Perspectiva do Pedro
Eu estava literalmente ferrado. Não queria ser pai, não nesse momento. Li e reli aquele papel várias vezes, tentando confirmar, se eu não estava enganado, mas, era inevitável. Naquele dia, quando eu e a Carla voltamos para casa, eu chorei nos braços da minha mãe. Como eu iria educar uma criança? Mas ela, como sempre, me acalmou e disse que estaria comigo para tudo. Não era mentira afirmar, que quem estava mais feliz com aquela história, era ela mesma. Pois, minutos depois de receber a notícia, correu para contar ao meu pai e para minha tias, algumas que eu nem lembrava, e, aos poucos, várias mensagens de felicitações foram chegando no meu celular.
— Que saco! - pensei. Desliguei a internet, para não receber mais nada.
Maldita hora que eu inventei de pedir essa garota em casamento. Agora, ela, o pai dela e o meu, estavam me enchendo o saco querendo casamento. O pior de tudo, é que a culpa de eu estar envolvido nessa bagunça, era minha. Por querer suprimir o que eu sentia pelo Oli, mas, eu já estava ficando cansado de tudo. Estava querendo que o mundo se fodesse. Valia a pena viver infeliz? Preciso tomar uma decisão.
— Pedro? Podemos conversar? - disse Carla, aparecendo na porta do meu quarto.
— Se for sobre o que eu estou pensando, você já sabe minha resposta! - digo incisivo. Já imaginando que ela queria falar sobre casamento.
— Por que você não quer casar? - perguntou, já invadindo meu quarto e sentando-se a beirada da minha cama.
— Porque não, Carla! Eu não preciso te dar motivos, só respeite minha decisão. A único compromisso que vou ter com você é esse é filho. - digo em um tom rude. Ela abaixa a cabeça e encara o lençol de cama. Uma lágrima rola em seu rosto. Respiro fundo. Apesar de tudo, não queria que ela magoada.
— Então, tá certo! Embora você não queira falar, eu sei porque você não quer casar comigo. É por conta daquele viadinho do seu amigo, não é? - sinto meu coração parar por alguns instantes e minha boca secar.
— O que você está dizendo? - digo desconversando.
— Acha que não vi vocês dois aquele dia lá fora? Você e ele chorando? A verdade é que vocês estavam tendo um caso, e essa criança atrapalhou essa aberração que vocês estavam tendo. Quero só ver quando o meu pai e o Sr. Otávio saber de tudo! - ela disse se levantando e caminhando em direção a saída. Bem, duas coisas eram fato, que meu pai era conservador e o dela era um louco. Mas se tinha uma coisa que eu não tolerava, era que me ameaçasse. Levantei atrás dela, a alcançando ainda no corredor e a puxei pelo braço.
— Você acha que eu tenho medo? Você não sabe de porra nenhuma! E quer saber? Eu tô cansando de você. Sua estadia aqui, acaba hoje. Amanhã vamos voltar para porra daquele estado, e vou me resolver com seu pai. Não vou fugir das minhas responsabilidades, mas eu não quero estar do lado de alguém como você. Ele vai saber que não foi eu quem tirou sua virgindade e só assim, ele para de querer defender sua pureza. - soltei-a e me virei para voltar ao meu quarto — Agora, já vá fazendo suas malas. Cansei dessa porra toda. - bati com força a porta do quarto e me afundei nos meus travesseiros.
No dia seguinte, acordei de manhã bem cedo. Queria ver o Oli, antes de ir para o aeroporto à tarde. Peguei minha caminhonete e partir rumo a sua casa. Coincidentemente, o encontrei na rua, correndo. Ele parecia ficar mais bonito pela manhã, sorri bobo comigo mesmo, enquanto parava ao seu lado. Ele não percebeu, então o chamei, mas, a contar pela sua reação, ele não estava afim de papo. Desci do carro e fui atrás dele, precisava conversar com ele, mas, o resultado dessa conversa não foi bom. Contei para ele do resultado, mas não o que eu verdadeiramente sentia. Eu queria gritar para o mundo que o amava e que ele sim, era meu namorado. Mas, mais uma vez, o Oli estava certo, eu era um covarde. Tinha medo e vergonha, das pessoas, não dele. Temia não conseguir lidar com o preconceito do mundo lá fora, mas, o pior ainda, do preconceito que partia de mim. Entre lágrimas, enviei para ele uma mensagem:
"Você nunca será uma vergonha para mim"
"Mas sou covarde demais para dizer que eu te amo, para todo mundo" - 08h23AM
A protesto e contestações da minha mãe, voltei para Goiás com a Carla, ainda naquela tarde. Meu pai ainda estava na fazenda com meus tios, e antes de falar com o pai daquela, que, dali em diante seria a mãe do meu filho, quis conversar com ele. Mas, antes de eu e ele trocarmos uma palavra se quer, a Carla correu para seus braços, chorando e dizendo que eu havia a trocado por um homem.
