Fala, galera.
Com atraso, mas aqui está o penúltimo cap!!!
Um salve pros caras aqui que comentam e votam nos meus posts.WOW
Mas já vai um aviso: este capítulo contém violência de diversas formas. Caso não se sinta emocionante preparado, aconselho não ler no momento!
Capítulo 5
Mesmo sabendo que aquilo era uma loucura, minhas mãos me traíram se deslizando com torpeza em direção à cintura de Leonardo para abraçá-lo. Meus sentimentos estavam confusos demais: Ora eu pensava que existia certa lógica na sua ideia e ora eu supunha que, por trás de seu tíbio pedido, havia segundas intenções. Mas quais? Tentei não pensar mais nisso, eu tinha uma ereção pra evitar.
Segurei um pouco respiração como que tentando sufocar a ansiedade. Ao abraçar mais firme aquele corpo massudo vi que o Léo não mentira a respeito da friagem. Ele tremia, embora muito discretamente, e bem diferente de mim, que tiritava os dentes. Senti-me envergonhado, emoção que àquela altura da viagem parecia mais uma companheira que inimiga. Mas, nada além disso se passou entre o meu corpo e o dele.
Ficamos nessa troca de calor até passarmos por um curtículo povoado onde abandonamos a chuva, sem despedidas. Durante o dia percorremos vários quilômetros, reabastecemos, almoçamos próximo da janta e mantivemos a velocidade sempre acima dos 110 km/h. Se Leonardo estivesse certo, chegaríamos em Comendador Soares à meia noite.
As dores nas costas e a fadiga já eram conhecidas nossas lá do começo do trajeto, mas resolveram nos cobrar a fatura quando passávamos por Teresópolis. Leonardo ainda tentou improvisar o guia turístico, apontando-me a sede de uma cervejaria famosa, porém, o cansaço estampado no meu rosto deve ter-lhe desestimulado. Fato é que, após algumas horas, entramos no fluxo da Avenida Brasil sentido Zona Norte e os traços das luzes dos faróis de carros desenhavam, ao se moverem, um efeito psicodélico. Cara, eu devia estar cansado mesmo.
Quase duas horas cortando ruas, ao longe vi a pequena casa onde ficaríamos. O dono era um sargento da Marinha e tinha se convertido num verdadeiro pai pro Léo, como constatei na convivência. Meu amigo parou a moto em frente ao portão e uma senhora saiu de dentro.
– Finalmente, ehm!
– Aí, Yeda, foi mal. O trânsito tava uma lokura.
– Brincadeira, garoto. Graças a Deus vocês chegaram sãos e salvos. Isso é o que importa.
Descemos da moto.
– Olá, prazer viu, sou o Bruno. – introduzi-me, estendendo a mão.
– Sou Yeda tah? Prazer é todo meu. – disse, me abraçando.
– João e o Eudenis estão acordados? – perguntou o Léo ao arrastar a motocicleta pra o interior do muro.
– João tá lá na nossa casa instalando a fiação. O Eudenis tá tomando banho...
– Trabalhando a essa hora?
– Fazer o quê, né? Alugamos essa casa, mas o contrato vai só até fevereiro. Além de que aqui é muito apertado. Tô até sem graça de receber vocês nessa bagunça!
– Irr, relaxa, mulher, a gente dorme onde der.
– Filho... O Leonardo e o amigo dele chegaram...
– Tá bom... Saio já.
A casa tinha uma sala, cozinha e um quarto impossível de caber um guarda-roupa. Andamos por um corredor em direção ao quarto, pra guardar as malas, e a Yeda foi pra cozinha.
– Fala, muleke, quanto tempo, ehm? – cumprimentou o Eudenes.
Um cara lindo e negro que saiu do banheiro enrolado numa toalha. E põe lindo nisso! O homem mais bonito que eu conheci. Ele e o Leonardo, na verdade. Embora fossem de belezas distintas. Contive meus olhares.
– Têm uns três anos, meu chapa. – eles se abraçaram – Aí, esse aqui é o Bruno, o meu irmão moreno.
– E aí, tudo bem contigo? – comecei.
– Tudo bem sim, cara. Bem-vindo, viu?
Ele apertou minha mão. Que aperto firme, e que guri alto. Devia ter 1.85m, uns 20 anos, corpão massa, coxas grossas, pouco pelo e tanto a bunda quanto o pau marcavam a toalha, ele deixava o cabelo cortado na máquina zero.
– Valeu aí. – agradeci.
Acho que sem querer, olhei em seus olhos, e ambos nos encaramos ao mesmo tempo. Ele voltou a conversar com o Léo enquanto nos condizia à cozinha. Yeda tinha colocado a comida pra esquentar e, devo dizer, comemos feito dois bichos. Ela e o Eudenes não provaram nada. Já o Leonardo, aparentemente faminto, comeu por eles.
– Garotos, estamos com um problema. – confessou nossa anfitriã, enquanto abatíamos a janta.
– Err, tem BO pra nois não, Yeda. Digue...
Leonardo pareceu-me ter acentuado o sotaque de carioca mais ainda.
