Capítulo 4 – O Envelope Negro
- Confere? Essa parada que ela falou?
Eu olho para o endereço (eu tirei foto da tela do celular da tal da Jessie) e depois estico o pescoço e tento vislumbrar onde naquele bloco de evento estava o Espaço Funimation.
- Pode ser. Mas não temos como conferir isso agora. Primeiro vamos enrolar o nosso tempo no evento e só depois vamos agir.
- Beleza, chefe.
Que bosta esse lugar.
Se eu e meus amigos não tivéssemos um foco muito objetivo ao estar ali, nós já teríamos indo embora. Era muita gente desocupada e vestida como se não tivessem saído da infância. As meninas gostosas eu até entendia, porque elas ganhavam grana. Só que no caso dos branquinhos virgens que pagavam era patético.
Mas esperar o que das pessoas brancas?
A gente rodas as atrações e vai parando só para provar um pouco de comidas japonesas com embalagens engraçadas e até cômicas.
E lá para o final do dia os blocos vão se esvaziando e eu vejo a Bella saindo da Funimation e indo ao vestuário.
- Vamos esperar aqui do lado de fora.
- Sim, chefe. Você que manda.
E ali eu vejo as garotas saindo completamente diferentes e sem os cabelos coloridos e as roupas chamativas lá das heroínas de mentirinha desses desenhos animados.
- Eu não consigo acompanhar, chefe. Elas mudam muito. Parecem só meninas normais ao saírem.
- Calma. Só fiquem de olho.
Eu digo isso mas eu mesmo estava com dificuldade de dizer quem era quem. Entrava uma vampira peituda de cabelos roxos e saía uma adolescente morena e normal; e se não fosse pela comissão de frente e fisionomia eu não saberia dizer que eram a mesma pessoa.
- Se ela for tirar aquela roupa vermelha dela e trocar a peruca rosa, estamos completamente lascados. Vai sair uma mina, sei lá, loira e é ela e não saberemos que é ela. Como vamos apontar quem é a Bella, chefe?
E com todos ali nervosos e apreensivos eu fico tentando ver se eu reconhecia a tal da Belladona sem a peruca rosa.
E então ela sai.
Com o mesmo cabelo rosa de antes.
- Kkkkkk. Que sorte da porra. Isso só pode ser providência divina e destino. Ela era a única com cabelo natural e tingindo para essas caracterizações de nerds. Vamos agora segui-la e confirmar o endereço.
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Mais um dia de trabalho bem feito.
Tirando aqueles negões que me encoxaram naquela foto coletiva, o resto do dia foi como qualquer outro. Fotos com pessoas loucas por me ver; assinaturas que meus fãs faziam; intervalo para refeições e eu tentando fazer amizade em vão com as outras cosplayers e pagamento (eu recebia fixo e igual comediante, só depois do espetáculo) e agora vestiário.
Saindo de lá eu sempre ria internamente porque todas as outras meninas mudavam muito. Elas eram elfas dos mais diversos universos de fantasia e saíam do vestiário como universitárias tímidas e sem nenhum traço de cor da sua vida pregressa. Eu era a única que entrava como Bella e saía ainda e era identificada como Bella por alguns na rua. Meu cabelo naturalmente rosa e comprido atraía até mais atenção em roupas casuais e em ambientes convencionais.
As outras garotas diziam que eu só fazia isso para ter atenção e dinheiro. Mas pra mim era a minha marca registrada. A minha criatividade e originalidade.
Meu nome artístico era uma abreviação de meu nome real, Belladona Dellaphine. Se alguém era falso seriam elas que usavam pseudônimos como Susy, Jessie, Kelly e muitos outros.
Eu adorava esses eventos mais pertos de casa. Eu podia só ir andando e aquele bairro era muito seguro e bem iluminado.
- Chegando em casa eu tomarei aquele banho merecido e vou desmaiar no quarto com o ar ligado e bem geladinho.
