: – Larissa, suba. Teremos uma conversa com sua irmã.
Com aquele tom de voz, sabia que estaria em uma grande enrascada. Meu pai nunca foi de bater ou colocar de castigo. Até mesmo que nunca demos motivos para isso. Paty chegou perto de mim e recebi um grande abraço. Em um sussurro disse "Ouça seu pai sem briga." e subiu as escadas.
- Quero que conte o aconteceu.
- Fui para casa da Jéssica passar a noite... - Foi uma noite que queria esquecer e foi a noite mais comentada. - ...foi quando cheguei e Jéssica me recebeu com murros. E cá estamos.
- Sinceramente, não sei se te deixo ou não de castigo.
- Por que?
- Ainda tem a audácia de me perguntar o motivo. Melissa, você simplesmente sumiu durante a noite inteira.
- Mas, pai, eu avisei a Larissa. Liguei. Meu celular quebrou. Não fiz por mal.
Meu pai respirou fundo e sentou ao meu lado. Parecia pensativo.
- Sua irmã e você são meus maiores tesouros, não sei o que seria de mim caso acontecesse algo com uma de vocês. Se for dormir na Jéssica, tenta se comunicar antes se for sair de lá.
- Acho meio difícil, pai. A briga foi feia.
- Teve dedo na cara?
Não estou acreditando que meu pai fez esse trocadilho comigo.
- Sério, pai?
- Escuta. Essa menina parece gostar de você. Relacionamento não é fácil. Brigas acontecem, sim. Vocês só não podem jogar a toalha na primeira discussão. O pior que nunca será uma discussão, serão varias. Das mais simples por toalha na cama, como das mais difíceis como uma ligação de alguém do trabalho em hora imprópria. E por aí vai, minha filha. Se acha o ocorrido da noite passada algo complexo para sentar e conversar com ela, deixe-a ir sem ficar impedindo a sua ida. Se quer, vá atrás e saiba o que ela quer.
Levantou, recebi um beijo na testa e ele subiu. Sem perguntar ou falar mais nada. Apoiei a cabeça no encosto do sofá e fixei meus olhos no teto. Minha mente foi absorvendo cada palavra dita pelo meu velho, e o sono batendo. Adormeci.
Sono intenso. Sonhos atarantados.
*
- Eu não quero mais.
- Jess, por que?
- Não posso sujar minha família, não posso me sujar ficando com uma mulher.
Enquanto ela se afastava, eu ficava ao relento.
*
Acordei assustada dos pesadelos que pareciam inacabáveis. Meus piores pesadelos sempre foram ver a partida da Jéssica. Mesmo acordada, meu coração se contraia bruscamente. Principalmente por lembrar que aquilo se tornou real.
Que bacana, quando sonho que ganho na loteria não se realiza e para ser deixada, acontece primeiro e sonho depois.
Ainda grogue de sono e perturbada pelo pesadelo, subi as escadas e fui tomar banho.
- Não sei mais o que fazer.
A agua quente escorria pelas minhas costas. Lembrava da briga com veemência. Parecia sentir a dor das palavras ditas como cortes profundas.
"- Não tem mais nada a fazer, Melissa!
- Por qual motivo está falando nesse tom comigo?
- Pelo motivo que minha vida acabou de foder de vez. Só isso."
Flash do ocorrido vinham a todo instante na minha cabeça. Chegava a ser insuportável. Se ela quis assim, por que dar murro em ponta de faca? Darei tempo ao tempo e começarei a colocar o quebra-cabeça da minha mente em ordem.
Passando os dias eu ia gastando meu tempo comigo mesma. Voltei a treinar focada em campeonato, andar de skate como se não houvesse amanhã, sair com meu cachorro. Até eu ter a brilhante ideia de sair com meu cachorro andando de skate na beira da praia. Precisava espairecer, mas no caminho vi uma menina que parecia Jessica. Tentei olhar para trás na esperança de ser ela. Sansão estava solto correndo na frente sem coleira até que, não sei o motivo, resolveu parar repentinamente. Quando voltei a olhar para frete, vi meu cachorro parado, para que eu não o machucasse inclinei para o lado e bati com a roda do skate no meio fio me fazendo rolar várias vezes no chão e cair por cima do braço. Dois rapazes que trabalhavam no quiosque do lado que parei na ajudaram e chamaram a ambulância. Pedi para que eles ficassem com Sansão até eu conseguir ligar para meu pai ir buscá-lo.
Foi uma dor insuportável. No hospital, me levaram direto para sala de Raio-x e viram que realmente eu teria de engessar o braço. Em meia hora meu pai estava lá comigo.