— Ele e aquele amigo dele, estão tendo um caso. É por isso que ele não quer casar comigo. - disse ela entre lágrimas, meu pai me olhou com um olhar de decepção, misturado com tristeza. Tudo o que eu não queria. Tentei apaziguar tudo, mas, a confusão já estava armada. Meu pai, não me bateu, mas vociferou em alto e bom som, palavras que não se diz nem para um inimigo. Ele não era uma pessoa ruim, mas, infelizmente, sua criação, o transformou em uma pessoa de mentalidade fechada. Essa era a perdição dele, e, o que o levou a falir a empresa. Sua resistência ao novo e ao desconhecido.
Meu pai, em alguns momentos, parecia querer avançar em mim, não que ele fosse fazer isso, mas, mesmo assim, os meus tios e alguns funcionários da fazenda, ficaram ao redor dele. Dos meus tios, alguns me defenderam, outros apenas concordaram com meu pai, mesmo sem dizer uma palavra, era nítido em seus olhares. A Carla, só observava tudo de canto, em silêncio. O que ela espera com isso? Que eu me case contra à vontade? Me tirar a forças do armário não era a solução. Na verdade, só me fez sentir raiva dela.
— Eu não vou compactuar com essas suas nojeiras! A partir de hoje, você não recebe um centavo meu, como castigo. - dizia ele alterado — Como o Oliver pode fazer isso comigo? Eu o considerava um filho. - pode parecer que não, mas meu pai chorava. Tudo aquilo parecia ser uma decepção grande para ele. — E agora você vai ser pai também! O que o seu filho vai pensar de você, Pedro? - completou. Eu só queria correr dali. Sentia raiva, ódio, vergonha, mas, eu não podia negar mais aquilo. Estava cansado, esgotado.
— Foda-se! - digo entre lágrimas — Não vou fugir dos meus atos, mas não vou casar com alguém que eu não amo. E eu e Oli, não nada. Mas não porque eu não gosto de garotos, mas porque fui covarde demais para não dizer para todo mundo, que eu realmente o amo. Mas, já que fui exposto, nada mais me importa. - falei num impulso. Agora já era. Meu coração estava a cem por hora, mas, finalmente, estava livre — Eu amo o Oli. - repeti mais uma vez em voz alta. Todos me olhavam surpresos, mas, apenas baixei minha cabeça. Peguei minha mala e comecei a caminhar por onde entrei, só, que antes que eu saísse de vez, a cozinheira da nossa família, a dona Josefa, me pediu para esperar.
— Sr. Pedro. - chamou-me ela. — Eu preciso dizer algo, para o você e pro Sr. Otávio. - falou ela me deixando curioso — Se eu fosse vocês, eu ficaria com um pé atrás com essa daí. - apontou para Carla. — Essa garota, é só mais uma rapariga.
— Olha como você fala comigo sua velha! - atacou Carla.
— Oras, não vem pagar a imaculada. Eu cansei de ver, e de ouvir, suas aventuras com os peões de todas as fazendas daqui da redondeza. Inclusive tenho como provar. Inclusive, a dona Antônia, que trabalha para o pai dela, já me contou vários podres dessa aí e me contou também, que ela, estava saindo com um tal de Hermerson, que é peão. Graças a deus, eu não tive estudos, mas fazendo as contas, foi no mesmo tempo que saia com o senhor. - o que? Como assim? Eu sabia que a Carla não era mais virgem, mas, nunca imaginei que tinha uma vida sexual tão ativa.