– Como vocês viram, a casa não cabe cinco pessoas. Quando você avisou pro João que estava vindo, eu fiquei sem saber onde colocá-los/
– (Léo a interrompeu) Dá pra dormir lá na outra casa?
– Então, era justamente isso que eu queria ver com vocês! Vocês se incomodariam de dormir lá? A casa tá em reforma, cheia de bagunça e entulho, mas limpei a sala e arrumei um colchão grande. O Léo disse que você é amigo dele de infância, então não vão estranhar dormirem juntos. – disse ela, me olhando.
– Vocês já fizeram muito, Yeda. Obrigado! – falei.
– O João já tinha me dito, mas eu sabia que o Bruno ia ficar embaçando, por isso não falei pra ele.
Achei aquela fala desnecessária. Também achei a omissão dele bem o seu estilo. Começamos uma breve discussão, que foi interrompida pelo Eudenes, nos sugerindo tomarmos banho. Fui até minha mala, peguei uma bermuda, cueca e uma camisa e entrei no banheiro. “Que cara idiota”, pensava. Liguei o chuveiro e fiquei uns cinco ou seis minutos com a água escorrendo sobre meu corpo, levando meu cansaço e meus pensamentos sobre o Eudenes. Eudenes? “Devo estar muito só mesmo pra me encantar por um cara já na primeira vez que o vejo?!”
Depois que nos banhamos, Leonardo me chamou para conhecer o João, que ainda trabalha na reforma da casa. Já era mais de uma hora quando saímos em direção a um prédio de dois andares, que se encontrava a poucos metros da quitinete onde a família havia se instalado. Caía uma chuva fina que tingia de prata os paredões de cimento grosso. A construção se erguia sobre uma escada úmida e escura. Subimos os degraus no tato, até percebermos uns fiapos de luz escando pelas janelas de vidro. Vi que um homem com seus aparentes 50 anos, moreno, coberto de poeira e um barriga farta tinha percebido nossa presença. Leonardo parecia ter reencontrado um pai que há anos não via, e o João tratava-o como filho. À medida que vi a relação do Léo com aquela família, aprendi a confundir a aparência com a quietude, e, me precipitando, supus que minhas férias de fim ano, afinal seriam boas. Pobre imbecil.
***
Já era quase meio dia quando acordamos pra tomar café da manhã. Eu estava tão cansado que a única coisa que lembro foi de ter me deitado no colchão e dormido. Leonardo e o Eudenes começaram a traçar roteiros de locais que visitaríamos e, assim, era certo de passarmos o dia fora. Eu queria ver a praia do Arpoador, mas era dia 30 e, segundo eles, seria melhor fugirmos das multidões procurando uma cachoeira em Tinguá, supostamente turística. Eudenes tinha pedido o carro do pai emprestado e por volta das quatro da tarde chegamos ao local. Era uma grande forma d’água que se arrastava pela mata fechada e espessa. Para acessá-la, era preciso descermos um paredão alto através de uma escada de madeira frágil e quase vertical.
A água era gelada o suficiente para tiritar os dentes, o que acabou acontecendo comigo, sentado numa pedra. Se vocês repararam, desde que havíamos chegado no RJ, eu tinha assumido a função de um móvel ou no máximo a de um ouvinte atencioso das conversas entre o Léo, Eudenes e a família. Mas, por alguma razão, eu preferia não ser o centro das atenções distorcidas do meu amigo. O Léo imitava esses competidores de saltos ornamentais quando o seu colega aproximou-se de mim.
– Tá tudo bem aí, cara?
Ofereci-lhe um sorriso, batendo os molares.
– Sou friento. Mas tá de boa. A cachoeira realmente é topada.
– Sim, é.
Eudenes, dotado de um corpo e volume avantajados, tinha total ciência que ele não passava despercebido. E foi fazendo uso desse conhecimento, comum a todos os homens bonitos, que ele passou a dar uma conferida no pau enquanto puxava assunto. Preferi fingir de desentendido, o que o instigou a investir num passo mais ousado. Estacou-se em pé despretensiosamente diante de mim e deu uma espreguiçada, como se alongasse o pescoço. Abaixou uma de suas mãos e, suspirando, levou-a até o seu pênis, por dentro da sunga branca, deu uma mexida lá dentro e a tirou de lá. Seu volume cresceu um pouco, e quase se dava pra perceber a cor do mastro. Ele falava sobre o roteiro das trilhas, subia nas pontas dos pés e descia, sua piroca quicava e, por fim, meus olhos desistiram da discrição. Leonardo saiu da água e voltou a conversar como Eudenes, desatento. Sugeriu ao amigo encontrarem algumas garotas para o abate. Eudenes entrou no jogo. Já eu voltei ao meu papel de objeto decorativo. E feliz.
Ao cair do sol, dirigimos em direção ao Shopping da Pedreira, em Nova Iguaçu, onde o Léo nos convenceu a comprar senhas para tiro ao alvo de Airsoft. Uma moça que atendia no estande olhou- nos sorridente, e os dois passaram a incitar um ao outro a flertar com ela. Detive aquela demonstração de masculinidade e seguimos para o último andar, onde fica o cinema. Leó queria ver Dragon Ball Super: Broly, a nova cartada do mangaká Akira Toriyama, que lhe rendeu bilhões de dólares pelo mundo.
