamente na minha mão assim que passei próximo dele.
- Me provar que sua fase de galinhagem passou. Aí, talvez, eu volte a confiar em você. – respondi sincero.
- Juro que passou! Deixa eu te beijar? Você vai sentir o quanto eu te amo. – propôs. Sem esperar minha resposta, ele me puxou contra seu peito e colou a boca sedenta e atrevida na minha. No mesmo instante em que a língua dele passou a se esfregar com a minha, sua mão se fechou dentro da bermuda sobre minha nádega. Fazia tempo que eu não sentia um arrepio tão prazeroso descendo pela minha coluna.
Embromei-o por mais algumas semanas, durante as quais nos encontramos diversas vezes fazendo alguns programas, antes de deixar que voltasse a passar a noite comigo fazendo amor. Foi a maneira como se comportou durante esse tempo que me mostrou que ele havia amadurecido, e que sabia o que queria. A certeza veio quando, num encontro casual com um colega da empresa e sua esposa num shopping, ele me apresentou como seu futuro marido, fazendo uma piada ao acrescentar – isso se ele não fugir de mim mais uma vez antes de eu colocar uma aliança em sua mão e um laço no pescoço dele – o casal se divertiu com a tirada dele, e me pareceu que o cara já sabia que o Alex estava a fim de mim, embora eu tivesse lhe sido apresentado naquele instante.
- Você anda falando de mim com seus colegas no trabalho? – questionei quando ficamos a sós.
- Com os mais chegados! – respondeu ele de pronto. Me convenci que ele tinha amadurecido e não tinha mais pudores em me apresentar como seu namorado, ou o homem com o qual ele transava. A masculinidade dele não deixava dúvida dos papeis que cada um de nós desempenhava nessa relação e, ele finalmente tinha se convencido disso, sem que precisasse dar explicações.
Naquele mesmo dia, ao passarmos diante de uma joalheria, ele quis comprar alianças, talvez se valendo do estarrecimento sobre o qual eu fiquei após ele ter feito aquela revelação diante do casal.
- Vamos com calma, Alex! – exclamei, quando a vendedora já estava com algumas caixas repletas de modelos diante de nós.
- Olha para mim! Quer ser meu marido, ou não? – indagou, diante do sorriso da vendedora.
- Não preciso de uma aliança para isso!
- Sei disso, mas é bom que algum desavisado tenha certeza que você já tem dono! – devolveu. Saímos de lá com um par de alianças numa caixinha, apesar de ele ter insistido muito para que elas estivessem em nossos dedos. – Trate de marcar uma data o quanto antes para formalizarmos a troca dessas alianças. – ordenou ele, sabendo exatamente o que tinha me levado a não concordar com seu primeiro plano. Eu teria que abrir o jogo com os meus pais.
Durante os dias seguintes não pensava em outra coisa que não encontrar uma maneira de contar aos meus pais que eu era gay e, que estava a um passo de unir minha vida à de outro homem. Não havia mais porque protelar essa situação. Eu já não dependia mais financeiramente deles, tinha uma profissão cheia de responsabilidades, não morava mais sob o mesmo teto que eles, nem na mesma cidade, se fossem sentir vergonha por terem um filho gay, não precisariam dar muitas explicações, apenas escassearem os contatos comigo, ou se afastarem definitivamente de mim. Eu estremecia só de pensar que isso viesse a acontecer, pois amava-os tanto que viver afastado deles seria um preço muito alto a pagar. Porém, o homem que eu amava merecia meu respeito e tinha o direito de eu contar a verdade a eles sobre nós.