E eu já estava na minha rua, eu morava em um apartamento no final da rua Andrade Pertence, era uma ruazinha arborizada e confortável até nesse calorzão do Rio de Janeiro e habitual do verão carioca.
Eu chego, abro o portal e fecho (não havia portaria) e subo para a minha casa.
Knock Knock.
Enquanto eu subia as escadas eu escuto batidas no portão. Exatamente segundos após eu chegar em minha residência.
Eu volto um pouco e fico receosa de abrir. O Bope e uma delegacia local de polícia estavam próximas. E por mais que eu tivesse dito antes que ali era seguro, o tipo mais comum de crime (quando ocorria) eram os jovens vindo de favelas do cinturão próximo que desciam na zona sul e roubavam as ruas.
Mas nem precisei abrir.
Um envelope preto é passado embaixo do portão e as batidas somem.
Eu me abaixo e ao pegar eu vejo uma carta envelopada formalmente e preta, ela era pulverizada com um glitter branco e cristalizado e que parecia criar um efeito da escuridão do céu polvilhada com estrelas.
E no verso dela havia um enorme Diamante.
Minha mão tremia como se o bilhete fosse vivo e dentro dele houvesse maldições ancestrais.
- Uau. Nossa. Mais tarde eu abro e vejo do que se trata.
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- Haha!! Nossa. Foi mais rápido do que eu pensei!! Haha!!
Eu estava gargalhando no meu quarto. Vendo do outro lado da rua um negro que bateu no portão da Bella e depois foi embora.
- Eu não sei o que eles estão fazendo ou o que eles são. Mas só sei que esses pretos estão afim dela e vão acabar arruinando a carreira dela, e só isso que verdadeiramente importa e tem valor pra mim.
E esses negões jamais teriam chegado ali se não fosse pelo endereço que eu dei pra eles.
E eu conhecia onde que a Bella morava por um motivo bem detestável pra mim.
Eu era vizinha dessa vagabunda maldita.
Quando eu me tornei uma cosplayer eu pedi ajuda dos meus pais e familiares para alugar uma casa ali. A justificativa era de que eu conseguiria me sustentar e devolver o investimento deles no futuro.
Não.
Nada disso aconteceu.
Eu só me endividei e dependia dos meus pais e da minha mãe mais ainda. E me dava um ódio danado que era tudo culpa dessas vadias e egirls que faziam cosplay só para mostrar a raba e os peitões. E a líder das vadias era a Bella. Se não fosse a vadia mor de nome Bella eu com certeza teria feito sucesso. Era ela que me impedia de crescer.
E como Deus é um grande piadista, alguns meses atrás eu via uma menina de cabelos rosas saindo para comprar pão de manhã, e com vários assovios do bar próximo eu soube que morava do outro lado da rua da minha arqui-inimiga.
- Mas agora eu vou te fuder, Bella. O que você tirou de mim eu vou recuperar. Suas redes sociais que decolaram, sua grana, seu status e fama. Assim que eu derrubar o reinado da Bella, todos irão notar a minha genialidade e a nova rainha será a Jessie!
E eu vou assistir a sua queda de camarote, Bella.
Se prepara, sua vagabunda rosa.
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Capítulo 5 – Black Diamond Party
Depois de uma boa ducha gelada eu me seco no meu quarto e pego (ainda nua) o bilhete para abri-lo.
O que será que haveria ali?
Eu abro e vejo uma espécie de convite para um evento de cosplay.
‘’Belladona Dellaphine, você está convidada para o evento de anime chamado Black Diamond Party. O evento será realizado no dia 7 de novembro desse 2020. No seguinte endereço indicado. O cache será de 5.000 R$ pelo dia inteiro. Pago in advanced. Esperamos a sua presença, staff 17.’’
Era informação demais que eu já ligava o split e com o bilhete na minha cama eu secava o cabelo e me vestia. E nesse processo eu matutava sobre as informações contidas ali.
