No meio do silêncio, surgiram ruídos, vozes, “vá embora, não se aproxime”. Acordei, e vi que, no canto da cama, Gê se retorcia, pálida, assustada. “Vá embora, não se aproxime”, o corpo de Gê movimentava-se desnudo, os braços formavam uma cruz, as mãos estavam fechadas, ela tentava se proteger. Numa postura defensiva, Gê havia se tornado um animal acuado, amedrontado, deparando-se com um perigo eminente.
Acordei a minha filha, que estava ao meu lado, no centro da cama, e ambos fomos em direção a sua amiga. Precisávamos acordá-la, retirá-la do inferno, salvá-la do padrasto estuprador que, uma vez mais, desejava cravar nela as suas mãos peludas de monstro. A minha filha começou a balançar o corpo da amiga e a dizer:
– Gê, acorda, acorda. É só um pesadelo, um sonho ruim, acorda.
Gê acordou, tremendo. Vendo a presença da minha filha, ela sentiu-se aliviada. Nós três nos abraçamos e Gê começou a chorar. Fui, então, em direção à cozinha e trouxe um copo d’água. Em soluços, ela começou a nos relatar os seus sofrimentos:
– Mais de uma vez, aquele homem calvo e peludo se aproximou de mim. Mais de uma vez, ele se aproveitou do fato de eu estar dormindo para tocar-me. Era repulsivo. Eu acordava, e lá estavam as suas mãos nodosas de monstro. Na primeira vez, eu gritei e a minha mãe negou os acontecimentos, preferindo me culpar. Eu é que era a adolescente rebelde e indecente. Na segunda, as mãos daquele homem me calaram e depois se afastaram na escuridão da noite...
– Desculpe, amiga, mas a sua mãe é uma grandessíssima filha da puta – interrompeu Bia, sem conseguir se conter.
Gê concordou e continuou:
– Assim que amanhecia, o meu padrasto estava calmo na mesa da sala, tomando o seu café, como se nada tivesse acontecido. Mesmo antes de acordar e lavar o rosto, no caminho do banheiro, eu tinha que cumprimentar aquele homem, se não quisesse escutar as censuras da minha mãe. Não suportava vê-la aparecer e perguntar, numa inquirição constante, “você deu bom dia ao Alberto, cumprimentou ele?”. Então, acho que apenas eu percebia que, por trás dos modos civilizados e gentis daquele fazendeiro, existia uma violência escondida, um crime, uma coisa inominável. Assim, eu dormia de noite com medo e, pela manhã, cumprimentava o meu algoz...
– Nossa, Gê, não sei como você aguentava – exclamou Bia.
– Fiz tudo para escapar daquela situação – Gê continuou. – Contei tudo a minha mãe, mas ela nada fazia. Sempre defendia o Alberto, dizendo que ele possuía dois lados e não fazia aquelas coisas por mal. Tinha traumas de infância, coisas que ele não controlava. Passou um tempo e ele deixou de aparecer. Mas eu sabia que sempre me espreitava. Passei a viver com a porta do quarto trancada. A minha mãe reclamava, insinuava que eu pudesse estar fazendo coisas erradas, falava do cheiro de mofo do quarto, mas eu permanecia trancando a porta. Então, um dia, procurei a chave e não encontrei. Procurei por toda a casa, e nenhum vestígio dela. Nesse dia, a porta do quarto permaneceu aberta e, por isso, a insônia me venceu. Como teria prova de matemática no dia seguinte, tive que pegar um dos remédios que a minha mãe usava para poder conseguir dormir. Mesmo apreensiva e com muito medo, a madrugada e o remédio fizeram o seu efeito. Eu adormeci. Às cinco da manhã, no raiar do sol, escuto um barulho e acordo. Na minha frente, ao lado da porta, vejo o Alberto completamente desnudo, um vulto que some no exato momento em que me vê despertar.
– Amiga, que homem nojento, que horror! – disse Bia, chocada com tudo aquilo.
