Nunca fui o tipo de homem que aceita sair por baixo em alguma situação, mas no dia seguinte, preferi o papel do jovem tolo que foi ludibriado pela dupla de escravos.
A apatia que se desencolveu em mim após o episódio, não se devia apenas a simulação que eu precisava manter, mas também a uma profunda mudança em minha maneira de olhar o mundo, que aqueles poucos dias que marcaram meu retorno ao Império do Brasil me proporcionaram.
Meu tio, obviamente, ficou desapontado. E deixou isso bem claro. Minha tia, por outro lado, demonstrava seu alívio conforme cuidava de meu hematoma no rosto. Eu recebia seus cuidados enquanto contemplava perdido o nada.
Rodolfo e Carmem, destacados de todo o resto, olhavam-me com expressão estudada, tentando talvez descobrir em que consistia aquele absurdo. Não contei a ninguém meu plano. Não porque não confiasse neles, mas porque não queria que ninguém escondesse o fardo de meu segredo.
Dias depois, a expedição se foi. Rodolfo foi com eles, forçado pelo status de herdeiro da fazenda. Voltaram dois dias após, sem nada.
- O lugar fora abandonado - informou, deixando escapar um meio sorriso presunçoso em minha direção ao contar seu relato.
Mantive meu teatro e me fiz de impressionando. Mas por dentro, estava aliviado. Não adiantava fingir, eu havia mudado. Passava pela fazenda e não era mais capaz de olhar os homens e mulheres agrilhoados da mesma forma. Então, depois dali, os dias seguintes foram dedicados exclusivamente ao meu casamento. E me mantive comportado até então.
Enquanto isso, as discussões a respeito da abolição inflamavam em todo o Império. A pressão interna e externa alvoroçava da imprensa à taberna e não se falava em outra coisa. Eu, sempre que possível, mantinha-me ausente dessas discussões.
Carmem e eu nos casamos em uma bela cerimônia e nos mudamos logo em seguida.
A carência de médicos na cidade me proporcionou uma clientela farta e logo fiel. O volume de trabalho era grande, não só por conta dos pagantes como também por àqueles a quem atendia pela caridade.
Dinheiro nunca foi problema para mim, uma vez que era herdeiro de uma pequena fortuna. Talvez o único infortúnio fosse a falta de tempo livre.
Carmem me foi uma companheira excepcional. Curiosa, aprendeu logo as artes medicinais e muito me ajudou, em especial com os menos favorecidos.
Aquele tempo com ela me fez enxergar o lado analítico, cuidadoso e dedicado de minha esposa. E eu me perguntava quando ela iria parar de me surprender. Carmem é uma mulher de pensamento aguçado e logo seria uma médica tão boa ou melhor que eu. Fiquei me perguntando quantas mulheres como ela, cheias de potencial, ficavam desperdiçadas aos cuidados do lar e dos eventos sociais.
E não só ela, mas nós amadurecemos muito rápido naquele período. A verdade era aquela. Sempre imaginamos que a vida de casado seria voluptuosa. Mas a verdade é que nunca fomos tão pacificos quanto nos anos que se seguiram. Parte de mim, imaginava que Carmem haveria de se decepcionar, uma vez que lhe prometi uma vida de aventuras e não cumpri o objetivo.
Um lado meu queria lhe perguntar isso desde sempre, mas o medo da afirmativa me calou por um tempo. Até enfim criar a coragem necessária. E quando questionada, após uma noite tórrida de amor, ela apenas sorriu, segurou meu rosto e disse que não poderia estar mais feliz. E eu senti verdade em suas palavras.
E assim mais tempo se passou... Lembro da abolição e do rebuliço que ela causou. Lembro da carta de Rodolfo, contanto sobre a enfermidade que levou meu tio de forma prematura. Tal destino parecia fadado aos homens de minha família.
Rodolfo era a única inconstância constante em nossa vida. Suas visitas eram mais raras do que gostaríamos, uma vez que ele também se casou e assumiu o controle da fazenda de forma eficaz, e conduziu o lugar para novas formas de trabalho.
Infelizmente, as obrigações nos distanciaram. Mas quando o tempo nos agraciava com a oportunidade, nos entregávamos aquela paixão tal como faziamos em nossa juventude. Adoro dividir minha esposa com meu primo, e meu primo com minha esposa. Ver os dois se entenderem tão bem, oferecer minha mulher e a mim mesmo ao prazer de Rodolfo. Cuja insasiedade era o bastante para dar prazer a duas pessoas repletas de desejos.
Eram raros esses momentos, mas muito bem aproveitados.
Nossas vidas seriam o que podemos chamar de pacatas em sua maioria, com leves pitadas de luxuria em ocasiões especiais. Isso, se não fosse aquele mês de outubro, em que recebemos a visita inesperada de um certo homem, interessado no anúncio que colocamos nos jornais atrás de carpinteiro.
Ao abrir a porta e dar de cara com aquele homem, um sorriso involuntário me acometeu.
- Então, parece que o mundo é menor do que esperavas
Akin sorriu e entrou ao ser convidado. Ele agora, como homem livre, procurava emprego. Não queria mais voltar a sua terra. Afinal, não havia mais nada dele por lá. Era muito habilidoso com as mãos, como pude comprovar no tempo em que estive na fazenda. E continuava o mesmo monumento de ébano o qual recordava.
- Bem, Akin, creio que não preciso de suas referências, uma vez que já as comprovei muitas vezes.
- Tens certeza, Sinhozinho, que não deseja nenhuma prova de minhas habilidades? O tempo há de esvanecer tudo, até potenciais.
O sorriso maroto em seus lábios me acendeu na hora, no exato instante em que minha esposa trazia o café.
