Como imaginei, meu tio ficou impressionado com os trabalhadores que consegui e isso nos rendeu uma volta tranquila pela estrada de terra até a fazenda.
Chegamos tarde, já no avançar da noite, e fomos recebidos pelo capataz com a expressão bastante desgostosa.
- Sinhô, desculpa está te importunando tal hora, mas preciso que me acompanhe.
Não houve mais nenhuma troca de palavras, ele indicou com os olhos uma direção e o seguimos. Lá, a cena não era nem um pouco atraente. Amarrado ao tronco, com as costas abertas e tingidas de rubro, estava um dos escravos da família. Não o conhecia, de fato. Todos os de minha geração já haviam partido, com exceção de Nana.
Mas conhecido ou não, era impossível ficar neutro à situação. Pois a cena, por si só já nauseante, ainda conseguia ser realçada pelo som do riso dos capitães do mato que distribuíam mais chicotadas.
Nunca fui contra o castigo físico, embora fosse incapaz de entender como certas pessoas vissem nele alguma forma de humor. Me contive para não falar e esperei meu tio iniciar a conversa. Não ia tomar a frente so dono da fazenda.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou, menos surpreso do que imaginei. Talvez para meu tio, aquilo fosse algo corriqueiro, algo inimaginável para mim. Pelo menos ao julgar por minhas lembranças de antes de partir para a Europa
- Este escravo, Sinhô. Vimos quando voltou da floresta. Outros 3 escravos fugiram hoje, mas só esse retornou. Obrigamos ele a nos contar o paradeiro dos outros três. Mas ele diz não saber. Com um bom incetivo, nos indicou um bom caminho. Fizemos buscas, e acho que achamos a trilha do quilombo dos malditos.
Essa última frase completou com triunfo.
- Excelente notícia - meu tio pôs a mão em seu ombro. - Sempre imaginei que houvesse um por aqui perto. São muitos os fugitivos destas bandas em pouco tempo.
- A senhora estava falando com a esposa do Coronel Juscelino. - Completou, Venâncio - Ela aguarda o senhor, pois estão organizando um grupo para seguir por essa trilha. Mas pelo que parece, ainda faltam outros dois coronéis chegarem de viagem, para que todos os da região possam se unir para seguir os desgraçados.
- Ótima ideia. Se vamos atacar, melhor que seja com força total. Vou falar com minha esposa. Muito agradecido, Venâncio. Vamos Fabio.
Mas eu não me mexi, antes, olhei para o homem agrilhoado e perguntei:
- E este homem? Acreditam conseguir mais alguma informação dele?
Os homens que chicoteavam pararam, ouvindo que eram citados.
- Acho que ele não tem mais nada a contar, sinhô - Venâncio respondeu com certa cautela.
- Então porque ainda está amarrado e ainda é agredido?
- Estamos apenas garantindo que ele aprendeste a lição, sinhô.
- E com certeza aprendeu. - escarneci - Na próxima vez que ele ou qualquer outro tiver a chance de escapar, não voltarás atrás. Já que aqui não encontrará nada além de dor.
- Não sabia que estava com pena dele, Sinhô.
Apesar de tentar parecer respeitoso, senti o tom de ironia em sua voz. Venâncio poderia ter me desrespeitado em nosso primeiro encontro, quando não sabia quem eu era. Mas ali, eu não permitiria.
- Não que seja de sua conta, capataz Venâncio, as coisas que se passam em minha cabeça. Mas uma vez que me parece que o senhor não sabe administrar seu trabalho, me vejo obrigado a partilhar meus pensamentos. Primeiramente, me responda: qual a intenção dos senhores para com este escravo? Vão mantê-lo? Mata-lo?
Venâncio se aprumou.
- Essa decisão cabe ao sinhô da fazenda.
- Exatamente. E antes mesmo de vocês saberem o que meu tio deseja, se juntam a mutilar um negro forte em em boa idade de trabalho. Que custou um preço elevado para esta fazenda, suponho.
Venâncio titubeou, pensando no que falar.
- Olhem o estrago que causaram. Talvez seja melhor matar de uma vez. E se fosse para isso, que tivessem feito isso rápido então. Pouparia esforços. Além de incitar menos os que ainda estão cativos. - e olhei para Venâncio com desdém - Sei que na cabeça de vocês, o deixar aqui gritando é uma forma de dar um aviso para os demais que anseiam fugir. Querem vencer pelo medo, eu entendo, mas já que vocês os tratam como animais, deveriam saber o que os animais fazem quando se sentem acuados: eles atacam. Não me admira que o número de fugitivos tenha crescido tanto, além do numero de emboscadas a senhores. Não são as ideias da Europa que os estão incitando. Aposto que nenhum deles sequer ouviu falar de Voltaire, Smith ou qualquer outro. O que os incita é a realidade de cada dia.
Fiz uma pausa olhando em torno. Nem meu tio parecia motivado a me responder.