Pedi que viessem me visitar, alegando estar morrendo de saudades, o que não deixava de ser uma verdade. Desde que se mudaram para Sorocaba e ficaram a paparicar o primeiro neto, confesso que sentia ciúmes da atenção que davam à minha irmã e sua família. Eles toparam logo de cara. Ambos gostavam muito de teatro, de frequentar exposições de arte, de experimentar restaurantes novos e tudo isso não estava disponível na mesma proporção que em São Paulo. Acenei com uma peça de teatro seguida de um jantar para que viessem o quanto antes. Distrai-los faria com que talvez recebessem a notícia de modo mais positivo, do que simplesmente chegar na casa deles e despejar a verdade nua e crua. Eu ia abrir o jogo durante o jantar, por isso escolhi um restaurante legal, um pouco mais intimista, com menos gente, caso as coisas fugissem do controle o escândalo seria menor. Não era tanto meu pai que me afligia, ele sempre que recebia uma notícia impactante, no primeiro momento não esboçava grandes reações, elas vinham depois de um tempo dele trabalhando a questão consigo mesmo; se ele reagisse mal, provavelmente já estaríamos em casa e o barraco seria evitado. Quem me preocupava era minha mãe. Ela, ao contrário, não levava mais que alguns segundos para demonstrar o que sentia e, pior, não tinha papas na língua para expressar sua indignação ou sua contrariedade, sem se importar se houvesse uma plateia contemplando a celeuma. Por isso o restaurante, lá meu pai frearia seu destempero. Tudo planejado, eu só esperava o grande dia. Quanto mais se aproximava a data, mais intensos os calafrios que acometiam a minha barriga. Essa agitação foi prontamente percebida pelo Alex, mas eu queria manter meu encontro com meus pais em segredo até saber qual seria o desfecho, e acabei não revelando meus planos.
Eu acordei uma verdadeira pilha naquele sábado em que eles chegariam. Por sorte e, parecendo que o universo conspirava a meu favor, o Alex tinha combinado uma partida de futebol de salão com o pessoal do trabalho, o que o levou a acordar cedo e encontrar com a galera. Cada um de nós ainda morava em sua casa, embora ele me cobrasse constantemente que eu me mudasse para o apartamento dele que, além de ser maior e mais confortável, era dele; enquanto eu pagava aluguel no meu por ser mais próximo dos meus locais de trabalho. Isso não impedia que dormíssemos juntos alguns dias da semana, especialmente nos finais de semana.
- Não vá esquecer do almoço de domingo, é muito importante! – recomendei, antes de ele sair.
- Não vou esquecer, prometo! Que mistério todo é esse, e o que tem de tão importante nesse almoço? Vai finalmente me dizer que vem morar comigo? Se for isso, nem precisa esperar até domingo. – afirmou, intrigado com meu silêncio.
- Talvez, quem sabe! Mas, não é nada disso! Agora vai, se manda, senão vou acabar me atrasando para o trabalho. – respondi. Eu tinha usado esse álibi para não me encontrar com ele pelo restante do sábado.
- Não rola nem você dar uma fugidinha lá para casa hoje a noite? Mesmo que seja tarde, uma trepadinha rápida já serve. – insistiu ele.
- Que rapidinha o quê! Vou chegar um bagaço, só quero dormir sossegado! – devolvi.
- Prometo que te deixo dormir em paz, coloco só a cabeça do cacete na portinha, não vai te custar esforço algum! – exclamou lascivo e sacana.
- Cai fora, tarado! Domingo, não esquece! – berrei, quando ele já estava na porta com aquele sorriso safado na cara.
- Também te amo! – revidou, antes de fechar a porta.
Apressei-me a apagar qualquer vestígio do Alex pelo apartamento, antes dos meus pais chegarem. Aquela mania dele deixar tudo espalhado pelos cantos levantaria suspeitas, e minha mãe era uma verdadeira expert em descobrir o que não devia. Eu estava terminando de fazer uma jarra enorme de suco de maracujá, pois previa que ia precisar daquele líquido precioso para controlar meus nervos, quando o porteiro anunciou a chegada deles pedindo autorização para abrir o portão de acesso ao estacionamento. Abraços, beijos, inúmeros ‘ois’ e ‘olás’, algumas frases sobre eu estar tão magro, me devolveram o prazer de estar com eles.
- Olha como esse menino emagreceu, Pedro! Eu sabia que você não ia se alimentar direito vindo morar sozinho. – despejou minha mãe, embora eu até tivesse acrescentado quase três quilos ao meu peso.
- Ele está ótimo, Cristina! Deixa o garoto em paz, acabamos de chegar! – exclamou meu pai, dando uma piscadela na minha direção.
