The hidden diary* - Parte I
* O diário escondido
Outono de 2015, Wellington, Nova Zelândia – Depois de percorrer, em direção ao topo, a sinuosa rua que levava aos dois terços cobertos por um bosque preservado no cume de uma colina nos arredores da cidade, junto à costa marítima, Rafael estacionou o carro e, fazendo mistério, amarrou uma venda nos meus olhos. Desde que resolvemos ficar juntos, ele atuava na surdina toda vez que queria me impressionar com uma de suas surpresas. Ele voltou a colocar o carro em movimento, pelo balanço do carro percebi que fizemos mais duas curvas antes de ele parar novamente e desligar o motor.
- Vou te ajudar a descer do carro! Nem pense em tirar essa venda! – exclamou, com a voz excitada.
- O que você está aprontando dessa vez? – pela expressão dele durante todo o trajeto até o local, eu previa que seria uma surpresa boa, e também já me mostrava ansioso por descobrir o que era.
Não devemos ter caminhado de mãos dadas mais do uns dez passos quando ele me autorizou a tirar a venda. Eu estava diante de uma casa decrépita e fustigada pelas intempéries incrustada no morro com a fachada dando vista para o mar lá embaixo. Apesar do estado lastimável em que se encontrava a construção, sua beleza emergia inegável dentro do amplo lote em que se encontrava.
- É para você! – afirmou o Rafael, com a emoção perceptível no tom de voz.
- Como assim, para mim? Não me diga que você... – fiquei tão extasiado que não consegui concluir minha frase de tão embaralhados que estavam meus pensamentos.
- Comprei para você! ... Para nós! – completou, depois de uns segundos olhando fundo nos meus olhos.
- Você é maluco! Como pode? Eu amo você! – balbuciei entre surpreso, questionador e tremendamente apaixonado, antes de pular no pescoço dele e beijar aquele rosto que anos antes chegou a me despertar repulsa e até raiva.
- Acha que consegue ser feliz junto comigo aqui? – perguntou, tendo a certeza da minha resposta.
- Sou feliz com você onde quer que seja! – respondi
- Eu te amo tanto que precisava encontrar um lugar onde pudéssemos viver esse amor. – disse ele, retribuindo meus beijos, enquanto suas mãos bolinavam meu corpo.
Anos antes daquele dia, ninguém apostaria um vintém se lhes fosse contada a cena que acabava de acontecer. Por uma simples razão, Rafael e Pedro Luiz, no caso eu, eram os opostos dos opostos, azeite e água, dia e noite, imãs com a mesma carga, dois sujeitos que se detestavam e jamais teriam algo em comum. Porém, o destino provou o contrário, é certo que depois de muitos reveses. Foi, como diz o ditado – há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia – algo incompreensível que nos uniu para sempre.
Enlaçados pelas cinturas, escalamos a rampa que dava acesso à porta principal e, sem nos soltarmos, começamos a percorrer cômodo por cômodo, abismados com a beleza que se escondia entre aquelas paredes abandonadas e carcomidas pelo tempo e, constatando o quanto teria que ser feito para fazer daquilo um lar habitável novamente. Estávamos tão felizes que nada parecia ser um obstáculo intransponível. Ficamos ali por horas, fazendo planos, explicando um ao outro como faríamos isso e aquilo, completamente alucinados pelas infindáveis possibilidades que se apresentavam. Subitamente percebemos que estava anoitecendo, o sol já se punha no horizonte mergulhando como uma esfera incandescente, em tons que iam do amarelo intenso ao laranja, no mar azul-esverdeado. Enquanto ele percorria imperturbável sua trajetória diária diante das imensas portas de correr envidraçadas da sala, o Rafael e eu fazíamos amor no chão empoeirado. Ele estava deitado com as costas no piso de madeira, nu, com as pernas ligeiramente abertas, quando me sentei, também nu, sobre aquele caralhão que mais parecia um poste içado entre suas coxas vigorosas. Gemi quando a pica trespassou meus esfíncteres apertados, e fui deixando o peso do meu corpo cair suavemente sobre aquele tarugo rijo como uma barra de ferro, até ele se alojar completamente no meu cuzinho. O Rafael mantinha as mãos nas minhas ancas, querendo que eu me sentasse o mais rápido possível sobre sua verga, enquanto eu me apoiava com as mãos espalmadas sobre seu peitoral largo, musculoso e sensualmente peludo, me inclinando de tempos em tempos para beijar aqueles lábios sôfregos que ansiavam pela minha boca. Durante os beijos longos e devassos, ele erguia a pelve e socava a pica ritmicamente no meu cu, me fazendo ganir de dor e prazer. Não sei por quanto tempo eu o cavalguei, gingando para frente e para trás, erguendo simultaneamente os quadris, ao mesmo tempo em que travava a musculatura anal comprimindo o cacetão dele, e fazendo-o gemer de tanto tesão. Eu parecia estar sentado sobre um garanhão indomado que, ao me estocar com a pica, me fazia saltar como se fosse me derrubar da cela. Ele não desviou o olhar do meu rosto quando começou a gozar no meu rabo, junto com os gemidos guturais dele vieram os jatos de porra que encharcaram meu cuzinho esfolado. Já completamente úmido, meu pintinho ejaculou sobre a barriga dele, eu me inclinei mais uma vez em direção ao rosto dele, tomei-o nas mãos e o cobri de beijos, até sentir aquela rola perder totalmente a rigidez com a qual havia me lanhado as pregas anais. Permanecemos ali engatados por mais de um quarto de hora, o Rafael não queria me soltar, talvez ainda estivesse precisando dar mais uma bombada no meu rabo para se sentir plenamente satisfeito, pois não era raro isso acontecer quando transávamos. Mas, dessa vez não era isso que retardava o desengate, era só a vontade de ambos daquele momento se eternizar para todo o sempre.
Carnaval de 2007, Ubatuba, Brasil – Meu último verão no Brasil antes de seguir para a Inglaterra para cursar medicina. Não foi absolutamente uma decisão minha, mas uma imposição do meu pai. Meu avô, um engenheiro inglês que geriu projetos na construção de ferrovias na Argentina, onde meu pai nasceu e, que se mudou com a família para o Brasil ao se aposentar, havia incutido nos filhos, todos formados em universidades inglesas, a ideia de que quem desejasse ser bem-sucedido na vida devia ser detentor de um diploma de alguma renomada universidade daquele país. Meu pai insistiu para que meus irmãos e eu nos formássemos nalguma delas; o que fez com que nem mesmo eu, o caçula e pouco propenso a seguir os ditames do meu pai, escapasse dessa exigência. Estávamos na casa de praia, vizinha da do meu tio, onde costumávamos passar os verões desde a infância, que já ficara para trás tanto para mim e meus irmãos quanto para os meus primos. Dos antigos colegas de colégio passamos a levar nossos novos relacionamentos como convidados, no caso de eles existirem. Naquele verão, minha irmã levara o namorado, meu irmão estava só, meu primo na mesma condição, uma de minhas primas o recém oficializado namorado Rafael, enquanto a outra fazia parte dos solteiros por força das circunstâncias, e eu, meu recentemente assumido ficante Carlos. No domingo pela manhã, o Rafael que gostava de exibir seu status, resolveu alugar uma lancha para passarmos o dia nas praias das ilhas próximas. O trajeto bolado pelo próprio Rafael em parceria com meu primo que conhecia a região bem melhor do que ele, incluía a ilha do Mar Virado, a ilha do Prumirim e, por fim, a ilha das Palmas. A lancha alugada com os serviços de um piloto, foi a forma que o Rafael encontrou de se salientar com a grana da família de nós pobres mortais, como eu supunha ele nos enxergar. Empatias à parte, eu não perderia um dia de diversão com a galera e, particularmente com o Carlos, com quem eu vivia meu primeiro e tão sonhado relacionamento homossexual. Talvez por sermos todos bastante jovens, o dono das lanchas designou um piloto cuja idade batia com a nossa, asseverando que aquilo não era motivo para duvidarmos de sua capacidade. Afora que o cara, Pedro meu xará, era um morenão tesudo e musculoso que, ao nos ser apresentado com o tronco bronzeado e sem camisa, revelando cada detalhe daqueles braços construídos nos músculos e um peitoral de fechar o comércio, além de uma estonteante e imensa mala entre as coxonas peludas que emergiam de um short azul, nos dirigiu um sorriso amistoso e arrebatador. Obviamente nem todos o enxergaram sob esse prisma, mas as mulheres e eu, certamente sim e, não fosse por um ínfimo flagrante, de soslaio, eu diria que o Carlos também, embora eu acreditasse piamente que ele fazia parte dos machos daquele grupo. À exceção do Rafael, todos simpatizaram com ele, alguns por motivos óbvios e outros por pura empatia, uma vez que ele transpirava alegria e animação, além de outros predicados. Minha prima solteira foi a que mais ficou entusiasmada com o piloto, já que ele se controlava e disfarçava aquele olhar de peixe morto lançado continuamente na direção dela. O Rafael implicou com ele logo de saída, queria que ele pusesse a bordo todos os nossos pertences, os equipamentos de mergulho e tudo o mais que carregávamos para um dia inteiro de exploração das ilhas. O serviço dele se resumia a nos conduzir de uma ilha à outra, e não bancar o serviçal de todos. Mas, isso parecia não ter ficado claro na cabeça do Rafael, acostumado a ter empregados a sua volta servindo sua preguiça e contornando sua soberba. Até aquele dia ele me tinha sido indiferente, mesmo porque não o tinha visto mais que um par de vezes. Porém, comecei a ficar incomodado no instante em que vi como ele tratava o Pedro, que estava ali trabalhando e defendendo seu salário, sem que nenhum de nós fizesse a menor ideia a que preço.
O dia seguiu descontraído e a galera curtindo cada um daqueles momentos, tanto pela boa companhia, quanto pela beleza da paisagem que nos cercava. Ninguém se manifestou ante algumas grosserias que o Rafael proferiu contra o Pedro, atribuindo-as ao seu jeitão mimado de ser.
- Não faria mal algum você ser um pouco mais bem-educado quando se dirige ao rapaz! – sugeri, logo após outra de suas grosserias. Fui encarado com um olhar cuja intimidação se equiparava a de um fuzil apontado para a minha cara, sem uma única palavra saída de sua boca. Um silêncio que era tanto um desdém quanto um menosprezo pela minha observação. Percebi que diálogo e bom-senso não surtiriam efeito sobre um sujeito como aquele.
