Andamos por muito tempo pelas propriedades da família, a sós, e sem trocar palavras.
Não sabia exatamente o que se passava em sua cabeça, tampouco sabia o que ocorria na minha. Mas de repente, após tantos anos, eu voltava a ser o garoto que, diante daquela mulher, parecia perder toda a coragem e eloquência.
Carmen sempre foi uma menina bonita, e tornara-se uma mulher deslumbrante. Em seu vestido rosa, com tulipas bordadas na saia, sua sombrinha apoiada no ombro, seu porte fidalgo. Tudo nela me era belo e atraente. Até sua indiferença.
Ela não falou nada, parecendo gostar de minha submissão.
E eu, que evoluira tanto, que cresci e amadureci tanto... Ainda era um garoto afinal.
- Pensei que não pararia de tagalerar sobre suas aventuras com os ingleses, mas receio ter me enganado - cortou o silêncio com um sorriso recatado.
Sorri encabulado.
- Peço perdão. De fato estou a me abster, ainda pensando em um monte de coisas.
Ela me olhou com ar divertido.
- Você ainda me parece o mesmo garoto, mas sinto que algo mudou em você. Só não me mostrou ainda.
- Muitas coisas mudaram - começei, suspirando fundo e um pouco mais relaxado após a quebra do silêncio. - Tive muitas experiências, conheci muita gente.
- Poderia me contar alguma, ou são impróprias para moças de família?
- Algumas sim, por isso posso contar para você - alfinetei, deixando escorrer um leve sorriso traquinas pelo canto da boca.
- Como ousa - fingiu-se de ofendida, ameaçando me bater com a sombrinha.
Quando éramos jovens, Carmen vivia a nos deixar constrangidos com anedotas e historietas que ouvia das pessoas. Histórias essas sempre impróprias para uma menina de família contar. Ela só era assim comigo e Rodolfo. Em especial comigo. Aos demais, ela era uma verdadeira dama
Naquele momento, senti que estava em débito com ela todos esses anos. E era minha vez de permitir que ela soubesse um pouco de quem era de verdade seu noivo.
- Já que tocastes nesse assunto, creio que deve imaginar as coisas que fiz fora do Brasil.
Ela não expressou nenhuma reação, fingindo-se de desentendida.
- Nunca tocaste no assunto do que viu eu e Rodolfo fazendo no celeiro no dia em que parti. Saí do país sem me despedir adequadamente de ti, depois que fugiu.
Ela continuava sem falar nada, olhando o horizonte com ar de interesse. Fiquei me perguntando o que aquilo significava. O assunto a incomodava? Ela estava tentando me dar mais espaço, evitando o constrangedor contato visual?
Sem definir o que, continuei:
- Fiquei com medo de você terminar nosso noivado após ali. Mas a medida que nos correspondíamos, fiquei mais confuso ainda, pois você não falava sobre o assunto. Imaginei a princípio que você queria esquecer, passar a página e fingir que nada havia acontecido. Mas essa não seria você.
Naturalmente, a medida que eu falava, parecia na verdade que explicava tudo para mim mesmo, permitindo enfim um real momento de reflexão sobre o ocorrido. E a medida que narrava, a epifânia surgia.
- Então me dei conta que nem você sabia exatamente o que pensar do ocorrido. Ver seu noivo, de joelhos num celeiro, devorando um pênis masculino como apenas as mulheres da vida fazem... Não seria uma cena fácil. Só então me perguntei: há quanto tempo Carmen estava naquele celeiro?
Ela me olhou com um meio sorriso, ar altivo, superior, postura de defesa que normalmente assumia sempre que era posta contra a parede. Eram raros os momentos, mas eu conhecia os sinais. Não era sempre que alguém conseguia pegar ela de guarda baixa. E eu pude sentir o prazer daqueles raros momentos
- Algo me diz que você havia chegado lá muito antes da hora em que a percebemos, afinal. - continuei. O desenrolar da história ganhando vida própria em minha língua - Você estava em um cômodo próximo quando saimos escondidos, Rodolfo e eu. Me pergunto se você viu quando eu e meu primo nos beijamos. Se viu, quando ele enfiou a mão por dentro de minha calça, introduzindo os dedos por entre minhas nádegas. Se me ouviu gemer ao seu toque.