Deixei-os descansar um pouco da viagem e iniciei minha programação com os dois se empolgando a cada atividade que fazíamos. Melhor assim, pensei comigo mesmo, se ficarem bravos comigo mais tarde, pelo menos estarão mais relaxados e com a cabeça cheia de novidades. Embora eu desconhecesse a íntegra da sinopse da peça a que fomos assistir, vi como um ponto a meu favor, um dado trecho em que a questão da homossexualidade foi abordada de forma bem passageira e branda. Vou abordar o assunto espinhoso durante o jantar me valendo do que acabamos de ver, matutei com meus botões. E foi o que fiz, enquanto esperávamos pela sobremesa. O jantar tinha transcorrido na maior alegria e descontração, restava agora o epílogo, e eu já estava com as mãos suadas e úmidas.
- Eu também sou gay! – soltei, de repente, no meio do comentário que estava fazendo sobre a peça de teatro. Sem olhar diretamente para nenhum dos dois, meus olhos não desgrudavam do rosto deles, esperando pela reação.
- É, e eu sou o Kevin Costner! Você sabia que sua mãe suspirava por ele? Me arrastou para todos os filmes que ele protagonizou. – exclamou meu pai com seu jeito brincalhão, fazendo piada.
- Lógico! Aquilo é que é homem perfeito! – exclamou minha mãe, entrando na brincadeira.
- Vocês ouviram o que eu disse? Eu sou gay! E eu não estou fazendo piada. – voltei a afirmar, com uma expressão séria no rosto, tentando não deixar a conversa enveredar por outro rumo.
- É uma piada muito sem graça, Bruno! – retrucou minha mãe. Mas meu pai acabava de sacar que eu não estava de gozação.
- Você acha que eu trouxe vocês aqui para fazer uma piada sem graça? – questionei minha mãe. De repente, a ficha caiu.
- Como assim, gay? Eu te conheço desde que deu seu primeiro suspiro, acha que não sei quem é meu filho? – ela estava mais apavorada do que contrariada, surpresa ou indignada.
- Nessa questão em particular, não conhece não. – balbuciei, sentindo como se subitamente pairasse uma nuvem negra sobre aquela mesa.
- Você gay! Só pode ser brincadeira, não é Pedro? – indagou ela. A expressão estampada no rosto do meu pai a deixou ainda mais confusa.
- Acho que desta vez ele não está brincando, Cristina. Não é mesmo, Bruno?
- Não, pai, não é! Eu não sabia como contar isso para vocês. Só que agora eu estou apaixonado por uma pessoa, e achei que vocês precisavam saber.
- Apaixonado por outro homem? Isso não existe! O nome disso é sem-vergonhice! – exclamou minha mãe, afastando dela tudo que estava a sua frente na mesa. Eu tinha certeza de que isso ia acontecer, e já esperava pelo barraco.
- Não, mãe! O nome disso é amor! Se não fosse eu não estaria aqui me abrindo com vocês. – afirmei cauteloso, tentando prever o que ia acontecer a seguir.
- Você nem sabe o que é o amor! Quando souber, vai se casar e me dar os netos que tanto espero de você. – devolveu ela.
- Infelizmente vou ficar te devendo esses netos, mãe!
- Espere, Cristina! Não é o momento nem o lugar de falar em netos. Como sabe que é gay, Bruno? Você pode estar sugestionado por algum amigo, estar sob estresse com toda essa mudança havida na sua vida nesses últimos três anos, talvez morar sozinho não esteja te fazendo bem. – dizia meu pai, tentando encontrar no meu olhar uma resposta que ele sabia que não encontraria.
- Eu estou apaixonado por essa pessoa desde os tempos da faculdade, pai. Ficamos quase três anos sem nos vermos, eu o reencontrei recentemente aqui em São Paulo, numa coincidência incrível, sem nenhum planejamento. – revelei.
Aos poucos, meu pai foi fazendo associações de fatos ocorridos naquela época, e já se convencia de que eu estava mesmo envolvido sentimentalmente com um homem.
- O rapaz do pinto, não é? O rapaz que ficou com o pinto preso no zíper e que você levou ao consultório para suturar. – disse ele, matando a charada.
- Sim pai, o Alex! – confirmei.