- É muito mais do que eu faço. Eu recebo 100 reais por hora em cada evento. É o preço base. Cobrar 150 ou 200 só se eu fosse uma das mais famosas do Brasil. Eu estou ainda muito longe disso. E eu não tinha eventos diários, então isso não significava que ao fechar o mês o valor fosse ser tão alto. E pra finalizar eu sempre recebia ao final do trampo, seria a primeira vez que eu iria a um evento onde eu receberia full antes mesmo do trabalho.
E fora isso, o que seria esse staff 17? Pessoal do 17? Staff normalmente se referia a um grupo de trabalho, eu já estava ambientada a isso, mas o 17 eu não sabia identificar o que seria.
Já vestida com um pijaminha (eu em casa só usava roupas super confortáveis) eu vou pra sala e arrumo o meu ninho pra descansar e dormir um pouco.
Meu apartamento era bem mobiliado, mas era pequeno, meu quarto não tinha nem janela e eu tinha o split instalado com a condensadora em um vão interno do prédio.
Por causa disso eu preferia dormir na sala. Eu colocava alguma Vtuber fofa no Youtube, pegava algum sanduíche de tofu, um suquinho natural de laranja e dormia no meu ninhozinho de conforto e isolamento do mundo exterior e dos problemas de fora.
- Amanhã eu mando um e-mail e confirmo a participação nesse evento. A estação de seca dos cosplays já está próxima mesmo.
E assim eu durmo no meu sofá e sem hora para acordar no dia seguinte.
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Eu nem consegui dormir direito, tamanha foi a minha excitação com o que poderia acontecer com a Bella.
No dia seguinte eu vejo que a minha geladeira estava quase vazia e que eu tinha que fazer compras.
Eu sempre fui acostumada a morar com os meus pais e a ter tudo arrumado pela minha empregada.
E agora que eu mesma cuidava disso. Bom, digamos que as coisas não estavam da maneira como eu queria.
(Nem fale nada, tenho certeza no apê dela é assim também)
- Mas eu tenho certeza de que aquela puta da Bella também deve ser toda preguiçosa e tal.
Se eu faço as minhas roupas e sou desleixada em casa.
Imagina ela, que nem a fantasia dela faz?
Eu troco de roupa e pegando uma bolsa e meu cartão de crédito eu vou até o mercado próximo que tinha na minha rua mesmo, no outra ponta dela. O bom de morar ali era que tudo era perto.
Esse tempo todo eu nunca tive medo de que a Bella me reconhecesse ali no meio rua. Desde o dia que ela tentou fazer amizade com as outras cosplayers, eu passei a fazer a caveira dela. Se as outras profissionais do meu ramo não tinham implicância com ela antes, eu fiz questão de fazer esse sentimento crescer dentro delas. E pra complementar eu só fazia personagens com muita maquiagem facial e detalhes no rosto. Então de cara limpa na rua a Bella não tinha a menor ideia de que a tal da Jessie morava tão perto dela.
- Oi!! Você é aquela cosplayer?! Nossa eu te vi no Instagram! Que incrível!
E na frente do mercado já tinha uns dois garotos (um que parecia ter 14 e o outro 10, que devia ser o irmão mais novo do primeiro) que reconheceram a vadia rosa da Bella e pediam fotos e autógrafos.
- Claro. Eu sou a Belladona Dellaphine. Pode me seguir. Quem sabe eu dê um oi em privado pra vocês, tá?
Os dois coram e parecia que estavam vendo um anjo feminino se despindo e rebolando sua bunda na cara deles. Porque eu via que para eles a Bella parecia angelical e sexy. Que raiva! Isso não pode ser considerado pedofilia? Que ódio!
(Com certeza é isso que essas crianças estão imaginando)
- Com licença. Eu quero passar.
E eu dou um esbarrão de leve nela e entro no mercado.
Só espera, seja lá o que tu recebeu daquele preto. Você vai se dar mal em breve.
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Que grosa! Quem era aquela?