A lancha fundeada a alguns metros da praia devido ao seu calado, tinha que ser alcançada a nado no final daquela tarde quando o sol já ia se pondo. Tínhamos que ficar de olho na maré, pois a subida dela nos deixava mais distantes da lancha à medida que as horas passavam. O movimento de embarcações nas redondezas já havia diminuído sensivelmente quando resolvermos voltar a bordo e regressar ao continente. Foi então, com todos já embarcados, que o Pedro tentou insistentemente ligar o motor da lancha sem sucesso. Uma inquietação foi tomando conta da galera quando percebemos que todos os esforços empreendidos por ele nessa tentativa não surtiam resultado. O Pedro chegou a descer até o compartimento dos motores para verificar a origem do problema, mas voltou frustrado para o convés, anunciando que talvez precisássemos passar a noite na praia, uma vez que o sinal de celular não pegava na ilha.
- É só isso que você pode fazer? Eu paguei para essa porra nos trazer e nos levar de volta, e não vou aceitar que você simplesmente diga que teremos que passar a noite na praia. Que merda de piloto é você? Trate de encontrar um jeito de avisar seu patrão para vir nos resgatar. – vociferou o Rafael, mais uma vez impaciente e beligerante.
- Quase não há mais embarcações passando por aqui, mas vamos nos preparar para sinalizar que precisamos de ajuda se virmos uma, ok? – avisou o Pedro. – Também virão nos resgatar quando perceberem que não regressamos ao cais, portanto, ninguém precisa ficar com medo, valeu? – afirmou, sensata e calmamente.
- Isso é tudo o que você vai fazer? Contar com a boa sorte, enquanto ficamos aqui sendo devorados pelos mosquitos? – retrucou o Rafael.
- Lamento o que estão passando, mas uma lancha é semelhante a um carro, pode dar defeito a qualquer momento. – respondeu o Pedro. – e no momento, não há mais nada a fazer, a não ser ter um pouco de paciência. – completou.
- Paciência o caralho! Você pode pedir paciência lá para suas negas, mas para cima de mim não cola, valeu cara? Atire-se no mar e vá, à nado, resolver a tua incompetência que nos lançou nessa situação! – devolveu o Rafael. Aquela intransigência estava me tirando do sério, o babaca além de não ter nenhuma sugestão para nos tirar dali, queria bancar o gostosão para cima do Pedro.
- Agora chega! Atire-se você ao mar, será um alivio para todos nós! Ninguém precisa de um cretino feito você tendo chiliques numa situação dessas! – berrei enfezado e revoltado.
- No dia em que eu precisar do conselho de um viado eu te peço, valeu? Por hora, fica na tua e vai se acalmar na pica dessa outra bichona, se não quiser levar umas porradas. – sentenciou ele, querendo fazer graça, mas constatando que ninguém gostou das palavras dele. A submissa e tonta da minha prima, deslumbrada por ter conseguido um namorado com o peso do sobrenome do sujeitinho, me encarava estupefata e calada.
- Você não é homem para isso, seu filho da puta! – berrei ainda mais alto e encolerizado. Caí sentado sobre um dos bancos da lancha quando o primeiro soco me acertou em cheio no ombro esquerdo, após eu tirar meu rosto da reta daquele punho enorme que veio na minha direção.
Eu me levantei tão depressa quanto pude, dei um chute no meio das pernas dele e, por pouco, não acertei o saco dele. Espumando de raiva, ele veio para cima de mim, levei pelo menos meia dúzia de bofetões antes que um dos meus chutes acertou na barriga dele, fazendo-o dobrar-se sobre si mesmo, enquanto eu acertava meu primeiro e único soco naquela cara empertigada. Ele estava a fim de me detonar, quem pode tentou segurar sua fúria, procurando por um fim naquela briga. Mas, obstinado e não querendo perder a moral, ele investiu contra mim mais uma vez. Porém, antes de me alcançar, foi bloqueado pelo Pedro que o jogou da lancha para dentro d’água.
- Vou te ensinar a não se meter comigo seu filho da puta! – berrou o Rafael de dentro do mar.
- Nade até a praia se conseguir, mauricinho! – exclamou o Pedro debochando, e nos aconselhando a fazer o mesmo, já que teríamos que aguardar pelo socorro e estaríamos mais seguros em terra firme.
À muito custo, conseguiram apaziguar os ânimos do Rafael, as latinhas de cerveja que ele havia ingerido não o deixavam racionar ponderadamente. Fui me sentar ao lado do Pedro, a certa distância dos demais, para agradecer pelo que tinha feito por mim. Ele apenas sorriu, bateu a mão na minha e ficou me encarando por um tempo.
- Corajoso você, o cara tem quase o dobro de músculos que você. Valeu por me defender! – disse ele, após uns minutos.
- Não gosto de injustiças! Quem tem que agradecer sou eu, sem sua ajuda ele teria feito picadinho de mim. – retruquei. Ambos rimos.
- Também não gosto de injustiças! – devolveu ele.
- Já meu namorado não deve pensar assim, ou achou melhor não dar a cara a bater por mim. – afirmei pensativo, me recordando que em nenhum momento daquele dia, o Carlos tinha se imposto para me defender, pelo contrário, ele nunca estava à vista quando o Rafael e eu discutimos.
- Decepcionado? – inquiriu o Pedro.
- Sim, acho que a palavra que define o que estou sentindo é essa.
- Posso usar de um pouco de ousadia com você?
- Claro! Diga o que pensa!
- Um corpão como o seu e uma cabeça tão aberta quanto a sua merecem um homem de verdade para cuidar de você. Seu namorado está longe de te fazer feliz um dia. – afirmou ele, como se estivesse pregando uma verdade.
- Obrigado!
- Obrigado, pelo quê?
- Por ter sido esse homem, agora há pouco! – ele voltou a sorrir para mim.
Um temporal que caiu naquela noite impediu que fossemos resgatados no mesmo dia, o que só foi acontecer na manhã seguinte, por uma embarcação da capitania dos portos e outra lancha do dono do aluguel de barcos. Passei a madrugada trocando ideias com o Pedro que, a certa altura do papo, confessou que tinha vontade de conhecer um cara como eu mais intimamente.
- Espero que esse felizardo não demore a te encontrar! – devolvi, quando notei a ereção dele saindo por uma das pernas do short.
Dois meses depois, eu terminei com o Carlos. Ambos queríamos a mesma coisa e, por ser meu primeiro relacionamento, eu desconhecia uma porção de nuances de quem é quem numa relação desse tipo. Nossos troca-trocas nunca me satisfizeram plenamente, embora eu achasse que as coisas só funcionassem desse jeito. Eu achava que nos relacionamentos gays ambos eram passivos e ativos ao mesmo tempo e a depender da vontade do momento. Quando passivo encontrava mais prazer, mas como ativo algo ficava a desejar, eu chegava mesmo a sentir como se meu corpo tivesse sido agredido ou, senão ele, a minha natureza. A mesma coisa acontecia com o Carlos, embora ele tentasse ser o ativo comigo, sua performance deixava muito a desejar, faltava aquela pegada de macho. Recebi o fora com certo alívio e alegria, quando ele veio me contar que tinha conhecido um carinha na faculdade; ao mesmo tempo em que me senti frustrado comigo mesmo, por não ter notado quem ele realmente era, antes de me dedicar por inteiro a ele. Nunca mais tive o dissabor de encontrar com o Rafael antes de partir para a Inglaterra, embora ele continuasse a namorar minha prima e se tornado um grande amigo do meu primo.
Primeiro dia do outono, Londres, Inglaterra, 2007 – Sentado numa das salas de aula do Imperial College School of Medicine, distrai-me por alguns segundos observando as folhas ressequidas sendo arrancadas das árvores multicoloridas e levadas pelo vento. Constatei que era a segunda vez naquele ano que eu passava por esta estação e, que o mesmo aconteceria com o inverno dentro de alguns meses, uma vez que já tinha passado por elas no Brasil, antes de me mudar para um apartamento de estudantes na capital inglesa. Também era meu primeiro dia de aulas e eu estava um tanto quanto preocupado quanto ao meu desempenho nos próximos seis anos até obter o certificado MBBS – Bachelor of Medicine, Bachelor of Surgery. Era a primeira vez que eu enfrentava um desafio dessas proporções e, a distância da família num país estrangeiro parecia torná-lo ainda mais difícil. Afastei rapidamente esses pensamentos quando notei que o professor havia se dirigido até a minha carteira tentando trazer meu foco de volta para a aula.
Havia duas semanas que eu cheguei em Londres, minha segunda vez na cidade. A primeira, tinha se dado como turista quando minha irmã veio iniciar seus estudos em direito no King’s College, e eu vim acompanhando meus pais. Alojei-me num apartamento para estudantes na Witan Street, a 40 minutos de metrô da universidade, que dividi com um colega de turma, Colin, cuja família residia em Durham. Foi ele quem encontrou meu aviso, procurando um apartamento ou flat, deixado no quadro junto à entrada do centro acadêmico, três dias antes do início das aulas. Conversamos brevemente pelo celular antes de ele me passar o endereço, eu queria ter um mínimo de informações a respeito de quem dividiria o espaço comigo. Nunca havia morado com estranhos e, não fossem os altos custos de bancar uma moradia sozinho, eu confesso que a ideia não me agradava.
- One more thing! – exclamei, antes de continuar. – I’m gay. Is it a problem for you? – eu já esperava por uma desculpa qualquer me dispensando, ou que ele simplesmente desligasse o telefone na minha cara. Porém, fiquei surpreso com sua resposta.
- Are you handsome? – perguntou a voz firme do outro lado.
- What? – devolvi, imaginando ter ouvido errado.
- Are you a handsome guy? – voltou a perguntar com a mesma firmeza na voz. Dessa vez meus ouvidos não podiam estar enganados.
- It depends on what you consider handsome? – devolvi
- A fine charming and stylish guy defines what I consider a handsome guy! – retrucou ele.
- You must be kidding! – exclamei, incrédulo pelo rumo que aquela conversa estava tomando.
- I swear I’m not! – garantiu ele, de imediato. – You just piqued my curiosity, you know? – completou.
- Man, you’re crazy! – eu já estava achando que aquilo não ia dar certo, tinha me arrependido de confessar que era homossexual por telefone para um cara estranho que podia estar apenas se divertindo às minhas custas. Fora que essa vacilada podia cair na boca do povo na faculdade e me criar uma porção de problemas. Como fui idiota, pensei comigo mesmo.
- What about get a meeting to see what happens? – sugeriu ele, ante meus perplexos minutos de silêncio
- Ok! Where? – minha necessidade de encontrar um lugar para morar superava meus pudores. Já fiz a cagada mesmo, agora é ver no que dá.