Desculpe-me quem curtiu assistir, mas a única coisa que prestei atenção naquele escuro foi no Eudenes deslizando os dedos pelo celular. Saímos da sala de projeção e o Leonardo classificava o novo caça-níquel como a melhor produção já feita da franquia. Eudenes, que teve coisas melhores pra fazer, disse que havia marcado com três meninas um rolé pela zona Sul, no dia seguinte. Pareceu-me óbvio quando elas, próximo das onze da manhã, desmarcaram a social, alegando que passaria o dia 31 e o réveillon com a família e amigos. No mesmo instante, sugeri passarmos a Virada de Ano na praia de Copacabana. Sem interesse, Eudenes preferiu apenas ceder o carro para que Leonardo e eu pudéssemos ir.
Meu amigo, desde os tempos de escola, era aquele tipo de cara que não bebia e nem fumava, não por que temia a reação da família, mas porque não gostava mesmo. Era um garoto moralista, digamos assim. Porém, resolveu ignorar seus princípios me deixando livre pra comprar um cooler, gelo, chandon, vodca, refrigerante e cervejas pro meu consumo em Copacabana.
Passamos até às três da tarde perdendo tempo com coisas miúdas. Tomamos banho, nos arrumamos e saímos pra praia já eram quatro horas. Um trânsito desidioso nos abocanhou e nele permanecemos amotinados por horas e quilômetros, respectivamente. Estacionamos o carro numa das calçadas dos muitos prédios que cercam a Lagoa Rodrigo de Freitas. Queríamos evitar os franelinhas, que, por sua vez, não nos evitaram. Atravessamos a pé o túnel do Leme e penetramos numa multidão em marcha, que, como a gente, seguia no mesmo destino.
Logo que chegamos à praia, presenciamos o final do arrastão a um idoso. Gabando-se de sua testosterona, Leonardo me mostrara um punhal na cintura, afirmando que certamente seria usado pra perfurar qualquer bandido incauto que ousasse nos ter como alvos.
– Você realmente precisa de ajuda. Procura um psiquiatra, Léo!
– Relaxa, pow. É só eles não virem pra cima...
Procuramos um local estratégico na praia, próximo ao palco onde a cantora Anitta se apresentaria à meia noite. Eventualmente, fizemos amizade com um trio formado por dois homens e uma mulher. Além de gerar mais segurança, um grupo de cinco pessoas poderia juntar as bebidas e assegurar diversão até o nascer do dia. Isso era o que pensava. Porém, a realidade foi outra.
Quando os sete noiados, com o olhar voando para os lados e, ocasionalmente, me avistando já triscado pela vodca, escolheram-nos como as próximas vitimas, aqueles três conseguiram superar os ratos, que ao notarem um mísero sinal de navio em naufrágio, pulam incontinentemente. Abandonados à sorte, percebi apenas o olhar assassino do Léo, quando levei um murro.
– SE TU TOCAR OUTRO DEDO NELE, EU TE DERRUBO AQUI MESMO, MANÉ, QUERO NEM SABER – vociferou. – NÃO TOCA NELE, SEU PORRA!
Eu tremi e temi.
– CALA A BOCA, LÉO, VOCÊ TÁ PIORANDO TUDO! – gritei, temendo a reação dos moleques que estavam nos assaltando ou alguma nova loucura que meu amigo teria coragem de cometer.
Leonardo deu um suspiro, amparado num olhar de decepção que certamente parecia esperar outra atitude vinda de mim.
– ELES SOCARAM VOCÊ, SEU RIDÍCULO – respondeu-me, irritado. – E É ASSIM QUE TU AGRADECE?!
– DÁ SÓ O QUE NÓIS TÁ PEDINDO, QUE CÊS FICAM DE BOA, SEUS CUZÃO! – crocitou um dos guris que não tinham mais que 14 anos.
Cedi à extorsão, mas a nossa madrugada do dia 1º de 2019 foi consumida pela raiva e total reprovação do Léo ante ao que considerou minha fraqueza.
– VOCÊ NÃO TEM ORGULHO PRÓPRIO, MULEKE?
– CARA, POR QUE VOCÊ QUER TANTO SER O MACHÃO?
– E POR QUE VOCÊ É TÃO BICHINHA?
– BICHINHA É O TEU CU, SEU ARROMBADO.
– O MAMADOR DE ROLA AQUI É VOCÊ, FILHO-DA-PUTA!
– REPITA SE VOCÊ FOR HOMEM.
Uma plateia se formava em nossa volta.
– VAI FAZER O QUÊ, ME BATER?
– SÓ TÔ TE AVISAN/
– VOCÊ TÁ BÊBADO, VIADO. QUERO PAPO CONTIGO NÃO.
– TÔ TOTALMENTE LÚCIDO.
Ouvi as pessoas murmurando.
– O que foi ali? – uma estranha questionou pra outro.
– O amigo do cara loiro ficou com a mão no palhaço. – respondeu a audiência.