Eu até entendia um pouco desse recalque. Muitas vezes eu era parada na rua até por garotas com os seus namorados e elas ficavam com uma cara de puro ódio e ciúmes.
E deixando pra lá a agressão daquela desconhecida, eu entro no mercado só para comprar alguns iogurtes e sucos com soja e qualquer comida geladinha. Meu gosto é medido por temperatura e não por amargo ou azedo. Ou seja, tanto faz se é doce ou salgado ou qualquer outro sabor. Se fosse frio eu gostava, eu amava tofu (muito mesmo, minha comida preferida), suco, refrigerante, iogurte. Praticamente minhas compras de mercado eram compostas de produtos da seção de laticínios e nas geladeiras industriais eu comprava tudo que era gelado. Achocolatados, cervejas e qualquer outra coisa que eu pudesse botar no meu freezer.
E depois de comprar tudo que eu queria eu volto pra casa. Ainda parei no meio da rua para outra foto (hoje estava agitado rs) e prossegui até o meu cantinho.
Lá dentro eu guardo tudo na geladeira e vejo o status no Mercado Livre do meu cosplay da Seraphine.
Em produção.
- Poxa, quem sabe eu poderia ir nesse tal de Black Diamond Party com ela.
E por mais que a minha roupa não tivesse chegado. Alguma outra coisa sim.
Meu Funko Pop!
Eu posso ser meio sem habilidade para fazer e produzir cosplays. Mas eu era muito viciada em limpeza e organização. Eu adorava tudo limpinho e fresco. Meu gosto por coisas geladinhas não era só comida. Eu também adorava deitar confortavelmente e toda acolhida em um edredom sabendo que tudo estava limpo e minha coleção de Funkos estava toda organizada no meu quarto por exemplo.
E fora da caixa eu pego o último que chegou e o coloco com os outros e fico ali fazendo uma limpeza com aspirador e pano na minha cama enquanto escutava música pela tv da sala.
(Distância: Adulta trabalhando...)
E quanto tudo estava limpo (todo dia eu limpava, e meu apartamento era pequeno porém funcional) eu aproveito e pesquiso o endereço desse tal de Black Diamond Party.
Pera, isso tá certo mesmo?
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E pensar que para criar essas joias mais preciosas eu teria que me envolver tanto nisso.
5.000,00 reais para uma tentativa de lapidação, e que podia ser jogada fora.
Eu acho que com o tempo eu fui me tornando mais e mais macio do que deveria ser. Antes minha força e convicção era implacável. Daqui a pouco eu estaria limpando merda desses outros grupos.
- Meu Diamante. Minha Lápis-lazúli. O que acha?
E minha joia estava ali ao meu pé e ela massageava os meus pés com suas pequenas mãos branquinhas.
E pensar que esse Estúdio pertencia à sua família, antes de tudo que aconteceu.
- Mestre, como quiser. Ela nos visitará aqui?
- Não. Será a nossa casa de campo. Digamos que será um evento e que trarei algumas outras pedras terminadas como você pra lá.
E eu vou abrindo um app e vou olhando um banco de dados com vários rostinhos de menininhas branquinhas de 14 a 19 anos.
- Vai ser um evento de cosplay que ela nunca mais vai se esquecer.
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Capítulo 6 – Cafés e Lives Secretas
E o festival de seca dos eventos e convenções de anime chega, mesmo o endereço do Black Diamond Party sendo meio bizarro ainda era alguma coisa que eu teria pra fazer e não morrer de sede financeira.
Pera, eu não avisei vocês o que seria essa seca?
Então, muitas pessoas imaginam que no final do ano os eventos são constantes e as cosplayers estão sempre lotadas de trabalho.
O que não é verdade.
Como esse período as famílias viajavam muito e os shoppings e galerias tinham horários reduzidos e fechados em feriados, o que acontecia era a redução de tudo a pequenos eventinhos de cosplay (que ainda me davam uma grana, mesmo que pouco) e as pessoas estavam mais preocupada com ir a praia do que em ficar no verão infernal carioca vendo um bando de nerds vestidos de TNT e EVA coloridos e comprando canecas de anime.