Encontrei-me com o Colin no L’Eto Café, próximo a universidade, pois ainda não conseguia me deslocar por Londres com desenvoltura. Um tesão de macho chegou ao café segurando o celular no ouvido, no exato instante em que o meu começou a tocar. Comecei a transpirar, apesar dos oito graus que fazia, quando constatei que aquele era o Colin. Levantei-me e dirigi um sorriso acanhado na direção dele, recebi um de volta mostrando dentes grandes e enfileirados numa boca para lá de sensual. Ele me examinou da cabeça aos pés sem a menor discrição e, enquanto eu balbuciava um ‘oi’ tímido, ele não se conteve.
- Much more than handsome! Horny, I would say! – soltou em alto e bom som, fazendo com que algumas cabeças das mesas próximas se virassem em nossa direção.
Nem preciso mencionar que, dois dias depois, ele estava me ajudando a fazer a mudança. Se não fosse precipitado, eu diria que aquilo que aconteceu no café foi amor à primeira vista. Mas, era cedo demais para dar um nome a essa empolgação recíproca. Como éramos colegas de turma, nosso dia-a-dia ficou bastante facilitado, pois nossos horários coincidiam e o itinerário até a universidade podia ser feito junto, assim como revisar e estudar as matérias. Os primeiros quinze dias foram de uma formalidade parcimoniosa, pedíamos licença para tudo, trancávamos a porta ao usar o banheiro e andávamos pelo apartamento devida e recatadamente vestidos. Mas, foram só os primeiros quinze dias. Depois disso, aquele gelo foi se quebrando, as barreiras caindo e o coleguismo ganhando força. A única coisa que continuava imutável era o Colin me chamar de “Pedrrrrroô”, apesar de eu ter explicado que meu nome traduzido era Peter. Ele parecia se divertir me chamando com aquele sotaque carregado e, logo percebi que o fazia para se distinguir dos outros, que rapidamente se acostumaram a me chamar de Peter.
Já eu, tive que me acostumar a ver o Colin perambulando pelo apê de cueca. Não que isso fosse um acinte, uma vez que a visão daquele caralhão era como uma miragem, uma agradável e excitante miragem. Mesmo tentando ser o mais discreto possível, não havia como não se encantar com o contorno bem desenhado daquele cacete avantajado, ainda mais para um gay, carente e frustrado com seu primeiro envolvimento, como eu. Ao perceber que eu evitava olhar diretamente para seu dote, o Colin teve a certeza de que, se não todo o seu corpo, ao menos aquela estrutura anatômica havia me agradado em cheio. E, exibi-la, o mais possível, se tornou seu joguinho predileto. Eu não era de ferro, quando achava que ele não ia notar, eu observava aquele volume, babando de tanto tesão. Ele tripudiava sobre a minha timidez, ciente de que eu devia alimentar desejos eróticos com aquela pica. Uma noite, depois de voltarmos bastante tarde para casa, de um encontro com outros colegas da faculdade, criei coragem, talvez movido pelos três copos de 550 mililitros da Newcastle Brown Ale que consumi no pub, para perguntar ao Colin o porquê de ele ter me perguntado se eu era bonito, imediatamente após eu ter revelado que era gay, quando estávamos tratando da questão do apartamento.
- No quadro de avisos seu bilhete dizia – estudante brasileiro procura apartamento ou flat para dividir – como sou fissurado numa pele bronzeada, logo me interessei e, quando você disse que era gay, eu já comecei a imaginar uma bunda bronzeada com marca de sunga num corpão escultural. Então eu quis saber se você correspondia à figura que eu havia criado na minha imaginação.
- Nossa! É constrangedor ouvir disso, sabia? – devolvi, imaginando que estava dividindo o mesmo teto com um tarado. – Não se ofenda, mas você também é gay? – perguntei, na cara de pau. Ele começou a rir.
- Não, não sou gay! Desapontado?
- Não, claro que não! Foi só uma pergunta. – retruquei, embaraçado.
- O que não me impede de sonhar com um cara feito você e, com uma bunda nos moldes da que eu acabei de te descrever. As duas coisas juntas, no entanto, nunca haviam me passado pela cabeça. – afirmou
- O que você quer dizer com isso? – minha pergunta saiu gaguejada, pois eu já fazia uma ideia de qual seria a resposta.
- Que ao te encontrar naquele café, essa possibilidade estava bem diante dos meus olhos em carne e osso. Mais carne que osso! – exclamou ao final, provavelmente para amenizar a resposta objetiva e a minha cara de abalado. – Desde então, não vejo a hora de conferir se a marca de sunga é como eu imagino. – acrescentou, lascivo e exalando o mesmo cheiro de cerveja que eu.
- Bem! Está mais do que na hora de irmos para a cama, está quase amanhecendo. – apressei-me a dizer, uma vez que a conversa estava ficando libidinosa demais.
- Juntos? – questionou, pendurando seu braço pesado sobre o meu ombro
- Não! Cada um comportadinho na sua. – devolvi
- Na minha? – provocou, fingindo não ter entendido a resposta.
- Colin, Colin! Você bebeu ao menos o dobro do que eu e, se eu já estou tropeçando nas minhas próprias pernas, você com certeza nem sabe mais o que está falando. – argumentei, tentando me safar da situação.
- É essa a desculpa que você vai inventar para não ficar cara a cara com o que você tanto vem admirando em mim? – inquiriu ousado. – E, para seu governo, seriam necessários muitos outros copos de cerveja para eu não saber mais o que estou dizendo. – esclareceu.
- Não é uma desculpa! Apenas não sei se não vamos nos arrepender depois.
- Se não arriscarmos, nunca vamos saber! Vem comigo, vem? – retrucou, já me arrastando para o quarto dele. Não há determinação que não caia por terra quando você está com o cérebro nadando em cerveja, abraçado a um bocado de músculos e olhando para uma ereção enorme no meio das pernas de seu colega de moradia, um tesão de macho.
A cerveja realmente não tinha afetado o Colin, como ele afirmou, uma vez que desabotoou minha camisa com muita destreza usando apenas uma das mãos. Eu olhava na cara safada dele sem ter certeza se aquilo era apenas um sonho ou se eu estava realmente ficando nu a cada peça que ele ia tirando.
- Me diga uma coisa, você já tomou três copos de cerveja alguma vez na sua vida? – perguntou ele, quando aquele peitoral fascinante dele ficou completamente despido e eu, com as mãos espalmadas, comecei a escalá-lo.
- Numa só noite nunca! Por quê? – devolvi, notando que minha língua pesava feito chumbo. O Colin riu, e terminou de me despir quando eu já estava deitado na cama dele.
- Porque os que você tomou no pub estão fazendo efeito! – exclamou, com um risinho malandro.
- Você acha que eu estou bêbado? Não estou, não! Já por você, eu não colocaria minha mão no fogo! – eu tentava lutar contra o peso da minha própria língua, e agora até os lábios pareciam não querer se mexer. Que diabos! – O que é esse baita troço na sua calça? – indaguei, dirigindo minha mão trêmula até a coxa dele.
- É a minha pica! Ela está assim por culpa sua!
- É minha culpa?
- É, é sua culpa! Foi esse triângulo branquinho nessa bundona bronzeada que fez minha pica ficar desse tamanho. – ele olhava para mim com uma cara estranha, eu não sabia se ele estava rindo, se estava mentindo, se estava tentando me enganar ou, se aquela tara nos olhos dele era mesmo de verdade.
- É um pauzão! – exclamei, dando um sorriso, mas acho que minha boca estava um pouco torta, porque ele deu risada.
- Para você ver, é um pau que está morrendo de vontade de entrar nesse reguinho e não vai poder. – sentenciou, enquanto puxava meu corpo pesado para cima e deitava minha cabeça nos travesseiros.
- Vou te contar um segredo! Chega bem pertinho! Fala para o pauzão que ele pode entrar no meu rego, eu deixo! – retorqui. As paredes estavam um pouco fluidas ou era impressão minha?
- Está bem, eu falo para ele, não se preocupe!
- Colin!
- Sim, diga.
- Você é um tesão, sabia? Um homão lindo! Um homão com um pauzão! Um homão com um pauzão! Viu como rimou? – cantarolei, acariciando aquele tronco peludinho e vigoroso.
- É bom eu saber disso! Vou até gravar no meu celular para não esquecer. – devolveu ele, apontando o celular na minha direção depois de ligar a câmera.
- O Colin é um homão lindo com um pauzão! Um homão lindo com um pauzão! – cantei novamente. Depois disso, lembro que o braço pesado dele envolveu minha cintura e ele se aconchegou nas minhas costas com aquela pele quente, os pelos roçando minha pele, os batimentos do coração dele reverberando no meu torso, e uma coisa dura pulsando entre as minhas nádegas. Tudo ficou repentinamente escuro, embora eu já não conseguisse mais ver as paredes, podia jurar que elas continuavam lá se movendo como cerveja dentro de um copo.
Alguém estava com os faróis altos focados na minha cara, eu devia ter comido areia, pois a boca não tinha uma gota sequer de saliva, um urso pesado estava montado nas minhas costas, a cabeçorra arroxeada do Pedro, o piloto da lancha, tinha escapulido pela perna do short e estava cutucando minha bunda, aquele travesseiro fofo no qual meu rosto estava imerso tinha o cheiro do Colin, eu estava com uma puta dor de cabeça. Espera aí, alguém está respirando no meu cangote. Arregalei os olhos e os raios de um sol dourado de inverno os ofuscaram, juntei os lábios e tentei deglutir, mas não tinha absolutamente nada na minha boca, não havia urso algum montado nas minhas costas, era o Colin tão grudado em mim que mal conseguia me mexer, tinha mesmo um pinto cutucando minhas nádegas, o do Colin, completamente distendido e duro na ereção matinal e, o que é que eu estou fazendo na cama dele?
Não se desespere, tudo tem uma explicação. Encontro com a galera, ida ao pub lotado, dois carinhas barbudinhos, um tocando saxofone o outro trompete num repertório variado que me fez tamborilar os dedos sobre o balcão para acompanhá-los; o barman tesudo e másculo de cavanhaque com cara de árabe que, por algum motivo, suspeitou que eu fosse gay e, sorrindo, me deu uma aula sobre cervejas e me sugeriu a Newcastle Brown Ale cujo copo levemente suado ele colocou na minha mão aproveitando para deslizar seus dedos sobre os meus; o interrogatório que a galera resolveu fazer me enchendo de perguntas sobre o Brasil; a coxa do Colin toda hora roçando na minha; outro sorriso do barman que não tirava os olhos de mim e outro copo de cerveja com o colarinho acastanhado, o solo triste do saxofonista que não sei porque cargas d’água marejou meus olhos; outra Newcastle Brown Ale apoiada sobre o descanso de copo com emblema da marca e um número de celular escrito junto ao nome Amir colocada a minha frente com mais um sorriso; o Colin, a Sue, a Bertha, o Edward, eu e o Jeremy ao volante prensados no caro dele depois de nos despedirmos dos demais sob o vento frio que soprava na calçada em frente ao pub; o Colin e eu subindo para o apartamento, ele seguindo um passo diante do meu com aquele corpão maçudo, depois do Jeremy nos deixar em frente ao prédio; eu e o Colin tendo uma conversa esquisita sobre homem brasileiro bonito bronzeado, marca de sunga, quem era e quem não era gay; a mãozona dele e os botões da minha camisa; eu pelado, ele sem camisa, sem a calça, sem a cueca, um pauzão, paredes escorrendo feito um líquido espesso, uma confusão do caralho. Cacete, eu fiquei de pilequinho! Mas, que porra é essa de eu estar pelado na cama dele? Pelo visto não foi um pilequinho, devo ter enfiado o pé na jaca. Que imbecil!