- Cadê Sansão? Pegou ele?
- Sua irmã foi pegar. – Disse meu pai entrando no quarto onde eu estava engessando o braço. – Quero saber o que ocorreu.
- Idiotice, pai. Simples assim.
- Está com saudades dela, não está?
- Dela quem?
- Sabe muito bem de quem estou falando.
- Ah, pai. Ela que foi, não eu.
- Mel, Jéssica estava uma pilha de nervos achando que tinha acontecido algo com você. Acha que ela “foi” – Fez aspas com os dedos – por não gostar de você ou por ter algo por trás disso?
- Errado o senhor não está.
- Faça o melhor para ti, Melissa.
- Pronto - Disse o enfermeiro. - Pode voltar no consultório para o médico entregar o atestado, caso precise.
- Obrigada.
Levante e fui adiantar minha vida.
No caminho para casa, meu pai não parava de falar que eu deveria ir atrás da Jéssica. Procurar saber como ela estava, se os pais dela tinham falado mais alguma coisa, como ela estava se sentindo.
Passei mais uma semana criando coragem para enviar mensagem, e ficou só na criação da coragem. Passei a semana com dores, noites mal dormidas, alergia ao medicamento. Minha disposição já não estava muita, depois do acidente foi quase a zero.
Em uma sexta a tarde resolvi sair um pouco da cama e sentar com minha irmã para assistir alguma série aleatório. Consegui até dar umas risadas com Dev Shah, da série Master of None.
Levo um susto com a vibração do celular em minha cintura.
- Mandinha. Milagre acontece, hein!?
- Você quem desapareceu e eu sou o milagre da ressurreição?
- Passei a semana dopada de remédios. Me dá um desconto.
- Tá, tá. Sua chata. Se arruma que irei passar ai para irmos as shopping.
- Ah, não, Amanda. – Não estava com paciência para sair de casa. – Vem aqui para casa e vamos assistir um filme.
- Estou precisando sair. Passei metade das férias em casa. E outra, tenho que comprar o presente de aniversário da minha mãe.
Suspirei fundo.
- Está bem. Só irei por causa de que sua mãe merece um bom presente
- Eba! Em meia hora estou aí. Fica pronta.
Ela desligou tão rápido que não deu tempo de me despedir. Como a vontade de sair era minúscula, coloquei uma roupa arrumada, porém, simples.
Incrivelmente minha amiga foi pontual. – Amanda só pode estar de encontro marcado. – Sai de casa com vontade de voltar. Abracei minha amiga.
- Como você está?
- Bem, o mesmo saco de vida em casa, mas bem. – Ela olhou para meu braço – Trouxe uma caneta, quero ser a primeira a rabiscar. – Disse puxando a caneta da bolsa.
- Vê se não escreve putaria, tá?
- Pode deixar – Segurou meu braço e puxou em sua direção.
Mal Amanda acabou de escrever algo que eu não consegui ler por esta de ponta cabeça para mim, o Uber estacionou no meu portão. Entramos e fomos conversando durante todo o caminho até chegar no shopping. Já desci do veículo indo direto ao quiosque comprar um milk-shake. Ah, que saudade de retornar a esse meu vício de sorvete. O que me fez lembrar da primeira vez que sai com a Jéssica e ela me levou a uma sorveteria maravilhosa. Mandinha olhava para tudo que é lado.
- Qual loja está procurando? – Perguntei.
- Loja de que? – Respondeu ainda buscando algo.
- Não viemos procurar o presente da sua mãe?
- Viemos? – Olhei seria para ela – Ah, sim. Viemos. Deixa eu só fazer uma ligação.
Amanda pegou o celular.
- Fala, cadê vocês?... Que fonte?... Achei. Estamos indo. Vem, Mel.
- Para onde?
- Na fonte.
- Já vou ficar de vela?
Amanda riu e saiu a dando na minha frente.
- Cara, Amanda. Eu deveria saber que estava armando uma. Pelo menos ele é bacana?
- Tenho certeza que você vai amar.
Dei de ombro e continuei andando. Porém ao levantar a cabeça e olhar para frente travei. A poucos passos lá estava ela. Aqueles lindos olhos verdes me olhando. Tem hora que não sei como uma mulher linda daquela pode gostar de mim.
- Oi. – Senti que a palavra saiu arranhando sua garganta.
- Oi. – Disse olhando aqueles olhos verdes que estavam realçados no contraste da maquiagem que usava.
- Como está?