Gê fez uma pausa, visivelmente abatida. Para consolá-la, eu e a minha filha seguramos nas suas mãos e acariciamos o seu rosto. Aos poucos, ela foi conseguindo forças para prosseguir:
– Não sei o que aconteceu. Toquei na minha xoxota e vi que ela estava pegajosa, como se alguém tivesse colocado lubrificante nela. Era um cheiro de plástico, de hortelã. Não havia sêmen. Mas, com certeza, algo havia sido feito e, por conta do remédio para dormir, não acordei na hora. Não sei o que o cafajeste fez comigo. Quando relatei o fato para minha mãe, ela disse que o marido havia errado de porta quando estava procurando o banheiro. Foi, por isso, que eu o havia visto nu. Ter errado de porta e colocado lubrificante na minha buceta? Enfim... é tudo um absurdo.
A história de Gê, realmente, acabou por me sensibilizar. Olhei para ela e falei:
– Gê, se você quiser, acabamos com toda essa história de nudismo em família e você pode trancar a porta quando quiser ou dormir no quarto da Bia como se fosse seu. Quero que você seja feliz na nossa casa e saiba que aqui não vai acontecer nenhum tipo de abuso.
Gê olhou para mim rindo e respondeu:
– Seu Álvaro, posso ter sido violentada, mas não sou uma puritana. Adoro o nudismo e gosto muito de sexo.
Começamos a rir. E Gê comentou:
– Até hoje nunca fiz sexo de forma consentida com um homem. Mas não sou virgem.
Bia, então, falou:
– Não confunde as coisas, pai. Gê já teve muitas namoradas. Eu e ela até já brincamos com alguns consolos. Gê não tem nada de virgem e indefesa. Ela sempre foi bissexual. Mas o filho da puta do padrasto dela fez ela sentir uma certa repulsa por homens peludos.
Concordando, Gê complementou:
– É isso mesmo, seu Álvaro, eu continuo completamente bissexual. E acho que não preciso explicar os motivos da minha repulsa.
Vendo a maneira séria como ela me tratava, tive que corrigi-la:
– Gê, por favor, não me chama de Seu Álvaro, é muito formal.
– Posso chamá-lo de tio? – ela perguntou.
Respondi que podia, com um sorriso no rosto, dizendo que adoraria ter uma sobrinha tão linda e inteligente como ela. Ela me olhou com ternura, deu-me um beijinho terno no rosto, segurou nas minhas mãos e disse:
– Tio, me desculpa ter acordado vocês, só tivemos três horas de sono e eu já fui assustando vocês com os meus pesadelos. O que acha de voltarmos a dormir?
Bia concordou prontamente. Regressamos os três para os nossos lugares e, em pouco tempo, as duas meninas já dormiam agarradinhas, como um casal de namoradas. Olhei para o relógio e vi que eram dez horas da manhã. Já passavam da seis da manhã quando deitamos para dormir, então, realmente, ainda era cedo para nós. Nesse momento, escutei a campainha tocar. Coloquei uma roupa, uma máscara, e fui atender.
Quem seria? Olhei pelo olho mágico e vi que era a mãe da Gê. Abri a porta, mantendo o fecho de segurança, e deixando apenas uma pequena fresta para que pudéssemos conversar. De forma um pouco ríspida, perguntei:
– O que a senhora deseja?
– Sei que a minha filha está aí e quero vê-la.
– Ela está dormindo agora e não deseja ver a senhora – respondi.
– Eu sou mãe dela, tenho meus direitos, e quero vê-la agora – exigiu.
– A sua filha é maior de idade – falei. – A senhora não tem direito nenhum e não é bem vinda nesta casa.
– Como se atreve a falar assim comigo? – perguntou a mãe da Gê.
– Não tenho culpa de não gostar de abusadores e de seus cúmplices – finalizei.
A mãe de Gê bateu a porta com força e se retirou. Eu havia dado o meu recado. Sabendo que a filha já havia revelado a sua conduta inescrupulosa, acreditei que o assunto estava encerrado e a mãe não teria coragem de voltar tão cedo. Passado o nervosismo inicial, aquilo tudo me fez bem. Dizer aquelas palavras aliviaram o meu coração. A Gê precisava saber que não estava sozinha. Fui novamente para o quarto e vi, novamente, que as duas meninas juntinhas formavam um lindo casal. Despi-me e dormi como uma criança.