- Acordou? – o urso, digo, o Colin se espreguiçou e tirou o braço que enlaçava minha cintura.
- Acho que sim! Ainda estou tentando saber exatamente onde estou. – balbuciei
- Isso é fácil! Depois de três míseras cervejinhas você tirou as roupas fazendo um striptease insinuante, me deixou pelado, ficou elogiando minha pica e me arrastou para cá. – inventou, para me deixar ainda mais embaraçado do que eu já me sentia.
- Você está inventando isso! Estou um pouco confuso, está certo. Mas, ainda não estou desmemoriado. Quem começou com uma conversa mole de bunda bronzeada com marca de sunga foi você, quem tirou minha camisa e tudo o mais foi você, quem me colocou nessa cama foi você, portanto, não invente histórias. – retorqui.
- E quem foi mesmo que chamou minha pica de pauzão? E, fez até uns versos para ela? – inquiriu sarcástico.
- Eu jamais faria isso! – exclamei, embora ainda houvesse um enorme hiato na minha mente.
- Ah, não! Que tal isso aqui! – minha cara entorpecida cantarolando na tela do celular não deixava dúvidas. – o Colin riu e se atirou sobre mim com aquela jeba dura feito aço roçando minhas coxas, e me roubou um beijo de língua para lá de gostoso. Me foder agora já não seria uma vilania, um estupro, uma vez que eu estava de plena posse das minhas faculdades mentais, apesar de um pouco sonolento, o que o beijo devasso e cada vez mais erótico estava solucionando.
O calor e o peso daquele corpo nu sobre o meu, aliado ao sabor viril daquela boca não tiveram trabalho em me deixar bastante desperto e cheio de tesão. Assim que o Colin percebeu que eu retribuía sua investida excitada, suas mãos começaram a percorrer meu corpo e, onde elas passavam, deixavam o rastro ardente como fogo. De repente, eu queria aquele macho, meu cuzinho piscava alucinadamente sedento por aquela pica que melava minhas coxas. Uma de suas mãos penetrou meu rego, nossos olhares fixos um no outro, o dele impositivo se apossando daquela parte anatômica, o meu receptivo e permissivo deixando se invadir pela sanha desenfreada dele. Um dedo entrou no meu cuzinho, rodopiou lá dentro depois das preguinhas se contraírem e aprisioná-lo, um gemido sensual aflorou nos meus lábios fazendo com que o Colin abrisse um sorrisinho travesso. Ele teve a certeza de que havia finalmente chegado o dia e a hora que ele tanto vinha aspirando nos últimos tempos, foder minha bunda bronzeada e tentadoramente roliça. Desde que uma espiada escusa lhe havia confirmado o que sua imaginação vinha cultivando a partir do dia que me viu pela primeira vez, ele não pensava noutra coisa que não fazer sua rola se perder naquela abundância de carnes de tom atrigueirado, onde o vértice de um triângulo imaculadamente alvo parecia indicar o caminho para um paraíso de luxúria e devassidão.
Eu movia meus lábios em retribuição aos beijos do Colin com uma sensualidade impudica, lambia e chupava sua língua que não parava de se mover na minha boca. Isso despertou nele a vontade de que meus lábios fizessem o mesmo com seu membro, já dolorosamente sensível. Ele se ajoelhou próximo à minha cabeça exibindo aquele falo ameaçador e aquele par de testículos gigantescos alojados no sacão pendente e pesado. Um fio viscoso e translúcido escorria vagarosamente do orifício uretral sem se desprender. Eu o detive com a ponta da língua e o sorvi, antes de fechar meus lábios ao redor da glande arroxeada e estufada. O Colin soltou um gemido rouco quando sentiu minha língua acariciando sua cabeçorra úmida. Só a glande já enchia completamente minha boca. Porém, tomado de um desejo carnal despudorado, minha vontade era a de engolir aquele cacetão inteiro. Ele notou meu esforço para devorar seu falo e, agarrando meus cabelos para fixar minha cabeça, socou a tora de carne na minha garganta. Minhas mãos espalmadas sobre suas coxas peludas tentavam inutilmente afastá-lo de mim, quando a verga começou a impedir que eu respirasse. Soltei um grito abafado pela rola entalada na goela, só então ele a tirou dali. Eu tossi e inspirei aliviado o máximo de ar que consegui e que já me faltava. Ele continuava me encarando e, aquela carinha parecia estar suplicando por mais carinho para sua verga. Voltei a abocanhar e chupar o pauzão que latejava na minha boca, enquanto lambidas, beijos e mordidinhas iam percorrendo toda sua extensão, fazendo as coxas musculosas do Colin estremecerem de tanto tesão. Apesar da pentelhada densa eu abocanhei o sacão e massageei um dos testículos com chupões e linguadas.
Ele se movia sobre meu corpo como se estivesse me fodendo, a pica deslizando na minha virilha bem próxima da minha. Depois ele se pôs em pé junto a peseira da cama, me puxou para junto dele, tomou-me nos braços enquanto eu me pendurava em seu pescoço, tornou a enfiar a língua na boca num beijo devasso, colocou um pé sobre a cama de modo que eu ficasse sentado sobre sua coxa, nossos lábios não se soltavam, eu chupava a língua pervertida dele e empinava a bundinha, ele enfiou um dedo no meu cuzinho me fazendo gemer, aproximei um dos meus mamilos da boca voraz dele e deixei-o mastigar meu peitinho. Ele me atirou sobre o colchão, fiquei de bruços enquanto ele engatinhava na direção da minha bunda, afastando as nádegas e começando a lamber meu reguinho. Eu olhava para trás, via aquele pauzão balançando de um lado para o outro, ele enfiou o polegar no meu cuzinho e eu gemi, rebolei e empinei a bunda, fui penetrado com um impulso brusco e gritei. Ele estava dentro de mim. Eu mordia o travesseiro, gemia e sentia toda a voracidade dele ao bombar meu rabo polpudo e macio, enquanto ele grunhia junto ao meu ouvido e acariciava meus peitinhos. Com um único puxão ele tirou a pica do meu cu, eu gritei quando cabeçorra passou pelos esfíncteres. Ele voltou a me tomar no colo, entre impudicos beijos de língua me levou até junto a janela, eu apoiei os braços na moldura da vidraça enquanto ele se encaixava entre as minhas pernas, que tratei de fechar ao redor de seus flancos. Me encarando devasso ele meteu a rola mais uma vez no meu cu, gritei e gemi, ele me rasgara. Como um garanhão ensandecido ele voltou a me estocar, a pica parecia querer furar minhas entranhas. Entreguei meu rabinho enquanto o cobria com meus beijos carinhosos e molhados. Ali mesmo eu gozei incontrolavelmente, o mais delicioso gozo que já tinha produzido. Quase sem forças para me suster com os dedos já entorpecidos de tanto se agarrarem à moldura estreita da janela, e continuando a levar o pintão no cu sem dó nem piedade, eu gania de desespero, dor e prazer, sensações que se fundiam na mais maravilhosa experiência que já tive. Pela primeira vez eu estava dando para um macho, sendo fodido por um macho de verdade, aquilo parecia um sonho se tornando real. O Colin caminhou comigo pendurado em seu pescoço de volta para a cama, foi me reclinando suavemente para que sua jeba não saísse do meu cuzinho que, ao sentir que ela começava a deslizar para fora, se contraiu num espasmo brusco retendo-a em seu interior, isso provocou uma espécie de câimbra em toda a minha pelve e me fez ganir. Firmado sobre seus pés, ele meteu aquele tanto da pica que havia deslizado para fora do meu cu, fazendo-a comprimir minha próstata e extraindo um ganido pungente da minha boca contraída. Agarrei-me onde pude, enquanto o pauzão esmagava minhas entranhas com aquele vaivém rítmico com o qual o Colin impulsionava seus quadris para desfrutar do prazer intenso que a fricção e o aconchego naquela maciez lhe provocavam. Eu o encarava com um olhar devoto e apaixonado quando notei sua expressão se retesando, e não só ela, mas ele todo. O ar escapava por entre seus dentes cerrados, ele transpirava um pouco deixando aquele tórax ainda mais sensual com as gotículas de suor brilhando entre os pelos escuros. Grunhiu algo ininteligível, talvez nem fossem palavras, apenas um bramido másculo para acompanhar o gozo, brotando de seu abdômen. Seu olhar pousou no meu no mesmo instante em que ele começou a ejacular. Os jatos pegajosos, fartos e mornos iam molhando minhas entranhas como se ele estivesse assinalando seu território. Sorri na direção dele e estendi meus braços para que ele se aconchegasse neles. Ele foi se deixando cair sobre mim, ejaculando diluvianamente quando o enlacei e acariciei suas costas suadas. Nossas bocas voltaram a se unir sem nenhuma pressa de se separarem. Nossos corpos levaram um tempo para que aquele frenesi do qual estavam tomados se acalmasse.
Depois disso, nunca mais fomos os mesmos. Ambos havíamos sofrido uma transformação, mudado nossas maneiras de enxergar as coisas, tínhamos nos apaixonado um pelo outro. Levou mais alguns meses até que o primeiro – eu te amo – foi pronunciado em alto e bom som, selando de vez aquele relacionamento que ia nos unindo com as pequenas e triviais coisas do cotidiano. Não abrimos de pronto o nosso relacionamento com os amigos e colegas da faculdade. Sabíamos que alguns o aceitariam sem restrições, até com alegria, mas não queríamos que a turma toda começasse a fazer comentários a nosso respeito.
O curto período de férias de inverno daquele semestre, de 22 de dezembro a 8 de janeiro, fui passar com a família do Colin em Durham, na ocasião, apenas como amigo. O mesmo aconteceu nas férias de verão ao final do primeiro ano, quando eu trouxe o Colin junto para o Brasil, e passamos praticamente o tempo todo em Ubatuba. Não duvido que meus pais e meus irmãos já não tinham sacado que aquilo não era apenas uma amizade, mas algo bem mais sólido, quando nos levaram ao aeroporto ao final das férias.
