IMPORTANTE ler "Experiência Alucinante" publicado anteriormente aqui neste site.... Depois daquele sonho alucinante já tinha duvidas sobre minha capacidade em continuar fazendo terapia. Porém pensava constantemente no foco. O que deveria manter pois todo o tratamento e os benefícios que tive ao longo do tempo, poderiam estar comprometidos por um desejo que temia poder ser insaciável. Como iria reagir? como poderia abstrair desse desejo? Com consulta agendada naquela semana esta eu pensando e gastando energia para manter aquele sonho na imaginação e não no fetiche.
Importante abordar que há duas pessoas importantes no século como Freud e Jung pra tentar entender esse momento louco que estou vivendo. Um neurologista austríaco e outro um terapeuta suíço dedicado a psicologia analítica. Duas mentes que se complementam e com seus estudos ultrapassaram a barreira do analista sem interação para experiências que mergulharam profundamente na "realidade" do paciente para vivenciar e descreve-las, e assim poder ajustar o que for necessário. As diferenças entre os dois eram marcantes, mas vale abordar força vital (Jung) vs libido (Freud). Enquanto Jung estudava o desejo amplo, irrestrito e mutável; Sexo, desejo, poder, etc. Freud entendia a libido como conotação apenas sexual e concentrada em diferentes partes do corpo durante o desenvolvimento. Outro ponto seria do paciente em transferência. Apesar ambos concordavam que era um fenômeno a ser controlado, Freud defendia a distância fora de cena interagindo pouco ou pontual, enquanto Jung fazia as sessões frente a frente e interagindo. Contudo ambos ultrapassaram a barreira da observação para uma pesquisa experiencial e aprofundada.
Contextualizo o conflito ético que estava vivendo com a história do café na sociedade moderna. Foram os árabes e muçulmanos que descobriram o potencial do café, a torra surge no século XV e daí à infusão. Religiosamente, relaciona-se aos espíritos da fertilidade e da prosperidade. Você deve estar se perguntando toda essa análise em um conto, mas porquê? Sigo, porém... O café foi apresentado ao Papa Clemente VIII como uma bebida pagã e com efeitos diabólicos, e que deveria ser controlado, porém a Santa Sé provou e, ao invés de proibir a “bebida muçulmana”, abençoou o hábito. Poderia este fetiche ultrapassar barreiras envolvidas e se tornar real? Inquietantemente antes da minha sessão estes pensamentos me rodeavam.
Você ainda deve estar se perguntado, olha todo esse raciocínio, mas se colocando em meu lugar e com o sonho da noite passada, minha terapeuta se tornou um pensamento gostoso, um tesão malicioso, uma libido presente e que mexeu com todos os sentidos no mais profundo inconsciente. Aquela fantasia estava impregnada de desejo e não mais apenas de um sonho aleatório. Não vamos esquecer que a relação profissional entre paciente e terapeuta é uma linha que precisa ser respeitada. Pensei de forma a me tranquilizar que ela é profissional vai saber lidar com isso. Mas não tinha mais controle destes pensamentos e apesar desta convicção contar a ela sobre isso, se este sonho precisava ser explorado em sessão ou não? Uma explosão na mente havia acontecido.
Chegou o dia da sessão e todas as confusões, pensamentos e questionamentos em efervescência na minha mente. Estava entrando no prédio para consulta parecendo a primeira vez. Mesmo vários anos em contato aquele desejo fortuito noturno mudou minha perspectiva. Cheguei dez minutos antes e sentei na sala de espera aguardando meu horário. Quando ela abriu a porta para me receber com o sorriso lindo de sempre e um reconfortante bom dia, logo me direcionou para a poltrona para darmos início a sessão. Ela estava extremamente elegante e sexy. Estava com um vestido tipo envelope pouco acima do joelho, salto e uma maquiagem leve. Estou observando os detalhes quando ela me pergunta como foi sua semana. Silenciei por alguns instantes pensando sobre o que falar, confesso que aqueles dias não pensava outra coisa senão aquele sonho intenso e inesquecível. Poderia dizer minha semana parou no tempo e no espaço por causa de você, mas recobrei o juízo e iniciei relatando minhas rotinas e trivialidades. Contudo ela percebia minha inquietação e juro que tentei ser o mais discreto e focal possível até que ela pergunta como estava meu sono e repouso. Paralisei novamente e respondi que estava bem, mas ela não se deu por satisfeita e repetiu a pergunta percebendo a inquietação. Não havia saída e tomei coragem e relatei tudo em detalhes quase que tomando a cessão inteira. Percebia a sua atenção total ao meu relato e por vezes seu rosto mais ruborizado. Ao final do relato estava com a cabeça a mil imaginando possibilidades e que eu acabara de fazer, pensei em todas as possibilidades tanto do remoto êxito em tê-la e nas inúmeras possibilidades de colocar tudo a perder naquele momento. Foi quando ela quebrou o silencio e respirou fundo comentando que estava encerrando a sessão e que havíamos cruzado uma linha que naquele momento não poderia falar sobre, mas que havíamos entrado em transferência, questões éticas e limites. Sai da sessão e nos despedimos ela mencionando que entraria em contato. Este dia não teve fim e fiquei pensando e me cobrando porque falar sobre aquilo e o que isso poderia me ajudar numa sessão, culpa e arrependimento tomaram conta de mim.
Continua no próximo .... parte 3 Final
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