E sempre que chegava essa época do ano eu me questionava se eu não podia fazer receita online de outra maneira.
- Como está a minha conta no Twitch.tv?
E eu reabro (depois de meses) o meu perfil do site roxinho e vejo algumas lives malfeitas que eu havia feito tempos atrás e abandonado tudo.
- Uau. Tem até um monte de seguidores.
Aqueles seguidores não eram mérito das minhas lives malfeitas. Eram só conhecedores do meu trabalho como cosplayer e que entraram lá e tentaram se aproximar de mim. Mas eu sempre evitava abrir um canal tão íntimo com eles e a webcam ficava sempre desligada.
- Será que não custa aparecer pra eles?
Eu sempre me expus conscientemente de roupa de animes e em eventos. Era uma exposição controlada. Eu me sentia como uma atriz representando uma personagem ou heroína. Tirar foto em uma convenção otaku era como uma fotografia de uma peça de teatro. Era até por isso que eu não fazia muitos stories, quanto mais fora desses eventos e vestida casualmente.
- Vamos testar uma coisa.
Eu boto uma roupinha semi cosplay (era só a minha roupinha de ‘Eu amo Yaoi’). Que basicamente era uma roupinha com uma camisetinha preta curtinha e que exibia a minha barriga e realçava os meus peitos, um gorrinho cheio de botons e um shortinho curto jeans com uma meia comprida de otome.
E eu coloco o meu headset rosa com orelhinhas e preparo a stream.
- Deixa eu linkar em outras mídias também.
Eu coloco um ‘live on’ e o link da live que eu ia começar.
E depois de abrir um moba aleatório (o meu pc veio com League of Legends instalado e o meu retratinho lá no jogo já estava no nível 7) e abro a câmera e começo a transmissão.
Plim. Plim.
Novo seguidor!
Novo seguidor!
Novo seguidor!
Começa a explodir de seguidores. E eu meio que tomo noção de que tinham centenas de pessoas vendo o meu corpo e meu rosto.
ShadowRealm: Oi? Você é a Belladona? Que linda.
Darklord666: Wow. Olha os peitões dela!
FelipeGamerRX: Verdade. Mostra os melões pra gente, Bella. Tem uma novinha que eu paguei no LOL que nem ela tinha tetas tão grandonas assim.
Hardrock_NoFunk: A sua %$@ é rosadinha como o cabelo?
BellaSoldier: Hey! Respeitem ela! Ela é uma cosplayer de renome.
E eu reparo que não tinha mods para a moderação do chat. Eu não tinha ideia de que o bate-papo seria floodado assim. Em público todos eram controlados e educadinhos (no máximo uma mão abusada e disfarçada aqui e ali), e agora online eu via que alguns fãs meus se soltavam e sentiam como se estivessem falando com uma pornstar e não uma cosplayer. Alguns até me defendiam e o chat virou uma guerra civil regrado a assédio direcionado a mim e pedidos constantes para que eu mostrasse os peitos.
E então um perfil com nome Lapidação_17 me pergunta se podia ser o moderador.
Lapidação_17: Me dá um cargo de moderador de chat, Bella que é bela. Deixa que eu bloqueio esse pessoal te assediando e você pode jogar em paz.
Porque aquela maneira de falar me soava familiar?
Bella: Tudo bem. Aí está.
E depois de dar o poder pra esse perfil de cuidar dos outros, esse tal de Lapidação_17 passa a limpar eficientemente toda aquela algazarra em coro que me exigia em um clamor pervertido que eu mostrasse os peitos e os balançassem para eles se tocarem com a cena.
Lapidação_17: Pronto, Bella. Pode jogar em paz.
E agora muito mais tranquila eu agradeço esse perfil e volto para o jogo.