— O que você está falando Zefa? Isso é uma acusação grave. - disse meu pai ao ouvir aquela conversa.
— Pois se o senhor quiser me demitir, eu vou já fazer minhas trouxas. As piores são essas que se fazem de santa, meu filho. - disse ela para mim — e outra coisa que tenho certeza, é que deus é amor, e se o que você sente pelo seu amigo é amor, não há nada de errado. Errado é a ignorância das pessoas. - ela me deu um abraço. Nunca imaginei que o apoio viria de alguém que eu menos esperaria. E em meio a algumas lágrimas, a agradeci.
A Carla tentou argumentar, mas, agora eu, que queria resolver isso. Meu pai, mesmo brigado comigo, juntou meus tios, alguns funcionários e partimos para a fazenda do pai da Carla. Confrontamos ele e descobrimos que o tal do Hermerson realmente existia, e depois de muita pressão, ele assumiu o caso. Levou uma surra dos "pau mandado", que só não fizeram o pior com ele, porque impedimos. Por um momento, tive a esperança de que aquele filho não fosse meu e por esse mesmo motivo, o pai dela deixou de exigir o casamento. Me pediu desculpas e disse que cuidaria de fazer o DNA junto ao meu pai, em Goiânia mesmo, já que ela não era mais responsabilidade minha, como nunca fui.
O que esse fato mudava em minha vida? Eu respondo, muita coisa. Isso pode não me trazer o Oli de volta, mas, definitivamente, eu não queria e nem estava preparado para ser pai. Quando voltamos para a fazenda, meu pai, mais de cabeça fria, me chamou para conversar civilizadamente. Se desculpou pelas coisas que me dissera mais cedo. Disse que me amava e mesmo que não entendesse esse meu "mundo", iria fazer de tudo para tentar entender e me respeitar. Mas também pediu que eu o respeitasse, e o desse um tempo. Tenho certeza que foi graças a seus irmãos, e também a dona Josefa, que haviam conversado com ele momentos antes. E quem diria que um dia caótico, pudesse me trazer liberdade? Eu ainda não conseguia olhar nos olhos dele, e de alguns dos meus familiares, mas, só de ter conseguido dizer o que sintia de verdade para ele, já foi recompensador para mim.
Perspectiva do Oliver
— Oli, eu acho que não consigo mais. - ele disse.
— O que você tá falando? - perguntei intrigado. Senti ele suspirar, e então mexer-se na cama. Virei-me em sua direção.
— É muito difícil ficar perto de você e não pode te beijar... te sentir... - ele agora já estava sentado na cama, encarando a parede. Fiz o mesmo. — Mas... eu não quero estragar nossa amizade, Oli...
— Alex, eu... Nem sei o que dizer. - fui sincedo. Eu gostava dele, tanto quanto gostava do Pedro. Mas da mesma forma que eu não poderia ter nada com seu primo, não poderia ter com ele. Ficamos alguns minutos em silêncio. Até que ele me pediu...
— Posso te dar um beijo? - demorei alguns segundos até processar. Senti um meu coração pulsar e um estranho nervosismo bater. O encarei, e, não importassem quantas vezes eu olhasse, seus olhos sempre me deixariam co-penetrado. Era um fato que ele me despertava desejos. Instintivamente, afirmei com a cabeça e o senti aproximar, devagar, com sua respiração em meu pescoço, ele beijou meu pescoço, até que finalmente tocou meus lábios. Um beijo que começou calmo, mas logo se transformou em fogo. A língua dele explorava cada canto da minha boca, ao mesmo tempo que suas mãos explorava meu corpo, passeando por meu abdômen. Senti sua ereção, e então me dei conta de onde aquilo iria parar. Será que era o certo?
— Alex... - pedi, o afastando levemente. — Isso não vai dar certo. - ele me olhou, meio que sem entender.
— O que? Por que, Oli? - perguntou.