Às duas horas da tarde, acordei. Olhei para o lado e me vi sozinho na cama. Tomei um banho e, ainda me enxugando com a toalha, fui atrás das duas. Estava morrendo de fome. Na cozinha, percebi que elas esquentavam algo no fogão. Faminto, perguntei:
– Vocês estão fazendo o almoço?
– Não, papai, estamos preparando a sobremesa – falou Bia, rindo – Isso é cera quente, para a nossa depilação.
– E o almoço?
– O almoço será uma pizza e o entregador já está chegando.
Nesse momento, a campainha tocou. Coloquei uma roupa, uma máscara, peguei a carteira e fui atender. Quando abri a porta, deparei-me com um senhor. Ele era careca, tinha uma barriga protuberante, braços muito cabeludos e vestia uma camisa social. Percebi o engano e falei que não estava esperando ninguém naquele momento, apenas o entregador de pizza.
O homem, então, apresentou-se:
– Eu me chamo Alberto, sou o pai da Ângela.
Aquela forma de se referir deu-me um engasgo na garganta e tive que corrigi-lo:
– Padrasto, o senhor quer dizer. O senhor é o padrasto da Ângela.
– Isso mesmo. É maneira de falar. É que eu me preocupo muito com a menina e preciso, urgentemente, falar com ela.
Olhei novamente para aquele senhor e as cenas descritas pela Gê apareceram, imediatamente, na minha mente, formando um grande enjoo. Pensei em afastá-lo de imediato, mas já havia tentado fazer isso pela manhã, com a mãe da menina, e parece que os fatos ainda não tinham ficado muito claros. Respirei fundo e resolvi verificar até onde iria aquela encenação. Acreditando que as duas garotas já deveriam ter se escondido no quarto de dormir, deixei aquele senhor repulsivo entrar e sentar-se no sofá da minha casa. Ele, então, continuou:
– Sei que houve alguns desentendimentos entre nós, algumas incompreensões. Mas são situações passageiras, problemas que toda família tem. O que é inaceitável é a menina sair de casa de madrugada e vim para casa da amiga, sem sequer avisar a mãe.
– Entendo. Mas a garota tem motivos bem sólidos, bem concretos para ter agido dessa forma – disse isso, tendo que segurar ao máximo a minha repulsa.
– Eu sei que é difícil para uma garota adolescente aceitar que a mãe resolva se casar novamente. Entendo a situação dela. Mas a minha esposa está, realmente, desesperada. O medo dela de perder a filha é tão grande que o nosso casamento se encontra por um fio.
Respirei fundo, olhei para as mãos peludas daquele homem, pensei nas palavras da Ângela, mãos monstruosas, e até cogitei em chamá-la para que colocássemos todos os fatos na mesa. Porém, fiquei com medo de traumatizá-la. Resolvi, então, adentrar na encenação, para melhor desmascará-la, assumindo a mesma formalidade do abusador:
– Eu compreendo que o senhor esteja numa situação sensível e queira salvar o seu casamento, mas os fatos que a Ângela nos contou foram, deveras, muito graves.
– Sim, desentendimentos que toda família tem...
– O senhor me desculpe, mas os fatos relatados não foram apenas desentendimentos. Acredito que...
– Pode ser que eu tenha bebido e me excedido um pouco. Mas não aconteceu nada que não tenha uma explicação.
Respirei fundo e, com muita calma, falei:
– O senhor poderia me responder como pode explicar o fato de ter tocado nos órgãos genitais da sua enteada em mais de uma situação...
– Eu não aceito calúnias. Isso tudo é um absurdo. Eu já expliquei toda a situação para a mãe dela. A menina dorme apenas de calcinhas e, sem querer, eu...
Nesse momento, percebi que Ângela e Bia aproximavam-se. Notei que ambas usavam roupas antigas da minha filha. Devem ter se vestido com as roupas velhas que ficavam numa caixa da área de serviço, prontas para serem doadas. As duas haviam ficado escondidas na cozinha, em silêncio, e tinham escutado toda a conversa. Impressionou-me o autocontrole delas de ouvir tudo aquilo sem criar nenhum barraco, nenhuma baixaria. Ângela, na verdade, parecia calma e começou a falar:
– É tudo verdade o que falei. O senhor cometeu um crime de forma reiterada. Se eu ainda não o denunciei, é por simples constrangimento. Agora, escute o que eu vou lhe dizer...