- Fico imaginando se muita coisa mudou, desde aquele tempo. Querida - me voltei para Carmem - você pode ter um melhor julgamento que eu. Como avalia as ferramentas de Akin?
Carmem não entendeu de imediato, pois não teve muito contato com Akin na época da fazenda e não foi capaz de associar o homem em nossa sala ao fugitivo daquela noite na fazenda.
Mas ao se voltar ao homem, foi surpreendida com o enorme órgão que o negro sustentou orgulhoso para fora da calça.
- Bem... - recompos-se rapidamente - Devo dizer que não vemos muitos desses nos dias de hoje - e fez-se de recatada. - Talvez uma analise mais... Completa, possa me situar melhor.
Akin, ouvindo isso, se levantou e se despiu. Orgulhoso, másculo, deixou cair peça por peça. Ficando nu, corpo forte, pele negra brilhando. Órgão ereto como lança.
- Mesmo estando com vontade de saber se você possui a mesma potencia dos tempos antigos, creio que seja mais justo e pertinente minha esposa, que pode nos fornecer uma avaliação mais sobria, fazer o primeiro teste
Akin então tomou minha mulher nos braços, beijando e arrancando seu vestido. Carmem ficou positivamente surpresa. Estava acostumada a ordenar. Mas era dificil resistir ao poder do negro que tomava seu corpo de assalto
A deixou nua sob a mesa, forçando-a ficar de bruços sob ela. Essim, começou a penetrar em minha mulher como quem penetra uma cabra. Selvagem, forte, veloz.
Carmem oscilava, seios balançando a cada impacto do potente Akin. Seu rosto estava perdido no extase que aquele homem era capaz de promover. Eu, excitadissimo, torcia que ele a tomasse com mais força. Queria a ouvir gemer mais. Queria que ela me olhasse com desdem, como quem reconhece a superioridade do homem que a possuia no momento, em constraste com o pobre marido que só a observava. Não tinha vergonha de admitir que Akin fodia muito melhor que eu.
Satisfeito com a posição, ele pegou minha esposa, virando-a em um só movimento sob a mesa, a colocou deitada de costas na madeira, abriu tuas pernas, penetrou novamente, mergulhando ao mesmo tempo entre seus seios.
Akin puxava os mamilos com os lábios, no limite do prazer, e os soltava, fazendo-os balançar de forma elegante. Carmem gemia, gosto vermelho, aquele aspecto que, aos leigos, seria chamado de dor. Apenas as pobres almas não sabiam reconhecer o prelazer genuíno quando o viam.
Não sei por quanto tempo Akin a penetrou. A princípio, achei que ele estava empenhado em mostrar serviço. Mas creio que tenha gostado de fato de Carmem. Também pudera. Os anos apenas serviram para deixar minha mulher ainda mais bonita.
Akin nos foi muito útil, não só na manutenção da casa, mas na cama também. Ele tinha o vigor necessário para satisfazer ambos os patrões ao mesmo tempo.
E quando Rodolfo nos visitou após sua contratação, tive o prazer de realizar um sonho. Estar nos braços de minha mulher, beijando-a, enquanto ambos éramos penetrados ao mesmo tempo.
Lutamos muito para termos um filho. E em certa altura, acreditamos que jamais seríamos agraciados. Mas enfim a hora chegou. Demos a luz a um menino e a uma menina. Fiquei imensamente feliz em ver que nenhum dos dois tinham sequer traços de Akin ou de Rodolfo. Eram ambos filhos legítimos meus. Chame-me de antiquadro, mas sim, estava aliviado em descobrir que eu era sim, um homem capaz de satisfazer e fertilizar uma mulher.
Creio que, por mais progressistas que sejamos, ainda temos aquele fundo conservador que nos liga a nossos pais, nossas tradições, e, de certa forma, a nossa essência.
Tal como a escravidão deixou suas marcas em nossa sociedade, mesmo após seu fim, o patriarcado também lançou sua marca sobre mim.
E é por isso, meu filho, que te conto tudo isso. Não para lhe alarmar, ou para elevar meu ego. Digo tudo isso pois sei que os desejos estão crescendo em ti. Não precisa ter vergonha e não negues. Eu sei ver os sinais. Já passei por eles Sei que estás confuso. Sei que estás com medo. E deves ter medo. Nosso mundo é ruim. Somos homens capazes de muitaa coisas vis. Prender outros homens, força-los a trabalhar para nós, de matar e de nos castrar das formas mais elaboradas possíveis. Então você deve ter cuidado, mas também... bem... O que seria da vida sem seus riscos, não é mesmo?
***
Isaque me olhava perplexo. Quando começei a contar minha história para ele, não imaginei que seria tão repleta de detalhes. Mas seus olhos atentos e a naturalidade da narrativa foram me conduzindo dia a dia, semana a semana, instante a instante. Há um tempo notei a forma como ele andava com seu novo amiguinho. E a maneira como ele parecia temer as represálias entre seus iguais. Não sabia se tinha feito a coisa certa, tendo ele apenas 14 anos. Acabado de virar homem. Mas ao menos ele saberia, dali por diante, que não estava sozinho no mundo.
- Isaque, vem. Vamos para a praça jogar - Lucas, amigo de Isaque, o chamou e ele me abraçou e se despediu.
Os vi saírem correndo e sumindo, até ouvir os passos atrás de mim.
- Vais traumatizar sua filha também, com as mesmas histórias? - Carmem se sentou ao meu lado, sorrindo travessamente.
- Isabel pode esperar um pouco. És mais jovem que Isaque e ainda não está passando pelos problemas dos sentimentos. Talvez, quando este dia chegar, sejas você a lhe contar as verdades da vida.
Carmem pensou, parecendo apreciar a idéia, então sorriu e me beijou.
- Não. Tu és muito melhor contador de histórias que eu.
Fim...