Lá enumerando cada passo, minha memória sendo levada gradativamente para aquele momento de prazer. Estávamos muito entregues naquela tarde, pois não sabiamos quanto tempo levaria para nos encontrar novamente.
- Fico pensando o que passou por sua cabeça, quando Rodolfo me pegou pelos cabelos e me fez ajoelhar. Me tratando como um escravo, e me agredindo no rosto com seu membro rígido. Quando eu abri minha boca, implorando para que ele colocasse tudo aquilo dentro. Não posso nem dizer que fui tratado como uma mulher naquele dia. Nem mesmo as esposas dos homens mais brutos seriam tratadas da forma como Rodolfo me tratou. E ainda mais gostariam disso.
Observava Carmem e suas reações. A maneira como ela segurava rigidamente a sombrinha, enquanto controlava a respiração. Agora ela não me olhava, não por preservação a mim, mas a ela mesma. Não parecia estar com coragem de me encarar.
- Sabe que se você não tivesse esbarrado sem querer naquela lata, nós teríamos ido até o fim, correto? Eu estava disposto a deixar Rodolfo montar em mim naquela tarde, como ele já fez inúmeras vezes. Algumas naquele celeiro. Normalmente gosto de me apoiar na cerca dos cavalos, e me oferecer como uma animal no cio. Gosto de me segurar lá, pois Rodolfo estoca com potencia e eu normalmente preciso ter suporte para me equilibrar.
Sentia as palavras saindo naturalmente, escorrendo com um requinte de prazer cruel. Mas minhas intenções não estavam em ferir Carmem. Muito pelo contrário, mas forçar a tomar uma atitute. Tirar ela de sua zona de conforto e obrigar a encarar o fato que testemunhou. E assim, com grande esperança, confirmar minhas suspeitas.
- Conheci muitos outros homens na Europa. Nobres, guardas reais, meros comerciantes. Andei com todo o tipo de gente. Essa é a vantagem de viver em uma grande cidade. A diversidade humana é imensamente maior e eu gostaria muito de lhe apresentar esse mundo um dia. Tirar você deste cercado campestre ao qual foi submetida e abrir seus olhos. Pois sei que você é inteligente demais para este lugar.
Ela me olhou, curiosa, mas calculista, como uma raposa.
- Depois de tudo o que me contou, ainda demonstra desejo em se casar comigo? - ela questionou, com astúcia.
- Te amo desde que éramos pequenos, e brincávamos no salão da casa de meus pais. Durante muito tempo, conhecendo minha natureza, imaginei que não poderia lhe dar uma vida completa. Mas agora sinto que isso é possível. Sinto que, assim como eu, você é uma daquelas raras pessoas que entende as demandas do corpo, e, acima de tudo, não deixa as limitadas arrogâncias da tradição lhe impedirem. Me diga, com toda a sinceridade: ainda és virgem?
Tal pergunta a pegou de surpresa. Mas aquilo estava longe de a ofender. Aos poucos, ela se acostumava ao meu novo eu e voltava a ser Carmen que sempre conheci, segura de si e abusada.
- Isso não é pergunta que se faça a uma dama.
- Sei das regras, mas sei também das deserções. Dos homens com quem me deitei, a grande maioria era casado. Tinham uma bela vida de fachada, com filhos. Podiam se entregar a tudo comigo, desde que isso estivesse em mais absoluto sigilo.
Paramos e eu segurei com doçura seu queixo.
- Não quero um casamento assim para nós. Estou aqui, me mostrando de corpo e alma para ti. E peço apenas o mesmo.
Carmen deixou escapar um meio sorriso.
- Sabe que uma mulher deve preservar sua virgindade para o marido... Mas deve saber também, de tão vivido que és, que existem muitas formas de satisfazer os prazeres da carne sem comprometer nosso lacre.
