Esta é a quinta parte da história. Recomendo que leiam antes as quatro outras partes para compreender melhor.
Os dias se passaram e a rotina foi cobrando os seus preços, amoldando os corpos, exigindo os ajustes necessários à vida em conjunto. Eu, por uma necessidade particular, já não me mantinha todo o tempo desnudo. Às vezes, vestia uma bermuda, uma camiseta e ia caminhar no parque, precisava respirar a natureza e sentir o horizonte se ampliar para muito além das paredes da casa. Às vezes, a minha filha caminhava comigo e, quando voltávamos, o simples ato de nos despirmos e tomarmos banho em conjunto era uma espécie de festa consagrada a todos os prazeres do corpo e da libido. Outras vezes, eu caminhava sozinho e, quando chegava, a minha pequena fazia questão de despir-me e sentir o calor do meu corpo ainda suado. Cheiro de macho, ela dizia, antes de me desfazer em beijos e carícias sexuais. Suado, o corpo deslizava melhor, ela dizia. Eu era o seu homem, o seu objeto de prazer, e gostava disso.
Uma tarde, porém, eu cheguei do parque e ela não estava na sala para me receber. Estranhei a mudança, e não falei nada. Os dias se passaram e os nossos banhos em conjunto foram se arrefecendo, até terminarem por completo. Certo dia, eu cheguei em casa, tirei a roupa da rua, como medida sanitária contra a pandemia, tirei a roupa de baixo, em nome do acordo que fiz com minha filha de que deveríamos viver o nudismo integral, lavei as mãos, e, ao invés de entrar logo no chuveiro, fui em direção ao quarto da minha pequena.
Sem bater na porta, eu a encontrei conversando numa videoconferência com a sua amiga íntima, a Ângela. Uma situação estranha foi criada naquele momento. Ela estava nua, conversando com a amiga, enquanto eu, também despido, adentrava no seu quarto. De imediato, o meu corpo se retraiu, procurando um refúgio, um esconderijo. A minha filha desligou a câmera, despediu-se da amiga e percebeu que precisava conversar comigo. Um pouco desconfiada, ainda com medo de ser repreendida, ela resolveu ser direta, sem subterfúgios:
– Pai, a Ângela sabe que somos nudistas. Eu contei para ela.
Na hora, fiquei estático, procurei repreendê-la, reclamei:
– Filha, você não tem o direito. É a nossa intimidade. O nosso acordo de vivermos em conformidade com as exigências sociais. Como vou poder confiar em você? Isso é uma inconsequência. Você sabe o que pode acontecer se os outros ficarem sabendo? Faz ideia? E o meu emprego? E a nossa vida social? Deseja que eu seja o pai pervertido que vive pelado junto com a filha adolescente em casa? É isso que deseja?
– Calma, pai, eu sei o que faço. A Ângela jamais contaria, eu também conheço os segredos dela. Ela é a minha melhor amiga. Calma!
– Você é uma adolescente inconsequente, isso sim.
– Você é que é um liberal enrustido e hipócrita. Eu sei do seu passado com a mamãe. Eu sei de tudo. Por que acha que te contei as minhas vivências mais intimas? Contei, porque sabia que você aceitaria.
– Do que você está falando?
– Eu tinha sei anos, pai, e você e mamãe me levavam para a praia de nudismo. Já esqueceu. Eu tinha seis anos, era inocente, mas não era cega. Eu via vocês, sempre íntimos de um casal de amigos, e percebia que existia algo mais forte do que uma simples amizade. Eu percebia, mesmo sem entender. Enquanto eu e Géssica fazíamos castelos de areia, vocês se entretinham nos castelos eróticos de vocês. Eu lembro que sempre mandavam a gente ir brincar na praia, e mantinham uma distância de nós. Agora sei que aquilo não era casual. Às vezes, eu te chamava e você demorava para vir, entretido com outras coisas. Você dizia: “Brinque com sua amiguinha, o papai já chega”. E lembro que as suas chegadas demoravam uma eternidade. Hoje, eu sei que você tinha, na época, brincadeiras bem mais divertidas que as minhas.