- Alex? Que Alex é esse? Não me diga que é aquele baderneiro que você levava lá para casa com seus amigos de faculdade? – questionou minha mãe, lembrando-se do Alex.
- Esse mesmo, mãe! – tornei a confirmar.
- Eu preciso respirar ar puro! Chega desse jantar! Eu vou acabar sufocando! – exclamava minha mãe, conscientizando-se que a coisa era concreta e não um simples devaneio ou chacota de minha parte.
- Lamento deixá-los nesse estado! Eu juro que nunca quis magoar vocês. Eu os amo mais do que a mim mesmo. Perdão! – sufocado sob tanta pressão, percebi que ia perder o controle sobre aquele nó que estava entalado na minha garganta.
- Vamos para casa! Lá podemos te ouvir mais calmamente. – disse meu pai. Eu tinha minhas dúvidas.
Jamais pensei que essa história do Alex e eu trocarmos as chaves dos apartamentos nesse nosso comportamento nômade, cuja única finalidade era irmos para a cama juntos, fosse me colocar numa fria.
Depois do regresso para casa sem trocar uma única palavra com meus pais dentro do carro, uma vez que cada um estava digerindo aquela situação ao seu modo, ao abrir a porta do apartamento, me deparei com a sala imersa em luzes bruxuleantes de inúmeras velas distribuídas pelos cantos. Trilhas sonoras orquestradas de filmes antigos ecoavam baixinhas vindas o equipamento de som. Mal se enxergava alguma coisa dentro da sala, mas logo reconheci um vulto largado em sua poltrona preferida. Ao acender as luzes, o cenário se descortinou por inteiro. Um caminho de pétalas de rosas brancas e vermelhas seguia pelo chão da porta de entrada até a poltrona, sobre a qual o Alex, completamente nu, cochilava com as pernas bem abertas, entre as quais havia uma rosa branca junto aos genitais expostos. Ele tomou um susto quando a luz atingiu seus olhos cerrados, esfregou-os para se acostumar à luminosidade e para despertar daquele cochilo restaurador. Outro bem maior o assolou quando viu meus pais parados diante dele com os olhares embasbacados. Instintivamente levou suas mãos sobre os genitais e começou a gaguejar.
- Bruno, seu pais ..... “Seu Pedro” ... “Dona Cristina! Eu, eu ... Me desculpem! Bruno, você não me disse ... Me desculpe “Dona Cristina” ... “Seu Pedro” – ele entrou numa agitação tamanha, gaguejando e tapando seu sexo, que nem se lembrava onde tinha largado as roupas de que tanto precisava agora.
- Então é esse o homem pelo qual está apaixonado! Que escolha, hein, filhão? – meu pai mal conseguia disfarçar a risada que expoliu em seguida.
- O quarto Alex, as roupas devem estar no quarto! – exclamei, pois a cabeça dele estava a mil. Ele disparou na direção do quarto, segurando a pica, mas se esquecendo na bunda exposta.
- É o baderneiro mesmo, Pedro! Você acredita que seu filho possa estar apaixonado por esse rapaz? Esse sujeito é um tarado! – verbalizou minha mãe, ainda sob o impacto do que acabara de presenciar.
- Que ele não é romântico não dá para afirmar! Olhe a sua volta e veja como ele preparou tudo por aqui. – continuou meu pai que, percebi, já começava a se divertir com a situação.
- Romântico? Ele estava pelado, Pedro! Pelado como veio ao mundo! O que há de romântico nisso? – questionou ela.
- Ao menos ele expõe suas intenções para com o nosso filho abertamente! Como o romance vai começar é uma questão de criatividade! – exclamou, no mesmo instante que o Alex voltava à sala vestido e sem saber onde enfiar a cara.
- Eu peço mil desculpas! Não sabia que o Bruno ia trazer vocês com ele. – o Alex continuava gaguejando, tentando empostar a voz e dar-lhe um tom mais maduro e centrado. Até eu comecei a me divertir com tudo aquilo, embora me mantivesse retraído para não encabular ainda mais o Alex, e nem exacerbar a inconformidade da minha mãe.
- Percebe-se que foi apanhado de surpresa! Então estamos diante do homem que fisgou o coração do Bruno com um pinto rasgado? – tripudiou meu pai, aquilo já se tornara uma brincadeira que ia render muitas tiradas daí para frente. O Alex só acenou com a cabeça, vítima do escárnio.