– Ângela, minha filha, tenha calma. Não exagere, eu não sou esse monstro...
– Escute o que eu vou lhe dizer. Eu nunca voltarei para uma casa que nunca foi minha e, se o senhor passar por aquela porta novamente, terei que denunciá-lo.
– Continuo pagando o seu plano de saúde e a sua mãe chora o tempo todo. Por favor, volte – suplicava o homem, com voz de inocente.
Nesse momento, a minha filha perdeu o controle:
– Saia já daqui, seu verme imundo!
O homem começou a mexer as mãos com nervosismo, ajeitou a carteira no bolso e levantou-se em passos rápidos, pronto para sair.
– Pedófilo, estuprador, canalha – Bia não parava de xingá-lo.
O homem retirou-se, deixando a sala com um clima estranho. Em cima da mesa, ele havia depositado um papel, comprovando o pagamento do plano de saúde da enteada. Rasguei. Será que almejava comprá-la com aquilo? Uma mesquinhez. Vários adjetivos me percorreram: cínico, pedófilo, psicopata, inominável. Falei para Gê que ligaria para o plano de saúde e mudaria o endereço do boleto para nossa casa. Eu a ajudaria a pagá-lo.
Todos estávamos em choque. Bia falou:
– Papai, você não tinha o direito. A minha amiga está...
– Não, foi melhor assim, tudo está mais esclarecido – interrompeu a Gê.
– Desculpem pelo espetáculo – falei. – O cinismo de um psicopata não tem limites.
– Cínico é pouco. Que nojo! – continuou Bia. – Aquilo é um verme, uma canalha de marca maior. Ainda acho que você não deveria tê-lo recebido.
Resolvi, então, explicar o que havia acontecido logo de manhã:
– Às dez horas, vocês dormiam e a campainha tocou. Era a mãe da Gê. Não a deixei entrar, dizendo que não gostava de abusadores e de seus cúmplices. Não adiantou. Por isso, quando o padrasto apareceu, resolvi mudar de atitude, para tentar encerrar de uma vez esse assunto.
Nesse momento, a Gê, ainda controlando o choque, comentou:
– Ele veio aqui apenas por interesse. Deseja manter o casamento com a minha mãe. Faz tudo por interesse e é mais frio do que uma pedra. Foi melhor recebê-lo. Agora, ele sabe que não tem chances e, se vier novamente, será denunciado.
Naquele momento, pensei que a Gê seria uma boa advogada. Ela demonstrou ter um excelente autocontrole e uma ótima capacidade de argumentação. Comentei:
– Gê, você me surpreendeu. Tinha todos os motivos do mundo para armar um barraco, mas conseguiu se conter e falar tudo o que precisava.
– Agora, eu é que fui a barraqueira da história – disse Bia, levantando-se. – Não tenho sangue de barata como vocês dois.
A campainha tocou novamente. Bia, ainda vestindo as mesmas roupas velhas, e colocando uma máscara, foi atender. Dessa vez, era mesmo o entregador. Pagamos a pizza, limpamos tudo com álcool, lavamos as mãos e fomos comer. Antes de darmos a primeira mordida, porém, a Gê comentou:
– Vocês não estão esquecendo de nada? Pensei que éramos uma família nudista.
Nós três fomos logo tirando as roupas e eu pensei como era bonitinho a Gê já se sentir como parte de nós, estava totalmente integrada. Precisava de uma família e estávamos ali para ajudá-la.
Por conta da fome, rapidamente comemos a pizza. Ou melhor, a pizza foi devorada por três bocas famintas. Às vezes, um pedaço de queijo ou de molho de tomate caia ou se derramava no corpo de uma das meninas e eu fazia questão de limpá-las com o calor dos meus lábios.
Terminada a refeição, ficamos conversando na sala, dando um tempo para a digestão, até que Bia falou que não podíamos nos esquecer da sobremesa. Serelepe, como se estivesse prestes a fazer uma traquinagem, ela se levantou, voltou a ligar o fogão e a esquentar a cera. A Gê, estando sozinha comigo, confessou-me:
– Tio, sempre senti muita atração por você, desde a época em que a Bia me mostrou as suas fotos proibidas. Você nu, todo bronzeado, na praia de Tambaba, seu corpo estava depilado nessa época.