Ao escutar tudo aquilo, percebi que a minha filha sabia muito mais do que eu suspeitava. Não fazia ideia que, mesmo sendo tão pequena na época, ela tivesse a capacidade de rememorar o passado e juntar tantas coisas. Tinha apenas seis anos, não seria capaz de fazer essas associações sem que houvesse um gatilho no presente que despertasse as lembranças para aquilo que havia ficado perdido na penumbra do olhar infantil. Desconfiei que ela me escondia algo e resolvi negar a relação liberal que havia tido com sua mãe, precisava de pistas. Falei:
– Você está inventando coisas. Éramos apenas casais de naturistas nos divertindo na praia, junto com os filhos pequenos. Se não fosse assim, todo naturista também seria adepto do sexo liberal. E você sabe que isso não é verdade.
– Pai, você está sendo hipócrita. Hoje, relembrando o passado, recordo que mamãe gostava de ficar de pernas abertas, mostrando a xana para aquele casal de amigos. Você vai me dizer que isso era apenas naturismo?
– Sua mãe nunca teve problemas com o corpo, ela simplesmente não ligava. O ambiente naturista permitia esse tipo de descontração. Nada fora do comum. Sua mãe não era a única a ficar de pernas abertas numa praia de nudismo.
– Eu vi as fotos, pai. Vai negar as fotos também. Elas mostram você e mamãe transando com um outro casal. Vai negar isso também?
– Era isso que eu queria que você confessasse. Andou mexendo nas minhas coisas sem me consultar. Como conseguiu abrir a gaveta da mesa do escritório? Como conseguiu a chave?
– Não precisei conseguir. Um dia, você chegou bêbado em casa, abriu a gaveta e esqueceu de fechá-la. Vi que lá dentro tinha um disco e um pendrive. Levei para o meu quarto, salvei os arquivos, devolvi o material para o escritório e comecei a investigar a minha nova descoberta. Fiz tudo isso sem que você percebesse e fiquei chocada ao perceber que possuía pais bem diferentes de tudo aquilo que eu havia imaginado. Fiquei, realmente, sem chão. Haviam fotos de vários casais, indicando que as aventuras de vocês não haviam se reduzido aos amigos da praia de nudismo. E, mais do que as fotos, encontrei vários textos seus e de mamãe, ela narrando, em detalhes, alguns acontecimentos. Num dos textos ela afirma que o sexo com dupla penetração transformava o corpo dela numa espécie de gangorra, em que os dois parceiros precisavam encontrar o ritmo certo das penetrações. Uma gangorra em que, enquanto um retirava o membro, o outro precisava adentrar ainda mais fundo, ocupando o vazio que o primeiro parceiro havia deixado. Você quer que eu conte mais detalhes? Vai negar tudo isso também?
– A minha intenção não era negar nada. Apenas blefei para que você me contasse toda a verdade.
– Então conseguiu, está aí a verdade que você queria. Satisfeito?
A minha filha disse tudo isso, visivelmente irritada. Fez um gesto, indicando que iria sair, fugir do incômodo que a minha presença tinha se tornado, mas eu a segurei pelos braços. Coloquei-a do meu lado, no sofá, e clamei:
– Por favor, não vá. Não antes que acertemos as coisas. Você disse que ficou sem chão quando viu tudo aquilo. O que pensou? O que sentiu? Por que ficou sem chão?
– Já faz dois anos, pai. Eu tinha apenas dezessete anos, quando descobri tudo. Você, depois da morte de mamãe, se fechou numa espécie de casulo. Não falava de sexo comigo. Eu tive que descobrir por mim mesma. Quando vi aquelas fotos, senti uma imensa vergonha de vocês. Comecei a achar que minha mãe era uma puta, uma vadia, e você um pervertido. Fiquei um tempo sem falar com você, lembra? Dizia que eram as enxaquecas. A verdade é que não eram. Precisava digerir todas aquelas informações. Compreender aquilo tudo. Foi difícil para mim.
A minha pequena se encostou no meu colo e começou a chorar. Comecei a aninhá-la nos meus braços, acariciá-la, limpar suas lágrimas, e a me sentir culpado. Talvez ela tivesse razão. Eu era um hipócrita. Por medo ou por trauma, eu havia omitido dela toda uma série de percepções e vivências, como se elas não tivessem existido. Confessei:
– Quando, há cinco anos, a sua mãe morreu de câncer do colo do útero, uma doença provocada pelo vírus HPV, a origem sexual daquela doença abalou por completo as estruturas do meu passado liberal.