- Você está mesmo namorando o Bruninho? – perguntou-lhe a minha mãe, que ainda não conseguia encarar aquele homem mesmo que estivesse decentemente vestido.
- Estou, “Dona Cristina”! Eu amo seu filho, “Dona Cristina”!
- Que tanto dona e dona! Depois de acabar de ver até a sua alma, essa formalidade não faz sentido! – devolveu minha mãe.
- Bem! Agora que vocês já se convenceram de que eu não estava fazendo piada sobre ser gay, e se lembraram de quem é o Alex, eu queria saber o que pensam a respeito de tudo isso? – questionei. Ambos pediram um tempo para refletir sobre tanta novidade, e o Alex praticamente se atirou porta afora quando o levei até a saída, aliviado por poder fugir do vexame.
- O almoço, amanhã! Ao meio-dia, aqui, vamos todos juntos, você escolhe o lugar! – exclamei, ao puxá-lo para um beijo bem diferente dos que ele tinha planejado trocar comigo naquela noite.
- Almoço? Jura? Nem sei onde enfiar a cara! – retrucou ele.
- Não era você quem me cobrava de ficar enrolando e não contar tudo sobre nós dois aos meus pais? Pois bem, eu contei! – devolvi, com um sorriso doce.
- É, você contou! Me lembre de dar um bom castigo nesse cuzinho! – revidou, com um riso tímido.
- À propósito, eu amei aquela rosa branca! – exclamei, quando ele já estava diante da porta do elevador. Em dois passos ele voltou, me envolveu pela cintura, me pressionou contra a parede e me deu um beijo ardente até eu sentir meus lábios ligeiramente entorpecidos.
Acordei cedo no domingo pela manhã, tinha tido uma noite agitada e esperava o mesmo para aquele dia. Portanto, não consegui permanecer na cama. Eu preparava o café da manhã para os meus pais quando ambos chegaram juntos à cozinha. Tinha caprichado nos detalhes, pois queria que me vissem como uma pessoa independente, organizada, dono da situação. À mesa, notei a troca furtiva de olhares entre os dois, apontando para a rosa branca que eu havia colocado na água dentro de uma caneca improvisada como vaso. Os dois disfarçavam o riso.
- Ele é carinhoso, não acham? – perguntei, ao sacar que estavam fazendo troça por conta daquela rosa.
- Isso não dá para saber, mas que estava imbuído de segundas intenções é bem evidente! – respondeu minha mãe, foi o que bastou para meu pai desatar a rir.
- É só nisso que conseguem pensar? – indaguei encabulado.
- O que você esperava? Um sujeito te esperando completamente nu com uma rosa nas partes íntimas estava deixando bem claras as suas intenções. – justificou minha mãe.
- De uma coisa esteja certa, Cristina. Que o tarado está apaixonado pelo seu filho, está provado! – sentenciou meu pai.
- Vocês estão se divertindo às nossas custas, não é? Todos acham que o amor entre dois homens é uma grande comédia, um motivo caricato de gays. – questionei contrariado.
- Me responda uma coisa, Bruninho. Você ama esse rapaz, tem certeza disso? – perguntou minha mãe, colocando uma expressão séria no rosto.
- Amo muito, mãe! Você não faz ideia do quanto. E, eu sei que agora ele também me ama. – respondi.
- Não seremos nós a obstruir a sua felicidade, filho! Eu só vou precisar de um tempo para me acostumar com as esquisitices dele. Mas, quero que encontre a felicidade, seja ao lado dele, ou de quem você escolher para compartilhar a sua vida. – afirmou ela. Levantei-me e fui abraça-la com os olhos marejados.
- Vocês dois não vão começar a chorar feito aqueles personagens de dramalhão mexicano, vão? – questionou meu pai, tão emocionado quanto minha mãe e eu.
- Amo vocês! Obrigado por me aceitarem! – balbuciei, entre lágrimas.