Escutar aquilo me encheu de raiva.
– VOCÊ TÁ ADORANDO BANCAR O MACHÃO NA FRENTE DELES.
– QUE SE FODA VOCÊ E ELES!
– VÁ VOCÊ SE FUDER.
Ele tinha uma garrafa de água mineral em uma das mãos. Lançou-se sobre mim, segurando-me pelo pescoço, e passou a molhar minha cabeça. Acreditei que não teria humilhação maior. Me soltei das suas mãos e tentei acertar-lhe um soco. Errei miseravelmente, ratificando pra o coro de abutres minha suposta embriaguez. Creio que evitando revidar a minha investida, o Leonardo sumiu entre os corvos, deixando-me só, enquanto Anitta agitava as multidões à frente. Não tinha o que fazer senão esperá-lo voltar, de bom grado, pra me buscar. O que ocorreu após as quatro da manhã.
Ressurgiu mudo, afogado em ira e cheiro de enxofre. Aproximou-se de mim como réptil e, por alguns segundos, realmente pensei que me socaria. Ele montou o cooler e seguiu pra perto da maré. Como me deixou sem nada, além do copo na mão, achei que queria que o seguisse. Sentamo-nos na areia perto da água, como fazem as crianças e os velhos. Leonardo mudou para um semblante terno e silencioso, pensando sozinho.
Ao amanhecer, entramos na água, tiramos fotos, fizemos caminhada e voltamos pro carro, como se nada houvesse acontecido. Nos acomodamos nos bancos e adormecemos, até que a dor no pescoço e o sol em nossos rostos nos afugentassem de volta pra Comendador Soares. Chegamos em casa após às quinze, caímos no colchão e dormimos o resto de tarde e a noite toda.
Passei a manhã do dia 2 em transe, jogado sobre os lençóis, esperando a ressaca passar. Sempre que Léo subia pra onde eu estava e abria a porta, os raios do sol tomavam um grau de minha vista. A inquietação dele, com aquele entra-e-sai, já estava me irritando quando a sua silhueta e a do Eudenes se materializaram no umbral da porta. Vi-os entrarem e se sentarem ao meu lado.
– Aí, marquei um rolé com as meninas que iam ficar com a gente de novo. – disse Eudenes.
– Só tem um porém. – ressalvou Léo, fazendo suspense.
– Qual? – perguntei.
– A mina que tu ia pegar não vai poder ir.
Sim, Leonardo convenientemente voltou no tempo para antes de eu ter me assumido pra ele.
– Uhm. – fui seco.
– A gente tava pensando em sair, fazer uma trilha e acampar no Arpoador. Nós cinco. – falou Eudenes.
– Vou ficar segurando vela...
– Nada. Lá você encontra uma boysinha. – prosseguiu o Léo.
– Em todo caso, a ideia é turistar mesmo. Acho que elas nem vão dar a xota pra gente. – interviu Eudenes.
– Isso é pra que hora?
– Cara, agora.
– Tu dormiu pra cacete, viado. – reparou o Léo. – Manera na bebida...
Olhei-o fixamente, com desaprovação. Eudenes se anteviu à nossa briga.
– Caraca, maluco, vocês brigam pra caralho. Quando Léo comentou sobre o que aconteceu com vocês ontem, minha mãe até brincou que vocês parecem um casal de velhos! – alfinetou-nos.
Calei-me na hora.
– Aí maluco, sai pra lá com tuas ideias, viado!
– Vá se reclamar com a mãe.
– Tu vai com a gente? – Leonardo voltou-se pra mim.
– Vou sim. Deixa eu bater um banho e já colo lá embaixo.
– Demora não que nós ainda vamos em Madureira buscar as minas. – por fim, disse Eudenes.
Nós encontramos as meninas às treze e trinta, quase uma hora atrasados em relação ao combinado. Elas não pareceram muito irritadas, provavelmente, nossa demora foi bem-vinda pras duas. A definição pra garota que iria ficar com o Eudene era apenas uma: cavala. Branca bronzeada, cabelos negros, cacheados e longo, peitos avantajados, bunda farta, pernas carnudas e um autorretrato tatuado no antebraço direito. Um óculos e um chapéu de palha preso nas costas completavam sua armadura de ataque. Já o epíteto pra ficante do Léo poderia variar, mas um também se adequava: esqueleta. Loira, da minha altura (1.74), magérrima, olhos fundos, pernas de Olívia Palito e uma clavícula enorme, feita de pele e osso, sustentava a cabeça. Uma cropped vermelho e um shortinho jean simples evidenciavam sua desnutrição. Pensei em aconselhá-la ir ao médico, mas não era da minha conta, então, me contive.
O novo roteiro dos meninos estava cheio, por isso evitamos perder tempo durante a trilha da Pedra do Telégrafo. A subida é íngreme e escorregadia, mas traz como recompensa uma das paisagens mais cinematográfica do RJ. Estávamos mortos quando chegamos no topo, e funestos permanecemos enquanto esperávamos na longa fila pra tirar selfies no ponto turístico. Havia muitos argentinos lindos lá. E pra alguns até cheguei a trocar olhares, mas nada saiu dali, uma vez que a sombra de Leonardo estava sempre me rondando. Senti que aquilo era pra provocar, e, na primeira oportunidade, discutimos novamente. Os motivos eram insignificantes, atenção à fila, som com funk muito alto, brincadeiras infantis e até demora pra registrar o selfie. Brigamos por tudo.