Continuei acariciando a minha menina, e tentando organizar os meus pensamentos:
– Eu sabia que aquela era uma das doenças sexuais mais comuns, e que milhões de mulheres no mundo a possuíam de forma assintomática, sem que para isso precisassem ter uma vida sexual muito ativa. Mesmo assim, o luto, a culpa, juntamente com uma educação católica rigorosa, tudo isso deve ter se mesclado ao meu inconsciente, fazendo com que eu me fechasse como uma ostra. Agora, eu sei que preciso acertar-me com o meu passado liberal. Preciso aceitá-lo como parte de mim e daquilo que eu e sua mãe fomos. Nós formávamos um belo casal. Mas eu me senti tão culpado... A morte dela foi um castigo tão repentino... E agora os teus sofrimentos... Eu não sabia... Eu não pude te ajudar... Me desculpa.
Agora, era a minha vez de chorar e deixar que a minha filha me consolasse. Ela começou a beijar-me no rosto, a enxugar as minhas lágrimas e a fazer com que eu me acalmasse com a ternura de beijos ternos e macios que percorriam devagar todo o meu corpo. Segurando-me pelas mãos, levou-me até o chuveiro. Falou:
– Desde que chegou, você ainda não tomou banho. É melhor se banhar, assim vai relaxar e escutar melhor o que tenho para lhe contar.
– Sinto saudades de chegar do parque com você e nos banharmos juntos. Quando foi que você se desinteressou por mim.
– Deixa de drama, pai. De noite ainda transamos. Fazemos sexo quase todos os dias. Apenas vão surgindo novos interesses, apenas isso.
– Como a Ângela? Você está interessada nela?
– A Ângela é um capitulo a parte. Depois falo dela, mas não quero namorar com ela. A Ângela é como se fosse uma irmã para mim. É a minha melhor amiga. Pai, agora para de falar, vamos para o banho.
– É a sua melhor amiga, mas você já fez sexo com ela, várias vezes. Ela até já chupou o seu cuzinho e colocou dedinhos lá, fazendo você perceber que gostava do sexo anal.
– Pai, esquece isso. Deixa de ciúmes, e vai logo para o banho. Eu vou te explicar tudo, você vai entender.
– Eu estou com ciúmes mesmo. Não quero te perder para aquela Ângela.
– Não vai me perder. Prometo que não vai me perder. É tudo muito diferente do que você pensa. Agora, já para o banho. Você está fedendo. É uma ordem.
A minha filha começou a dar fortes tapas na minha bunda e a falar com um tom mais firme, fazendo com que eu me dirigisse até o box e ligasse o chuveiro. Com um sorriso maroto, ela começou a repetir:
– Isso mesmo, bom menino. Obedeça a sua filhinha, ela sabe das coisas.
Ela repetia isso e começava a me ensaboar, como uma mãe faria com o seu filho pequeno. Pegou um pouco de shampoo, passou no meu cabelo, mandou-me fechar os olhos, e foi massageando os meus cabelos, encostando o seu corpo no meu. Depois, ligou o chuveiro, ajudou-me a tirar o sabão, enxugou-me com a toalha e segurou no meu membro para sentir como ele estava duro. Apertando o meu órgão com as mãos, a minha pequena falou:
– Nada de sexo agora, seu safado. Agora, sou eu que dou as ordens por aqui.
Ela dizia isso como se falasse com o meu pênis. Ela usava do sexo e da sua sedução para ficar por cima de uma situação que ela mesma havia causado. Eu não esquecia da Ângela e do descumprimento do nosso acordo. Toda a discussão havia começado com aquilo. O banho havia me aliviado e agora eu conseguia pensar um pouco melhor. Por isso, inverti o jogo:
– Nada de sexo agora, realmente. Nada de sexo e de nudismo até você me explicar tudo que está acontecendo.
Passei a dar umas tapas nas suas nádegas e na sua xoxota lisa e depilada. A minha pequena riu e respondeu:
– Escute a sua filhinha, ela sabe das coisas. Eu vou te explicar tudinho.
Ela precisava me contar muitas coisas. Como havia lidado com a descoberta de que eu e sua mãe éramos tão liberais. As centenas de páginas dos relatos sexuais que eu escrevia em conjunto com sua mãe eram muito tórridas e, claramente, haviam deixado a minha pequena desnorteada. Eu precisava descobrir como ela havia superado tudo aquilo. Precisava entender a origem da sua sexualidade tão determinada. E necessitava saber também porque ela havia descumprido o nosso acordo e revelado a nossa vida íntima para a sua amiga, colocando as nossas posições sociais em perigo.
Decidi que precisava mostrar que as coisas estavam tomando um rumo bastante sério. Fui ao guarda-roupa, coloquei as primeiras vestimentas que encontrei e direcionei-me para a mesa da sala, afim de que conversássemos. Ela estranhou e protestou:
– Vai descumprir o nosso acordo de nudismo integral dentro de casa?