Não aguentava mais um minuto longe da boca dela. A puxei pela nuca e a beijei explodindo de saudades. A vontade era de nunca mais soltar. A melhor parte do beijo foi sentir o desejo dela. Paramos o beijo e fui afastando lentamente, Jessica continuava de olhos fechados, admirei sua beleza por mais alguns segundos e encostei minha testa na dela.
- Estava com saudades.
- Eu também.
Suas mãos, que estavam em meus ombros, foi descendo pelo meu braço. Ela se afastou quando sentiu o gesso.
- Por que está com isso?
Pensei em fazer uma piada, mas desisti.
- Quebrei o braço andando de skate.
- Explica essa proeza.
- Resolvi sair um pouco de casa com meu cachorro – Fui explicando como me acidentei e percebi que seus olhos foram focando em algo no meu gesso. – E vou ter que voltar para verificar se o osso cicatrizou certo.
- Vamos para a praça de alimentação. – Amanda apareceu no meio da conversa. – Vocês vão com a gente?
- Está com fome, Mel? – Minha morena me perguntou.
- Ah, tá! – Amanda Solta uma estridente gargalhada. – Você está perguntando se esse poço sem fundo da Melissa está sem fome?
- Pô, mó bacana sua consideração por mim, Amanda.
- Sabe que te amo. Vamos lá que estou com fome.
Vanessa e Amanda foram andando na frente. Senti uma mão se entrelaçando na minha.
- Vem, Mel.
Jess me olhou e sorriu. Sorri de volta e seguimos acompanhando as garotas a nossa frente. Minha menina começou a contar o que aconteceu na vida dela nesse tempo onde ficamos afastadas.
Já na praça de alimentação, achamos uma mesa vazia e ficamos as quatro conversando. Lanchamos e ficamos lá por bastante tempo. Jessica estava totalmente carinhosa comigo, ficava brincando com minha franja, enrolava meu cabelo em seus dedos, ria das minhas piadas a ponto de encostar a cabeça no meu ombro. Seu perfume exalava e me deixava totalmente balançada por aquela mulher. Mesmo sentada ao meu lado, a morena virou a cadeira para mim, abraçou minha cintura, apoiou o queixo no meu ombro e ficou me olhando. Senti meu rosto corar com a fixação dela em meu sorriso. Quanto mais ela olhava, mais eu ria sem virar o rosto para o lado dela. Sacudia as pernas sem parar.
- Jess, para de me olhar.
- Não, amor. Você está cada dia mais linda. Não vou parar de te olhar nunca.
Aquele “Amor” dito quase ao pé do ouvido me fez tremer todinha por dentro. Foi ali que criei coragem para falar o que sentia a muito tempo. Virei para Jessica, que estava tão próxima a mim, fazendo meu nariz bater no dela. Minhas mãos começaram a suar e ficar gelada. Nossos olhares fixos um no outro. Respiração ofegante. Seu sorriso, junto com os olhos maravilhosos que chegava a estar verdes claros, faziam uma combinação tão harmoniosa em seu rosto. Quase impossível de se apaixonar. – Fala, boba. Anda! – Meu subconsciente me mandava, contudo, meu corpo não respondia. Fui atrapalhada por um flash inesperado.
- Nossa, que discreta! – Disse Vanessa para Amanda, após bater minha amiga bater a foto esquecer de tirar o flash da câmera.
- Estão tirando fotos nossas? – Perguntei.
- Estávamos tentando, né? – Respondeu Amanda. – Mas Poia aqui esqueceu de desativar o flash.
- Vocês estavam fofinhas se namorando aí. Um pouco gay a cena, mas tô acostumando já. – Completou Vanessa.
- Valeu, meninas. – Disse nenhum pouco contente.
- Amor. – Ah, cara. Ela me chamou de novo. – Podemos ir para sua casa ver um filme?
- Claro, qual filme?
- O filme é apenas um motivo para ficar agarradinha com você.
Não estou reclamando, longe de mim isso, só que a Jessica estava tão carinhosa. Estava amando isso, obvio. Entretanto não estava habituada a isso, mas iria aproveitar com se não tivesse amanhã.
- Quer ir agora?
- Seu pai não vai reclamar?
- Ele está trabalhando, chega mais tarde. Apenas minha irmãzinha está em casa.
- Então vamos. - Jessica me roubou um selinho e levantou. – Garotas, Mel e eu já estamos indo. Beijos.
- De nada, tá? – Ironizou Vanessa e Jessica riu.
- Obrigada, amiga. Rs. Até outro dia.