— O que vai acontecer depois? Como a gente vai ficar? - questiono-o. Afinal, tinha que me lembrar que vivíamos em estados diferentes e distantes um do outro. Se o que eu sentisse por ele evoluísse? Como iria lidar com a distância? Ele relaxou seu corpo, por cima do meu, acariciou meu rosto afastando meu cabelo de ambos os lados, e então falou:
— Oli... A única coisa que importa para mim agora, é você. Apenas você! Deixe o futuro, no futuro... - disse me dando um selinho logo em seguida. — Eu gosto de você e quero estar com você, nesse momento. - sorri e me senti um pouco mais seguro. Ele estava certo. Tinha que focar mais no presente. — E então? Quer que eu continue? - perguntou educadamente. E com um mais um beijo, eu confirmei que sim.
Sem muita pressa, tiramos nossas roupas, peça por peça, sem deixar de nos beijarmos. Abri um pouco os olhos para admira-lo, e ele percebeu.
— O que foi? - sorriu.
— Nada. - sorri de volta, beijando-lhe novamente.
Ele sentou sobre minhas pernas e começou a me masturbar. Faço o mesmo. Encaro seu mastro, tão lindo quanto seu rosto. Parecido com o de seu primo, porém, o dele era um pouco mais grosso. De sua cabeça extramente vermelha, um fio de pré-gozo melou minha mão. Seu pênis parecia suculento. Pedi que deitasse. Dei-lhe mais um beijo, dessa vez mais forte. Lambi sua orelha direita, seu olho e seu pescoço. Ele riu. Meu tesão estava a mil e que queria que ele soubesse. Mordi seu lábio inferior e fui descendo pelo seu peito. Puxei com os dente os poucos pêlos que tinha no seu abdômen, passando a língua logo em seguida. Ele gemeu. Ele me puxou para mais um beijo.
— Porra, como tu é gostoso! - disse baixinho encarando-o de perto.
— Só não mais que você! - respondeu. Ao mesmo tempo em que lambeu meu rosto e apertou minhas nádegas.
Desci até sua vara, dando um beijo nela, na qual ele achou engraçado, e caindo de boca em seguida. Subia e descia com meus lábios naquele cacete delicioso, deixando-o todo babado. Meu pau estava tão duro que chegava a doer. Tentei, num ato de coragem, engoli tudo, mas, sem sucesso. Engasguei. Passei a língua novamente por toda a extensão, da base a cabeça, descendo logo depois para as bolas, chupando-as enquanto tocava-o uma punheta. Depois de alguns minutos nessa posição, ele me agarrou e me beijou novamente, me trazendo para cima dele, ao mesmo tempo que me empurrava para o outro lado da cama, até que conseguiu ficar por cima de mim.
Da mesma maneira que o presenteei com um delicioso boquete, ele me presenteou com uma deliciosa linguada. Sentir sua língua, úmida, entrei minhas pernas, contornando todo meu ânus, em círculos e em pinceladas me levou a loucura. Ele ainda chupou meu pau, antes de enfim, pôr o preservativo e forçar a entrada do seu membro. Com cada uma das minhas pernas em seus ombros, ele começou o movimento de vai e vem, ao mesmo momento em que me encarava e me roubava beijos, sussurros e gemidos. Ele chupava meu pescoço e mordia meus lábios em cada beijo, enquanto eu arranhava toda as suas costas, o que parecia deixar com mais tesão, pois ele começava a socar mais forte. Aquele cara tinha me enfeitiçado.
"Eu poderia afirmar sem dúvidas, que aquela tinha sido uma das melhores fodas da minha vida" - pensei enquanto cavalgava freneticamente em seu pau, em um ritmo incontrolável. Ambos já estávamos ofegantes. "Esse homem é uma máquina de meter e despertou-me um apetite, que, porra..." - penso novamente, depois de ele me ensina uma posição que nunca tinha feito antes. Gozamos horas depois, enquanto eu chupava-o. Exaustos, apenas seguimos para o banheiro e dormimos depois, de mãos dadas e abraçados.
Quando o dia raiou, fui acordado por ele beijando carinhosamente o meu pescoço. Em poucos segundos que despertei, veio à tona, toda a cena da noite anterior e sorri de prazer lembrando. Mas, inconvenientemente, também me lembrei do Pedro, e mais uma vez, mesmo não estando errado, me senti culpado. Virei me para o Alex que me deu um selinho, que eu não retribui.