Vivemos os seis anos de faculdade como um casal. Assumimos a relação perante todos no segundo ano, pois havia se tornado difícil explicar tanta intimidade e aquelas trocas de olhares que passaram a substituir a necessidade de palavras para nos comunicarmos. Como viajávamos constantemente para Durham a cada período livre, a família do Colin também percebeu que aquilo não era uma simples amizade. Ficaram surpresos com o filho no dia em que, após algumas insinuações, ele revelou que se apaixonara por mim e estava me enrabando como se eu fosse sua fêmea. Obviamente não foi nesses termos, que usou com o pai e os irmãos, que a revelação chegou aos ouvidos da mãe. De qualquer forma, isso não afetou o carinho que tinham por mim. Me pareceu que a evidente felicidade do filho tinha sido o argumento mais que suficiente para me aceitarem no seio de sua família.
Eu nunca tinha me sentido tão feliz e realizado. O Colin me fez saber o que é um macho na acepção da palavra e, em tudo que ela significa. De início, a comparação com o Carlos foi inevitável, pois até então, tinha sido minha única referência nesse assunto. Mas, essa comparação era tão descabida quanto a comparar uma laranja com um repolho. Enquanto o Carlos apenas fez o papel de macho, o Colin o era em toda sua essência e determinação. Comprovei isso logo naquela primeira transa, quando encharcado da porra dele, com o cuzinho machucado por sua sanha destemperada, soube que ele não precisava assumir esse papel, que a natureza dele era a de um macho, que ele sempre seria assim, que troca-trocas como os que tive com o Carlos jamais fariam parte das nossas relações sexuais. Eu achei que tinha encontrado o tesouro que tanto queria, e que minha vida ao lado do Colin era tão certa quanto o dia ser sucedido pela noite. Havia tanto amor entre nós dois que parecia bastar para toda eternidade.
Antes de iniciarmos o Foundation House Officer, algo semelhante a residência médica no Brasil, para podermos obter o registro pleno no General Medical Council e exercer a profissão livremente, descobri, a custa de muita dor e desapontamento, que o amor, que de minha parte parecia eterno, já não fazia mais parte dos projetos futuros do Colin. Ele me contou que havia conhecido uma médica recém-formada numa das unidades onde exercíamos a parte prática do curso de medicina, que se envolveu com ela tão intensamente sem bem saber como e porquê. E que, precisava ir até as últimas consequências para descobrir onde ia dar aquilo que estava sentindo por ela. Eu não esperava por aquilo, não tinha sentido que o que ele sentia por mim tivesse diminuído ou se modificado de alguma maneira. Fiquei sem chão quando ele disse que deixaria o apartamento para morar com ela. O mais estranho, foi eu não ter desabado quando ele, com todas as suas coisas, saiu pela porta para nunca mais voltar. Por três longos dias eu olhava para a cama onde tantas vezes fizemos amor, permanecendo por horas ali feito uma estátua que tivesse sido incrustada no chão. Foi apenas no último deles que senti as lágrimas descendo pelo meu rosto, a dor aguda abrindo um buraco no meu coração, o vazio se instalando no meu peito, a solidão cravando uma estaca onde ele tantas vezes havia enfiado seu falo intrépido e sedento. Por mais que eu ainda o amasse, o amor chegara ao fim, pois ele não é único, para que exista é preciso que esteja em pares. O do Colin havia acabado e estava arrastando o meu para um precipício sem fim.
Não fui o único a ficar pasmo com o fim do nosso relacionamento, os amigos não acreditavam que aquela relação tão profunda, parecendo mais sólida do que uma montanha se esfacelara sem nenhuma desavença, sem conflitos, sem falta de carinho. Muitos apostaram numa reconciliação, mas eu sabia que devia aceitar a realidade, por mais dolorosa que fosse. O adeus do Colin foi definitivo.
Place d’Armes, Luxemburgo, Grão-ducado de Luxemburgo, agosto de 2014 – A falta do Colin parecia doer mais quanto mais o tempo passava. A Bertha e o noivo se aliaram à Sue e ao Jeremy para me convencer a acompanhá-los no final de semana prolongado, na curta escapada até o Grão-ducado, antes que começassem os dias de ventania fria do outono. Havia meses que eu parecia um ermitão recluso, não me sentia com forças para encarar mais do que o trabalho supervisionado no hospital. Eles acharam que era hora de eu voltar à vida, de guardar aquele amor no fundo de um baú como uma mera lembrança, ao invés de continuar sofrendo pelo seu fim. Fui vencido pela teimosia e persistência deles. Estávamos sentados numa das mesas externas de um café apreciando o movimento de famílias, casais de todas as idades, garotas e carinhas descolados aproveitando a tarde de sábado ensolarado. Uma orquestra tocava um repertório variado destinado a agradar a todos os gostos, o que parecia dar mais ritmo e movimento ao vaivém de transeuntes. Meu pensamento divagava sem rumo, sem prestar atenção no papo que rolava na mesa, sem se ater aos olhares que vira e mexe escrutinavam meu rosto e minhas pernas grossas emergindo da bermuda, por eu estar sentado na ponta mais próxima à calçada.
- Flertando? – só ouvi a pergunta quando a Sue me deu um beliscão no braço.
- Está querendo me arrancar a pele, sua maluca! – protestei
- Por onde você anda que não está ouvindo uma única palavra do que estamos falando? – devolveu ela.
- Aqui, ora! Onde eu podia estar?
- Pois não parece! Dá para responder o que te perguntei?
- O que você perguntou? – era óbvio que eu estava no mundo da lua. Levei uma bronca e tentei prestar mais atenção neles, embora isso não tivesse durado muito. Em poucos minutos eu estava com a cabeça em Durham, também numa praça, trocando olhares sensuais com o Colin enquanto ele roçava sua perna peluda na minha por debaixo da mesa, num preâmbulo do que haveria de rolar naquela noite.
Fazia uns minutos que o cara estava na minha frente. Todos estavam com os olhos presos em mim e no sujeito. A Sue vinha novamente com a mão preparada para me dar outro beliscão quando a voz do cara me pareceu familiar. Cheguei a sacudir a cabeça para ter certeza de que meus olhos não estavam me enganando. O Rafael e um casal estavam diante de mim, me encarando de maneira estranha, pois eu parecia não estar enxergando nada.
- Pedro Luiz? É você cara? Não tô acreditando! – ouvi-o dizer, quando aterrissei novamente nesse mundo.
- Rafael? – balbuciei. O Jeremy me perguntou se eu tinha me drogado, pois mais parecia um zumbi. Encarei-o carrancudo, de onde ele tinha tirado uma sandice dessas?
- Sim, Rafael, lembra de mim? – continuou o sujeito que me encarava como se tivesse encontrado um fantasma.
- Sim. O namorado da Carol. – respondi.
- Não mais! Faz algum tempo. Um bom tempo para falar a verdade. – devolveu ele. – Esses são uns amigos e vizinhos, Guillaume e Aimee. – emendou.
- Hi! – eu fiquei sem saber como cumprimentá-los, ainda atordoado com a presença do Rafael.
- Não vai me apresentar seus amigos? – perguntou ele, enquanto o casal me lançava um sorriso reservado, depois de pronunciarem um – Salut! – em unísono.
- Ah, desculpe! – Fiz as apresentações sem muito entusiasmo, pois não conseguia desvencilhar minhas lembranças daquele sujeito desagradável que tinha feito do nosso passeio de lancha pelas ilhas de Ubatuba um verdadeiro inferno, anos atrás.
Embora ele ainda permanecesse perfeitamente reconhecível, estava bem diferente daquela pessoa da qual eu me recordava. Estava mais sério, mais compenetrado, parecia mais equilibrado, ainda era um tesão de macho, cujo olhar nunca me pareceu tão ávido e lascivo. Esse olhar examinou, em fração de segundos, cada um de nós que estava à mesa, detendo-se ligeiramente mais na Sue, no Jeremy e em mim, talvez procurando descobrir que tipo de relação havia entre nós.
Foi o Jeremy quem os convidou a se juntarem a nós, num luxemburguês fluente que nos fez voltar nossos olhares e nossa atenção para essa desconhecida habilidade de nosso amigo. No entanto, coube à Sue, visivelmente interessada naquele macho corpulento com um metro e noventa de altura e, com sua facilidade de comunicação, fazer com que aquele encontro não se tornasse um desastre completo. O casal que acompanhava o Rafael estava tão desconfortável quanto eu, eram pessoas pouco dadas a entabular papo com estranhos e se esforçavam para não parecerem enfadados. Quando olhava para o Rafael, eu não conseguia apagar da memória seu comportamento do passado. Nem mesmo o fato de ele ser tremendamente atraente, como aliás sempre foi, conseguia me convencer de que o caráter daquele homem havia mudado durante esses anos, como se diz – é a primeira impressão que fica.
Ele acabou revelando que havia cinco anos que trabalhava numa empresa multinacional de crédito e classificação de risco, associada ao Caceis Bank Luxembourg, um dos maiores do país, vindo transferido de uma agência nos Estados Unidos onde iniciou a carreira depois de se formar em economia e administração de empresas. Eu não duvidava de que ele era um desses novos executivos globais com um polpudo salário, pois sua família já sempre contou com altos executivos em empresas multinacionais; como também não duvidava que foi através desses contatos que a carreira dele ganhou impulso. Não sei se ele fez essa revelação para impressionar os ouvintes, coisa que vindo dele não me causaria nenhum espanto, ou se usou essa informação para dizer que estava residindo em Luxemburgo. O cara do casal que o acompanhava, aliás outro belo exemplar de macho nitidamente heterossexual, era um colega de trabalho dele. Eu estava tenso pela presença dele e, senti um alivio enorme quando eles se despediram e sumiram em meio à multidão que havia aumentado na praça com o acender das luzes no início da noite ainda ligeiramente quente.
- Em que hotel estão hospedados? – perguntou o Rafael antes de se despedir, quando colocou seu cartão de visitas na minha mão depois de anotar seus telefones pessoais no verso dele. Meu primeiro impulso foi mentir, mas como meus amigos não entenderiam o porquê de eu estar dando uma informação errada, aliado ao fato de que isso logo me pareceu uma atitude infantil, acabei dizendo onde estávamos hospedados.
- No Mercure Luxembourg Kirchberg. – revelei
- Legal! Importam-se se eu os convidar para um passeio pela cidade e arredores amanhã pela manhã? – ofereceu ele
- Seria super legal, não é galera? – respondeu a bocuda da Sue, louca para ver se ia rolar algum lance com o Rafael, mesmo que fosse uma trepada inconsequente, bem ao estilo dela.