– Sim, eu me depilava com gilete – comentei.
– Adorava ver você transando com a sua esposa ou com a amiga dela – disse a Gê. – Eu me masturbei várias vezes pensando nisso. Por isso, eu queria muito ter a minha primeira vez com você. Nunca fui penetrada por um homem, apenas por brinquedinhos. Sempre tive receio de sair com garotos. Tenho medo de que muitos deles possam ser como o Alberto, sabe...
– Com o tempo você vai aprender a superar esses traumas – falei.
– Não sei. O medo continua. Às vezes, surge um garoto de aparência gentil e penso que ele pode ter uma violência escondida, qualquer coisa de repulsiva, de canalha. Então, queria que fosse com alguém que eu aprendi a confiar, alguém especial como você.
– Eu adoraria ajudar, sinto-me honrado por você querer que eu seja seu primeiro homem – falei.
– Mas você sabe, sempre imaginei você como naquela foto de Tambaba. Você desnudo, o corpo completamente liso, bronzeado...
Eu já havia entendido tudo e sequer deixei a Gê terminar de falar. Falei logo que aceitava, não queria ter nenhuma semelhança com a criatura repulsava que tinha acabado de sair da minha sala. Perguntei, apenas, como era o procedimento da depilação a cera.
Ela, então, respondeu:
– Tio, a gente usa a depilação espanhola, a mais moderninha, é uma cera meio plastificada, que endurece depois que você aplica. Então, a gente puxa a própria cera, que vai saindo com o pelo, deixando a pele lisinha. Mas, para quem nunca fez com cera, como você... Eu não vou mentir, para quem ainda tem a raiz do pelo forte, dói muito e o mais aconselhável era fazer no salão.
– Não, no salão não, por qual motivo devo ir para um salão se já tenho duas profissionais em casa?
– Tio, no salão, elas têm mais técnica, as moças lá sabem fazer melhor, dói menos.
– No salão, quando doer, eu poderei olhar para duas moças nuas, lindas, gostosas e safadas, como vocês? – questionei.
– Não, tio.
– Lá eu poderei olhar para você e pensar no meu prêmio?
– Claro que não!
– Então, está decidido, vocês duas irão me depilar da forma como quiserem.
Em pouco tempo, Bia chegou com a cera, afirmando que ela estava no ponto, morninha. Nós três fomos para o quarto e as duas colocaram uma toalha na cama antes de pedirem para que eu deitasse. O meu corpo foi sendo untado com aquele líquido viscoso e morno que se prendia aos meus pelos. Depois, elas foram puxando.
Realmente, era um processo dolorido. A cada puxão, eu olhava para uma parte do corpo da Gê, o seu rostinho de menina sapeca, a sua bucetinha lisinha, as suas nádegas arredondas, a sua cintura fina, os seus seios firmes e pontudos, e o processo ia ficando mais suportável. A Bia deve ter percebido os meus olhares, porque, em dado momento, ela puxou com muita força e eu não contive um grito:
– Aaaaiiiiii!
– Quem manda você ficar olhando para a minha amiga – Bia reclamou. – Fica querendo iniciá-la nos prazeres do sexo, sem sequer me consultar.
A Gê me defendeu:
– Ah, Bia, não dá uma de desentendida. Nós duas já havíamos pensado nisso há muito tempo, mesmo antes de eu me mudar para cá.
– Quer dizer que além de ser a amante, você ainda conta tudo para o meu pai? – ironizou Bia, com um riso irônico no canto do rosto.
As duas continuaram me depilando, e, para colocar e tirar a cera da virilha, tiveram que ir mudando o meu pênis de lugar. Depois, chegou o momento em que o meu próprio cacete foi o escolhido, foram passando cera nele e nas minhas bolas. Na hora, tive um pouco de medo, mas, ao olhar para o corpo desnudo de Gê, criei coragem e fui deixando. O meu membro foi ficando duro, ajudado pelos toques e pela mornidão do liquido viscoso que ia endurecendo e sendo puxado. Em pouco tempo, não sobrava nenhum pelo na parte da frente e as duas me pediram para virar de bruços.