— Tá tudo bem, né? - perguntou preocupado — Se arrependeu?
Encaro-o e dou um discreto sorriso. — Não. Faria de novo. Mas é, que, eu tinha alguém... E foi recente, então... - digo.
— Ah, sim... O Marcos... - ele desviou seus olhos para o teto rapidamente, até voltar a me olhar nos olhos — Mas... eu respeito você e seu tempo! - Bem, ele errou a pessoa, mas, era melhor que ele pensasse assim. Dou-lhe um rápido beijo para encerrar aquele assunto e me levanto, puxando-o para irmos comer alguma coisa lá embaixo, porém, ele puxa de volta, me fazendo cair na cama, onde ficamos por mais algum tempo, nos beijando, até enfim, descermos.
Naquele dia ele ficou até o começo da tarde em minha casa, quando despediu-se para voltar para casa da sua tia. Era sabido que em breve ele retornaria, mas, faria de tudo para aproveitar esses últimos dias em sua companhia, até sua ida. Depois dessa noite, ficamos outras vezes e ele sempre me tratava com carinho. Chegamos até a andar de mãos dadas em, uma das vezes, no parque. Tudo isso me fez pensar, e muito. Imaginei se com o Pedro seria assim. Eu não negava que ainda sentia alguma coisa por ele, mas, também sentia pelo Alex. E tudo ficou ainda mais confuso, quando o Pedro apareceu em minha casa num fim de tarde.
— Oli... Podemos conversar? - perguntou. A minha raiva por ele já tinha passado. A única coisa que restou, foi minha tristeza por não termos dado certo e por temos destruído nossa amizade.
— Sobre o que? - questiono-o, mas mandando-o entrar. — Entra.
— Os tios tão em casa? - ele pergunta.
— Não. A mamãe tá no plantão e o papai voltou a para sede da empresa dele no Canadá. - digo rapidamente. — Você está bem? - perguntei, no fundo ainda me importava com ele.
— Estou sim... - responde e eu sem querer, encaro-o, o que desconcerta a mim, e ele. Não dissemos nada por alguns segundos. — Então, é... Você e o Alex estão bem amigos, né? - ele diz. Começo a pensar se ele já estava sabendo de alguma coisa e fico sem saber o que dizer.
— B-bem... S-sim! Por que? - gaguejo um pouco.
— Por nada! - ele olha para um lado e para o outro, até voltar e encarar o chão — Eu só vim dizer... Que... Eu não vou ter mais filho...
Olho-o incrédulo. Como isso era possível. — Como assim? Ela vai abortar? - questiono-o, na qual ele me olha espantado.
— O que? Não, não! É que... Eu não sou o pai... Quer dizer, ainda vou ter que esperar um tempo pelo exame do DNA, mas, houve um reviravolta. Apareceu outro candidato a pai. Contamos os dias de gestação dela e a data da inseminação, bate com o dia em que ela e o outro... Enfim... Você entende?!
— Caramba! Eu nunca simpatizei com ela, mas, nunca achei que ela tivesse um desvio de caráter tão grande.... Sinto muito por você... - digo solidário. Na verdade, eu ainda estava tentando processar tudo.
— Ela também me arrancou do armário e expôs nós dois pro meu pai... - a batida do meu coração falhou, literalmente. — Agora todo mundo já sabe que eu gosto de garotos. Mas, enfim... Eu não quero que pense que vim aqui te fazer mudar de ideia... Só... Senti que você precisava saber... Eu entendo você não querer olhar na minha cara. Eu fui um filho da puta o tempo todo, enganando você e ela. Mas... meu maior arrependimento, é não ter consiguido te manter por perto. - seus olhos lacrimejaram e sua voz embargou. — Independente de qualquer coisa, eu te amo, tá? - ele passou parou o choro teimoso com seus dedos e continuou — Era só isso mesmo. Fica bem e... manda lembranças pros tios. - ouço suas palavras silenciosamente. Parecia que minha cabeça tinha sido atingida por um trem. Não sabia o que pensar, o que dizer. Apenas me dei conta que ele não estava mais ali, quando ouvi o barulho da porta fechando e como da outra vez, ele também me mandou mensagem segundos depois de ir embora. Mas, dessa vez, dizia completamente o contrário.