- Não sei, não! Tínhamos feito nossa programação, não é pessoal? Seus telefones estão aqui, qualquer mudança de planos eu te ligo, está bem assim? De qualquer forma, eu te agradeço pela gentileza. – tentei ser formal na dispensada, o que deixou meus amigos espantados, pois não tínhamos nenhuma programação pré-estabelecida para aquele final de semana como eu havia afirmado.
- Ok! Se mudarem de ideia, me ligem, estarei em casa. – devolveu ele, sabendo que a dispensada vinha de minha parte e não tinha o aval dos demais.
- Qual é a tua com esse cara? E que programação temos combinada para amanhã? – me perguntaram, assim que eles se foram.
- Não vale a pena comentar, coisas do passado! – respondi.
- Você teve um lance com o cara? Ele me pareceu tão hétero! – retrucou a Sue.
- Não! Nunca tive nada com esse sujeito! E, fique tranquila, ele é mais do que hétero. – respondi.
- Como um sujeito pode ser mais do que hétero? – questionou ela.
- Sendo um troglodita machão, sem educação e caráter! – exclamei, tão de pronto que todos logo quiseram saber desse passado que eu escondia.
- Aí tem! Ou melhor, teve! – exclamou o Jeremy, agora também disposto a me arrancar o que fosse possível do meu passado.
- Chega desse assunto! Não tive nada com ele e pronto! – retruquei ríspido, para ver se os demovia de insistir no assunto. Felizmente funcionou.
Eu estava sob a ducha quando o telefone tocou naquela noite, faltava pouco para as onze horas e eu sonhava com aquela cama fofa do meu quarto.
- Monsieur Ratliff, Bonsoir! Un appel pour vous, Monsieur! – avisou o recepcionista do hotel, transferindo imediatamente a ligação.
- Pedro! É o Rafael! Que legal a gente se encontrar, não foi? Nunca pude imaginar de te encontrar por aqui, super-coincidência feliz, né? – despejou a voz grave do outro lado, embora eu não estivesse concordando com as afirmações dele.
- Pois é, para você ver como esse mundo é pequeno! – se ele estivesse vendo minha cara, viria o sorriso amarelo com o qual eu respondi suas perguntas. Por que raios fui revelar o hotel onde estávamos? Agora vai ser uma aporrinhação aguentar esse cara, pensei com meus botões.
- Quero me encontrar com você amanhã, almoçar ou jantar aqui em casa, o que me diz?
- Não sei se vai dar Rafael, como eu disse, fiz uma programação com meus amigos para esses poucos dias e não sobrou tempo livre para outras coisas. Quem sabe numa próxima. – respondi.
- Você ainda está magoado pelo aconteceu em Ubatuba. É justamente essa imagem negativa que você faz de mim que eu quero apagar. Eu mudei nesses anos, quero te provar isso. – ele sabia exatamente porque eu o estava evitando.
- Nem me lembrava mais daquilo, esquece! Faz tanto tempo! Estou realmente ocupado, numa próxima a gente combina alguma coisa, valeu? – eu queria desligar, esquecer que um dia conheci esse sujeito.
- Você não acredita que eu tenha mudado, não é? – insistiu
- Ninguém muda da água para o vinho em alguns anos! E isso também não tem a menor importância. – ele conseguiu me irritar e eu já não via motivo para não tacar na cara dele as razões que me levavam a não querer estender aquele contato.
- Não sei se já cheguei ao estágio do vinho, mas te garanto que água já não sou mais. A gente muda, sim! Eu era um boa-vida que achava que todos estavam ali para me servir, fui criado assim. Aprendi que o mundo não gira como eu quero, e gostaria de te provar isso.
- Não é necessário! Não, mesmo!
- Você também mudou, pense nisso. Quem imaginaria naquela época que você se tornaria um médico diplomado no exterior? Me dá uma chance, vai.
- À troco do que, Rafael? Nossos caminhos seguirão por caminhos opostos. – afirmei
- Podemos mudar isso, não podemos? – questionou.
- Por que faríamos isso? Vivemos em países diferentes, não voltaremos a nos encontrar.
- Porque você mexeu comigo naquele Carnaval em Ubatuba, eu nunca vou esquecer o quanto. – confessou.
- Ah, então é uma revanche o que você está querendo! Me dar o troco por eu ter dito que você não era homem suficiente na frente da galera e da minha prima, sua namorada na época. – como eu não adivinhei as intenções dele antes?
- Não é nada disso! Juro! Para quem acabou de afirmar que já tinha esquecido aquele episódio você está com a lembrança bem viva. – retrucou ele.
- Pois é, há coisas que não se apagam!
- Nem se eu te disser que fiquei tão puto naquele dia por ter sido justamente você a afirmar que eu não era macho o suficiente, quando você achava que aquele carinha que você estava namorando e, que era muito mais chegado numa piroca do que num cuzinho ou numa buceta, era seu protótipo de homem? Nem se eu te confessar que foi naquele passeio que eu me dei conta do tesão de cara que você é, mesmo eu nunca antes ter sequer pensado na possibilidade de me envolver com outro homem? E não me refiro apenas ao tesão no aspecto físico, mas à sua índole. Pensei diversas vezes em você durante esses anos todos, onde estaria, o que estaria fazendo, se já tinha se casado ou estava vivendo uma relação estável com outro cara, um cara que devia ser um puta de um sortudo. É isso, eis o porquê de eu estar tão afim de nos encontrarmos outra vez. Será que não mereço sequer uma chance? – eu estava paralisado ouvindo tudo aquilo.
- Por que está me contando tudo isso agora?
- Por que algo me leva a crer que você acabou de ter uma grande decepção, que aquele seu silêncio durante o encontro na Place d’Armes vinha de um amor desfeito e que, nisso vou ser egoísta, ali estava a grande chance de eu me redimir com você e me oferecer para ocupar o lugar que havia vagado no seu coração. – afirmou ousado.
- Vou ser bastante sincero com você. Foi exatamente isso que aconteceu, e é também por conta disso que não quero me envolver com ninguém por enquanto. Antes preciso resolver algumas questões comigo mesmo e, mais uma vez usando a sinceridade, você seria a última pessoa com quem eu gostaria de me envolver. – asseverei
- Está sendo duro demais comigo! Faço uma ideia do quanto está ferido e magoado, mas não fui eu quem te magoei, lembre-se disso. Eu só quero curar essa ferida, se você deixar essa intransigência de lado e me der uma oportunidade de te provar o quanto mudei. – perseverante ele era, não restava dúvida.
- Boa noite, Rafael! Estou com sono, já passa da meia-noite e amanhã pretendo visitar um bocado de lugares na cidade.
- Vai mesmo me dispensar? Sem uma chance, sem um simples encontro para um almoço ou um jantar?
- Boa noite, Rafael! Tudo de bom para você.
- Boa noite! – ufa, eu me sentia desgastado, como se tivesse corrido uma maratona. O relaxamento que a ducha tinha produzido havia sumido.
Se já tive uma noite mal dormida foi aquela. As palavras do Rafael atormentaram minha mente sem a menor condescendência. Na manhã seguinte desci para o café me sentindo um trapo. A Bertha e o noivo já estavam tomando o café deles, em companhia do Rafael. Assim que me viu entrar no salão, ele me dirigiu um sorriso audacioso e um tanto desafiador, foi o que bastou para que aquele resquício de bom humor e vontade de conhecer a cidade se esvaísse como a água no ralo.
- O que faz aqui? Não deixamos tudo esclarecido na noite passada? – questionei, deixando transparecer assim, à Bertha e ao noivo, que tinha havido algo posterior, entre mim e o Rafael, ao encontro casual na praça. Agora mesmo é que eu teria que dar explicações, muitas explicações, até o pessoal se dar por satisfeito quanto ao meu passado com aquele sujeito.
Quando a Sue e o Jeremy se juntaram a nós, o circo estava completo. Eu o protagonista, o palhaço, o equilibrista tentando rebolar naquela situação embaraçosa. Subitamente enxerguei uma luz no fim do túnel, ceder e me aliar ao Rafael, tudo estaria resolvido, ao menos até o fim daqueles dias de folga, até a hora do regresso a Londres.
Para decepção da Sue, segui sozinho com o Rafael para um dia inteiro de passeios que ele havia proposto. Ele estava mesmo diferente, eu precisava admitir. Mas, em tão poucas horas e, depois de tantos anos distantes, era impossível avaliar a verdadeira personalidade dele. Tudo podia não passar de encenação e, era nisso que eu tinha apostado todas as minhas fichas.
Passamos pelas construções históricas da cidade velha, visitamos a cidade baixa e seus atrativos, seguimos em direção a parte moderna onde se concentram as instituições bancárias e, onde o Rafael me mostrou o edifício onde trabalhava, rumamos de carro em direção ao norte para Diekirch nas colinas cobertas pelas florestas das Ardenas onde se encontram pequenas aldeias encrustadas entre vales. Embora não houvessem atrações deslumbrantes a conhecer, afora a beleza das paisagens, eu notei que o Rafael seguira naquela direção para me manter perto dele sem a interferência de outras pessoas. Enquanto dirigia a BMW 420i conversível sem pressa pelas estradas sinuosas, aproveitava para esbarrar no meu joelho toda vez que displicentemente apoiava a mão sobre a alavanca do câmbio automático. Dava para sentir que o desejo dele era tocar na minha coxa que emergia da bermuda, mas lhe faltava coragem para tanto, pois esse pequeno deslize poderia lhe custar um adeus definitivo. Ele compensava essa frustração ajeitando o caralho constantemente dentro da bermuda dele, não era o calor que fazia, com o sol a pino batendo sobre nossas cabeças, que o estava deixando tão inquieto. Eu não tinha nenhuma dúvida de que ele havia elaborado um plano muito bem engendrado para que aquele dia terminasse com nós dois em cima de uma cama trepando até que eu sucumbisse às suas investidas, desfazendo aquela imagem negativa que tinha dele. Por que não, pensei em dado momento. Ele se daria por satisfeito por ter conseguido me enrabar, e eu me veria livre de seu assédio, voltando à minha vidinha solitária em Londres e, conhecendo o potencial que aquela jeba volumosa dentro de suas calças podia proporcionar.