Muitos outros seguidores entraram e eu pude interagir um pouco com eles. No mais eu falo pouco. Ainda não havia habilitado donate e nenhuma extensão para ler comentários e fazer outras brincadeiras que eu via outras streamers profissionais fazerem.
E já no final da live eu já me preparava para sair quando o meu moderador recém eleito me fala.
Lapidação_17: Eai, deu para te ajudar. Posso te pedir algo em troca?
Bella: Claro, o que você quiser?
Lapidação_17: Amanhã, eu posso participar da sua live?
Participar?
Bella: Participar?
Lapidação_17: Isso. Nada demais.
Ele deve estar falando eu acho de dá um oi, não sei. Com certeza não seria ele estar pessoalmente aqui comigo.
Bella: Claro. Pode entrar na minha live amanhã.
Lapidação_17: Perfeito, minha joia. Amanhã irei entrar ao vivo também.
Bella: Tá bom. Beijos.
Lapidação_17: Tchau, tchau. Meu diamante.
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Eu não vi mais nenhuma movimentação envolvendo nenhum africano afoito na porta da Bella.
Será que ela estava safe?
Eu tinha medo de que talvez o fogo da tragédia e discórdia que eu joguei talvez tivesse caído em uma grama verde e o incêndio não começou.
- Eu queria estar com tempo para fuder mais essa piranha rosinha, que ódio!
Mas infelizmente eu não estava.
Diferente da Bella (que nas redes sociais parecia ser solteira), eu tenho um namorado. E o nome dele é Vinícius. E hoje eu tinha um encontro com ele em uma cafeteria que eu gostava, o nome era Café Secreto, era uma espécie de corredor bucólico como uma fábrica antiga. E ali havia uma pequena cafeteria.
E ainda com a vadia rosa na cabeça eu saio de casa e pego um Uber até o Café Secreto.
- Quem sabe aquele frouxo me distrairia e eu conseguiria esquecer aquela que eu tanto desprezava e odiava.
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- Que nervoso. É raro ela aceitar sair comigo.
Eu me chamo Vinícius (vocês podem me chamar de Vini também) e sou o namorado da Jessie.
E sim.
Eu sei que ele faz cosplay.
Eu estava num dia visitando um desses eventos no Flamengo ou em Laranjeiras, não lembro de cabeça, e lá estava a minha futura namorada.
E a Jessie estava vestindo de orc fêmea.
- Nossa, sua roupa é maravilhosa! Você que fez?
Perguntar sobre a armadura de pele e aço cenográfico feito de EVA, cola quente e Warblo parece que foi a jogada correta.
- Nossa! Que bom que notou! Eu tive muito trabalho fazendo isso. Normalmente tem sempre hordas de tarados atrás da minha beleza. Mas eu não sou essas egirls superficiais. Então eu prefiro focar nas minhas qualidades de cosplay mesmo. Isso aqui eu cortei e modelei em 3D e...
Eu lembro vividamente que enquanto aquela orc verde falava com os olhos brilhando eu só esporadicamente soltava uns ‘’Aham’’ e me perguntava quem era essa horda que estava louca por ela, talvez só eu tenha tido a paciência de escutar o discurso completo dela até o final sem capitular.
Mas o esforço valeu a pena.
No final daquele dia a gente começou a namorar.
- Jessie, eu estou completamente apaixonado por você. Tudo que você precisar de apoio pode me falar. Sou seu grande fã.
E assim eu fiz.
Toda vaquinha online, Patreon, Pix, Pixiv, Paypal, toda plataforma doida de donation dela eu me esforçava para ser o Top 1. Queria que a Jessie visse que o namorado dela a valorizava pelo trabalho de cosplayer dela e não pela beleza.
Não estou dizendo que ela é feia.
Mas posso confidenciar uma coisa?
Quem me tirava o fôlego toda vez eram os cosplays da Belladona Dellaphine.
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- Então aí está você, Vini.
- Olá, Jessie. Como está?
E meu namorado estava na mesa já e mexendo no celular.
- Ótimo. Com quem está falando?