Eu já contava com a gozação que meu pai ia fazer com o Alex, o que deixou nosso almoço mais descontraído e serviu para um rápido entrosamento dele na nossa família. No início, ele estava tenso, suando em bicas, ainda envergonhado pelo vexame da noite anterior, mas logo se conformou em ser o foco da gozação e acabou aderindo à brincadeira.
- Bem! Agora que passei pela prova de fogo com seus pais e fui aprovado com louvor, o senhor tem até o final do mês para se mudar para a nossa casa. Não aceito desculpas nem justificativas! O couro vai comer nessa bundinha todas as noites, vai se preparando! – asseverou, com aquele seu jeito extrovertido de se gabar por ter conquistado algo difícil. – Ah! Já ia me esquecendo, aliança no dedo para que nenhum espertinho tente se engraçar com o que é meu! – exclamou, indo buscar a caixinha das alianças e colocando uma no meu dedo e outra no dele. – pulei no pescoço dele e o cobri de beijos, que não demoraram a produzir uma ereção em nós dois. Minutos depois, eu gemia com a verga dele se movimentando ativamente no meu cuzinho.
Na primeira semana após a minha mudança, recebemos a visita do Mario. Ele também veio nos felicitar pela união. Exigiu que a formalizássemos, ele bancaria a festa. Ao que o Alex e eu ficamos com o pé atrás, não queríamos virar motivo para comentários. Ele não se deu por vencido e, com o conluio dos meus pais, acabou por nos obrigar a marcar uma data para uma comemoração discreta, só com os familiares e alguns poucos amigos. Cerca de dois meses depois, lá estávamos o Alex e eu em Sorocaba, recebendo as felicitações, e abrindo nossa paixão para amigos e família. Meus pais nos presentearam com um cruzeiro marítimo, algo que eu sempre comentava que gostaria de fazer.
Programamos as nossas férias e zarpamos rumo ao caribe num final de tarde nublado. Era a nossa primeira viagem como um casal. Carregado de significados, aquele cruzeiro tinha um único propósito, nos tornar oficialmente marido e marido. Pode parecer piegas, fantasioso, grotesco, indecente para quem não estivesse sentindo o que nós dois sentíamos um pelo outro. No entanto, para o Alex e para mim, aquele era um sonho se concretizando, não a viagem em si, mas o que ela significava, como testemunha do nosso amor.
No terceiro dia a bordo, o sol deu o ar da graça. Hesitei antes de vestir uma sunga sobre aquele corpo branco, que há tempos não via um bronze na pele.
- Vai me deixar o tempo todo de pau duro, mas quando a marca da sunga estiver bem definida, vou me esbaldar nesse cuzinho. – asseverou o Alex, ao ver minhas coxonas grossas e lisas emergindo da sunga.
- Vou compensar suas ereções! – devolvi lascivo, lambendo meus lábios, enquanto observava uma se formando dentro da sunga dele. Antes de subirmos para o deque das piscinas, fiz um boquete naquela pica assanhada, lambendo e engolindo até a última gota de porra que ele ejaculou na minha boca. Cada vez que eu engolia aquele esperma, ele parecia mais saboroso.
O navio estava fundeado próximo ao porto de Gustávia, a capital de Saint-Barths, ao crepúsculo. Tivemos dois dias para explorar a cara, mas fantástica e linda ilha das Antilhas francesas, antes do navio zarpar naquela noite rumo ao próximo destino de nossa viagem. Ao sair do merecido e relaxante banho, encontrei o Alex largado na espreguiçadeira da varanda de nossa cabine. Ele nem se dera ao trabalho de vestir alguma coisa quando saiu do chuveiro, continuando enrolado com a toalha na cintura observando o belo e multicolorido pôr-do-sol. Uma brisa carregada de perfumes começava a amenizar o calor do que seria mais uma linda noite de céu limpo. Ele estava tão absorto com seus pensamentos que nem notou minha aproximação, talvez porque eu estivesse descalço. Seu olhar estava focado num bando de gaivotas que voavam ao redor do navio e, nas luzes que começavam a se acender no porto e nos morros que circundavam a cidade. Toquei-o de leve nos ombros largos e vigorosos, antes de deslizar minhas mãos sobre o peito dele e me inclinar para lhe dar um beijo no pescoço cheirando a gel pós-barba, embora ele não a tenha feito há três dias e, talvez só aparado seu contorno.
