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Não dormimos muito. Acordei com Victor me cutucando, não era uma tarefa fácil me acordar.
- Tá na hora de acordar, princesa! - ele diz já com uma cara de pouca paciência.
Eu tinha dormido muito pouco e não conseguia fazer meu dia render se não dormisse por, pelo menos, 8 horas ininterruptas. Não queria levantar, estava tão bom ali que nem me atentei ao fato de que a algumas poucas horas atrás estava com o pau do meu melhor amigo na boca.
Não surta, Alexandre! - disse para mim mesmo.
- Você vai levantar dessa porra de cama ou vou ter que te carregar no colo e te jogar embaixo do chuveiro?
Ué, ele estava estressado?
O olhei e ele estava com aquela cara de bravo que deixava ele mais lindo do que já era. O sorriso bobo e a cara emburrada eram duas coisas nele que me atraíam e só depois do que fizemos que eu percebi isso.
Ele me atraia.
- Olha, você pode ir, eu vou ficar aqui. - digo cobrindo o rosto com o travesseiro.
Senti sua mão forte me puxando para fora da cama.
- Eu disse o que faria se você não levantasse logo. A gente tá atrasado, porra!
Odiava quando ele gritava comigo.
- Me deixa em paz, pelo amor de Deus! Eu não consigo levantar, tá bom? Você sabe que eu preciso dormir bem. Você quer que eu desmaie na frente de todo mundo?
Meu discurso não colou com ele, aliás nenhuma das cenas que eu fazia por preguiça colova com ele. Nunca deu certo.
- Que viadagem, hem?! Fazer drama não vai te manter nessa cama. É sério, Alexandre, levanta.
Levantei, mesmo que a contra gosto. Estava ali à trabalho e não podia deixar a preguiça me dominar.
Confesso que fiquei um pouco chateado por Victor estar com aquele humor péssimo e não ter dito uma única palavra se quer sobre todas as revelações que tinham sido ditas naquele quarto.
Não demorei no banho e cerca de trinta minutos depois estávamos chegando à entrada do pavilhão onde aconteceriam as palestras aquele dia.
Ficamos sentados em lugares distantes e ele não me olhou nenhuma vez, sei disso por quê não conseguia tirar os olhos dele. Em minha cabeça milhares de coisas se passavam. Eu não conseguiria mentir para Cleiton, teria que dizer que não fui fiel quando deveria ter rejeitado todo e qualquer tipo de investida. Fui fraco e não seria covarde a ponto de não assumir meu erro.
Estava viajando nos meus pensamentos e nem percebi que um cara, muito bonito por sinal, tinha acabado de sentar do meu lado com um sorriso no rosto e uma mão estendida aguardando um cumprimento. Toquei sua mão e sorri de volta.
- Essas palestras sempre são entediantes, né? - ele estava tentando puxar assunto e eu até gostei. Ficar ali escutando o palestrante falar sem parar já estava me deixando realmente entediado.
- Pois é, eu queria estar dormindo agora. - Respondi. - Acho que essa noite devo ter dormido umas 3 ou 4 horas e em parcelas ainda.
Tento sorrir e ele me parece interessado em retribuir.
- Noite difícil?
Volto a olhar para Victor e ele continuava a me ignorar.
- Mais ou menos. Digamos que coisas inesperadas aconteceram.
Ele olhou em direção a Victor e segui seu olhar.
- Você conhece aquele cara?
Victor agora nos olhava com uma expressão de ódio. Eu sabia que ele estava extremamente bravo, afinal eu o conhecia muito bem. Só não entendia por quê estava daquele jeito. Ele apertava os punhos com força e resmungava alguma coisa totalmente inaudível, já que estávamos muito longe.
- Ah... É... Sim, eu conheço ele, é meu amigo. - digo.
- Ele parace estar chateado com alguma coisa. - Diz despreocupado. - Aliás, nem me apresentei; me chamo Bruno, e você?
- Prazer, meu nome é Alexandre.
Continuamos a conversar e descobri que Bruno morava até que perto da minha casa e que trabalhava com publicidade também, isso era meio óbvio, já que estávamos num evento voltado para o mercado publicitário. Ele tinha 27 anos, era casado a 5 e sua primeira filha estava à caminho.