E ele bota o celular na mesa um pouco assustado, sabendo que eu o peguei no flagra.
- Nada. Tava só vendo o Instagram.
- É? Está vendo o perfil da Bella, não é?
Ele achou que eu era idiota. Todo evento a putinha rosa era a última a sair por causa do tamanho dos contratos que ela fechava e por causa das fotos e admiradores. E eu via que quando eu saía das instalações dos eventos o Vinícius sempre olhava de canto de olho pra ela e prendia um suspiro.
- Amor, você está cismada com ela. Esse seu ódio e inveja vai te corroer.
Eu?
Inveja?!
Daquela vagabunda pink?
- Eu não estou acreditando que você está falando isso. Depois de todas as oportunidades que aquela piranha rosa ti-
- Shh. Estamos em público. Eu sei que você gosta de xingar ela nos eventos onde tá todo mundo falando alto e rindo.
- Não me shh. Porra. Deixa eu terminar de falar. Que ódio! Ela tirando os meus holofotes (que com certeza eu teria se ela não existisse), e você está do lado dela? Quer o que? Comer ela? Fala logo, seu covarde.
- Jessie. Olha como você tá se comportando. Tá todo mundo virando e olhando pra nossa mesa.
E estavam mesmo.
Eu respiro fundo e tento me controlar. Não fazia sentido a reação do frouxo do meu namorado e dos outros clientes. Eu estava narrando em detalhes como que a Bella vivia esfaqueando a minha carreira como cosplayer, e só porque a chamei de piranha rosa todos ficaram contra mim? Qual a lógica disso? Que inversão de valores aconteceu na sociedade? Porque todos me reprovavam? A que foi apunhalada e não a vadia que me assassinava profissionalmente todo maldito dia? Ela até já fez cosplay dessas psicopatas de cabelo rosa!
(Eu ainda não te esqueci com essa roupa no Geektown)
- Não vou mais falar disso. Que seja.
- Eu acho difícil, Jessie.
Hoje tá foda, provocações a cada segundo.
- E porque seria?
- Porque foi a primeira coisa que você disse ao me ver aqui no celular. Você vive em função dela. Eu sei que ela bonita e tals. Mas você também é. E já que você gosta tanto de fazer as roupas, porque não vira Cosmaker ao invés de Cosplayer? Acho que você teria mais sucesso.
A minha xícara com o meu pedido chega e a porcelana bate na mesa de madeira Freijó circular e soa como a facada de traição do Brutos contra Júlio César.
- Até você, Vinícius? Cosmaker? COSMAKER? Está falando que eu sou feia e não posso ser cosplayer? O que eu tenho que fazer? Pintar meu cabelo de rosa e ser uma puta vendida para as empresas como ela?
- Amor, escuta o que você está falando. Eu disse uma coisa inocente e você começa a exagerar e a colocar palavras na minha boca. Pensa assim, se ela é uma boa cosplayer e você sabe fazer props, roupas, armas e acessórios. Você podia ser a cosmaker dela e todos saem ganhando.
Aquilo era a faca sendo torcida e girada nas minhas tripas.
- Puta que pariu, Vinícius. Não posso crer nisso. Você quer que eu me alie à minha amiga. Quer que eu desista e me torne empregada dela, lustrando as roupinhas dela? Lambendo o cabelinho rosa da puta em vassalagem humilhante? COSMAKER DA BELLA? Hahaha. Hilariantemente odioso isso. Quer saber, o encontro acabou. Se falar mais eu termino nosso namoro. Antes que eu me emputeça mais eu estou saindo. Eu já tenho uma maneira de acabar com ela e quero ver você suspirar no futuro pensando na Bella. Tchau e pague a conta, seu frouxo.
E sem esperar mais eu bebo o café em uma golada e saio comendo o meu tartine de tomate na mão furiosa e batendo o pé sozinha pra fora do Café Secreto.
Eu vou esfregar na sua cara, Vinicius.
O que eles irão fazer com ela.
Só aguarde.
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