Fiquei imediatamente excitado ao ouvir suas palavras. Lembrei de nossa juventude, em que Carmem vinha repleta de histórias impróprias as quais ela alegava "ter ouvido dizer". Sempre suspeitei das reais autorias das mesmas.
Cheguei perto dela e a imprensei contra a árvore e a beijei. Ela correspondeu com intensidade, sem me tocar com as mãos, deixando o corpo aberto para mim. Alisei com carinho seu pescoço, e desçi a mão, adentrando seu decote e tocando o seio.
Ela suspirou fundo, acendendo como uma vela.
- Não acho justo - falei enfim - não tenho o direito de lhe tomar a virgindade, se eu não tive a preocupação de lhe guardar o mesmo. Quero que você experimente um homem antes de mim. Pode ser quem você quiser, conhecido, escravo, um total estranho. Podem ser mais de um se preferir. Quero, quando me sentir dentro de você, que você já tenha provado de outro para que possa saber o que é de fato. Para que não tenha de se limitar a mim, para que possa comparar e gostar de mim porque sou bom, e não porque sou sua única experiência de tua vida.
- Não é uma oferta que uma noiva ouça com frequência - suspirou, gemendo ao meu toque.
- Mas é a exigência que eu lhe faço. Me diga, algum homem lhe atrai? Seu primo Estevan sempre foi um rapaz bonito. Posso falar com ele. Ou, se não tiver objeções, saiba que os vindos da África normalmente são amantes vigorosos. E se quiser ousar ainda mais, saiba que Rodolfo também possui grande apetite por mulheres. Pode escolher a vontade.
Carmen riu, exibindo os belos dentes como só ela fazia.
- Nunca o conheci tão petulante. Imaginas que pode controlar o mundo? O que o faz pensar que poderia convencer qualquer um a participar de teu jogo? Rodolfo nunca se interessou por mim.
Eu sorri com malícia, ela havia me dado a pista
- Interessante que eu lhe dei muitas opções, mas você se atentou a apenas uma.
Pela primeira vez a vejo corar
- Um exemplo apenas.
Eu então a beijei novamente.
- Se desejas meu primo, Rodolfo será teu - prometi - Para usar como quiser. Será meu presente de casamento a ti.
E fui beijando seu pescoço, descendo suavemente. Desci uma mão por seu decote, e acariciei o seio nu, fazendo Carmem estremecer dos pés a cabeça. Com a outra mão, enfiei em sua saia e apertei seu sexo. Ela saltou, arfando docemente.
Com cuidado, fui desabotoando seu vestido, descendo e desnunando a pele branca. Os seios ganharam liberdade e eu os lambi com a cede de um beduíno.
- Achei que... Que... - arfava - que não tinha interesse em me tomar a virgindade.
- E pensei que tivesse me dito que haviam outras formas de conseguir prazeres, sem precisar disso.
Ela lançou o rosto para o alto, rindo.
Desci mais o vestido, exibindo os pêlos pubianos.
- Falei dos muitos homens, mas esqueci de comentar que também conheci muitas mulheres interessantes em minhas viagens. Em Manchester, uma cortesã uma vez me ensinou isso.
E beijei-lhe a flor
Instantâneamente seu riso cessou. Sua mão livre segurando a sombrinha, largou rapidamente o objeto ao chão e me agarrou pelos cabelos. Um golpe violento, revoltoso, perdido. Ela não sabia se me empurrava ou me absorvia. Mesma confusão de Rodolfo mais cedo naquele dia. Completamente desnorteada pelo prazer ela apenas gemeu.
Não medi esforços, devorando seu órgão como melhor sabia. Ela agarrou minha cabeça com as mãos, arfando loucamente. O grito engasgado na garganta começou a se soltar. Aos poucos, até parecer um uivo. Quem estivesse ali por perto, poderia jurar que alguém estaria cometendo alguma judiação com a pobre rapariga. Isso porque poucos ali conheciam ou se atreviam a explorar os prazeres da carne. E para esses, é facil confundir o grito de dor, com choro de um orgasmo.