Era a vez das minhas costas e nádegas serem incluídas naquele processo. Elas foram aplicando a cera com uma espátula, nas regiões maiores; enquanto, nas menores, usavam um palitinho de madeira (parecido com os de picolé). Em pouco tempo, já estava com as nádegas lisinhas, igual a uma bunda de nenê.
Terminada a parte de trás, elas me pediram para ficar de lado, como se estivesse de conchinhas. Obedeci, fiquei de conchinhas e, conforme mandavam, segurei uma das bandas das minhas nádegas. Bia segurou a outra banda, enquanto a Gê foi passando a cera com o palitinho e puxando. Pronto, até o meu ânus estava completamente liso. As duas haviam feito o serviço completo e começaram a rir. Achei graça da situação e falei:
– Até o meu anel, suas taradas, não perdoaram nada?
– Não perdoamos nada. – falou Bia. – O nome disso é depilação cavada. Se nós mulheres temos que fazer, por que vocês homens também não podem?
Sem respostas, calei-me. Já iria me levantar, quando elas me colocaram na cama outra vez e foram passando um creme pós-depilatório na minha pele. Quatro mãos foram percorrendo as minhas partes e me deixando cada vez mais excitado. Não resisti e parti para cima das minhas depiladoras. Segurei a Gê pela cintura e comecei a beijá-la, perguntando:
– E agora? Estou aprovado, você me aceita como seu legitimo esposo?
– Aceito! Aceito! Você está lindo! – ela falou, completamente risonha.
Após os beijos, as duas foram passando creme na minha pele e me chupando, como se aquilo fosse a continuidade de um ritual que havia começado com a depilação. Bia, percebendo que meu membro não se aguentava mais de tão rígido, abocanhou ele por completo e conseguiu segurar a boca lá dentro por vários segundos, soltando em seguida, cheia de baba e saliva. Malandramente, ela comentou:
– Olha, Gê, ficou até mais fácil de fazer garganta profunda.
Gê ficou rindo, mas percebi que estava de olho em outra coisa. Ela levantou um pouco as minhas pernas e foi passando a língua e o dedinho no meu cuzinho, dizendo que ele estava bem comestível. Bia, então, sussurrou no meu ouvido:
– A Gê tem essa carinha de santa, mas é na verdade uma verdadeira cachorra. Ela adora chupar um cuzinho antes de comê-lo com a sua cinta. Já fez isso com várias amiguinhas.
Fiquei com um pouco de receio, mas me deixei levar pela excitação do momento. A língua da Gê era quente e macia, deixando-me completamente arrepiado. Nesse momento, Bia, querendo também participar, foi esfregando a sua bucetinha no meu rosto, me lambuzando com o seu líquido e exclamando:
– Tá gostando, papai, desse cheiro de xoxota molhada? Tá gostando do sabor abundante do mel da sua filha abelhinha?
Eu estava, posicionava sua bucetinha na minha boca e sorvia o máximo que podia. Ela se requebrava em cima de mim, propositadamente, fazendo o seu líquido ir para todas as direções. Havia cheiro de sexo nas minhas narinas, nos meus cabelos, em todo o meu rosto.
Após brincar bastante, Bia retirou a sua bucetinha, pois queria melhor acompanhar o que a amiga estava fazendo. Depois de lamber o meu cuzinho, a Gê tinha começado com pequenos beijinhos na cabeça do meu pau e agora já passava a me abocanhar inteiro, segurando a boca até o final, em um mergulho demorado. Bia começou a contar o tempo e quando ela estava no número quarenta, a Gê soltou o meu membro para recuperar o fôlego e direcionar a sua boca para o meu anel, babando-o por completo com a sua saliva e enfiando nele um perigoso dedinho. Tentei abaixar as minhas pernas, receoso, mas minha filha me pediu para não fazer:
– Deixa essa cachorrinha te chupar e brincar com o seu cuzinho. Ela te lubrificou por completo com a sua saliva. Você não está gostando? Não está excitado? Deixa, pai.