Houve momentos em que cheguei a achar até engraçado o comportamento dele, forçando-me a não rir da situação. As coisas caminhavam praticamente como eu havia imaginado e, portanto, não foi surpresa alguma quando após o jantar no Clairefontaine, na praça do mesmo nome, o Rafael me levou ao seu apartamento, onde uma garrafa de um Chardonnay, sobre uma bandeja na mesinha lateral do sofá, aguardava para ser aberta ao lado de duas taças. Eu nem precisava ir ao quarto dele, pois tinha a certeza de que lá os lençóis haviam sido trocados e a cama devia estar arrumada com todo primor, à espera da presa a ser abatida com toda a volúpia que sua pica insaciável consumasse. Aquilo explicava todo aquele dia. Por mais que tivesse me esforçado, não consegui segurar um riso mal disfarçado.
- O que foi? – questionou ele, quando viu o esboço do sorriso nos meus lábios.
- Desculpe a sinceridade, até te parabenizo pela criatividade e empenho, mas se você acha que uma BWM conversível, um giro pelas paisagens bucólicas do Grão-ducado e um jantar charmoso, complementado por uma taça de vinho, vão me fazer sucumbir aos seus encantos, lamento te informar que desperdiçou seu tempo e dinheiro comigo. Não vamos varar a madrugada na cama, que certamente está por trás daquela porta, trepando feito dois alucinados.
- Você é osso duro de roer! Fui tão explícito assim? – indagou, ao ter seus planos desvendados.
- Foi! Chegou a ser hilário. Mas, não se sinta derrotado. Apesar de tudo, tive um dia maravilhoso, devo admitir. Só estamos em sintonias diferentes, não quero me envolver com ninguém, muito menos com você. – devolvi, sabendo que estava sendo um pouco cruel.
- Me acha tão repulsivo assim?
- A palavra não é repulsivo. Apenas acho que você e eu não temos afinidade alguma, e isso me basta para evitá-lo. – respondi sincero.
- Cara, você tem um coração feito de que aí dentro, pedra? – retorquiu, vendo suas pretensões afundarem.
- Antes fosse! Talvez então eu não estivesse tão marcado pela decepção, e tão ferido quanto um passarinho que teve a asa machucada e não consegue mais alçar voo. – afirmei.
- É assim que está se sentindo depois que o carinha com quem morava junto te largou? – a pergunta dele me deixou perplexo.
- Quem te disse isso?
- Aquele seu casal de amigos com quem você me viu tomando café no hotel em que está hospedado. Não foi difícil extrair algumas informações deles a seu respeito. – revelou. A Bertha e o noivo iam se haver comigo, pensei, enquanto minha raiva por suas bocas soltas ia tomando forma.
- Bem, se isso vai fazer com que se sinta melhor, é sim. É assim que estou me sentindo, após verificar que dediquei seis anos da minha vida, do meu amor, dos meus carinhos para um homem que me disse adeus com a mesma facilidade e desprendimento com que me contaria uma piada.
- Não o culpe! Culpe-se a si mesmo! – exclamou. Eu achei que com essa afirmação ele estava pondo toda a sua ira para fora por seus planos não terem o resultado que ele esperava. – Já percebi que você tem um dedo podre para escolher seus homens! O primeiro uma bicha enrustida, o segundo não conheci, mas o simples fato de ele te largar depois desse tempo todo juntos me faz crer que não conseguiu enxergar quem você é, caso contrário, não te trocaria por outro ou outra. – continuou, me deixando puto com suas afirmações.
- Você deve estar certo! Devo ter um dedo podre para arranjar parceiros. E é justamente por isso que não vou repetir o mesmo erro, caindo na sua lábia. – devolvi, espumando de raiva por ele ter cutucado minha ferida.
- Está cometendo outro erro! Sua opinião pré-concebida e pré-construída a meu respeito está te induzindo a outro grande erro. Está te levando a jogar fora a felicidade de nós dois. – asseverou, com uma petulância que me deu vontade de torcer o pescoço dele.
- Obrigado pelo dia maravilhoso! Boa noite e adeus, Rafael! – disse, seguindo em direção à porta.
- Isso, foge! Foge e se esconde! Foge e enfia a cara num travesseiro e chora suas mágoas! Vou te avisando que não vai encontrar o que procura com essa atitude. – desafiou-me, sem me impedir de ir embora em meio aquele clima carregado.
Senti-me ridículo quando no táxi para o hotel, amparei as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Será que esse cara pode estar certo? Será que não sei reconhecer um homem capaz de me fazer feliz? Ele é que não haveria de ser, um sujeito abominável. Como eu não percebi que o Colin ia me deixar? Devo ser um grande idiota imbecil, só pode ser.
- Vamos lá, não esconda nada, como foi a noitada com o executivo galã, depois de um dia inteiro flanando por aí? – questionou a Sue na mesa do café da manhã, onde todos já estavam quase terminando a refeição matinal.
- Não seja ridícula, não teve noitada alguma! O que faz vocês pensarem que podem se meter na minha vida desse jeito, hein, dona Bertha e agregado? Dando com a língua nos dentes e falando de mim e do Colin para esse sujeito que vocês mal conhecem, posso saber? – despejei, mal-humorado.
- É bom nem responder, ele acordou com o pé esquerdo e está atacado! – exclamou a Bertha.
- Deve ter sido a noitada que não aconteceu, que desperdício! – retrucou a Sue, ainda nutrindo seu tesão pelo Rafael.
- Deixem-no em paz, caralho! Quem decide com quem ele vai para a cama é ele mesmo, não acham? – interveio o Jeremy, mais solidário com os meus sentimentos confusos.
- Ainda bem que estamos voltando a Londres hoje, isso aqui já deu o que tinha que dar. Aliás, deu mais do que deveria ter dado! – asseverei.
Mesmo com uma grande demanda de trabalho no hospital, não encontrei sossego com a minha volta à rotina. O apartamento sem o Colin parecia um deserto árido, as saídas com a galera não me animavam, as palavras do rabugento do Rafael martelavam na minha cabeça.
Londres, sábado, 20 de setembro de 2014 – Fazia cinco semanas que regressei de Luxemburgo. Uma chuva fina caia lá fora, justamente no meu fim-de-semana livre sem plantão. O cenário que vi pela janela não me animou a levantar, a hora do almoço se aproximava e eu continuava na cama folheando uma revista sem muito interesse. Ouvi alguém batendo na porta, embora houvesse uma campainha de som estridente bem junto ao interruptor que acendia as luzes do hall de distribuição. Deve ser um dos vizinhos, pensei. A tal da Margareth que sempre esquece de trazer alguma coisa do supermercado e vai de porta em porta enchendo o saco pedindo emprestado o que esqueceu de comprar. Estava disposto a não atender, mas as batidas na porta se tornaram mais insistentes e, pela força das pancadas, não podia ser a Margareth.
- Oi! – um sorriso se abriu naquele rosto viril sob os cabelos gotejando grossos pingos sobre a jaqueta impermeável; Rafael encharcado com uma mochila à tiracolo era a última pessoa que eu sonhava encontrar diante da minha porta.
- O que faz aqui?
- Posso entrar? – eu havia esquecido completamente meus modos
- Sim. – não estava convicto de estar agindo certo, mas o impacto da aparição ainda não tinha me feito raciocinar direito.
- Surpreso?
- Devo admitir que sim. Como chegou aqui? Quem te deu meu endereço? – eu parecia estar conduzindo um interrogatório, mas já sabendo que as respostas estavam nas línguas soltas dos meus amigos e, deviam datar da nossa estada em Luxemburgo.
- Sua amiga me deu o endereço. Hesitei em te procurar, depois da maneira como nos despedimos no meu apartamento. Só que eu também posso ser um osso duro de roer quando quero. – afirmou.
- Preciso rever minhas amizades! – exclamei sorrindo. À medida que o ajudava a se livrar da jaqueta ensopada, que aqueles ombros largos moldados sob a camisa se revelavam, que ele mais parecia um pintinho molhado com aqueles cabelos revoltos, meu dia parecia ganhar o brilho que o sol desaparecido não tinha conseguido dar.
- Senti saudades! – exclamou ele, usando da mesma tática sutil que havia empregado naquele dia em que planejou me enrabar.
- Quase chego a acreditar!
- Puto!
- Se eu fosse, você não teria ido sozinho para a cama naquele dia. – devolvi, rindo.
- Você sabe que não foi nesse sentido que eu falei. – revidou.
Recusei a proposta do Jeremy de me encontrar com a galera para passar o fim-de-semana com o Rafael, dando uma desculpa qualquer e sem revelar que ele estava em Londres. Seria o mesmo que dar munição ao inimigo. Também não sei o que me levou a dizer para o Rafael dispensar a reserva que tinha feito num hotel e ficar no quarto que inicialmente havia sido do Colin. Muito provavelmente era a falta de um cacete de macho, mas eu não estava disposto a pensar sobre isso. Foi exatamente essa falta de vontade de pesar os prós e os contras que me levou a aceitar sua visita à minha cama no meio da noite.
Ele entrou no meu quarto pé ante pé julgando que eu dormia profundamente. Eu ainda cochilava quando ouvi a porta se abrindo e ele se esgueirando completamente nu com o caralho excitado bem visível. Muito provavelmente tenha sido esse o motivo de eu fingir que dormia, uma vez que já tinha sacado quais eram suas intenções. O Rafael se enfiou debaixo das cobertas e, muito cautelosamente, foi se aconchegando. Há meses eu não sentia um corpão como aquele, quente e sensual, roçando no meu. Fiquei de pau duro no mesmo instante em que senti o dele bolinando minhas coxas. Meu corpo estremeceu ante a possibilidade daquele cacete vir a me penetrar. Eu podia sentir a adrenalina se espalhando pelas veias como se estivesse diante de uma grande aventura, um salto de paraquedas das alturas, um rapel ao lado de uma cachoeira despencando metros e metros num fosso que a névoa mal permitia enxergar, uma descida alucinada em alta velocidade sobre um par de esquis montanha nevada abaixo. A respiração acelerada e um pouco ruidosa do Rafael me dizia que ele estava tão excitado quanto eu. Era essa excitação que o fizera perder a cautela e começar a me encoxar. O fato de eu estar de cueca não diminuiu o tesão dele e, ousado e prudente, ele a puxou vagarosamente para baixo, expondo minha bunda por inteiro. Primeiro senti o toque de sua mão libertina e, em seguida, o do caralho molhado. Propositalmente, me ajeitei sobre o colchão, elevando um pouco uma das pernas, empinando o rabo para dentro da virilha dele, expirando longamente o ar e abraçando o travesseiro. Ele mal podia acreditar que eu estava lhe oferecendo a bunda tão languida e bonançosamente, e forçou a pica dentro do rego apertado. O peito peludo encostado nas minhas costas me permitia sentir o coração dele batendo acelerado. Com pequenos impulsos e meneios sutis, ele fazia a rola aprisionada entre as bandas musculosas da minha bunda roçar sobre as minhas pregas anais.