Então, concluí com um pouco de pesar
- Não tinha percebido, mas as coisas mudaram nesta fazenda desde minha partida.
Meu tio nada se atreveu a falar. Apenas fez um sinal para os homens e estes soltaram o prisioneiro .
- Se me permitem um último conselho - completei - talvez seja bom manter esse homem vivo. Uma vez que ele mostrou um pingo de lealdade voltando, quando teve a chance de escapar. Se a surra que lhe deram não lhe tomou toda, seria de bom proveito um pouco de lealdade em tempos em que os, como ele, fogem cada dia mais.
E saí, esperando que minhas palavras tivessem causado o efeito que queria
O fato é que aquela noite me deu muito o que pensar. Nunca havia testemunhado um castigo físico daqueles antes e fiquei pensando se alguma vez ele ocorreu naquela fazenda. Talvez, por sermos jovens, fossemos poupados de tais visões por meus pais e tios. Talvez tudo sempre foi assim, e eu estava cego a realidade.
Não consegui pensar em outra coisa dali nem o bom banho e nem mesmo a visita noturna de Rodolfo me apaziguou. Entre seus beijos em minha nuca, esfregando sua barba em minhas costas, eu tentava esquecer o ocorrido de outrora.
Ele tirou minhas ciroulas e começou a beijar o orifício, quando enfim percebeu que eu ainda estava distante.
- Aconteceu algo na ida na cidade?
Parou, oslhos azuis preocupados. Mesmo com a boca alojada em meu ânus, ele conseguia fazer um olhar de inocência e pureza. Algo que me arrancaria risadas, se a noite não estivesse tão pesada.
- Não. Foi ótima. Apenas o retorno que me trouxe surpresas desagradáveis.
- Vejo que está inteirado nos últimos assuntos, pelo menos.
- Sim... Rodolfo... Quando estive na Europa, uma vez você me escreveu que participara de uma excursão contra um Quilombo de escravos, junto de seu pai e outros coroneis...
Rodolfo não falou. Ficou de joelhos na cama, sério.
- Lembro que... - continuei - pela sua carta... Você ficou perplexo com o que viu e... Você foi... Bastante econômico nos detalhes, para ser franco
E ri, seco.
- Você não vai querer saber o que vi lá
Suas palavras foram de uma sinceridade sombria e eu logo sabia que ele tinha razão.
- O que você acha disso tudo?
- Como filho de Coronel, tenho meus deveres. Embora muitos não me agradem.
- Entendo
Ficamos em silêncio. Ambos nus, mas o desejo já havia se esvaido.
- Se quiser me perguntar qualquer coisa, pode fazer... Mas creio que não quer conversar ainda - deduziu, com um meio sorriso
- Você me conhece tão bem.
- Tudo bem, primo. Vou te deixar sozinho então. Se quiser conversar, sabes onde me procurar.
E me deu um beijo no rosto antes de se levantar e vestir. Admirei aquele corpo forte mais uma vez antes de o acompanhar até a porta do quarto.
Voltei para a cama, mas o sono me escapou. Então, liguei a luminária e peguei um bom livro.
O que ajudou. Não senti a hora passar. Embora pouco tenha ajudadl a trazer Morpheu aos meus braços.
Foi quando ouvi a porta bater.
Curioso, levantei, vestindo apenas a calça. Ao abrir a porta, me surpreendi ao ver Isaque.
- Desculpe, senhor. Vi a luz pela fresta e vim ver se ainda estava acordado.
- Sim - sorri - o sono me escapou esta noite.
- Eu poderia lhe ajudar com algo?
- Bem. Tem a bandeja do lanche que consumi agora pouco. Se quiser levar
E abri caminho. Isaque entrou, fechando a porta atrás de si. Eu me sentei novamente na cama quando o vi em pé me olhando.
- Quer perguntar mais alguma coisa, Isaque?
Ele não respondeu, foi calmamente desabotoando a camisa, o colete, soltando peça por peça e as deixando cair ao chão.
Eu ia pedir para que parasse, mas seu corpo nu era uma visão demasiadamente agradável para eu conseguir interromper assim tão de supetão.
Isaque tirou a calça, as botas e ficou ali, nu em pelo, pele negra iluminada apenas pelo fogo da luminária. Órgão grande, grosso e duro como um tronco de madeira
Ele se achegou, sentou ao meu lado, olho no olho, e pôs a mão em meu volume.
- Isaque... Obrigado, mas... Hoje não estou com desejos. Obrigado por tentar, mas meus problemas são outros.
- Me falaram o que o senhor fez esta noite - ele me ignorou, falando baixo e com educação - Mesmo aqui, onde os senhores nos tratam bem, não é comum alguém como o senhor. Defender um escravo traidor. Sentir compaixão por ele
- Não me entenda mal - tentei rir - eu apenas sou um homem da razão. Não gosto de ver esse tipo de atitude irracional...
Mas ele pôs a mão no meu rosto com delicadeza e eu parei de falar.