Bia aproveitou-se que a sua amiga se divertia com as minhas partes baixas e foi em direção ao meu membro. Estava sendo uma delícia ser chupado por aquelas duas cachorrinhas. Senti a boca da minha filha tentando me abocanhar por completo, enquanto a Gê me lambia e colocava o dedinho no meu anel. Quando a Bia, após conseguir mergulhar por completo, percorrendo cada centímetro, segurou a sua boca no final do meu membro, comecei a contar. No número quarenta e cinco, ela soltou e, com a boca toda babada e suculenta, resolveu ir em direção a amiga para beijá-la. As duas se beijavam e se lambiam, as línguas de fora, sedentas, animalescas, selvagens. Bia pediu:
– Sua cachorra, agora que você já lambeu bastante o macho do meu pai, mostra o que você sabe fazer com uma fêmea.
Gê, então, posicionou sua boca suculenta na xana da minha filha, e foi contornando seus grandes lábios, direcionando a língua para o clitóris, chupando, lambendo, enfiando os dedinhos fálicos. Bia, então, divertiu-se com um trocadilho:
– Vai, Gê, bota essa boca e chupa, gira e me fazer gemer, encontra o meu ponto G.
Estava sendo criada uma nova música, que em nada deixava a desejar aos novos talentos musicais que surgiam nas rádios brasileiras. Gê escutava as frases da amiga e não conseguia conter o riso. Chupava a buceta da amiga e se acabava de tanto rir. Bia rebolava as nádegas, como uma dançarina de brega, e continuava com a brincadeira:
– Vai, Gê, bota essa boca e chupa, gira e me fazer gemer, encontra o meu ponto G.
Gê ria com a buceta da amiga na boca. Tentava chupar, mas se desfazia em risos. Quando estava começando a encontrar o ritmo certo, juntando a sucção da boca e a circularidade fálica dos dedos, Bia retomava com o seu talento musical:
– Vai, Gê, bota essa boca e chupa, gira e me fazer gemer, encontra o meu ponto G.
Nesse momento, eu e Ângela protestamos.
– Você quer gozar ou não? – falou a Gê. – Deixa de ser palhaça, desse jeito ninguém consegue se concentrar.
– É melhor você parar – reclamei. – Não faça arrefecer a chama que faz subir a minha lança.
– Ele está falando que não deseja brochar – disse a Gê. – A lança é o cacete e a chama é o tesão que faz ele ficar duro.
– Acho que ele tem medo de usar a palavra brochar – comentou Bia. – Fica com medo que o julguemos, aí apela para a poesia.
O meu membro, nesse momento, começava a perder a sua vivacidade. Aquelas duas pareciam estar me provocando de forma proposital. Talvez desejassem me ver murcho para se divertirem com a situação. Irritado, falei:
– Olha o que vocês conseguiram com a palhaçada de vocês. Satisfeitas?
– A chama está arrefecendo e a lança vai baixando – disse a Gê, sarcástica.
Nesse momento, já sem paciência, e sem querer meter o cacete, literalmente, naquelas duas, resolvi me levantar e sair do quarto. Bia, porém, me segurou:
– Calma, pai, a gente promete parar com as palhaçadas. Tenho uma ideia muito melhor. Eu e a Gê vamos revezar os nossos lábios nesse cacete. Cada uma fica uns trinta segundos com o pau na boca e vai ganhar aquela que receber o leitinho primeiro, combinado?
Concordei, com a condição de que elas teriam que se manter caladas. A Gê também estava de acordo e foram revezando os movimentos, abocanhando o cacete, numa troca de línguas e de sabores: uma era mais macia, a outra mais ágil; uma era mais quente, a outra mais profunda. Sentindo o toque e o lábio delas, fui recuperando o ânimo, meu membro foi se fortalecendo, desejando, ficando cada vez mais ereto, mais inchado, não se cabendo mais em si. Em pouco tempo, o problema havia se invertido. Eu tentava me segurar para não gozar logo, mas estava cada vez mais difícil de resistir. A Gê, querendo receber primeiro o meu gozo, aproveitava para brincar com as minhas bolas e com o meu anel todas as vezes em que me abocanhava. Com esforço, eu tentava resistir. Bia protestava, dizendo que ela estava roubando, mas a amiga continuava com suas artimanhas. Sem mais forças, despejei toda a minha porra na boquinha da Gê, que, estranhamente, não engoliu nada e nem cuspiu.