Na descida, eu até pensei em voltar pra casa da Yeda e o João, mas como retornaria? Na época, era minha primeira vez no Rio, então só aturei sua birra. Procuramos um local pra lancharmos e partimos em direção ao Arpoador. No carro, os casais já se pegavam, se amassavam e apenas não se comiam porque um penetra estava lá. Ventava muito na praia, embora a lua estivesse perfeita pra acampamento. O local onde nos instalamos estava praticamente deserto. Som mesmo só o nosso, da caixa e da maré. Em determinado momento, o quarteto convenceu-me que iriam fazer um Swing na areia mesmo. Porém o Eudenes, com uma inusitada reserva, preferiu recolher-se com sua menina pra dentro da barraca. Léo ainda passava as mãos pelo corpo da loira minguada, mas ela o convenceu a se recolherem também. Sentado em frente da minha cabana, comecei a ouvir os gemidos dos casalzinhos e a solidão e tristeza que me mordiam desde o início da viagem me consolavam com as suas companhias.
Certa vez, uma professora de Português da faculdade leu-nos um livro que dizia que a maioria de nós tem a felicidade ou a desgraça de ver como a vida vai desmoronando aos poucos, sem quase nos darmos conta. Naquela noite, entendi a frase quando me questionei o que eu estava fazendo ali, sendo achincalhado pelo Leonardo. Sob a luz da lua, pude ver a sombra dele deitado sobre o corpo da garota, cujas pernas abertas recebiam tanta bombada que poderiam facilmente sair do lugar. Vi a Luana ficar de quatro, com a bunda virada pra ele e pedindo baixinho pra fodê-la e dar-lhe tapas na cara. Leonardo se aproximou socando de uma só vez seu pau, fazendo a guria quicar pra frente e desengatar do seu novo brinquedinho. Leonardo a pegou pela cintura e montou como se ela fosse uma jega, nunca soube se metia na vagina ou no cu, mas sei que ela choramingava. A menina tremia com a pressão que ele fez, enfiando e tirando o pau.
Até ali, se eu tivesse qualquer dúvida sobre sua sexualidade, naquela noite abominável teria sumido. Eudenes e a Barbara também transavam, mas não ouvi muitos gemidos. Talvez por que eu não me importava ou por que eles se importassem. Não consigo explicar bem, mas sentia como se tivesse num lugar vazio, sem amor, e que nunca seria capaz de me livrar daquilo. Era horrível. Me perguntava se havia sido as cartas a determinarem minha vida, ou o modo como as joguei, que me levaram aquele ponto. Eu ainda observava o Leonardo e isso me fazia mais deprimido. Meu amigo era tão lindo, tão lindo, mas estava mais uma vez sendo um escroto, propositadamente ou não.
Seu espetáculo circense só acabou mesmo quando um cara se aproximou por trás de mim e ficou ouvindo o show como um tarado homicida. Todos pararam o acasalamento e saíram das barracas, mas, àquela altura, a madrugada já se ia. A Barbara olhou pra mim e nós trocamos olhares. Ela, de algum modo, pareceu ler minha dor. Quando os meninos e a Luana correram pro mar, pular ondas, ela finalmente me disse o que queria.
– Migo, não é querendo te machucar ainda mais, mas você tá fodido. Cê sabe, né?
Molhei meus lábios secos e encolhi os ombros.
– Seu amigo nem desconfia que você gosta dele... – prosseguiu. – Tipo assim, você não dá pinta, mas bastou hoje pra perceber isso.
– Sua amiga percebeu também?
– (sorriu) Nada. Aquela ali é loira, garoto.
Ri também sem querer.
– Quer um conselho? Esquece ele e bota o bonde pra correr. Você é tão lindo, cabelo de índio, pele negra limpíssima, músculo, popotão grandão e com um nariz fininho que dá inveja. Sozinho você só fica se quiser.
– Queria eu que fosse tão fácil...
As mulheres, com notáveis exceções, como é o caso da Luana, são mais inteligentes do que nós, ou pelo menos, mais sinceras consigo mesmas sobre em quem vale a pena investir ou não. Mas dizer isso para nós ou para o mundo são outros quinhentos. Naquela maresia, a Barbara creu que me fizera um favor trazendo à tona dezenas de frases prontas pra me colocar pra cima, sempre traduzindo a lição de moral de que não valia a pena investir no meu amigo. Não me abri com ela, mas conversamos amenidades até o retorno dos três. Leonardo dirigiu o carro na volta pra Madureira enquanto Eudenes e a Barbara iam conversando atrás comigo. Depois que elas desceram, os dois se vangloriaram do seu desempenho e eu fingi ter caído no sono. Queria apenas nunca ter ido naquela viagem. Contudo, o dia 2 de janeiro se manteve por pouco tempo no topo do ranking de piores dias da minha vida. E eu tive que passar por tudo como um porco que é engordado antes do abate.