Estávamos em um papo muito bom e por alguns momentos eu esqueci do Vic. Olhei em direção a onde ele estava e não o encontrei. Pensei que ele tivesse ido assistir alguma outra palestra ou participar de alguma roda de conversa.
Bruno e eu continuamos a caminhar juntos e decidimos comer algo, já era quase 12:00 e eu nem tinha tomado café da manhã. Próximo ao pavilhão de eventos existia uma área com alguns food trucks e foi ali que paramos.
- Gostei de você, Alexandre. Quando voltarmos pra São Paulo, vamos marcar algo. Eu quero que você conheça minha esposa.
- Claro, vamos sim. - respondo tentando ser educado. Não tinha costume de fazer amizade tão rápido assim.
Meu celular vibra no bolso e o pego para checar a mensagem.
Era uma mensagem de Victor:
"Onde você está, Alexandre?"
Ele me chamava de Alexandre quando estava puto.
Digitei rapidamente uma resposta curta.
"Almoçando com um amigo"
Guardei o celular no bolso e continuei conversando. Eu senti a vibração novamente, mas decidi não responder mais nada. Ele estava estranho desde que acordamos e eu não ia ficar xeretando ele de jeito nenhum. Também tinha meu orgulho.
Comemos e voltamos pra dentro do pavilhão. Agora teríamos uma exposição com vários telões rodando propagandas idealizadas por brasileiros que foram vencedores de prêmios publicitários. Essa parte não era chata, mas as palestras não me agradavam.
Quando eu e Bruno estávamos assistindo a uma das propagandas sinto uma mão tocar meu ombro.
- Por que caralhos você não responde as merdas das mensagens que eu mandei? Tá ocupado demais com teu amigo?
Fiquei paralisado. Não por medo ou algo do tipo, estava com vergonha. Bruno nos encarava com uma expressão indecifrável. Seus olhos iam de Victor a mim e ele por fim disse:
- Calma cara! A gente só se distraiu na conversa.
Victor o encarou. Seus olhos estavam cheios de ódio e seu rosto muito vermelho.
- Não falei com você, mano!
A resposta não podia ter sido mais infantil.
- Ei, Victor, por favor, né. - fico entre os dois e o encaro incrédulo.
- Por favor é o caralho. - Diz ainda alterado. - A gente tá aqui trabalhando e não pra ficar de papinho flertando com qualquer um.
Meu Deus, que vergonha! Não sabia onde enfiar minha cara.
- Olha cara, eu não sei quem você é, mas não vou deixar você falar com ele assim. - Bruno diz dando um passo em direção a Victor.
Eles ficam se encarando e eu sabia que Victor estava preparado pra brigar. Como já disse dezenas de vezes, eu o conhecia muito bem.
Sabia que ele não teria coragem de me machucar, então entrei no meio dos dois mais uma vez.
- Vic, por favor, para com isso. - peço tentando chamar sua atenção.
Não adiantou muita coisa, eles continuavam se encarando e muitas pessoas já voltavam a atenção para aquela palhaçada.
- Você acha que me intimida com esse olhar, brother?! - Victor pergunta para Bruno.
Bruno não disse nada, só empurrou Victor com força e aí a briga começou. Eu fiquei meio tonto por quê um dos dois desferiu um soco que pegou em cheio na lateral da minha cabeça. Eu fiquei com a vista turva e senti uma dor forte. Não cheguei a cair, mas eu era meio banana e não sabia o que fazer. Eles estavam no chão, um socando o outro, como dois lutadores de MMA.
Aquilo era surreal. Em que momento eles se odiaram tanto pra chegar naquele ponto? Eles nem se conheciam.
Alguns seguranças chegaram e afastaram os dois. Victor foi levado em direção a saída e Bruno ficou ali. O segurança ainda o segurava com força. Ele queria mais briga e podia apostar tudo que não estaria sendo fácil segurar Victor do lado de fora.
Uma moça se aproximou de mim, perguntou se eu estava bem e apontou para minha cabeça, passei a mão e senti algo molhado, era sangue. Ok, não era nada demais, só um corte, não estava doendo.
Bruno se acalmou e olhou para mim.
- Ei, você tá bem? - perguntou com uma expressão legitimamente preocupada.
Apenas acenti com a cabeça.
- Desculpa por isso, eu nem sei o que dizer, sério, não sei por quê ele fez isso. - digo.