- Mesmo assim, sou muito grato ao senhor. Aquele escravo, Murilo... É meu irmão. Meu e de Isabel. Nascemos nessa fazenda. Somos filhos de Nana.
- Eu... Eu não sabia.
De fato eu lembrava que nada havia tido filhos, mas nunca soube do paradeiro das crianças. Dizia. As más linguas que uma ou mais daquelas crianças eram filhas de meu tio. Algo nunca confirmado por Nana ou qualquer outro.
Lembro de Nana, sempre trabalhadora, sempre cantando. E então fiquei pensando o que seria ter todos seus filhos tomados de si de uma vez.
- Mas como vocês voltaram aqui?
- O senhor Rodolfo nos comprou de volta. Nós três. Contrariou seu pai e exigiu nossa presença de volta nesta casa. Nos deu funções que não exigiram desgaste físico... Fazemos as tarefas da administração e... Alguns serviços a mais - e sorriu sem jeito - Mas sou muito grato a ele... Pois assim conseguimos ficar perto de nossa mãe.
Eu sorri.
- Por isso peço, por favor, que não tome raiva de meu irmão... Ele é bom... Ele só... Ele só... Se deixou envolveram demais com as coisas que os jovens tem falado. Ele é esperto, estudou, mas acho que ainda não entende como o mundo funciona.
E riu sem jeito.
- Jamais tomaria raiva de seu irmão. Nem nenhum de vocês.
- O senhor é bom - falou, emocionado - Sei que não posso te oferecer nada. Mas deixe pelo menos mostrar a minha gratidão, por favor.
- Isaque. Melhor...
- Por favor. Não me humilhe, desprezando minha gratidão. Por favor senhor... Deixe fazer isso, uma vez, porque quero, porque desejo, e não porque fui mandado.
Fiquei sem palavras. Algo extremamente raro para alguém como eu.
Então, soltei sua mão e o deixei puxar minha calça, deixei pegar meu órgão e levar a boca, e sugar tudo fazendo eu me contorcer de prazer.
Tentei não gemer, pois não queria fazer barulho. Apenas me mantive firme, respiração forte, enquanto sua boca sugava meu órgão, apertando e massageando toda a região.
Isaque então subiu em minha cama, abrindo as pernas e sentando em meu colo, de frente pra mim. Pegou meu pênis e encaixou em sua entrada, descendo devagar e encravando-me dentro dele. Meu membro deslizou graças a saliva.
Devagar, ele gingou por cima de mim, fazendo aquela bunda farta e musculosa espremer e envergar meu pênis. Olhava para ele e Isaque me olhava com desejo.
Já me deitei com muitos escravos, e apesar de gostar de seduzir, de não me conformar em transar com eles apenas pelo uso da força, hábito comum a grande maioria dos fidalgos, sempre ficava àquela dúvida a respeito da real situação do escravo. Se ele estava se sentindo atraído, ou apenas obrigado. Se havia desejo de sua parte ou apenas obediência.
E naquela noite, eu não tive dúvidas. Isaque me olhava de um jeito. Um jeito que eu reconheci como sendo igual a forma xomo Rodolfo já me olhava. Seus músculos rigidos ,iluminados pelo fogo. Os mamilos eretos como gostava de ver nas mulheres com quem dormia, pois eram os medidores de seu prazer, uma vez que não tinham pênis como os homens onde o resultado era mais fácil de notar
E ali embaixo, roçando em minha barriga, aquele pau enorme e duro, que babava a cada vez que ele descia seu corpo e penetrava meu órgão entre suas nádegas.
Ficamos em silêncio. Olhando o rosto um do outro. Não fiz nenhum movimento, deixando Isaque livre para fazer o que bem entendesse. Situação oposta a relação habitual de um senhor e de um escravo. Só me mexi quando senti o gozo chegando.
Nesse momento, quis partillhar o momento e peguei em seu órgão.
Isaque se assustou, e antes que se desse conta, já estava gozando em cima de mim. Meu toque era tudo o que ele precisava para destruir seu fragil autocrontrole. Gostei de ver o líquido branco e farto cair em mim, enquanto eu despejava o meu em seu interior.
- Desculpe senhor. Não quis lhe sujar
- Tudo bem - o acalmei.
Isaque se levantou e pegou um pano para me limpar. Depois, se vestiu. E saiu, levando a bandeja que pedi. Estava visivelmente constrangido. Como se pela primeira vez em muito tempo, estivesse vulnerável, exposto. O acompanhei, com o olhar, sorrindo carinhosamente, achando graça de sua súbita vergonha. Como se enfim tivesse se lembrado dos locais que ocupavamos e assim, se sentir constrangido por ter sido tão ousado comigo.
Antes de sair, ele sorriu pelo portal e acenou.
- Boa noite, senhor - e fechou a porta.
Eu então apaguei a lamparina e me deitei. O sono veio fácil a partir dali.