Novamente, dormimos muito durante o dia, porque o plano de Eudenes e o Leonardo era o de irmos pra Lapa no começo da noite. Eu sabia da fama dos bares situados lá. Um local de pessoas boêmias, liberais e repleto de gays, travestis, lésbicas, bissexuais e héteros descontruídos. Decidi que ali seria o lugar onde eu iria dançar, ficar, transar, sem que a sombra do meu colega me atraísse como um buraco negro. Comprei camisinhas e lubrificantes porque realmente queria me libertar.
Ao chegarmos no Arco da Lapa, Eudenes teve a ideia de estacionar o carro afastado, numa rua escura e de prédios velhos e pichados que se erguem a alguns metros dos bares. Comprei uma batida de morango e vodca numa casa ali próxima e nos dirigimos à procura das boates. Sem me importar com a opinião deles, escolhi uma que tinha três andares e uma longa fila na porta. Era aquela boate que eu queria beber e caçar. Subimos as escadas, deixamos o número das identidades e um jogo de luzes no escuro, seguindo o ritmo da música que o DJ tocava, fez a recepção. Modéstia a parte, eu tinha escolhido a melhor roupa da mala, uma camiseta branca que evidenciava meus bípedes e oblíquos. Uma corrente de metal sobre meu peito ajudava a marcar ainda mais o meu tórax. Vesti um short praia amarelo do Bob Esponja e uma basqueteira branca com traços vermelhos da Coca-Cola.
O funk que estava tocando era bastante convidativo, mas preferi beber um pouco mais antes de me soltar. Claro que os dois marmanjos me largaram na pista pra subir à galaria do 2º andar sondando o ambiente e as meninas. Desliguei-me deles. Já triscado, resolvi que estava na hora de dançar, e dancei muito. Talvez influenciado pelo Léo, funk e pagodão são os estilos que mais gosto, então era óbvio conhecer as coreografias. Um rapaz negro, magro, com cabelos dread e um estilo de roupa afro-americano, iniciou algum tipo de guerra de passinho comigo. Perdi, mas, segundo ele, fiz bonito. Depois que terminei meu shake e pulei pras cervejas, consegui atingir o estado de alegria. Leonardo não poderia me deixar ainda mais triste. Lembro-me que estava quase pra beijar um americano quando Eudenes se materializou do nosso lado.
– Qualé, Bruno, tá se entregando?
– Cara, sossega...
– Ele tá comigo. – gesticulou pro gringo, segurando meu braço e me levando pro 2º andar. – Cara, não sei nem como o Léo não te viu. Cê é lôco!
– Tô cagando praquele escroto.
– (sorriu) Tá bebão aí.
– Nada. Só que agora eu tenho coragem pra dizer o que tô sentido.
– E o que você tá sentido? – perguntou-me olhando pra pista, com os braços estirados sobre as grades de proteção da galeria.
Havia muito barulho e pessoas dançando.
– Eu tive a impressão de que tu tava dando encima de mim naquele dia do riacho.
– E é? – instigou-me. – Já eu tive a impressão de que você estava me secando lá!
– Tava mesmo. Mas percebi que você é hétero. Nunca ficaríamos. – sussurrei no seu ouvido.
Ele me olhou cínico.
– Você nunca nem tentou pra saber...!
– Pois tento agora. – tentei beijá-lo.
– Aqui não, caralho! Bora pro carro.
O safado tinha deixado o veículo longe pra ter um local de transa. Lá no escuro, encostado na lataria, coloquei o pau pra fora indicando que ele pegasse. Quis mostrar quem iria foder quem. Aquele gigante começou a brincar com minha tora e deu um sorriso sacana e tesudo pra mim. Mandei descer sua jeans skinny pra ver quem tinha o maior pau. Óbvio que isso eu não disse. Sua piroca roxa não era pequena, tinha uns 18cm, mas perdia pra os meus 20cm. Essa diferença iria facilitar seu desejo em provar meu pau. Sorri. Peguei seu pescoço e o fiz se ajoelhar pra me mamar. Eu empurrava sua cabeça contra minha virilha pra que me chupasse mais e com mais gosto. Eu o levantei com força, mandei abrir a porta traseira do carro, fazendo-o ficar de quatro no banco. Não falávamos nada. Comecei a lamber e mordiscar seu buraquinho, umbuzitando pra receber meu mastro. Fiquei ereto, olhei o movimento da rua, e fui colocando o meu pau encapado no cu dele. Não foi muito difícil entrar no buraco. Ele rebolava deliciosamente bem e aquilo deu tesão pra caralho. Acho que devido a pressa, o cara gozou rápido, sem se tocar. Demorei uns instantes e gozei na camisinha dentro do cu dele. Nos recompomos e saímos dali. Não tinha ninguém por perto.
O efeito do álcool já começava a sair da minha cabeça, então pra evitar algum silêncio constrangedor, passei a falar de besteiras. Por alguma razão, lembrei-me do americano e sorri. Cismado, Eudenes questionou o motivo. Eu disse que ele estava preocupado de o Léo me ver beijando outro cara à toa já que eu era assumido. Eudenis me olhou longamente, sem piscar.