Ela guardou todo o meu esperma no interior dos seus lábios e ficou olhando para a amiga, chamando-a. Queria compartilhar com a minha pequena o sabor doce e salgado daquela seiva. Bia percebeu e, ao lado da amiga, abriu a boquinha, pronta para receber a sua nova iguaria. Gê foi deixando a minha porra escorrer, gota por gota, como se ela fosse um mel branco e raro. Bia, por sua vez, após receber todo aquele líquido, também não engoliu. Deixou que ele se avolumasse na sua boca, misturando-se com a saliva. Devagarinho, andando de joelhos, aproximou-se de Ângela, pele com pele, peito com peito, face com face, e fez com que ambas se perdessem num beijo suculento. Aquele era um beijo que esporrava, fazendo com que o sêmen escorresse pelos lábios, adentrasse pelas bocas e línguas e se derramasse devagarinho, percorrendo queixos, seios e ventres.
As duas, como amigas completamente versadas nas artes do prazer, foram percorrendo aquele líquido branco, sorvendo tudo, procurando qualquer gota que pudesse ter respingado na pele, nos cabelos, nos olhos ou nos lençóis brancos da alcova. Tudo precisava ser sorvido, como num ritual sagrado. O rosto delas brilhava, encantado, como se surgisse dos lugares mais recônditos do prazer. Os atos daquelas ninfas perdiam-se no tempo, lembrando algum deus que ejaculara com o único objetivo de fecundar a terra com os seus prazeres. Aquilo era mágico: a beleza das duas, a forma como se beijavam e a insaciável sede com que tentavam multiplicar o prazer recebido. Tudo adentrava numa atmosfera humana, atemporal e bela.
No momento em que eu me perdia em divagações, embevecido por tamanha beleza, Bia e Gê aproximaram-se, fazendo com que eu voltasse para o mundo real. Minha filha falou:
– Eu conheço essa cara de divagação. O papai sempre fica assim antes de falar algo como “não faça arrefecer a chama que faz subir a minha lança”.
– O teu pai é lindo, Bia – a Gê defendeu-me. – Ele vê o nosso comportamento de cachorras depravadas e depois nos descreve como se fossemos deusas antigas.
– Ele sabe que não existe nada tão antigo quanto o sexo – falou Bia. – E sempre se aproveita disso.
– Não, Bia, não é questão de se aproveitar – disse a Gê. – É questão de saber. Ele tira tudo o que escreve do íntimo de si. As descrições do teu pai sempre me emocionaram. É por isso que eu quero que ele seja o meu primeiro homem.
Ângela, nesse momento, tinha um rosto tranquilo, doce e travesso, satisfeito e insaciável, qualquer coisa que eu não poderia descrever. E foi com esse rosto que ela me beijou. Senti o macio dos seus lábios, o calor da sua língua, e um sabor irreconhecível e forte, de prazer, de sêmen, de sexo, de tudo que havia acontecido naquela tarde. Depois, como se estivesse com ciúmes, Bia se aproximou e me beijou também. Mas eu já não pude sentir nenhuma sensação, porque percebi que as duas ninfas, sem parar de se tocarem, pretendiam ir embora e eu precisava fazer cumprir o combinado:
– E a minha noite de núpcias? Vão me deixar?
A resposta de Bia parecia já programada:
– Agora foi só o oral. Sua pele ainda está muito sensível por conta da depilação, qualquer fricção a mais pode machucá-la.
– Depois de tantos sacrifícios, Gê – protestei. – Senti todas as dores para deixar de ser um homem das cavernas.
– Como você falou, será uma noite de núpcias – explicou a Gê. – De madrugada, quando até os pássaros estiverem dormindo, é que nós faremos a nossa festa e eu saberei o que é ser conhecida por um homem de verdade.
– Muitas surpresas nos esperam, pai – completou Bia. – Muitas fantasias e fetiches. Coisas que o senhor nem imagina. A noite é uma criança.
Queridos leitores, comentem e nos brindem com três estrelinhas. É a participação de vocês que nos motiva a continuar escrevendo.