Ele pegou um lenço de papel que alguém o deu e entregou a mim. Limpei o sangue e pressionei o papel no corte.
- Vem, vou te lavar pro seu hotel. - ele fala me segurando pelo braço.
Era óbvio que eu não aceitaria. Não podia arriscar que eles se encontrassem novamente, sabia que o babaca do Victor estava lá fora esperando pra continuar o show ridículo dele.
- Eu agradeço, mas acho que não é uma boa ideia.
Bruno me olha um pouco desconfiado e não diz nada.
Ele anota meu telefone na agenda de seu celular e nos despedimos ali. Pedi que ele esperasse um pouco antes de sair pra eu ter certeza de que Victor estaria afastado.
Quando saí pela porta lateral Victor estava sentado no chão e quando me viu levantou rapidamente.
Andei rápido procurando um ponto de táxi.
- Que porra é essa na sua cabeça? - pergunta tentando acompanhar meu passo.
Porra era a palavra favorita dele.
- Me erra, tá? Olha que merda você acabou de fazer.
- Você tá dizendo que eu machuquei sua cabeça? - perguntou assustado.
- Sim, você machucou minha cabeça.
Não sei por quê, mas eu estava com uma vontade enorme de chorar e foi inevitável segurar as lágrimas.
- Ei, eu nunca machucaria você, eu tenho certeza que não te toquei um dedo, Alê, eu juro.
Ele parou de andar e eu olhei para trás.
Victor estava parado e no segundo seguinte estava voltando em direção ao pavilhão de eventos.
- Victor, onde você vai? - pergunto alto.
Ele responde sem parar de andar.
- Eu vou matar aquele filho da puta! Ele machucou você.
Como assim? Era impossível saber quem tinha me atingido e isso não teria o menor interesse para mim.
Corri atrás dele e consegui o alcançar.
- Victor, por favor, se você for meu amigo de verdade, só deixa isso pra lá ok? Eu só quero chegar no hotel, tomar um remédio pra dor e dormir. Você não vai me deixar sozinho lá, né?
Ele sabia que era um drama muito mal construído, mas pareceu funcionar dessa vez e ele me acompanhou até o hotel.
Quando chegamos lá ele me ajudou a limpar o corte antes que eu entrasse no banho. Ele estava muito mais machucado que eu. Seu rosto estava repleto de marcas roxas e sua roupa estava rasgada.
Eu queria ajudar ele a se recompor também, mas preferi ficar apenas observando. Queria me ele me desse alguma explicação.
E, por mais que eu não quisesse assumir, queria tocá-lo novamente, abraça-lo. Só queria um pouco de carinho, e tinha que vir dele. Essa necessidade de tê-lo dessa forma era o que mais me deixava assustado, eu não sentia isso a um dia atrás, o que sentia por ele era um amor de irmão e agora eu estava ali tendo milhões de cenas românticas com ele na minha cabeça. Estava parecendo um adolescente bobo apaixonado pela primeira vez.
Quando me dei conta ele estava me encarando. Tinha uma camiseta enrolando alguns cubos de gelo em sua mão. Ele abriu a boca pra dizer algo, mas desistiu no meio do caminho, só abaixou a cabeça e permaneceu em silêncio.
Meu celular começou a tocar, ele estava mais próximo de Victor do que de mim. Ele olhou o visor e fez uma cara feia. Não falou nada, só entrou no banheiro e bateu a porta com força.
Cleiton me ligava e a culpa me atingiu em cheio. É claro que eu não diria nada por telefone, mas já estava decidido a dizer toda a verdade para ele. Mesmo não tendo certeza alguma com relação ao que tinha com Victor não achava certo enganar meu namorado, ele era um cara muito carinhoso e dedicado ao nosso namoro e não era certo fazê-lo de bobo.
Atendi e conversei com ele por alguns minutos. Conseguia ouvir o barulho do chuveiro e estava preocupado com Victor, ele podia estar sentindo dor e eu não gostava de pensar nisso.
Quando ele saiu do banheiro, apenas com a toalha enrolada na cintura, eu fiquei meio abobalhado. Não queria olhar seu corpo descaradamente, mas a cada momento que se passava ficava mais difícil resistir.
Ainda era cedo, cerca de 14:00 PM, mas eu estava com muito sono. Fechei os olhos e apaguei em poucos minutos. Queria acordar e encontrar tudo em seus devidos lugares, como era antes, seria muito mais fácil.