- Eu estava pensando no homem sortudo que eu sou desde que você entrou na minha vida! – confessou ele, puxando-me pelos braços para que ficássemos mais próximos, e para enlaçá-los com os dele. Como ele havia virado ligeiramente o rosto, beijei-o carinhosamente na boca.
- Eu já te disse que te amo, hoje? – devolvi.
- Não estou lembrado! – respondeu rindo, uma vez que eu devia ter confessado meu amor por ele pelo menos meia dúzia de vezes desde aquela manhã. – Também não ouvi direito o que acabou de falar. – emendou ligeiro.
- Eu te amo! – sussurrei junto ao ouvido dele, enquanto fazia uma das minhas mãos entrar por baixo da toalha e deslizar até seu membro.
- Hummmm!! Mais um pouco para a direita, está ficando quente! – exclamou assanhado, soltando um sibilo entre os dentes, pois era para aquele lado que a pica pendia.
Comecei a acariciar a glande com as pontas dos dedos, o que começou a produzir uma ereção que ele fez questão que eu acompanhasse tirando a toalha de cima dela, e expondo todo aquele equipamento peludo e sensual que tinha entre as pernas.
- Amo você, meu homem! – tornei a sussurrar, desta vez lambendo sua orelha.
Ele me puxou com força para o lado e para cima de seu colo. O movimento brusco fez com que o entrelaçamento da minha toalha se desfizesse e eu despencasse sobre ele completamente nu, e agitado pelo tesão. Ele envolveu meu tronco e me beijou, mordiscou meus lábios e, lenta e sensualmente começou a enfiar a língua na minha boca. Os biquinhos dos meus mamilos saltaram hígidos atestando minha excitação. Eles os descobriu ao deslizar as mãos sobre meu peito, e sorriu.
- Esta disposição toda é por conta de ver a pica do teu macho dura por você? – indagou despudorado, apertando com força os biquinhos entre seus dedos, até eu soltar um gemido.
- Você sabe que sou louco por ela, não sabe? E, pelo dono gostoso dela, não sabe? – devolvi gemendo baixinho e com tesão. Ele abriu um daqueles seus sorrisos largos e amorosos.
Mordi o queixo dele, lambi o pescoço, beijei seus mamilos, percorri com a ponta da língua o caminho de pelos que seguia até sua virilha e, segurando delicadamente a verga grossa que latejava, e tinha diante do meu rosto, comecei a chupar a cabeçorra. Ele gemeu forte e enfiou os dedos nos meus cabelos ainda úmidos e desalinhados. Assim que o Alex apertou as minhas nádegas, o cacetão começou a babar. Me ver sorvendo e lambendo seu sumo deixava-o ensandecido de tesão. Ele se movimentava sobre a espreguiçadeira a fim de introduzir seu falo no meu rego escancarado, enquanto eu voltava a cobri-lo de beijos, como que implorando para ele meter aquilo em mim. Enquanto suas mãos me seguravam pela cintura e me posicionavam sobre a jeba, ele sussurrava sacanagens entre um beijo e outro. De frente para ele, abri minhas pernas e firmei cada um dos pés de um lado da espreguiçadeira. Lentamente e, sem me afastar muito, ergui minha bunda do colo dele, criando a oportunidade para ele apontar a glande contra a minha rosquinha. Com uma leve pressão ao erguer sua pelve, ele meteu a cabeça da pica no meu cuzinho, me fazendo ganir, ao mesmo tempo em que segurava a respiração. As penetrações sempre eram bastante dolorosas e, invariavelmente, provocavam uma brusca contração dos meus músculos anais, responsáveis por me fazer ganir. Ao invés de me sentar no colo dele, como ele estava esperando, para que a pica atolasse toda no meu rabo, eu me mantive firmemente apoiado sobre os pés, respirei fundo e, para total espanto e delírio dele, comecei a mastigar aquele membro pulsátil e predador, contraindo e relaxando os esfíncteres. Precisei me agarrar aos seus ombros, que apertei com força, enquanto contraía meus músculos anais e ia, lentamente, puxando e engolindo a pica dele. Ele começou a gemer de tanto tesão quando sentiu que rola estava sendo sugada para dentro do meu cuzinho, sem que ele precisasse mete-la ativamente naquela fenda estreita, ardente e úmida. Baixando devagarinho as ancas e, coordenando as mordidas dos esfíncteres, o pinto ia desaparecendo nas profundezas das minhas nádegas, até eu sentir que havia deixado de fora apenas o sacão.