– Você é que começou descumprindo. Ou me dá um bom argumento ou então estará tudo terminado entre nós. Mesmo gostando muito da nossa intimidade, decidi que ela não pode colocar nossas vidas em risco.
– Tudo bem, não fique pelado, se não quiser. Mas eu acho que não me acostumo mais a viver completamente vestida. Você está sendo infantil.
– Estou? Por acaso fui eu que propus um acordo e depois rompi com ele na primeira oportunidade.
– Está sim. Você não está me dando oportunidades de explicar tudo.
– Então, explique.
– As palavras precisam ter um terreno fértil para poderem germinar. Se não confia em mim, não precisa mais de explicações. A roupa, nesse caso, significa um fechamento. Vai voltar a ser a ostra fechada de antes? Vai se esconder de novo num casulo? É isso que deseja?
Resolvi ceder. Tirei a roupa. Aproximei-me dela. Olhei nos seus olhos e pedi:
– Por favor, minha filha, conte-me tudo.
Ela devolveu-me o olhar, segurou nas minhas mãos e começou a explicar-se:
– Quando vi aquelas fotos, senti-me completamente enganada. Após a morte de mamãe, você se tornou um pai muito fechado. Falava pouco, deixava-me sair só depois de algum custo, inqueria sobre os meus amigos, com quem eu andava. E, então, deparei-me com aquelas fotos e diários íntimos, não entendendo, absolutamente, nada. Afinal, quem era você? Como poderia querer ter uma filha certinha, se era na verdade um depravado e mamãe uma puta que dava para dois homens ao mesmo tempo?
– As coisas não eram dessa maneira...
– Calma, deixa eu continuar, hoje eu sei que não eram bem assim, mas na época não fui capaz de entender. As orgias de vocês me revoltaram. E só quando eu conheci a Ângela é que passei a entender as coisas melhor. Foi ela quem me mostrou que eu estava vendo as coisas pelo ângulo errado. Lembro dela dizendo o seguinte: “Bia, o diário íntimo dos seus pais têm centenas de páginas e você busca, primeiro, as páginas secretas, o sexo, as obscenidades. Você deveria fazer o contrário. Deve buscar primeiro as páginas que falam de afeto, de ternura, dos sentimentos que seus pais sentem por você, daquilo que eles sentem entre si. O sexo vem depois, é consequência”. Então, fiz o que Bia me disse. Procurei as cartas de amor, as páginas que falavam de afeto, as reflexões suas e de mamãe, e pulei todas as obscenidades. Numa das suas confissões, mamãe procura explicar que a verdadeira traição não tinha nada a ver com a sexualidade e sim com a ausência de confiança. Ela dizia: “Mentir, enganar, é uma forma de esconder a própria fragilidade, é não mostrar o rosto, as inseguranças, os medos. Sexo consentido nada tem haver com enganação, é pura fantasia, mar de sentimentos, alegria do corpo e da alma”.
– Sua mãe dizia coisas lindíssimas.
– Sim, dizia, e não só mamãe. Você também me ensinou muito. Num dos seus textos, você diz o seguinte: “o amor está muito mais no ato de compartilhar o mais íntimo de si do que no ato sexual puro e simples”. Então, fazendo o caminho inverso, começando pelas reflexões e sentimentos, eu fui entendendo as explosões de sexualidade que emanavam do corpo de vocês dois e comecei a concordar com o que antes me parecia uma imensa obscenidade. Mas eu não teria feito nada disso, pai, se não fosse a Ângela. Os conselhos da minha amiga surgiram numa sexta-feira em que ela veio dormir aqui em casa. A minha amiga trouxe uma garrafa de vodca escondida na mochila. Ambas esperamos você dormir e começamos a beber, misturando Orloff com refrigerante. O poder do álcool nos libertou e contamos tudo o que sentíamos sobre os nossos malditos pais. Éramos adolescente e precisávamos nos libertar.
– Não sabia que eu era um pai tão ruim... tão...