"Agora nada mais me impede de gritar pro mundo que eu te amo. Mas, apesar de tudo, seja feliz, comigo ou com outro." - --:--
Meus neurônios ferviam e eu lembrei do Alex. Mas que droga coração! Quando estou com um, penso noutro, quando estou com outro, pensando em um! E como eu o tivesse atraído-o, recebo uma mensagem sua, pedindo para lhe encontrar horas mais tarde, no píer, para passear e conversar. Ele iria embora em um dia. Mesmo sem cabeça, aceitei ir e quando chegou a hora marcada, nos encontramos. Ele me deu um beijo no rosto, o que me fez estranhar, já que nos últimos dias, nos tratamos com mais intimidade. Ele perguntou como foi meu dia, contou o dele, me contou coisas aleatórias, me fez rir como sempre fazia, e me fez esquecer, mesmo que por algum tempo, a batalha que estava na minha mente. Mas, apesar disso, o sentia mudado. Até que ele chegou em um assunto, que eu não queria...
— Você sabe que vou embora depois de amanhã, não é? - ele disse. Agora estava aparente em sua feição, sua tristeza. Confirmei com a cabeça que sim, e ele continuou. — Eu... Conversei com meu primo mais cedo... - "Fodeu" pensei — Sobre a vida... Mas, aí ele me contou uma coisa... Sobre vocês! - eu, que o encarava, abaixei minha cabeça.
— Me desculpa, Alex.
— Pelo quê, Oli? Não precisa se desculpar. Mas... só acho que podia ter me contado! - ele realmente parecia triste. — Eu o Pedro, conversamos de uma forma que não fazíamos há muito tempo. Ele me contou que estava se descobrindo, com garotos e eu fiquei feliz por ele. Então... começamos a falar dos nossos "crushes" - riu. Seus olhos se encheram de lágrimas. — E aí ele me contou de vocês... Eu pensei em não falar da gente, mas... Eu realmente gosto de você, mas... também preservo minha relação com meu primo, e... ele ter tido confiança em mim, depois de tanto tempo, me fez me sentir como antigamente, quando eu e ele, éramos quase como irmãos. - eu estava começando a me sentir uma pessoa horrível. Tinha feito dois homens chorar em um único dia. — Eu só... Quero dizer, que vou entender qualquer decisão sua... Também não vou pedir para você escolher, mas, o que eu senti por você, essa, ligação, em tão pouco tempo. É genuína! E eu não queria que acabasse aqui, Oli.
Mais uma vez, estava sem palavras. O que Alex havia dito, era verdadeiro. Nós tínhamos criado uma conexão mútua desde o primeiro contato, e, eu realmente sei que não era algo apenas físico, mas, ao mesmo tempo, a minha ligação com o Pedro, era mais antiga, mesmo que tenha ficado há tempos adormecida. O fato é que eu estava dividido. Eu não acredito nessa história de que só amamos de uma pessoa por vez. Muito pelo contrário, amamos muitas pessoas ao mesmo tempo, às vezes com tipos de amor diferentes, outras, com o mesmo tipo de amor. Mas, eu não queria ter que escolher. Não era justo. Não com eles. Naquela noite, nos despedimos melosamente. O Alex, definitivamente, era alguém que eu gostaria de manter do lado, mas, ao mesmo tempo, se eu escolhesse avançar com ele, tinha a questão da distância.
No dia seguinte, passei o dia inteiro na cama. Amanhã o Alex iria embora, e, eu não queria me despedir, queria que ele ficasse para sempre aqui nessa cidade. Mas eu também não queria dar adeus ao Pedro. Pensava a todo tempo, tudo o que passamos juntos. A época da nossa adolescência, quando eu comecei a ter sentimentos por ele. Mas também lembrei, de sentimentos que o Alex me fez sentir, como nunca antes. Me sentia sem saída e pressionado, mesmo que não, a tomar uma decisão.