- Bruno, sua putinha gostosa! O que é isso minha cadelinha tesuda? – questionou ele, em êxtase, com um olhar arregalado e impudico.
- Sssshhhhh! – soltei, antes de voltar a colar sua boca na minha. – Espere que ainda tem mais! – exclamei, quando senti que ele me agarrava com tanta força que mal consegui me mexer.
- Mais? Quer matar seu macho na lua-de-mel? – perguntou rindo.
Só eu sabia a que custo e, quanta força estava a exigir dos meus músculos para manter as ancas suspensas quando comecei gradualmente a expulsar aquela tora de carne que latejava no meu rabo. Contudo, eu o fiz com tanto cuidado para que ela não saísse de vez, mantendo somente a cabeçorra engatada, antes de começar novamente a mastigar e engolir o cacete todo. Desde quando o Mario tinha me ensinado a sugar uma rola dessa forma para dentro do cu, sob a alegação de que isso deixaria meus esfíncteres anais mais fortes, eu nunca havia praticado isso com o Alex. Ele parecia estar nas nuvens, percebia-se como se controlava para não me obrigar a sentar sobre a rola e ficar metendo ela em mim com toda sua sanha e intrepidez, assumindo o controle daquela foda.
- Como um bom aluno, estou aplicando as lições que seu pai me ensinou. – afirmei com um risinho ladino.
- Então era isso que ele fazia quando vocês dois transavam a sós, te ensinando como agradar seu macho? – questionou.
- Diz para mim se eu aprendi direitinho! – exclamei, com o cu ardendo e a exaustão prestes a me aniquilar, de tanto esforço que essa manobra exigia.
- Você está me deixando maluco, sua putinha!
- Você gostou?
- Eu amei! Seu menininho travesso e tesudo, amo tanto você que nem sei o que seria da minha vida sem você! – ronronou ele, tomado pelo tesão e com o coração transbordando de felicidade.
- Quero fazer de você o homem mais feliz desse mundo! Eu te amo, Alex!
- Está meu amor, está me fazendo o homem mais feliz desse mundo, juro!
Minhas pernas começavam a entrar em tetania, meu corpo todo tremia, não conseguiria me segurar mais por muito tempo naquela posição forçada, por isso fui mastigando e engolindo aquela pica mais uma vez, eu queria aquele homem por inteiro reinando nas minhas entranhas, guardado e aconchegado no meu íntimo, de onde parecia que ele jamais me escaparia. Ao me agarrar pelas nádegas e me erguer pendurado ao seu pescoço, o Alex soltou um urro rouco. Meu ânus esfolado estava todo cheio de porra. As últimas contrações dos meus esfíncteres fizeram-no gozar fartamente. Para que o esperma não escorresse para fora do meu cu, ele deitou minhas costas sobre a espreguiçadeira e se encaixou entre as minhas pernas abertas, sem tirar o falo do meu rabo. Eu o envolvi em meus braços, e quase comecei a chorar de tanta felicidade quando vi aquele céu estrelado sobre o navio e aquela imensidão de oceano. Parecia que eram elas, as estrelas, que incutiam em mim aquele amor imenso que nutríamos um pelo outro. Uma gaivota destemida veio pousar no guarda-corpo da varanda e ficou a nos observar.
- Você já olhou para o céu? – perguntou ele, enfiando a pica um pouco mais fundo depois de ela ter se deslocado ligeiramente enquanto me mudava de posição.
- Está coberto de pequenas estrelas faiscando, como da primeira vez que você estava exatamente assim, debruçado sobre mim. – respondi.
- Durante o tempo em que estivemos afastados, eu sempre olhava para elas e suplicava para que te trouxessem de volta para mim. – confessou. – E elas me atenderam! – emendou antes de me beijar.
- É porque elas sabem que eu sempre fui seu, meu amor!