– Porra, o Léo sabe que você é gay? – perguntou ele, molestado.
Confirmei com a cabeça, estranhando aquele tom de voz. Eudenis limitou-se a um murmúrio.
– Cara, fica entre nós isso que rolou aqui, beleza?!
– Porque eu iria sair contand/
– (me cortou) Sério, pow, deixa isso vazar não, vai pegar mal pra mim...
– Relaxa que eu não sou desses.
– Disse isso não, muleke. É só questão de discrição mesmo.
Já na boate, Leonardo estava sentado na escada, carrancudo com o nosso sumiço. Inventemos que eu tinha ido comprar mais vodca com morango, mas que havia acabado. Afastei-me dos dois e subi as escadas, pra acompanhar o movimento da pista a partir da galeria. De lá, vi o Leonardo andando pro meio do piso, com o Eudenes o seguindo. Ele tentava falar algo no ouvido do Léo. Em poucos segundos tive uma visão horrível. O Leonardo encaixou um soco na cara do Eudenes que o fez recuar alguns passos. Leonardo se preparou pra dar um chute nos seus peitos, mas o Eudenes saiu do meio, provocando a queda do Léo. As pessoas começaram a se afastar dos dois. Eudenes ficava crocitando e se mexendo como se fosse lutador de MMA. O Leonardo avançou sobre ele novamente tentando aplicar uma chave de pescoço. Eu corria até eles, enquanto três homens com uma farda preta os imobilizaram pra arrastar pra fora da boate...
– SEU VIADO DO CARALHO. – Escutei um grito do Leo com o Eudenes.
– VEM PRA CIMA, ENTÃO.
Consegui alcançar os dois.
– QUE PORRA FOI ESSA DE VOCÊS LÁ DENTRO?
– QUE CARALHO É ESSE, BRUNÃO?! VOCÊ É SONSO MESMO OU SÓ DISSIMULADO? – disse Léo.
Eudenes estava calado.
– O que foi, cara? – perguntei pro colega dele.
– VOCÊ QUE É UM DÁ CU, PORRA! NÃO PODE DEIXAR DE CHUPAR PAU POR PELO MENOS UM DIA!
– DO QUE VOCÊ TÁ FALANDO, CARA?
– O EUDENES FALOU O QUE FEZ COM VOCÊ! NA ESTRADA, VOCÊ ME DISSE QUE ERA O HOMEM, AGORA O EUDENES DISSE QUE TE COMEU DE QUATRO, BOTOU VOCÊ PRA CHUPAR E FEZ O CARALHO CONTIGO, SEU BICHO!
E enquanto ele terminava de falar “bicho”, partiu novamente pra cima do Eudenes. Dessa vez conseguiu acertar um murro cheio bem no nariz e outro no estômago dele. Socou ele bastante, e mesmo com 1.85cm, Eudenes não conseguia mais se defender. Eu comecei a separar os dois, enquanto uma nova plateia nos observava. Pelo que vi, todos estavam parados rindo. Eles se soltaram e o Eudenes deixou a gente pra trás, indo em direção ao carro. Devia estar muito envergonhado e preocupado. Leonardo pegou o celular e chamou um motorista por aplicativo. Pensei em desmentir o Eudenes, porém, minha vida sexual não tinha mais nada a ver com o Léo. Aliás, nunca teve. O ódio dele se condensava e eu percebi que ele jamais conseguiria ser amigo de gay, mesmo tentando.
– Cara, vamos pra onde agora?
Ele não me respondeu. O motorista chegou e nós entramos. Saímos da Lapa pela avenida principal até entrar na Central, em seguida até a Avenida Brasil na direção à Santa Cruz. Eu observava as ruas com a cabeça encostada no vidro, evitando contato com os olhos julgadores do meu ex-amigo. Entramos na Dutra, passando pelo Assaí e o Sesc, e chegamos em Comendador Soares, acessando pelo Posto Mata Virgem. Estávamos indo pra casa do Eudenes. Leonardo pagou o motorista em frente à propriedade em reforma, abriu o portão e esperou um subir na frente. Seu silêncio ecoava em meus ouvidos, deixando-me surdo. Quis lhe perguntar o que estava acontecendo, mas fui covarde. A escuridão da escadaria exibia apenas as poças d’água da chuva. Um treva azul, espessa e gelatinosa, nos cobria até a sala. Me virei, abatido, mergulhado na penumbra, pra ver onde o Léo estava.
– Léo?
Minha única resposta foi mais silêncio. Eu podia ver sua sombra imóvel, no canto de parede na entrada da sala. Atravessei o vão tentando encontrar o disjuntor. Leonardo veio pra cima de mim, jogando-me de bruços contra parede. Arrancou-me o short e a cueca de uma só vez. Doeu muito e eu tentei me defender, assustado.
– Quê é isso, Léo?
– Por que com todo mundo você conversa normal, mas comigo você é sempre duro?
– Tu tá falando de quê, cara? – subi o short,
– Você mal sorrir pra mim e quando sorrir, parece um sacrifício.