— Oli... Trouxe sorvete pra gente! - disse minha mãe, colocando a cabeça pela porta que estava entreaberta. Rapidamente enxuguei uma lágrima que saía pelo canto, mas ela percebeu. — Você está chorando? - perguntou já preocupada, vindo me abraçar.
— Estou bem! Você largou mais cedo do plantão! - digo desconversando.
— Isso não é o foco agora. Me fala o que aconteceu. Está sentindo alguma dor? - insiste e eu não queria mais guardar aquilo para mim. A abracei com mais força, e então desabei. — Oh, meu filho... - contei tudo para ela. Começo, meio, fim e como estava me sentindo...
— Oli, eu conheço o Pedro há muito tempo. Eu acompanhei cada momento dessa relação de vocês e sempre admirei. - disse enxugando meu rosto. — O Alex, eu conheço a pouco tempo, mas, sinto uma energia boa dele e quando você está perto dele, você brilha mais, pois, ele parece inspirar você a ser melhor. - ela conseguiu descrever exatamente como o Alex me fazia sentir. — A resposta que você procura, não sou eu quem posso te dar, mas, a única coisa que eu posso te dizer é que, antes de escolher alguém, escolha você...
Minha mãe tinha os melhores conselhos. Sempre a admirei, sua inteligência, sua resiliência. Muitos podem pensar que alguém como ela, nunca havia de ter sofrido, afinal, tinha uma família que amava, nunca passou necessidades e sempre alcançou seus objetivos, mas, aí é que muitos se enganam. Ela carregava dores que eram só delas, pois, ainda na faculdade, foi abusada sexualmente por seu professor, hoje, já julgado e condenado. Apesar de tudo, deu a volta por cima e seguiu em frente. Sempre de bom humor, nunca tratou ninguém mal. Meu pai, a ajudou emocionalmente, na época, ambos eram amigos, mas, essa admiração, transformou-se em amor. Lembro o quanto foi doloroso ela contar isso para mim. Choramos juntos e, mesmo eu estando com 17 anos, dormimos abraçados como quando éramos criança aquele dia. E desde então, nossa amizade só cresceu e eu confiava nela, da mesma forma que ela confiava em mim.
Depois dessa nossa conversa, refleti por mais algum tempo. Deitado na varanda, observei as estrelas. Me sentia perdido. Tinha a impressão que não me conhecia e que precisava ir afundo a mim. Mas, acho que no fundo, já sabia o que devia fazer. Pedir a noção do tempo e dos meus pensamentos, até que, adormeci.
Acordei com um raio de sol em meu rosto. O dia havia amanhecido tão lindo, que me veio uma vontade súbita de ir curtir a maresia do mar. Olhei às horas e vi que já eram quase dez. Levantei-me e fui tomar um banho e lá mesmo, conclui o que faria de vez. Pego meu celular para digitar um texto.
Tá afim de ir a praia? Me encontra lá em 1 hora? - --:--
Disse eu na mensagem. Tão pouco demorou e recebi uma mensagem dele confirmando que iria. Naquele dia, atipicamente, estava com vontade de dirigir o carro do papai. No caminho, aproveitei para aprecar a vista. Me sentia mais leve, não mais pressionado. Já tinha me decidido. Cheguei ao local marcado, mas, ainda nem sinal dele. O vento batendo em meu rosto me causou uma calmaria instantânea. Fechei os olhos para sentir aquela brisa fresca e sorri comigo mesmo. Até que, ouço a voz dele.
— Oli... - sorri mais ainda e me virei em sua direção. Talvez fosse o certo, talvez não. Mas... Se tinha algo que eu tinha certeza, era que a vida, era muito mais do que escolhas...
E aqui, eu me despeço de vocês. Termino essa história, deixando ao imaginário de você leitor. Em breve nos encontramos novamente, em outro ciclo, em outra jornada. O Oli, ainda tem muito a dizer para vocês. Essa história, espantosamente, completou mais de um ano desde que eu comecei a escrevê-la. Eu tinha tantas ideias, tantos planos para ela, mas, o ano que se passou, foi mais difícil que eu pensara. Mas apesar de todas as dificuldades, crises, choros... continuemos firme e forte. A vocês, desejo um novo ano de transformação, progressão e realizações. Um beijo em vossos corações e até breve, eu espero.