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Despertei por volta das 20:00. Pra ser bem sincero eu queria dormir mais, mas era impossível não acordar com aquela luz acendendo e apagando de 5 em 5 minutos. Victor estava inquieto, não parava um minuto.
- Você pode, por gentileza, parar de acender essa luz? - digo sem me mover.
Minha cabeça estava doendo muito, acho que a pancada e a fome que eu sentia naquele momento estavam contribuindo para isso.
Ele estalou a língua com impaciência.
- Já deu de dormir, né? Ou você ainda está com dor? - perguntou.
É, era isso mesmo, e eu queria ir pra minha casa.
- Sim, estou com dor, mas não precisa se preocupar. Amanhã cedo eu vou embora.
A luz se acendeu novamente.
- O quê?
Não podia ver seu rosto por quê estava com os olhos fechados, mas sua voz vacilante me mostrava que ele estava descontente com a informação.
Era óbvio que eu não ficaria ali. Eu iria embora na manhã seguinte, independente da represália que sofreria por ter abandonado aquele evento de trabalho. Não tinha clima pra continuar.
- A passagem está marcada para sábado, você não pode ir embora. - ele diz como se o ônibus fosse o único meio de sair daquela cidade.
Abri os olhos e encontrei os seus me encarando.
- Vou pedir pro meu pai me buscar.
Ele solta um riso sem graça.
- Seu pai trabalha, você vai fazer ele vir até aqui por causa de uma frescura sua?
Frescura minha?
- Não é frescura nenhuma. Você acha realmente que depois de tudo o que aconteceu eu ainda quero ficar no mesmo lugar que você.
Eu queria, e muito.
Ele ficou sem saber o que dizer, mas logo um chama se acendeu no seu olhar e ele disse:
- Você não reclamou quando estava chupando meu pau, é isso que você gosta, né? Ser tratado igual uma puta, gosta de sair por aí chupando todos os caras que aparecem na sua frente!
Nao, eu não podia estar ouvindo aquilo. Não do Victor, meu amigo, o cara que sempre estava do meu lado e nunca proferiu nenhuma palavra ofensiva contra mim. Não podia acreditar.
Ele manteve a expressão dura e eu só queria dar um soco na cara dele.
- Bom, parece que agora eu conheci o verdadeiro Victor. - digo levantando e pegando minha mala do chão.
Ele observava meus movimentos sem dizer nada. Eu iria embora naquele mesmo instante, nem que tivesse que usar todo o dinheiro que tinha na minha conta bancária pra pagar um taxi até São Paulo.
Victor pareceu perceber minha intenção de deixá-lo e partiu pra cima de mim, me pressionando na parece.
- Você não é louco de sair daqui. - disse.
Pude sentir seu hálito quente na minha bochecha.
Eu não ia chorar na frente dele. Segurei seu olhar, impassível, sem dizer nada. Meus olhos de enchiam d'água, mas consegui manter o equilíbrio.
- Me solta! - grito o mais alto que posso. - Você tá me machucando, idiota.
Ele só me prendia com mais força.
- O que você fez comigo, Alexandre? Que merda você fez comigo? - diz pressionando sua testa na minha.
Eu não fiz nada. Eu estava quieto no meu canto, ele que me procurou e disse todas aquelas coisas e agora estava agindo feito um babaca.
- Eu quero ir embora e não olhar pra sua cara nunca mais. - digo o encarando com raiva.
A parte de querer ir embora era verdadeira, mas a parte de nunca mais olhar na cara dele soava impossível para mim.
Ele não disse nada, só tentou me beijar, mas eu virei o rosto. Victor me prendia com seu corpo enquanto tentava segurar meu rosto e quando conseguiu, moldou seus lábios nos meus e soltou um gemido, havia um corte em seu lábio inferior.
- Me desculpa, por favor. - ele dizia baixo.
É, eu estava inclinado a desculpar, mas não sabia se era o momento certo.
Eu queria continuar beijando seus lábios, mas não daria o braço a torcer. Victor me soltou e continuou a me olhar.
Ele estava confuso, e eu podia entender, mas para mim, o que estava acontecendo ali estava acabado.
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Galera, só publicarei aqui até o quinto capítulo, os demais serão publicados apenas no Wattpad.