Mandou beijo e saiu puxando minha mão. Parecia ter presa de chegar na minha casa. Pensando bem, não é um coisa ruim. Não estou falando em sexo, estou falando que teremos mais liberdade de ficarmos agarradinhas no sofá, trocar carinho, beijinhos. Até acelerei o passo para acompanhar a garota.
- Mas é sério - Disse já entrando no carro. - Qual filme quer?
- Poderia ser um de Comédia romântica.
- Um gênero que irá agradar nós duas. RS. Eu topo.
O carro foi ligado e fomos tentando entrar em acordo do filme a ser visto até chegar na minha casa com a escolha de "PARA TODOS OS GAROTOS QUE JÁ AMEI”.
- Incrível como as aparências enganam, quem diria que Senhorita Jessica Albuquerque curtisse esse tipo de filme.
- Ué, e qual tipo de filme eu pareço gostar?
- Ah, antes de te conhecer você parecia ser do tipo de curtia filme tipo “Massacre da serra elétrica” ou “olhos famintos”, esses filmes com sangue e adolescente morrendo.
- Nossa, Melissa. Será que todos pensão isso de mim?
- Talvez.
- Adorei.
E deu uma risada maquiavélica. Meu comentário pareceu agradar a ela. Como somente meu pai possui o controle do portão de garagem, falei para Jesse estacionar próximo ao de entrada mesmo.
-Que estranho essa casa escura assim. – Comentei.
- Sua irmã deve ter saído.
- Pode ser.
Abri o portão e Sansão estava veio nos receber abanando o rabo e me enchendo de baba. Jessica brincou um pouco com ele enquanto eu ia rumo a porta da casa. Ao abrir a porta que estava apenas encostada e ligar a luz, deparei com a única cena que ninguém merecia ver na vida.
- Que porra é essa, Larissa?
- Mel!
Com o grito que dei, Jessica veio correndo até a minha e viu a belíssima situação constrangedora que Larissa, Phelipe e eu nos encontrávamos.
- Ihri, acho que sua irmãzinha já não é mais “zinha”, hein. – Jessica resolveu fazer uma piada na pior hora possível. Cara, tu acabas de pegar tua irmã mais nova de quatro transando com seu melhor amigo. Última coisa que eu gostaria seria uma piada. Simplesmente ignorei.
- Larissa, o que você está querendo? – Eu queria pular no pescoço dela.
- Gozar. – Minha morena resolveu curtir mais um pouco.
- E você, Phelipe. Estava com a cabeça onde?
- Essa eu nem respondo! – Apenas olhei fuzilando Jéssica. Que abaixou a cabeça e levantou os braços. – Não está mais aqui quem falou. Vou deixar vocês conversando.
– Agradeço.
E ela saiu para o quintal chamando o Sansão. Voltei a atenção para o jovem casal que se tentavam se esconder atrás das almofadas. Sentia meu corpo tremer por inteiro. Queria voar no pescoço dos dois naquela hora.
- O que vocês estavam pensando? Phelipe, olha a idade dela?
- O que a minha idade tem com isso?
- Sério essa pergunta? Será que é por você ter 16 e ele 19?
- Idade não tem nada a ver!
- Ah sim! Idade não é documento, né?
- Aff, para de bobeira, Melissa.
- Bobeira, Larissa? – Meu sangue esquentou ainda mais e o tom de voz aumentou. - pensa se é nosso pai que pega vocês.
Minha cabeça estava rodando a mil. Pode parecer bobeira, sei que perdi a virgindade cedo, mas qual a probabilidade que eu tinha/tenho de engravidar? Sei que meu pai sempre aconselhou Larissa, sei que Phelipe é um bom rapaz. Porém sabemos que acidentes acontecem, uma camisinha mau colocada ou furada, até mesmo o tesão do momento pode ocorrer. Um filho é o de mesmo, mas existem doenças. E a diferença de idade? Sei que não é muita, contudo não sabemos a cabeça do meu pai.
Senti um par de braços envolvendo minha cintura.
- Amor, calma. - Disse baixinho em meu ouvido. - Deixa os dois se vestirem. Vamos ficar lá fora.
Fui puxada pela cintura para fora. Jéssica tinha o dom de me acalmar_Ola, meu amores. Tudo bem?
Quero agradecer o carinho, paciência e esperança em esperar meu conto kkkk
Mais uma vez os emails me dão cada dia mais motivação.
Dessa vez a demora foi por conta da conclusão do meu curso e do meu Doguinho que ficou muito doente.
Espero que tenham gostado desse conto.
beijos!!!
@Rpittas
pittaraquel23@gmail.com