Ele me empurrou novamente na parede.
– O que é isso, Leonardo?
– Por que eu não sou suficiente pra você, Bruno? Por que minha amizade não basta? Por que você tem que ficar com os caras...?
– Se fosse com uma mulher, seria melhor, é isso?
– Sem dúvidas!
– Melhor a gente parar de uma vez por todas, então.
Senti ele me fazendo atravessar os tijolos daquela casa.
– Deixa disso, Leonardo.
– Para de fingimento. Você quer. Você gosta de dar o cu, viadinho!
Usei meus braços pra empurrá-lo pelos peitos.
– Você tá pensando que é o quê pra me tratar assim? – falei, segurando a lágrima.
– Você quer ser arrombado, que eu sei. O meu pau é maior que o do Eudenes, sua putinha. – disse, lançando-se contra mim.
Caímos no colchão.
– Paraa, Léo!
– Dar seu cu pra mim, seu viado. Já deu pra todo mundo mesmo! – tartamudeou.
Leonardo sempre foi maior e mais forte, e eu ainda estava alcoolizado, então não foi difícil arrancar meu short novamente. Eu sentia toda minha masculinidade sendo extraída, sem misericórdia, de mim. Virou-me com toda força, pegou um sachê de lubrificante que tinha caído no colchão e espalhou entre minhas nádegas. O peso do seu cotovelo machucava muito as minhas costas. Com as próprias perna, forçou a abertura das minhas e foi esfregando o pau na minha bunda. Cuspiu mais na mão e passou no pênis. Em seguida, foi forçando a entrada.
– Não, Leonardo.
– Quieto, filho-da-puta.
Ele jogou o corpo totalmente sobre mim, e eu senti a cabeça do pau dele procurando espaço pra entrar. Quase morri. Eu tentei sair debaixo dele, mas não conseguia.
– Para, para, tá doendo muito. Por favor...
Ele fingia não escutar, então contraí o esfíncter. Ele puxou meu cabelo.
– Esperaa. Eu disse que não.
– Calma. Relaxa que vai entrar sem machucar você.
– Para, seu satanás. Eu disse que não quero.
Tal como tentou fazer com o colega, ele passou os braços pelo meu pescoço e me aplicou um mata leão. Minha visão sumiu. Consegui me arrastar um pouco no colchão, mas ele apertou mais um pouco a chave de braço, levando-me a crer que eu iria morrer. Parei de me debater e ele voltou a se posicionar atrás de mim. Afundei embaixo dele. Ele forçou a cabeça na minha entrada. Suspirei, tentando relaxar, mas não conseguia. Senti uma faca me invadindo.
– Aiaiaiai.
– Isso, isso. Tá entrando, safado. Relaxa.
– Filho da puta.
– Hmmmmm.. que cu apertado do caralho, porra. Tu é apertado, caralho.
Pensei que iria cagar ali mesmo. Aquele desgraçado estava me estraçalhando por dentro. A dor me fez eu ver luzes na casa.
– Geme, porra. Geme, caralho.
Nesse momento, quis vê-lo cair morto ali.
– Não.
– Geme, porra.
– Não, o de Eudenes deu mais trabalho! – não sei de onde saiu isso.
– É, sua rapariga? Toma!
Quando as estocadas começaram, parecia que alguém estava enfiando uma trave de futebol no meu rabo. Era a pior dor da minha vida. Ele parecia estar gostando da minha recusa, cada estocada era mais forte que a anterior, como se só fosse parar quando ouvisse meu grito. Para humilhá-lo também, não disse um ai. Leonardo continuou dando bombadas e eu comecei a sentir meus órgãos no fundo.
– É disso que você gosta, né, putinha?! – tentou ser tesudo. – Gosta de provocar na vara do seu macho.
O entendimento dele sobre tudo aquilo só me deu mais ódio. Ele tirou a rola e meteu de uma só vez. Meu cu estava molhado e ardido. Eu tinha certeza que tinha cagado. As forças tinha ido embora. Acabei gozando sem me tocar.
– Nossa...Você tá ficando mais apertadinho, Bruno... Nossa, cara... que foda, cara..ohhhh.
Senti a rola dele latejar e algo quente e melado inundando meu cu. Era minha primeira vez, mas eu sabia que ele tinha acabado de gozar em mim. Eu não podia acreditar que meu amigo havia me abusado e que eu gozei com aquilo. Eu queria apagar minha existência do mundo. Sempre quis perder o cabaço de trás com aquela pessoa, e, naquele momento, ela tinha me afundado no maior buraco de vergonha e desprezo da minha vida. Tentei me levantar, e após algumas tentativas, desisti. Sentia um vazio físico e moral. Eu comecei a chorar e ele ficou parado me olhando. Depois de algum tempo, ele se levantou acendeu a luz e me viu com a bunda e as pernas meladas de sangue. Voltou pra perto de mim, se ajoelhou e me abraçou. Leonardo saiu dos eixos e começou a chorar também.
– Me perdoa, Bruno...me perdoa, gatão.
Ouvi isso algumas dezenas de vezes até que adormeci...