- Quanto tempo vai demorar até você se decidir a fazer o que veio fazer na minha cama! – perguntei, num sussurro que denotava meu tesão.
- Pensei que estivesse dormindo! Não sabia que estava me esperando. – devolveu, cheio de presunção.
- Uma vez que seu atrevimento não encontra barreiras, por que eu as deveria ter?
- Achei que não me quisesse!
- Ainda estou em dúvida!
- Vou fazer você se decidir já, já!
Com uma das mãos, ele pincelou o caralho ao longo do fundo do meu rego, parou ao sentir meu cuzinho se contorcer na ponta de sua cabeçorra e, agora num impulso vigoroso e potente, meteu a jeba no meu ânus. Soltei um ganido quando a dor lancinante das preguinhas se rasgando deixaram aquela tora atravessar meus esfíncteres. Ao ele entrar no quarto imerso na escuridão, não consegui avaliar com precisão o tamanho daquela jeba; mas sentindo-a pulsar indômita no meu cuzinho, tive a certeza de se tratar de um cacete extremamente grosso, daqueles que rasgam, detonam e dilaceram o que encontram pelo caminho.
- Ai, Rafael! – gemi, conscientizando-o da dor que a penetração me causou e, ao mesmo tempo, da volúpia que sua carne quente incrustada na minha estava me causando.
- Pedro, seu tesudo do caralho! Que rabo apertado é esse? – gemeu ele, junto ao meu cangote, que ele beijava e onde dava chupões marcando a pele alva num frenesi incontrolado.
- Pois é, então vai com calma! – sussurrei, libertino como uma meretriz.
- Pede o que você quiser, menos isso! Estou quase explodindo de tanto tesão, não me peça para ter calma. Eu quero meter minha pica nessa fendinha estreita até o talo, seu tesudo do caralho! – devolveu ele, expressando toda a sua sanha por mim.
Ele foi bruto, mas também foi carinhoso. As duas coisas ora se sucediam, ora se mesclavam, conforme a sua necessidade e seu desejo determinavam. A miscelânea de sentimentos, dor e prazer, decretavam minhas reações. Ora eu tentava escapulir me afastando dele na esperança do caralho sair do meu cu, o que ele impedia apertando seu braço ao redor da minha cintura e me trazendo de volta para junto de sua virilha, ora eu gingava as ancas para sentir a plenitude daquele falo encravado em mim, o que ele aproveitava para bombar vigorosamente meu rabo acolhedor.
Depois de um tempo, ele percebeu que eu não lhe negaria mais nada, que compactuaria daquela luxuria, então tirou a pica do meu cu, volveu meu corpo de modo que ficássemos frente a frente, puxou minhas pernas para cima enquanto simultaneamente as abria, o que expôs meu cuzinho. Encantado pela maneira como ele se contorcia, parecendo que as pregas assanhadas estavam sugando algo imaginário para dentro delas, o Rafael voltou a alojar a cabeçorra na portinha do meu cu. Uma estocada brusca colocou sua rola dentro dele, o que meu ganido confirmou. Os segundos que se seguiram foram de puro êxtase para nós dois, meus esfíncteres sugaram aquele caralho para dentro, progressiva e impudicamente. Ele apenas exercia uma ligeira pressão, e seu falo mergulhou na maciez do meu cuzinho até seu sacão bater no meu rego. Eu estava me dando por inteiro para ele, meus braços envolviam seu pescoço e seu tronco, minhas mãos o acariciavam devotas, e meus lábios retribuíam seus beijos lascivos com uma intensidade que ele jamais esperou encontrar em outro homem. A fusão dos nossos corpos lhe pareceu algo impensável naquela intensidade em que se dava. Eu havia repelido aquele macho tantas vezes que meu ceticismo agora subjugado, mal podia acreditar que formássemos um par tão afinado, tão conectado. Era como se cada curva do meu corpo tivesse sido esculpida para se aglutinar ao dele, como se minha pele e a dele fossem frente e verso da mesma folha de papel, inseparáveis a menos que fosse destruída.
Que coisa estranha era aquela crescendo dentro do meu peito? Paixão? Não, óbvio que não. Uma única trepada não me levaria a sentir nada por aquele sujeito cheio de condicionantes, de ressalvas. Paixão eu senti pelo Colin, paixão foi o que me manteve por seis anos ao lado dele, paixão era a responsável pelo vazio que senti quando ele me deixou. O que era então esse sentimento inusitado que eu estava sentindo por esse macho imerso por inteiro nas minhas entranhas? Eu procurava desesperadamente pela resposta, encarando-o, apontando meu olhar no fundo daqueles olhos verdes, mansos e tranquilos como as águas de uma baía protegida. O que ele me devolvia era tão penetrante quanto o vaivém de sua jeba me estocando as profundezas do meu ser, incisivo, possessivo, apaixonante. Voltei a colar meus lábios nos dele, achando que talvez teria as respostas para as minhas questões. No instante em que os toquei, úmidos e quentes, minha pelve se contraiu e eu comecei a gozar. A porra escorria sobre minha barriga, mostrando que aquele macho não me era tão indiferente quanto eu imaginava, que eu corria um perigo de fazer regelar os ossos, enquanto aquela boca estivesse se saciando na minha. Depois do longo beijo, foi ele que me encarou, sem dizer nada, como se também estivesse à procura de respostas. Deslizei minha mão sobre aquele rosto que repentinamente me fez sentir um calor devastador, ele se retesou todo, me estocou com golpes bruscos, o ar que lhe escapava por entre os dentes cerrados se transformou num urro gutural e gozou. Assustei-me quando aquela quantia imensa de um líquido quente estava sendo ejaculada em mim, pensei que ele estava mijando de tanta porra que escorria para dentro das minhas entranhas. O fluido quente e pegajoso ia aderindo à minha mucosa anal, como se a essência dele estivesse se fundindo comigo.
- Pedro, Pedro, nunca senti nada parecido antes! Que porra é essa que você está me fazendo sentir? Você está me deixando maluco, Pedro! Maluco! – grunhiu ele, dando vazão ao tesão e deixando que seu corpo, seus instintos, falassem por ele.
Não apenas eu estava tirando o atraso de meses de abstinência sexual, pela tara com a qual o Rafael perseguia meu cuzinho, percebi que ele também estava a algum tempo sem meter o cacetão numa fenda acolhedora. Certamente não tanto quanto eu, mas o suficiente para deixá-lo parecido com um garanhão sentindo os aromas do cio de uma égua. Nem minhas pregas rotas e inchadas o impediram de me penetrar diversas vezes durante aquele fim-de-semana. Ele partiu no domingo à noite, exigindo que eu fosse ter com ele dentro de quinze dias em Luxemburgo, me deixando com um demorado beijo e o meu cuzinho todo assado, um tormento que fez do meu início de semana no trabalho um suplício sem tamanho.
Eu estava convencido a não ir ao encontro, tinha jurado a mim mesmo que, apesar da transa ter sido maravilhosa, não era o momento de eu me envolver com ninguém. Minha residência estava há poucos meses do final, embora não tivesse a intenção de voltar ao Brasil, teria que pensar nalguma alternativa de onde exercer a profissão. Porém, quanto mais a data se aproximava, mais tentado eu ficava para ir ao encontro dele. Era inexplicável o que estava acontecendo, eu não queria me apaixonar pelo Rafael, mas queria a todo custo sentir novamente seu membro potente pulsando no meu rabo e aquele esperma cremoso escorrendo na minha mucosa anal. Atração carnal, sexual, é isso, concluí depois de dias ponderando. Essa conclusão simplista me levou a estação de Saint Pancras na sexta-feira após o expediente, embarcar no Eurostar até Bruxelas, fazer a baldeação para um Intercity da Belgian Railways e desembarcar na Gare de Luxembourg cerca de seis horas e meia depois, onde o Rafael com um sorriso que ia de orelha a orelha me esperava sentado em frente a uma xícara de café na cafeteria da estação. O sorriso tinha algo mais do que a satisfação do seu apelo ter funcionado, tinha um quê de vitória, que ele nem tentou disfarçar. Pouco mais de duas horas depois, debaixo da ducha, ele enfiava o cacete sedento no meu cuzinho, iniciando mais um final de semana de pura devassidão e sexo.
Os encontros quinzenais se tornaram frequentes, praticamente um rito que ora ele fazia, vindo a Londres, ora eu, seguindo para Luxemburgo. Era só sexo, dizia e garantia eu, a mim mesmo, enquanto o Eurostar corria a quase 300 Km/h pelos trilhos varando o crepúsculo e me levando para junto do Rafael. No retorno, essa asserção já não se afigurava tão verdadeira e, o responsável por isso era aquele macho intrigante que eu ia descobrindo a cada encontro. Embora eu justificasse minha necessidade de ir ao encontro dele àquela pica maior do que um palmo e devastadoramente grossa, com a qual eu era capaz de ficar brincando por horas à fio depois dele ter fodido meu cuzinho até o deixar todo lanhado; acariciando-a com as pontas dos dedos que percorriam delicadamente a maciça e pesada tora revestida por um emaranhado de veias calibrosas, até a deixar excitada e babando, quando então a colocava na boca e sorvia o pré-gozo viscoso. Ou quando enchia minha mão com o sacão globoso dele, massageando suavemente os testículos volumosos que deslizavam de um lado para o outro abaixo da pele corrugada e coberta de densos pentelhos negros. Aliado ao sêmen tépido e úmido dele, que ainda costumava estar mais presente do que nunca na minha ampola retal, enquanto eu recordava cada minuto que passamos juntos.
O Rafael, diferentemente do Colin, era o tipo de macho hétero que não se prendia a uma necessidade de produzir uma prole. Para ele, as fodas eram destinadas a dar prazer com seu membro portentoso e sentir prazer aconchegado num corpo receptivo, isso lhe bastava. Uma das frases, que por muito tempo não saiu da minha memória quando o Colin terminou comigo, foi aquela em que mencionou que nosso amor nunca produziria frutos, que por mais intenso e verdadeiro que fosse, não lhe garantiria a continuação de seus genes, que ele temia acordar um dia e descobrir que não tinha deixado nenhum legado seu nesse mundo. Ele, sem dúvida, era macho o suficiente para se relacionar com um gay, mas não o suficiente para encarar seu fim sem um propósito maior, o propósito de todo macho, deixar filhos. Foi a primeira e única vez que me senti um ser incompleto, e isso doeu muito, ante o imenso amor que eu sentia por ele. Contudo, meus encontros com o Rafael estavam conseguindo o que eu achei inimaginável alguns meses atrás, diluir tanto esse sentimento quanto a dor que eu carregava no peito.
Continua...