– Calma, deixa eu continuar. Eu mostrei alguns textos seus para a Ângela, eu tinha até impresso algumas coisas, e, não sei como, ela simpatizou com o que você escrevia. Percebeu, em alguns dos seus últimos escritos, o seu sentimento de culpa, alguns dos seus complexos e a sua preocupação comigo. Disse que você era apenas mal resolvido, traumatizado pela morte da mamãe, mas que tentava ser um bom pai. E começou a falar que ela é que estava na fossa. A mãe dela bancava a certinha, mas era uma verdadeira filha da puta. Havia arranjado um homem rico, um fazendeiro, e, mal esse sujeito entrou na sua casa, começou a assediá-la diariamente. O homem nem ligava para o fato dela ser apenas uma adolescente. Na verdade, era isso que o atraia. A Gê demorou para desenvolver o corpo e, mesmo aos 15 anos, ainda tinha cara de menina. O cúmulo foi no dia em que ela acordou e percebeu que o filho da puta a estava bolinando. Acordou sentindo a mão nojenta dele dentro da sua calcinha, um dedo inteiro enfiado na sua xoxota. Acordou e deu um grito. A mãe dela surgiu no quarto e ela contou tudo. Foi inútil. A mãe preferiu acreditar nos argumentos de quem a agradava com joias, beijos e dinheiro. A culpa era da Gê que dormia de forma indecente, só de calcinhas. Sem querer, seu marido tinha tocado no seu corpo, e ela se assustou. Havia acontecido apenas isso e nada mais. A Gê é que era muito escandalosa.
– Coitada dessa menina. Ela não tem nenhum parente: tio, avô?
– Não, pai, a mãe é portuguesa e veio para o Brasil ainda muito jovem. A mãe é professora e, há 19 anos, apaixonou-se por um mulato eletricista que acabou falecendo num acidente de trânsito. Por isso, todos os parentes de Gê moram em Portugal e, a família do pai, ela nunca a conheceu. A minha amiga não tem ninguém. E tudo piorou na quarentena, pai. O padrasto tem transformado a vida da Gê num verdadeiro inferno, com todo tipo de ameaças. Um dia desses, o padrasto chegou a beijá-la a força, enquanto a mãe fazia compras num supermercado. Não sei quanto tempo a minha amiga vai resistir a tudo isso. Foi por isso, pai, que eu resolvi começar a contar a verdade para ela, falar que éramos nudistas. Quero que a Gê venha morar conosco.
– Aqui, conosco? E a nossa relação íntima, e se ela descobrisse?
– Eu e a Gê, na época em que eu estava com raiva e me sentia enganada, lemos todos os textos seus e da mamãe. Ela sempre vinha dormir aqui na sexta-feira com uma garrafa de vodca escondida na mochila. Você não percebia nossa ressaca, porque trabalhava no sábado pela manhã e nunca estava presente quando acordávamos. Bebíamos e liamos juntos as centenas de páginas eróticas que vocês haviam escrito. Depois, ficávamos vendo as fotos de vocês pelados. A Gê te admirava, queria ser como vocês dois, e falou que não poderia ser a sua filha e nem da mamãe, tamanha a atração que ela sentia pelos relatos e imagens de você dois. Foi por isso que...
– A Gê sabe da nossa relação incestuosa?
– Sabe. E acha tudo incrível. Ela sabe que fui eu que te seduzi.
– Então, ela seria nossa amante, é isso que você propõe?
– Não, pai. Isso é uma escolha dela. A Gê sempre foi bissexual. Mas, por conta do padrasto dela, tem sentido cada vez mais repulsa pelos homens. Confessou-me que só o fato de ver um corpo peludo, uma mão peluda, ela já sente uma imensa repulsa. Lembra do filho da puta do padrasto, em cima dela, tentando tirar suas roupas, violentá-la. Acho que, por isso, a Gê nunca transou com um homem.
– E o nudismo, vamos abandoná-lo, quando ela chegar?
– Acho que não. Ela falou que concordaria. Disse que não tinha vergonha do próprio corpo. Ficou até animada em saber das minhas novidades. Disse que morria de inveja de mim.
– E a repulsa por homens peludos?
– Você não é muito peludo e sei que não vai assediá-la. Então, acho que isso ela pode superar. E, qualquer coisa, eu tenho cera quente aqui em casa. Nós duas poderíamos te ajudar a se depilar. Além do mais, a Gê tem a minha idade e nós duas estamos cursando direito na mesma universidade.
– Serei um pai incestuoso com duas advogadas dentro de casa?
– Sim, e nós duas vamos sempre te defender.
– Tudo bem, vai fazer o que você deseja. Telefona para a Gê e diz que ela já pode ir arrumando as malas. A partir de agora, seremos três.
Caros leitores, não esqueçam de deixar seus comentários e de nos brindar com três estrelinhas. O comentário de vocês é essencial para nos motivar a continuar com as nossas histórias.